quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Crisântemos

                    Existe um ditado popular chinês que diz: “Se queres ser feliz por toda a vida cultive crisântemos” e com razão, é uma flor de beleza impar, nativa do continente asiático,  e era cultivada somente pelos nobres chineses para fins de ornamentação dos palácios, medicina tradicional e também na culinária em virtude do seu valor nutritivo,  aromático e estava associada  à sabedoria e longevidade, o que deve  perdurar até hoje, uma vez que  uma característica marcante dos chineses  é a habilidade de  conviver em harmonia com os avanços tecnológicas e as tradições dos ancestrais. O Crisântemo encantou até o sábio Confúcio que escreveu  sobre ele, pela primeira  no ano 500 a.C.
            O crisântemo chegou ao Japão provavelmente no século V e rapidamente  ganhou a simpatia dos nipônicos  e  é considerada  flor símbolo do patriotismo e obediência à Família Imperial.  Até o poeta japonês de  expressão máxima na técnica de haikai, Bashô (1644 - 1694) dedicou-lhes  belíssimos versos:
“ Em profundo silêncio
o menino, a cotovia
o branco crisântemo.”
            O crisântemo ganhou o mundo  com a sua sinfonia de cores vibrantes,   perfumes  e energia vital. Várias cidades  dedicam –lhe festivais, normalmente no outono, quando encantam as  paisagens  e são atrações turísticas. A charmosa  cidade  - Lahr -  na Alemanha, encanta a todos os visitantes  com um espetáculo floral  impossível de esquecer  e que  confirma o ditado popular chinês: “Se queres ser feliz por toda a vida cultive crisântemos”.  A graciosidade desta flor  sensibilizou  até o coração de uma das primeiras feministas portuguesa, a poetisa  Florbela Espanca (1894-1930) cuja poesia é permeada  com um forte apelo emocional  na qual desilusão, solidão e sofrimento estão alinhados  com um profundo desejo de ser feliz para sempre.  Se ela cultivou crisântemos, não há como saber,  mas é possível viajar na beleza de seus versos.       

CRISÂNTEMOS- Florbela Espanca


Sombrios mensageiros das violetas,
De longas e revoltas cabeleiras;
Brancos, sois o casto olhar das virgens
Pálidas que ao luar, sonham nas eiras.

Vermelhos, gargalhadas triunfantes,
Lábios quentes de sonhos e desejos,
Carícias sensuais d´amor e gozo;
Crisântemos de sangue, vós sois beijos!

Os amarelos riem amarguras,
Os roxos dizem prantos e torturas,
Há-os também cor de fogo, sensuais...

Eu amo os crisântemos misteriosos
Por serem lindos, tristes e mimosos,
Por ser a flor de que tu gostas mais!

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