sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A invisibilidade de Anita

                     - Engole o choro – dizia irada, minha mãe. – É melhor fechar essa matraca.   Um nó se formava em minha garganta, minhas faces ficavam vermelhas qual  uma lua de sangue e meus olhos fixavam à  terra,  e eu desejava ser tragada por ela para que nenhuma palavra escapasse de minha boca e nem lágrimas de meus olhos.  – Você tem que agradecer de ter uma mãe que se preocupa com você – esta era a  justificativa para o ato brutal. Em minha infância, sofri violência física e  psicológica. À época, era normal que os responsáveis pelos menores, infringissem castigos físicos; diziam  as mulheres mais velhas que  “ que pecado de criança não é absolvido pelo padre, mas pela varinha de bambu”. Todos os  adultos de meu convívio eram adeptos desta teoria e os assuntos  nas escolas, principalmente às segundas-feiras, era prioritariamente as surras de finais de semana.
            É  difícil dizer qual foi a pior surra que levei, eram tantas, com tanta frequência e por motivo fútil, e na maioria das vezes, injustamente, por uma mentira de meu irmão, o “queridinho da mamãe”, que  aos olhos maternos, sempre tinha razão; ela nunca ouviu a minha versão dos fatos e o estalido do chicote podia ser ouvido  em toda à casa, porém, ninguém, nunca veio em meu auxílio. Minha pele estava sempre marcada pelas chicotadas, antes mesmo que os vergões da última desaparecessem, era açoitada novamente. Com o distanciamento dos anos e com o olhar de adulta, acredito que eu era o saco de pancadas de minha mãe, onde ela descarregava toda as  mágoas, frustrações e a sua covardia, de não  ter a coragem para exigir de meu pai, a qualidade de vida que ela  desejava e  acreditava que ele tinha condições de proporcionar.  Até os meados do século XX, era assim que as crianças aprendiam  as regras sociais, e com exceção dos “queridinhos da mamãe”, que  havia em todos os lares, os demais filhos eram açoitados impiedosamente, por aqueles que no altar, prometeram cuidar dos filhos que Deus lhe confiasse.
            Eu não tenho memória de uma surra justa, por uma falta grave como  por exemplo, por fogo na casa propositalmente, abrir a porteira do curral para soltar o gado, bater em meus irmãos menores, maltratar animais domésticos, pisotear  os canteiros da horta, no momento em que as sementes estavam germinando, simplesmente porque eu nunca fiz isto, sempre fui uma boa filha,  na mais tenra idade, cumpria com as minhas obrigações, aquém de  minhas forças, estava sempre cansada, razão pela qual  carrego até hoje, a alcunha de preguiçosa. Era açoitada por coisas insignificantes como não ouvir ao ser chamada, derramar água do balde enquanto enchia o  pote de água ou  sentar-me  para descansar por uns minutos, e  claro, fofocas do  meu irmão, que acreditava que eu era a sua escrava e estava na casa, somente para servi-lo.
            Com o  correr dos anos acabei desenvolvendo a capacidade de tornar-me uma pessoa invisível. Procurava acordar  com o cantar do galo e  executar as tarefas  domésticas, a mim destinadas, para que quando minha mãe levantasse, sequer lembrasse que eu existia, assim, eu podia fazer as outras tarefas, relacionadas ao trato  com os animais e plantações, sem as dores  no corpo, oriundas de chicotadas. A invisibilidade era o meu porto seguro,  o que me mantinha longe da fúria materna. Os reflexos  de meu esforço para não ser vista deixou-me traumas profundos  que influenciarem em meus relacionais pessoais e profissionais.
            Apanhar, engolir o choro e seguir com as tarefas como se nada tivesse acontecido, me transformou em uma pessoa   servil, sem coragem de expor  os seus pontos de vista, optando sempre pelo silêncio, mesmo tendo algo  interessante a dizer ou até mesmo importante, que ajudasse a resolver o problema que estava em discussão. Das muitas  sequelas que carrego da violência sofrida na infância são predominantes: no âmbito pessoal, nunca consegui    aprofundar uma amizade, temia  reviver a situação de exploração  dos tempos de crianças,  sempre a desconfiar das pessoas, sequer consegui levar um  namoro por mais de seis meses e com todo o investimento em cursos de  capacitação profissional, nunca fui promovida,  pois repetia nas empresas em que colaborei,  a minha habilidade em ser invisível, executava em silêncio, dentro  do prazo  previsto, todas as minhas tarefas, sem esquecer nada e  também, sem inovar, isto do primeiro dia de trabalho  até a aposentadoria.
            Sempre   digo a mim mesma que em toda a minha vida, eu tive apenas duas grandes alegrias que levarei para o túmulo: O dia que consegui o meu primeiro emprego e o  que assinei a aposentadoria e  neste último, ingenuamente, acreditei que finalmente, eu estava livre para ser feliz, já que a luta diária  pelo  pagamento no final do mês estava garantida, mudei para outro estado, sem informar familiares e conhecido, e eles nem perceberam. Eu estava determinada a sair da invisibilidade, tornar-se uma pessoa agradável  rodeada de  pessoas interessantes, porém, amigos não caem do céu e é preciso  encontrá-los e conquistá-los. Pessoas de bem são encontradas nas igrejas, nas academias,  bibliotecas, casas de espetáculos, espaços culturais, cursos livres e pizzarias.  A estratégia deu certo! Já na primeira  celebração  que assisti,  na hora dos avisos, tradicionais em finais de  missas, foi anunciado um curso grátis, para formação de mulheres   para ampliação e fortalecimento do conhecimento de seus direitos. Vi no  anúncio a oportunidade para “encontrar a  minha turma”, sequer procurei saber  a matriz curricular do curso, anotei somente  os dados para inscrição e no dia da aula inaugural, eu fui a primeira a chegar e a primeira a sair.
            A voz predominante na aula inaugural  foi de uma professora universitária que discorreu a dura jornada da mulher para ingressar no   mercado e a discriminação que ainda sofre, em plena Era da Comunicação e Tecnologia.  Fiquei chocada!  Neste dia, percebi   que a  discriminação  e exploração da mulher não era um privilégio  das pessoas antigas e rudes de minha aldeia, que ainda está arraigado  na sociedade brasileira e o mais triste,  ainda existe exploração da mão de obra infantil,  a qual eu também fui vítima. E o curso seguiu com aulas interessantes,  palestrantes explanando sobre a legislação brasileira, nossos direitos e como acessá-los. A mudança de comportamento é lenta e dolorosa e nem mesmo   a rede de mulheres que estava sendo formada com o intuito de ajuda mútua  não conseguiu com que eu deixasse o hábito  da invisibilidade. Entrava muda, sentava-me   na última carteira, permanecia em silêncio, mesmo quando aberta a palavra aos participantes para esclarecimento de  dúvidas. Finda a aula, era a primeira a sair e calada, como sempre, sem coragem  para abrir a boca até para  pedir uma carona até o ponto de ônibus,  em dias chuvosos, quiçá, iniciar um diálogo sobre a questão da mulher na sociedade contemporânea. Neste curso,  o objetivo  inicial de formar um círculo de amizades não foi alcançado, porém, tive a consciência de como são fortes os impactos dos traumas infantis e que, sem a ajuda de um profissional competente, perduraram até o final dos dias da vítima.
              

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Amargando a solidão

             

          Tudo o que desejo é aliviar a minha angústia  de estar completamente só, de fato e de sentimentos. Por que faço esta diferenciação?  Quando eu morava com minha família, cercada de pessoas 24  horas por dia, 365 por ano,  a solidão era a minha  companheira inseparável; sempre incompreendida, criticada, esculhambada, inclusive pela minha própria mãe, que até o último instante de sua vida, jogou  em minha cara que eu não era o filho que ela queria ter. Que eu não passava de uma “lesma”, uma menina feia que só lhe causava preocupação.

        Este sentimento de solidão dói. Por um tempo, fiz tudo que estava ao meu alcance para fazer amizades: procurava visitar as pessoas, convidá-las à minha casa, para sair.  Mas o lastimável é que não consegui uma amizade sólida, alguém que se preocupasse comigo, ou pelo menos, lembrasse de mim. Algumas apenas retribuíam os meus convites. Atualmente,  com as facilidades das redes sociais, ninguém me envia uma mensagem sequer, para saber como eu estou, para jogar conversa fora, sendo franca e objetiva, para nada.

        E os namorados? Este é um mistério! Não sei a razão pela qual não consigo atrair os olhares masculinos. Tantas pessoas  contam que conheceu o parceiro no Metrô, no ônibus, no mercado, na igreja, em atividades  culturais, e eu, que frequento todos estes lugares, nada.  Peguei até uma dicas na internet, para andar feito coruja,  girando a cabeça até 270 graus, com o olhar atento,  com a esperança de cruzar com outros olhos solitários. Outro fato estranho, que vale a pena comentar neste post. Quantas pessoas se conhecem via internet, entram em furada e  outros, se dão bem, casa e são felizes para sempre. Entro em site de relacionamentos,   deixo mensagem  aos homens disponíveis, que nunca me retornam. Eu sou  uma mulher bem apresentável, de  bom gosto, inteligente, e profundamente só. Até academia estou fazendo, com o intuito de aumentar a minha área de caça.

 

Você que leu este post e se deu bem no amor, por favor, deixe  nos comentários  uma dica.

domingo, 25 de dezembro de 2022

Solidão natalina

         

E o Natal chegou! Qual foi a diferença para mim? Nenhuma, porque o sentimento religioso que nesta data nasceu o Salvador do mundo, não existe mais em  meu coração e  nem sei se ele existiu uma dia. Em minha infância, nunca ganhei um presente de natal, a casa nunca foi decorada com enfeites dourados e vermelhos e, presépio,   conhece adulta, com os meus próprio meios. Havia sim, a reza do terço  na noite de  24 de dezembro, e talvez, o que tenha colaborado para a minha descrença foi o fato de rezar e nada acontecer. Tudo muito abstrato para  uma criança. São tantos os meus sonhos não realizados, mas um que dói é o fato  de nunca ter  acordado de manhã e encontrado  qualquer coisa em meus chinelinhos, que nem sapato eu tinha. Uma vez, descobriram que eu havia colocado os  chinelos na janela e até o  último suspiro dos meus familiares, fui  vítima de chacota. A infância sem  a concretização da magia é seca e dolorosa para a criança com imaginação fértil. Se não tinham  condições de me dar sequer um pirulito, por que alimentavam a esperança?

       Durante um período em minha vida, aderi ao programa dos Correios de fazer o natal de crianças pobres, e fazer a alegria de uma criança, rejubilava o meu coração. Hoje, admito que  o  acúmulo de frustrações, mágoas e solidão,  fez de mim uma pessoa egoísta que não consigo mais pensar na possibilidade de dar um pouco  de felicidade a alguém nesta data especial, nem mesmo de uma inocente  criança. Tudo aquilo que sonhei, desejei, não chegou para mim, por que outro tem esse direito? Generosidade não está mais em meu coração. Durante anos, enviei cartões, dei presentes, e, nunca  fui lembrada por aqueles que me eram caros. Alguns ainda tinham a gentileza de retribuir. Só que há uma diferença: Retribuir significa que o destinatário lembrou de mim somente  quando recebeu o mimo. Este ano, enviei, via Correios, seis cartões de natal, apenas uma pessoa agradeceu, assim, digo com segurança, que o investimento não valeu a pena. Ninguém se preocupa com a solitária aqui, uma mulher seca, cujo ventre não  foi capaz de gerar uma vida. Se tivesse pelo menos um filho, para  nestas datas festivas, aparecer para filar bóia e economizar nas despesas de final de ano, eu não seria tão sozinha.

       O que tenho  nos finais de anos é apenas o brilho da lua  e das estrelas. Ontem fui à missa, não por acreditar nos mistérios e magia do natal, mas para amenizar a minha solidão e talvez, encontrar um  namorado. Saí de antena ligada,  com o pescoço girando para a direita e para a esquerda, para a minha decepção,  meus olhos não  alcançaram um homem com idade compatível a minha sozinho, os “da bengala” estão todos acompanhados de esposa, filhos e netos. Não quero um  companheiro muito mais novo do que eu, por  duas razões sérias:  medo que ele abrevie a minha partida para a “terra dos pés juntos” e de traições, pois uma octogenária já está com a sexualidade serenada.  Posso até não conseguir encontrar um namorado  com idade compatível com a minha,  mas o fato de sair à procura, é um bom antídoto para amenizar a solidão.

       Este ano de 2022, muitas pessoas  de minha infância partiram, até a rainha Elizabete II, que nós, ingenuamente, acreditávamos que  trocaríamos de morada primeiro, se foi. E  segue a lista:  Elza Soares, Jô Soares, Milton Gonçalves, Olavo de Carvalho, Carlos Eduardo Moreira e Arnaldo Jabor. Cláudia Jimenez, Gal Costa,  Rolando Boldrin,  Éramos Carlos, e muitos outros, e quanto ao rei do futebol, o Pelé, os boletins médicos,   não são animadores. O preço que se paga pela longevidade é a solidão!   Familiares, amigos, colegas de trabalho e ídolos,  partem, um a um. Então, o que tenho a celebrar hoje é a vida e a saúde!

 

sábado, 17 de dezembro de 2022

Passagem gratuita

       

  A vida tem os seus mistérios! Fiquei mais de duas horas, na rodoviária, esperando para conseguir   uma passagem intermunicipal gratuita, que eu, no auge de meus oitenta anos, tenho direito. Éramos  aproximadamente 20 idosos, à espera do benefício e como eu muitos não conseguiram.

      No futuro, não sei  quais serão as condições para aqueles que carregam  nas costas, o peso de muitos janeiros usufruírem do benefício. Hoje é humilhante e cansativo. Temos que ir  marcar cinco dias antes da viagem,  e no  mesmo horário em que queremos embarcar. Exemplo: quero viajar sexta-feira, às doze horas, tenho que estar no guichê da empresa, domingo  doze horas,  para marcar.    Resignada, comprei e paguei a passagem e segui o meu destino. Foi um dia cansativo. Água, lanche e  almoço estão muito caro. Para  um aposentado comer fora, significa que até o próximo pagamento, em casa, terá apenas arroz e feijão. É a vida, e  dando graças a Deus que temos comida no prato enquanto tantos não tem. Fato é que quando fui  comprar a passagem de  volta, o rapaz perguntou a minha idade, pediu minha identidade  e fui beneficiada  com a gratuidade  do transporte. Tão feliz fiquei, que não resisti, o pão de mel que  eu havia ganho no restaurante, entreguei a ele com o coração pleno de alegria e gratidão!  Tenho rezado e pedido tanto a Deus que o dinheiro venha até mim e que meus rendimentos sejam o suficiente para  pagar as contas e guardar para a minha independência financeira que só posso dizer: Obrigada meu Deus! Mil vezes obrigada.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Comemorações religiosas

                 Observei atentos os festejos de Iemanjá, no litoral sul de São Paulo e constatei que sou uma pessoa desprovida de fé em meu Deus e santos de devoção. Os devotos da rainha do mar, viagem sabe-se lá quantos quilômetros, acampam na areia  da praia, em condições e precária e assim expressam a sua devoção. Eu não sou capaz de tamanho sacrifício, assim,  respeito e admiro os devotos.

      Em 12 de dezembro se comemora o dia de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira das Américas e eu somente tomei conhecimento que nós sul americanos  temos uma  padroeira, pelas onda do rádio, e não pelo  padres, em minha igreja. Que ela é  padroeira do México, isto eu já sabia, agora, fico cá a pensar, os secretários de turismo não sabem aproveitar bem esta data, deveria ser feriado nacional em todas as Américas católicas.  Festas religiosas  movimentam a economia local.

      Hoje, 13 de dezembro, é dia de  Santa Luzia, a protetora da visão, isto eu soube deste  quando me apaixonei pelo nosso amado rei “Roberto Carlos”, é sabido que ele não trabalha nesta data e sempre lutou para que o seu amado filho, o Segundinho,  não perdesse a visão. A Santa não atendeu ao clamor do Rei, como ele pediu, eu acredito, que havia  uma missão maior para a criança. Muito jovem ele  ficou cego, mas não escondeu dos fãs  e  continuou trabalhando, o que muito contribuiu para  o entendimento popular de que um deficiente visual também é um ser produtivo e feliz, capaz de construir uma família e trabalhar. Os designo de  Deus, só ele sabe!  Peço a Nossa Senhora de Guadalupe que proteja a nossa América Latina e a Santa Luzia, que proteja a minha visão e abra os olhos da nação para os desmandos do “ encarnado” que agora está poder e queira Nossa Senhora de Guadalupe, que a América renasça com valores universais de amor ao próximo e à natureza. Suplico também, que me dê fé!

 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Cartões natalinos

                

     Tenho ciência de como sou insignificante para as pessoas com quem me relaciono. Tenho ciência que não formei laços de afetos fortes  nas searas que percorri, assim, as  poucas pessoas que tenho endereço, já que não posso dizer  que tenho contato, porque elas nunca   enviam mensagem, procuram saber de mim nem  curtem as minhas redes sociais, sempre eu que  tomo a iniciativa, porém, migalhas é melhor do que nada e  para lembrá-las que eu ainda existo, decidi  agir à moda antiga e enviar um cartão de natal  para  cinco.

    Mas porque exatamente cinco? Simples. Encontrei uma promoção de cartões  ao valor de um real, com envelope, e como eu tinha exatamente cinco reais, efetuei a compra.  O critério de escolha  para o envio foi  o tempo de ausência e distância. Tudo pronto, partir para  os   Correios e aí, percebi que o transporte saiu mais que o dobro  do preço do produto. Em selos, gastei   onze reais e setenta e cinco centavos, aí somado aos dez reais de passagem urbana, e a  empada que comprei, ao final, totalizaram trinta reais e vinte e cinco centavos.

       Na ponta do lápis, cada cartão saiu a um custo de seis reais e cinco centavos. Em tempos de   WhatsApp,  fiquei a pensar se  valeu a pena o   investimento?  Se o custo valerá o benefício? Será que  o recebimento de um cartão impresso  suscitará alguma lembrança dos idos tempos em que a conversa presencial era a melhor forma de demonstrar e amizade? São  apenas especulações de uma pessoa carente,  em busca de migalhas de afeto! Fato é que eu sou realmente só e  como sempre, passarei  as festas  de final de ano sozinha,  mas como a esperança  é a última que morre, quem sabe, uma pessoa entra em contato para agradecer o cartão, talvez, pelo susto de receber uma correspondência impressa.

 

sábado, 19 de novembro de 2022

Não senti orgulho

      

Nunca  aprecie os esportes! Mas como  preciso de praticar uma atividade física,   pensei em artes marciais e  optei pelo tai chi chuan. Pensei que era  uma atividade  voltada somente para a boa saúde, porém, a academia  mais próxima à minha residência, que oferece  a modalidade, tem o foco em campeonatos e mesmo assim, fiz a matrícula, já que pobre não tem vontade própria, sempre é  a carteira que tem a última palavra, Fazer uso do transporte público para ir à academia, simplesmente dobra o valor da mensalidade. Fiz a matrícula e me tornei a atleta mais pontual, no alto de meus oitenta anos.

              Em minha primeira participação em um campeonato ganhei medalha de ouro e não senti a menor  alegria diante das circunstancias, fui candidata única na categoria sênior.  Agora, estou com uma  medalha de ouro, ocupando lugar e juntando  poeira, sem a  menor centelha de orgulho de mim, de superação, acho que teria sido mais  melhor para a minha auto-estima se tivesse recebido  uma medalha de participação.

 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Saga em busca de um dentista

                 

            A dor de dente está entre as piores dores  que acometem o ser humano e  aproximadamente umas três semanas, tenho padecido  com este mal. Ainda no princípio,  moderada, porém, contínua e, antes que aumentasse em intensidade fui procurar  um profissional competente à altura de meu bolso. Confesso que não foi fácil.  A primeira tentativa foi com a  minha dentista que não é uma profissional  de  que eu confie tanto, mas pelo menos, posso pagar. Ela estava em viagem, fui atendida por uma colega que  fez uma avaliação e eu não senti firmeza em seu diagnóstico. Depois, passei pela colega, especialista, que atende uma vez por semana, além de eu pagar R$60,00 por uma radiografia, ainda pediu uma panorâmica, e receitou-me antiinflamatório  e analgésico. O pior é que  eu não tenho uma árvore de dinheiro. Fui em busca de outro.

            Com o novo profissional não foi diferente! Fez mais um raio X, não viu nada e receitou antiinflamatório e   pediu que eu retornasse em cinco dias. Por ser uma dor generalizada e os dentes não apresentarem cárie,  cogitei a possibilidade de  ser um problema nos maxilares e   começou a minha saga na internet em busca do especialista: bucomaxilo facial. Foram mais de quatro horas de pesquisa, consulta  no C.R.O., intermináveis telefonemas, até que localizei um profissional  nas proximidades de minha residência, mas a foto do consultório   e  por ele  trabalhar sozinho, sem uma recepcionista, deixou-me apreensiva, mas a dor falou mais alto e eu fui. Sol à pino, marchei rumo ao alívio da dor. Achei o consultório sujo, após o meu relato, ele disse que o caso não era com ele,  que eu não pesquisei bem, que ele era especialista em dente siso, pedi que ele pelo menos, olhasse o dente, ele o fez de má vontade, disse que precisava fazer uma radiografia e que ficaria em R$50,00, autorizei.  Ele analisou bem a radiografia e disse com segurança que o problema  era uma cárie em baixo de uma coroa, já bem antiga,  que eu fiz aproximadamente há uns trinta anos, e que precisa ser feito o canal, ele não fazia e indicou um colega. Pois é, véspera de feriado de 15 de novembro, dia da Proclamação da República,  cansada, faminta e com fome, entrei em contato com o  dentista que se prontificou a atender-me, às 18 horas  porque  o paciente do horário havia desmarcado, a gente sabe que é mentira, é que não tinha paciente, isto é jogada.

            E lá se foi mais R$250,00,  ele abriu o dente, fez um curativo e falou das possibilidades de  resolver  o meu problema odontológico, já que a primeira preocupação dele, era acabar com a minha dor. Alegou não conhecer a minha  boca e pediu uma radiografia panorâmica. Chego a pensar que dentista recebe comissão por indicação de   clientes, não é possível.  Também prescreveu medicação  para três situações: antibiótico, para tomar sete dias, caso acordasse com o rosto inchado e com dor, e se a dor persistisse, sem inchaço, somente o antiinflamatório  durante cinco dias e caso ele não desse conta do recado, tomasse também   dipirona.  Acordei praticamente sem dor, mas  como antibiótico  se compra somente com receita médica, vou aviar a receita para deixar  para o caso de uma  infecção urinária, muito comum, em nós, octogenárias e atendimento  em Posto de Saúde não é fácil, e os sintomas já são velhos conhecidos. Amanhã começa a nova saga: a continuidade do tratamento!

 

 

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Dois dias após a eleição/2022

 

       Hoje é primeiro de novembro de 2022 e está chovendo. Uma chuva fina e constante já faz para mais de 20 horas. Graças a Deus, estou quentinha dentro de casa e o melhor, de barriga cheia, enquanto tantos estão famintos dormindo nas ruas geladas; como desfrutar desta benção com a consciência em paz? Admito: no momento, só tenho a agradecer.  O dinheiro está contato, mas tenho o básico.  No aconchego do meu lar, fico a observar a euforia das pessoas. O Brasil está divido: à esquerda, temos a turma do vermelho, que acredita cegamente na narrativa construída para conseguir  seguidores fiéis  que não percebam a discrepância entre o discurso e a realidade à sua volta; do lado direito,  está  o verde/amarelo que acredita no resgate dos valores universais e na religiosidade, na liberdade de expressão e na  economia. Enfrentando as intempéries, o  os verde/amarelo foram as ruas em apoio ao “Mito”  o presidente derrotado. Eu já viví momentos semelhantes e não acredito em um futuro próspero à curto prazo e menos ainda em um “Salvador da Pátria”, principalmente quando este já teve a  oportunidade de mostrar serviço, e não fez, preferiu encher os bolsos.

       Embora eu era ainda uma criança,  tenho em minha mente, a preocupação das famílias  em 1964, elas não sabiam ao certo o que estava acontecendo, os meios de comunicação  eram precários e as notícias demoravam a chegar. Eu participei nas ruas do “Diretas Já” e acreditei em uma  melhoria na qualidade de vida do pobre. Eu pintei a cara de verdade amarelo  e fui a rua pedir o impeachment de dois presidentes da  República e presenciei tentativas de assassinato de um candidato   e sabe o que aconteceu? O pobre ficando cada dia mais pobre e o rico, cada dia mais rico. Esta euforia toda não vai dar em nada, a esperança desaparecerá no ar feito fumaça e a carestia e os impostos  continuarão assolando a vida de trabalhador.

      

sábado, 29 de outubro de 2022

Sábado é dia de peixe (tainha)

 

Estou com  o coração partido!  Sim, muito  dolorido porque estou contribuindo para o extermínio das tainhas.  Tenho ciência de meu lugar na  natureza, sei que sou ponta de espécie  e para que eu viva, outros  precisam  perecer. A vida é violenta!  Assim sempre foi e sempre será.  De todos os peixes que já degustei, tainha é o meu favorito e hoje comprei uma bem pequena, sendo que  a  espécie chega a atingir um metro de comprimento, a que foi servida em meu almoço, deveria ter sido devolvida ao mar; antes de ser limpa, pesou apenas 250 gramas, uma bebê.

        Cada tainha desova até 5 milhões de  ovos, porém,  a chamada safra da tainha acontece exatamente durante a migração  reprodutiva da espécie,  na prática, trilhões  de ovas foram parar no lixo, porque são capturadas, há de ver  uma legislação que as protejas durante este período  importante para a continuidade da vida.  Isto me preocupa sim,  aprecio a carne da tainha, mas os cardumes, cada vezes menores e uma pesca desenfreada pode por fim a este prazer e da espécie. Acho que vou tomar uma atitude séria! Não comprar filhotes!

sábado, 22 de outubro de 2022

Sábado é dia de peixe (budião-vermelho)

 

            Hoje foi um sábado especial porque o sol brilhou e eu fui participar de um evento relacionado ao Outubro Rosa/2022. A organizadora preparou tudo com muito  capricho, porém, a adesão foi pequena e eu fiz questão de parabenizá-la  no grupo de WhatApp, para que as faltantes soubessem o que perderam, por preguiça de levantar cedo. Pela quantidade de  petiscos, era visível que ela esperava mais mulheres para conversarem sobre a saúde das mamas.  De tudo o que foi falado, o que mais chamou a minha atenção foi a ênfase nos seios e útero, como fonte de vida, nutrição e poder feminino. A triste constatação é que os seios estão erotizados e o útero esquecido pela maioria das mulheres. Eu nunca havia pensando  em meu útero como  um centro de energia, local  onde pulsa o amor e a feminilidade; onde está guardado  o potencial criativo, a verdade essencial. O ventre materno é a primeira morada e  lá estão guardadas  as memórias celulares, inconsciente coletivo e saberes ancestrais. Finda  a vivência, fui à feira livre.

       Sábado é dia de feira e consequentemente, de comprar peixe fresco, de boa qualidade e mais barato. Hoje foi o dia de  budião-vermelho, um peixe  herbívoro, se alimenta de algas  são encontrados no oceano Atlântico entre 3 a 25 metros de profundidade, e com uma peculiaridade: todos nascem fêmea e  com o passar dos anos, alguns se transformam em macho e são os machos que protegem os ninhos após a desova e são pais amorosos, lutam até a morte  na proteção das futuras gerações. É um peixe saboroso, com carne de sabor  intermediário e poucos espinhos. Recomendo.

 

domingo, 16 de outubro de 2022

Remédios que não são vendidos em farmácias e drogarias

     Tem gente que não tem desconfiômetro,  às seis horas da manhã, enviando mensagem  e não é de falecimento. Nota de falecimento não pode esperar porque o corpo do morto tem pressa em retornar  ao útero da mãe terra, e como não fala, exala  odores que expressam o desejo de partir.  Olhei a mensagem já com o coração não mão, pensando de qual amiga eu me despediria para sempre ou  na melhor das hipóteses, acompanharia-a  ao Pronto Socorro, felizmente era apenas uma mensagem  sobre os medicamentos que não são  encontrados no comércio legal e menos ainda no clandestino.

E  a lista começou falando da importância da atividade física, bem, quem mora em casebres e minúsculos apartamentos, encontram  obstáculo para praticar até mesmo uma caminha porque são pobres e isto significa que trabalham muito, enfrentam no mínimo quatro horas diárias dentro de ônibus urbanos, não tem espaço em casa  para exercitarem e menos ainda, calçado para enfrentar ruas esburacadas,  comuns nas cidades brasileiras.

Comida natural. Impossível   para o trabalhador brasileiro  que recebe em média, dois salários mínimos comprar comida orgânica simplesmente pelo preço, a grande massa consome somente produtos ultraprocessados e com baixo valor nutricional, e quanto a verduras, legumes e frutas, embora pareçam saudáveis estão repletos de  pesticidas e adubos químicos, e quando podem comprar, já que os preços  estão nas alturas por culpa da guerra, da chuva, do sol, do combustível e por aí a fora.

Rir. Pois é, este é de graça,  mas com as contas atrasadas, cobradores na porta a todo instante, celular sem crédito,  faltando remédio no Posto de Saúde, crianças chorando de fome, professores enviando lista de materiais escolares quilométricas, como o cidadão vai conseguir usufruir desta dádiva divina que é o riso?

Sono.  Essa sugestão  só pode  ser oriunda da cabeça de alguma madame que recebe café na cama e tem uma empregada até para lhe oferecer  o pijama, na hora de dormir. O trabalhador tem que sair de casa às quatro da manhã para entrar às oito  horas no trabalho, sai às dezessete horas,  e enfrenta um trânsito pesado, ônibus apertado, tem que passar no mercado, enfrentar fila para pagar a compra ou pedir fiado, preparar algo para comer, tomar banho, aí já  são quase meia noite, mais uma dádiva divina  gratuita que o pobre não  consegue  desfrutar, assim como sol, já que quando não está em trânsito, está trabalhando sob luzes artificiais.

Duas boas sugestões: amar e ser amado! Na teoria  é fácil, mas no dia a dia do trabalhador brasileiro só há espaço no coração para rogar misericórdia divina para que a sua carga diária  seja aliviada e que ele consiga viver até desfrutar de sua aposentadoria, que não lhe proporcionará conforto e lazer,  mas poderá  ficar  no sofá o dia inteiro  assistindo televisão.

Gratidão é outro remédio indicado. Ah! Isto o trabalhador tem de sobra. Ele é grato porque   ainda consegue  levar um pouco de comida para casa com dignidade, enquanto grande parte da população revira lixo em busca de algo para aplacar  a dor da fome. É grato por ter o privilégio de se apertar dentro de um ônibus lotado porque ir caminhando ou de bicicleta é impossível em virtude da distância.

Cantar e dançar! Também são bênçãos divinas gratuitas que o pobre não pode desfrutar porque não há espaço em sua residência para dançar e frequentar bailes  tem um  custo  e cantar, os vizinhos não permitem.

            Ter bons amigos.  Eita dureza! Amigos estão  bem vinculados a dinheiro e favores. Se faltar dinheiro, os amigos desaparecerão no ar feito fumaça. Se você deixa de fazer favores, eles somem.  Então, posso concluir que os remédios   para uma vida plena e feliz existem, mas se não há dinheiro, nem mesmo da luz solar  e ar puro, o  trabalhador pode se beneficiar.

 

sábado, 15 de outubro de 2022

Sábado é dia de peixe - (Roncador e Corvina)

                      Amanheceu com uma garoa finíssima e eu deixei para  ir à feira  livre mais tarde com medo de ser assaltada porque sabia que as madames não estariam nas ruas passeando com seus cachorros, comércio fechado  e não haveria as donas de casa lavando garagens e calçadas, estaria só, a mercê dos meliantes encarnados. Lá pelas nove horas da manhã, peguei as sacolas, meu guarda-chuva e  parti. Sábado é dia de comer peixe, um alimento indicado por médicos e nutricionistas, porém,  muito caro para o salário dos aposentados, como eu. Sei que você, leitor, deve estar se perguntando  como consigo comer peixe uma vez por semana? A resposta é simples: eu não compro o que desejo o que está na moda, mas aqueles que posso pagar e eu  gasto no máximo dez reais por semana, com a minha iguaria porque descobri  num pequeno cantinho da barraca do peixe, a “mistura” ,  por   apenas onze reais o quilo.

          Mas afinal, o que é esta “mistura”? Nada mais, nada menos do que  aqueles peixes pequenos, que são vendidos por preço único, independente da espécie. E são pequenos mesmos! Hoje comprei um  roncador e uma corvina por apenas quatro reais, ou seja, dois peixes inteiros não chegaram a meio quilo. Em meu pensar, deveriam ter sido devolvido às águas,  em virtude do tamanho. Mas é o que eu posso pagar no momento, e enquanto preparo-os meu pensamento se eleva em gratidão àquele que deu a sua vida para alimentar a minha.

          O peixe-roncador vive em cardumes em águas  de baías, praias, canais e estuários no litoral sul brasileiro; é carnívoro, se alimenta de outros peixes e invertebrado e o seu nome peculiar se deu em virtude  dos roncos emitidos quando é capturado. Ele é valente, luta pela sua vida com as armas que tem: sua força e seu gogó.  É muito saboroso, eu preparei assado, mas deve ser consumido com cuidado em virtude dos espinhos, assim como a corvina, originária da América do Sul e é  encontrada nas águas doce  brasileiras, vale ressaltar que  o cardume gosta de  águas fundas e turvas, agora, não sei se é história de  pescador, mas dizem que ela é canibal! Canibal ou não, é uma delícia!  E vale a pena  experimentar!  Preparei assada, porém, pode sem consumida em moqueca, frita.

Deixe aqui nos comentários, qual o seu peixe favorito.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Meu nome é reclamação

         

             Dizem que existe  diferença entre casa e lar. Que lar é  o local em que há aconchego, companheiros e amor, e casa é apenas um refúgio de madeira e alvenaria. Então sempre morei em casa, mesmo rodeada de pessoas, nunca me senti conectada com o outro e a solidão, sempre foi minha fiel companheira.  A beleza de um lar  com  decoração da moda, um jardim bem cuidado e fartura no pomar e na horta, agrada apenas aos olhos porque é a doçura das ações que encanta a alma, e isto foi o que me faltou desde a gestação.

            Às vezes chego a pensar que   pessoas como eu, são predestinadas a carregar  um peso transgeracional nesta vida, enquanto  para outros, a vida é uma eterna festa, aos olhos de  quem sente o fardo de viver nas costas. A minha vida sempre foi transpor um obstáculo a cada dia, sem apoio de ninguém,  refugiando na leitura, a terapia que tinha no momento, graças as bibliotecas públicas.  Pelo fato de não ter  tido acolhimento em minhas dúvidas pueris, enxerguei os livros como mestres que falam diretamente ao nosso coração e  em cada página, um ensinamento que carregaremos para o resto de nossa vida. Ás vezes, o livro  que estamos lendo, não esclarece a dúvida do momento, mas trás outros ensinamentos e  com o avançar das leituras, as dúvidas são respondidas.

            O homem organizou a natureza e deu-lhe o nome de jardim, o que é desnecessário porque os vegetais acalmam, não importa se perfeitamente organizados ou alheatoriamente espalhados   na calçada, em terrenos baldios. Toda a criação divina  acalma, o verde,  o vai e vem das marés, o manto azul celestial, e mesmo sabendo que moro dentro de mim, nada disso me alegra. Eu falhei quando permite que os pássaros da tristeza, fizessem ninhos sob minha cabeça,  e ainda  mais, ao permitir que gerações e gerações  de passarinhos continuam a criar o seus filhotes. Admito  que sou culpada, pois não me permito levantar os olhos para o céu e contemplar a imensidão do universo, fixo  meu olhar no lixo produzido pelo homem, sempre a lamentar a dureza da vida.

            Preciso ouvir música de qualidade, música folclórica, que expressa o desenvolvimento  de uma cultura. Sei que são as experiências negativas que têm mais  impacto para a sobrevivência, a questão que aflige minha alma é encontrar o equilíbrio entre o positivo e o negativo, parece que eu tenho um imã que atrai  situações ruins.   Pelo que seu, no Budismo, o sofrimento é resultado de três grandes venenos: ilusão, ódio e ganância, tenho os três na teoria, porque na prática, o que realmente eu sou capaz de fazer com eficiência é reclamar e culpar os outros pelos meus fracassos. Falta-me a força  e a persistência para lutar pelas oportunidades que circulam por aí. Sonhar com um futuro próspero e feliz, não leva  o sujeito a lugar nenhum, é no momento presente que estão as oportunidades de trabalho,  o amor e a felicidade.

sábado, 1 de outubro de 2022

Outubro Rosa/2022

         

Hoje começa a  campanha de  conscientização para prevenção do câncer de mama com um slogan maravilhoso: “ Quem tem peito tem direito”. No papel parece perfeito, mas para as mulheres periféricas é apenas um sonho  o acesso a este direito em virtude da jornada de trabalho diária de oito horas, somada  a mais quatro horas em trânsito, e o SUS,  em tratamentos preventivos atende somente em horário comercial.

Direito no papel, todos os brasileiros possuem, garantidos pela Carta Magna, e as indígenas, que são as verdadeiras donas da terra, será que sabem que  podem usufruir do direito de prevenção ao câncer da mama?  Hoje encontrei uma senhora indígena da etnia guarani,  que reside na periferia  da cidade, vendendo  mudas de  plantas que colhe no mato   e tivemos um papo leve, mas o que marcou o encontro foi a tristeza de saber que para ela, comprar uma sandália  no valor de R$40,00, é algo totalmente fora de sua possibilidade.

Eu havia prometido  levar um par de sandálias  de plástico, para uma pedinte, que fica  na entrada, mas  hoje ela não apareceu, e para não voltar com o pacote, perguntei a senhora guarani, se ela gostaria de ganhar  o calçado e ela o aceitou com expressão de felicidade no rosto. Comentei que havia comprado a sandália por ser bonita e prática para dias de  chuva, mas que não havia  me adaptado a ela, razão pela qual, estava calçando os crocs, que apesar de feios, são extremamente confortáveis e para minha triste surpresa, ela confessou que achava bonito, porém, caros razão pela qual nunca pode comprar um par.  Quase tirei os do meu pé para ela, só não o fiz porque já estão bem gastos. Mas quero fazer uma economia  e  presentea-lá com um par, neste natal. Que Deus me dê saúde  e trabalho para que eu possa proporcionar alegria àquela senhora guarani.  Este encontrou mostrou que se  o acesso aos direitos constitucionais  é difícil para as  mulheres periféricas,  imagine para a mulher indígena! Outubro Rosa é maravilho  o projeto, porém, a realidade de quem sente na pele a morosidade e dificuldades  da Saúde no Brasil  pode dizer com propriedade. Mulher indígena tem peito, portanto, tem direito.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Só com os pensamentos

            

            A sabedoria popular diz que para o bem da vida, é importante que a pessoa não estacione a alma em locais que não há espaço acalentar os sonhos,  inclusive aqueles  impossíveis mas que são essenciais em momentos de tensão para aliviar  o peso da carga. É importante lembrar que nenhuma pessoa deve se sentir culpada  por fazer o que é melhor para ela, primeiro cuida de sí, de suas necessidades, pois assim terá  a força necessária  para cuidar do outro.

            A preocupação com o que as pessoas vão pensar de mim é pueril porque as almas se reconhecem pela energia que emana, não pela aparência física e atitudes que não são próprias. Nesta vida, não se deve correr atrás de quem não move um passo  por você, mas  que caminha, contigo no momentos difíceis,  diante da fragilidade humana, união e solidariedade são valores essenciais.

sábado, 10 de setembro de 2022

Adeus Rainha Elizabete II

              

       A sensação que temos é que ela sempre existiu. Também pudera, reinou por sete décadas! Considerando que os meios de comunicação de massa, a  contar pela invenção  do rádio, que neste  mês de setembro completa 100 anos, e que  era privilégio de poucos, quando a grande massa popular entrou em contado com  o noticiário  internacional, Elizabete II já estava no Trono forjando a alma e o espírito da Inglaterra. Todo o mundo globalizado se sente um pouco súdito da monarca que representa o melhor do povo inglês e ela sempre esteve presente em nossas vidas, razão pela qual o mundo  está devastado com esta perda. Uma mulher serena, firme que com a sua presença inspiradora, conseguiu liderar  o seu reino nos momentos mais sombrios com leveza, ética e cuidado.

       Estamos perplexos, tristes e também orgulhos pelo sermos seus contemporâneos e não a ter conhecido somente pelos livros didáticos, como todas as crianças nascidas a partir de 08 de setembro de 2022. Ela parabenizou os brasileiros pelos duzentos anos de Independência e, um dia após, foi brilhar no céu. Acredito também que estamos em choque porque nós não acreditávamos que ela partisse antes nós. Centenas de milhares de pessoas nasceram, cresceram e morreram durante o seu reinado.  A verdade é que  muitos chefes de Estado, quando morrem, ninguém tem coragem dizer, mas pensam: “ foi tarde”; com Elizabete II, aconteceu o contrário,  mesmo tendo reinando  durante 70 anos, ela foi cedo demais, mesmo  já tendo feito muito pelo seu país, ela foi e sempre será um exemplo de adaptação aos novos tempos, sem no entanto, perder a  sua essência! Viva a Rainha Elizabete II!!! Agora reinará no céu por toda a eternidade!

       Um susto atrás do outro. Ainda nem nos recuperamos  da morte da nossa querida e amada  Elizabete II, já aparece outra notícia  chocante: um incêndio misterioso que deixou seis mortos e dois feridos, em uma casa de repouso na Zona Leste da capital paulista.  Ninguém sabe como começou e como terminou. Vizinhos  não suspeitaram de nada, confessaram que sentiram cheiro de fumaça mas  pensaram que era fogo  em um mato nas proximidades, ninguém admitiu que  ouviu gritos, pedidos de socorro e o mais estranho  é que o fogo apagou sozinho. O Corpo de Bombeiros foi acionado pelos funcionários que   chegaram para a troca de turno, às sete horas da manhã.  O que aconteceu?  Como aconteceu? Por que aconteceu? Se havia oito pessoas na casa, por que  nenhuma acordou?  São perguntas que esperam respostas.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Papo de eleitora para candidata

     

Ações para depois da vitória

Ø     Bolsa estudante:  projeto maravilhoso com algumas ressalvas. Desde que ele contemple apenas  alunos que vivem abaixo da linha da pobreza, condicionado a  freqüência escolar e que ele não posso  ter nenhuma reprovação durante o ensino médio e que a liberação do dinheiro  esteja vinculada a  sua entrada na faculdade, abertura de um negócio próprio, entrada em uma casa própria;

Ø     Auxílio Brasil – renda mínima – è um projeto que precisa ser aprimorado porque  da maneira como ele está, está se criando uma população  incapacitada para caminhar sozinha, assim, sugiro que as famílias que o recebe e que tenham filhos em idade escolar,  tem que apresentar anualmente, no ato do recadrastamento, a carteira de vacinação  das crianças e dos responsáveis,  a matrícula escolar e o boletim escolar.  È preciso que se faça uma parceira com as prefeituras e estados para ofertar cursos profissionalizantes  para que toda pessoa que receba  esta renda, seja obrigada a se  capacitar para reingressar no mercado de trabalho. Como também, fazer parcerias com os postos de saúdes para  oferecer atividade físicas, inclusive em finais de semana,  e que elas sejam obrigadas a participar, pelo menos, uma vez por semana, por duas razões principais: Eles trabalham o corpo físico e mental e  fazem um networking, que possibilita  encontrar novas oportunidades de trabalhos. E que estas atividades sejam ofertas em bairros periféricos, pois o valor do transporte urbano no Brasil  é abusivo.  

Ø     Trabalho - A maioria dos brasileiros trabalha  8 horas e recebe um salário mínimo. O auxílio Brasil está pagando metade de um salário mínimo e sem a pessoa trabalhar, sem contribuir com o INSS e sem direito a uma aposentadoria no futuro. Assim, sugiro que revejam o programa e converse com governadores, prefeitos, representantes do comércio e da  indústria para que eles contratem os beneficiados por um período de quatro horas, cinco dias por semana, sendo o auxílio Brasil pago pelo Governo Federal,  por intermédio do empregador, ficando a cargo do empregador somente o INSS e vale transporte. E que faltas sejam descontadas no valor do vale transporte e do auxílio Brasil. Assim,  as empresas interessadas em participar do programa se cadastrem e que tenham em seu quadro de funcionário 30%  dos beneficiados,  sendo 10% das vagas para maiores de 50 anos, 10%  portadores de necessidades especiais e 10% de jovens primeiro emprego. É bom para a empresa,  que terá uma folga  em sua folha de pagamento,é bom para  beneficiado que  conseguirá ingressar novamente no mercado de trabalho, é bom para os funcionários que estão acumulando funções fazendo trabalho de dois porque os empregadores estão  em dificuldades, é bom para o INSS, que receberá a contribuição.

Ø     Excedente-Pessoas que não forem absorvidas pelas empresas privadas, deverão prestar serviços 4 horas por dia, cinco dias por semana em asilos, creches, posto de saúde, prefeituras, escolas, cuidando das praças, capinação, varrição de ruas,  pintura e limpeza de prédios públicos, Hortas escolares e comunitárias e outras funções de acordo com formação e experiência profissional..

Ø     Zona rural- pessoas terem  horta e no mínimo, três árvores frutíferas.

Ø     Um  país que não resgata a dignidade humana pelo trabalho, não prospera! Para acabar com a fome é necessário resgatar as pessoas do fundo poço e isso se faz com políticas públicas  de capacitação e oferta de trabalho.

 

domingo, 28 de agosto de 2022

Os CDs do meu filho

     

O filho que não chegou

 

Eu quis ser mãe! Este sempre  foi o meu sonho desde  a mais tenra idade, infelizmente, não pude realizá-lo, por força das circunstancias e o que mais pesou, foi o lado financeiro. Eu  queria um filho para amá-lo, cuidá-lo e educa-lo para ser um homem de bem,  não para   deixa-lo às 7 horas da manhã  em uma creche e busca-lo às 19 horas e, em finais de semanas alternados, confia-lo  a uma babá barata, talvez até menor de idade, que ficaria atenta à televisão e ele, entregue a própria sorte. Durante minha vida laboral,  trabalhei como faxineira em hospitais, escala 15 por 2. Que tempo eu teria para  oferecer companhia ao meu bebê?

Durante longos anos alimentei a esperança de tê-lo em meus braços; o desejo era tamanho que eu comprei tantas coisas para ele  em  brechós, sebos e listo aqui, somente os  últimos CDs, que  foram acumulados ao longo dos anos, na ânsia que ele fosse um homem culto, honrado e trabalhador.

Cantando a história – Grupo vocal Garganta Profunda;

Toquinho Exclusivo  Ensinando a Viver;

Canções do tempo;

Canto das montanhas,  povo krenak, Maxacali e Pataxó;

Feng Shui, harmonizando espaço;

Músicas folclóricas brasileiras;

Festa na Escola;

Dança Indiana;

Danças circulares sagradas;

Palavra cantada;

26 cantigas de roda;

Monet;

LudwigVan Beethoven;

Os grandes clássicos;

A música do Japão;

A música da Alemanha;

A música do Leste Europeu;

A música da Grécia;

A música do México;

A música de Portugal;

A música da China;

Crianças do Mundo;

A música de Israel;

A música da Escandinava;

A Música da Irlanda;

JohnnStrauss, Valsas, polcas de Viena;

Ludwig Van Beethoven, sinfonia nº 3

Como puderam ver estes são os  últimos CDS que estavam guardados a espera de quem nunca vai chegar e  hoje, finalmente, meu coração  permitiu que eu os doasse e já sei em qual banca os levarei e com o coração aberto os entregarei  ao vendedor e quiçá, eles   sejam comprados por pessoas que os ouvirão  muito.  Vai meus CDS,   circulem  e  alegrem outros corações, ninem outras crianças! Que as pessoas que os adquirem sejam abençoadas em todos os sentidos. Peço a Santa Cecília, protetora dos músicos, que direcionem os passos das pessoas  que precisam destas músicas a  banca onde os levarei, em 09 de setembro de 2022.

            Ao meu filho, que nunca chegou,  cuja alma está em algum lugar do universo, só posso desejar-lhe que nasça em umlar que lhe possa cobrir de amor, cuidado e muito carinho que lhe ofereçam todo o amor que eu queria lhe dar. Onde está, onde estiver, seja feliz, muito feliz, mais feliz ainda! Peço a Deus que coloque em minha vida, pessoas boas e confiáveis, que  amenize um pouco o vazio  do  coração desta  mulher, cujo ventre  não gerou uma vida, desta mulher, que  não viverá até a sétima geração,  por meio de  seus descendentes. Minha vida na terra será até o dia do  meu último suspiro! Não deixarei lembranças e nem saudade!