domingo, 31 de março de 2019

Nove dicas



          Grande  parte das  mensagens que circulam nas redes sociais  são desnecessárias e faz-se perder  valiosos minutos caso opte por não passar adiante e as mensagens de autoajuda; raramente  o usuário  depara-se com algo útil, e quando isso acontece é para lembrar às mulheres da vulnerabilidade em que se encontram como a que dá dicas de proteção  quando circulam sozinhas pelas ruas da cidade, e foram elas a inspiração para a criação destas novas dicas.
          Dica número 1- Andar com as melenas ao vento não é seguro, o ideal é  prender os cabelos em um coque por exemplo, madeixa solta  facilita quem está por trás puxa-las. É o final dos tempos,   ter que arrumar o cabelo de maneira que  a jovem fique mais protegida, e não mais feliz,  mais charmosa!
          Dica número 2 - Andar pelas calçadas ao bem prazer  passado a mão pelos muros,sentido as diversas texturas ou bem próximo a ele não é recomendado porque pode haver alguém a espreita e puxa-la.  A noite  ou mesmo durante o dia, em rua deserta, não passe embaixo de árvore frondosa,  o camuflado por saltar à sua frente, ao seu lado, em segundos.
          Dica número 3 – Mochilas combinam com costas, mas não é uma boa opção, é mais fácil para alguém puxar  você por trás, infelizmente ela e a bolsa devem ser carregadas na frente e de preferência sem nada de valor.
          Dica número 4 – Celular é uma ferramenta importante tanto para ajudar a se localizar como em casos de  emergência, mas ostentá-los significa colocar a sua vida em risco e, na bolsa, devem estar no silencioso e  como companhia, ele terá o relógio, pulseira, brinco e demais objetos de valor.
          Dica número 5 -  Não há quem discorde que caminhar pelas ruas ouvindo as canções preferidas é uma alegria, porém, fone de ouvido torna mais difícil  a percepção dos ruídos da rua e principalmente de passos que pode estar lhe seguindo, esperando o  momento exato para dar o bote. É mais  seguro ouvir música em casa e com o portão e as portas externas trancadas.
          Dica número 6 –Dizem que os estupradores  preferem  atacar vítimas que estão com as mãos fazias, assim, faça chuva ou faça sol, é bom andar com um guarda-chuva ou algo que sirva para bater. Verdade ou não, vale tudo para  se proteger dos malfeitores.
          Dica número 7 –  Tenha a síndrome  de Moinho  de vento. Quando estiver percorrendo ruas pouco movimentadas ou a noite,  de vez em quando, olhe para  os lados e principalmente para trás, você pode esta sendo seguido, caso perceba algo suspeito, apresse o passo e se necessário, grite, não socorro, ninguém irá ajudá-la, ficarão com medo, com todas as forças de seu pulmão, berre: Fogo!  Para preservar a vida, alguém pode aparecer  e a presença de testemunha,  fará o meliante seguir outra rota.
          Dica número 8 – A vida é o bem mais precioso e é preciso zelar por ela, assim, ao escolher o itinerário, opte sempre pelo mais seguro, mesmo que seja o mais longo.
          Dica número 9 – Saia sozinha, somente quando não houver alternativa. Ir  à feira, ao  mercado, a padaria, procure combinar com as vizinhas os dias e horário, pior  do que companhia chata, é retornar ao lar sem os seus pertences e, quando for para as baladas, reserve dinheiro para o táxi da volta.
Infelizmente as mulheres são as vítimas preferidas dos meliantes. 

sábado, 30 de março de 2019

Sempre com medo




          O Brasil é de fato, uma país abençoado por Deus e  por ele foi agraciado com terras férteis, abundância de   água doce e  uma rica biodiversidade. Além destas bênçãos, este pedaço de chão recebeu  outras proteções divinas: sem terremoto, tsunami, tornado e furacão, ou  seja, a própria  imagem do paraíso bíblico. Acontecem às vezes uns temporais com ventos fortes que causam grandes prejuízos mais em virtudes da imprudência  do homem e pela  falta de planejamento das  cidades do que pelo fenômeno em si. Estrangeiro que não  assiste os noticiários policiais,  não faz ideia do medo crônico que assola a pessoas de bem.
            Um dos fiéis companheiros dos brasileiros dá juventude à morte, é o medo do desemprego  e  de não poder arcar com as contas e sustentar a família. Somado a este, o medo  de ser vítima de um assalto seguido de tortura e morte. A crueldade é tamanha  que ao meliante, não basta tomar   os bens é preciso levar também a sua tranqulidade e dignidade. Foi-se o tempo em que  os ladrões eram apenas adultos, hoje,  principalmente as mulheres, suam frio ao  avistar um jovem porque até crianças de dez anos estão sendo usadas, as vezes, pelos próprios pais, para a prática de delitos; ingênuo quem pensa que estão armados com apenas canivete ou estilete!  Estes pré-adolescentes sabem manusear uma arma melhor que os seus contratantes e reagir  pode custar a vida. Os pequenos comércios, das áreas mais violentas, cansados das visitas constantes dos delinquentes,  foram obrigados a colocar grades nas portas e o cliente, não pode adentrar no estabelecimento para escolher os produtos,  entrega a lista e espera na calçada.
          As mulheres, quando  saem, são obrigadas a deixar em casa ou colocar dentro da bolsa os brincos,  pulseiras e até  a aliança, para não chamar a atenção. Caminham assustadas em uma fuga constante. Se estão de carro, vidros fechado e   com mais atenção nos transeuntes do que nos sinais de trânsito. Um automóvel não é mais sinônimo de segurança! Nem mesmo o lar, apesar das grades nas janelas, concertinas, redes laminadas nos muros, câmeras e alarmes, residências são invadidas, moradores torturados e traumatizados e para piorar o clima de tensão constante, não há esperança de que esteja situação caótica seja resolvida em médio prazo, portanto, de um amanhecer ao outro, por longos anos, o medo continuará sendo o  fiel companheiro do trabalhador brasileiro, em um país belo  e rico.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Vestido à espera



          Preocupar-se com a beleza física é uma necessidade inata do ser humano, principalmente das mulheres, e em um país  imenso como o Brasil   com diferenças climáticas expressivas, a moda do Sul é bem diferente da do Centro Oeste, assim, quando  muda-se a base residencial, há também a necessidade de  renovar o  guarda-roupa, não para exibir  uma indumentária nova, mas  por uma exigência climática, isto quando  há dinheiro para  este luxo, porque as despesas com  mudanças são faraônicas.
          Rosalinda  saiu de uma região de clima quente e seco, chuvas raras  e foi residir no litoral,  e o sonho de  morar bem próximo à praia  em menos de um mês, já havia transformado em um pesadelo, era final de inverno. O astro rei, dava o ar de sua graça uma vez a cada quinzena, dias frios e chuvoso, umidade do ar 95%, rajadas de ventos constantes que a obrigava a  ficar com as janelas fechadas e, quando saia à rua, era obrigada a usar capa de chuva porque até os mais resistentes dos guarda-chuvas,  eram despedaçados com as lufadas do sul.  O apartamento transformou-se em uma estufa de mofo e bolor. Ela não sabia como lidar com a nova realidade, pediu orientação as moradas antigas.
          Mensalmente se vê obrigada  a fazer uma limpeza rigorosa, com água e vinagre no interior dos móveis, principalmente  no guarda-roupa, e ela não tem como impedir as lágrimas de escorrer pela face ao ver os seus caros e bonitos vestidos à espera de uma oportunidade em que possam ser usados. São sofisticados demais para  a nova realidade,  onde a moda  é bermuda e camiseta e  rasteirinhas de  borracha. Tanto sacrifício fez para adquiri-los!  Quantas peças de teatro deixou de assistir, quantos queijos canastras alimentavam apenas seus olhos, quantas vezes deixou de sair com os amigos para  jogar conversa fora em bares da moda, quantos aniversários e casamentos viu apenas  pelas fotos nas redes sociais para  poder  pagar a prestação em dia, para quê? Para eles ficarem dependurados nos cabides a espera?

quarta-feira, 27 de março de 2019

Prima



          Quando se vive  distante da família e da terra natal, os grupos no WhasApp, da família e antigos conhecidos, pessoas cujos rostos ficaram apagados na poeira da estrada, insistem em ressuscitar   fragmentos    de um passado distante  que somente é possível revivê – lo no universo virtual com  o apoio dos conterrâneos porque da memória já fora apagado há muito tempo. Existe exceção! Aquela prima, da mesma idade, que se viam semanalmente e era, e quando, sem nenhum preparo  psicológico e apoio  moral, se lê a mensagem que ela  faleceu, vítima de um infarto fulminante, não  há coração que resista, e neste caso, uma corrida à Farmácia mais próxima, em busca de um tranquilizante  é  uma questão vital, não somente pela perda, pela falta que ela fará para filhos, netos e bisnetos, mas também porque a fila está andando, um a um estão partindo para  o campo  santo e  isto não é bom sinal,    nesta fila, não há nada que se possa fazer, com senha ou sem senha,  um dia estará em primeiro lugar na lista do trem rumo ao ventre da terra madre para o repouso eterno.
          Após o susto, consequência  da perda inesperada, uma dor aflora  no coração pela ausência de uma  parente e pior, aquela   interlocutora  das memórias de outros tempos. Durantes as longas conversas em  dialeto local, não havia necessidade de explicações, bastava  um: lembra aquela vez em que nós duas estávamos .... era suficiente para  avivar  em ambas, o momento vivido, com a simplicidade e doçura  de outros tempos em que a vida era simples e que felicidade era encontrada em coisas singelas como rolar na grama, molhar os pés nas águas frias do riacho, colher flores nos campos sentindo o vento soprar nos cabelos e    especular  sobre o  joão – de- barro, o habilidoso engenheiro da floresta, que não frequentou   universidade e sabe construir   sua casa apenas seguindo o  instinto.
          A morte levou a única pessoa que  conhecia todas as suas dores,  seus  sonhos e por questões financeiras, não pode ir lhe dar o último adeus, aquecer suas mãos frias com lágrimas quentes e quiçá um dia  poderá  colocar flores em seu túmulo e conversar com a sua alma, sobre coisas que não podem ser ditas a outras pessoas.

terça-feira, 26 de março de 2019

Sonhos reduzidos



           Eloah desejava um dia, deixar  enterrada nas cinzas do passado, os pratos esmaltados, as canecas de alumínio de sua  infância, a mesa com toalha de plástico. Sonhava  tomar um bom vinho alemão em uma taça de cristal Bohemia,  empresa sediada na República Theca e que produz as melhores peças em uma união perfeita de tecnologia moderna e tradição artesanal. Imaginava a família reunida á mesa do jantar, coberta com uma toalha de linho branco bordada à mão, saboreando deliciosas iguarias em  requintada porcelana chinesa com seus delicados desenhos de conceito  imperial e  conversando sobre as   aventuras de Marco Pólo, que no século XIII,  singrou mares antes navegados e   se deslumbrou com o requinte e beleza dessa magnífica criação chinesa: a porcelana.

          Para quem nasce em uma família de parcos recursos financeiros e culturais,  a ascensão  social pelo trabalho é um privilégio de poucos e, apesar do imenso desejo e do esforço diário estudando à noite em escola pública e durante  o dia, labutando em fábricas que não exigia  mão de obra qualificada, aos sessenta anos de idade, Eloah conseguiu, pelo projeto Minha Casa Minha Vida, o seu cantinho para descansar os ossos, e feliz, para lá mudou, apenas com uma mala com suas velhas roupas. Queria tudo novo, mesmo que fosse o mais barato, já que agora vive de sua minguada aposentadoria.

          Percorreu as lojas populares e comprou os móveis em prestações a perder de vista. Fez via-sacra em lojas  de produtos importados em busca de produtos BBB ( bons,bonitos e baratos) que alegrasse a sua caça e assim viu seu  antigo sonho de porcelana, cristais e linhos sendo reduzidos em toalhas  de mesa em tecido sintético, cristais da Bohemia em vidros da Nadir Figueiredo e o tão almejado  jogo de jantar em porcelana chinesa, substituído por  uma louça Biona, mas esta, apesar de popular lhe trouxe um pouco de alegria porque  a sua decoração foi inspirada no grafismo dos povos maias, antiga civilização que habitou as florestas tropicais  das regiões hoje denominadas de Guatemala, Honduras e sul do México e quando uma ponta de tristeza e frustração começa a crescer em seu coração, ela dá asas à sua imaginação e pensa nos camponeses, que formavam a base da civilização maia e como ela, trabalhavam e trabalhavam  e morriam sem realizar os doces sonhos da  infância.


segunda-feira, 25 de março de 2019

Migalhas de atenção



          O que torna a humilhação maior é a consciência  que a mulher tem que está sendo humilhada e para piorar, com a sua permissão  e para ser mais exata, ela está favorecendo para que isto aconteça  por pura carência afetiva, já que não dá atenção a sabedoria popular que afirma que “é melhor só do que mal acompanhada”. Com o passar dos anos o sonho de casar e ter filhos foi sendo reduzido  dia a dia a ponto de  conformar-se com o que se chama hoje, de “ namorido” aquele folgado, que não a leva para jantar, ao teatro e nem mesmo para tomar a fresca, caminhando pela calçada ao entardecer, mas que sexta-feira à noite chega de mala e cuia e vai embora segunda-feira pela manhã, direto para o trabalho e deixando a roupa suja para ser lavada e passada, as contas de luz, água e supermercado que doravante são de  responsabilidade da mulher carente que  se contenta com migalhas de  atenção e paga caro por isso.
         Para uma mulher saber o quanto vale para  o homem amado, basta analisar minuciosamente, no decorrer  da semana,  o comportamento dele e com profunda dor, ela vai perceber que para ele, ela vale menos do que uma prostitua, já que quando  o homem sai com  uma meretriz, ele arca com o custo do motel e ainda   paga pelo serviço prestado e a inversão de papéis ocorre quando a mulher está carente ao extremo a ponto de oferecer, casa, comida e carinho  de graça. Onde  ela  conseguirá encontrar forças para dar um basta na situação e  se valorizar mais?
          “ Prevenir é melhor do remediar” é um adágio popular que deve ser levado a sério pelo mulherio no que tange aos  homens e a observação dos detalhes no relacionamento deve ser levado a sério com rigor científico. As redes sociais são fontes de pesquisa do interesse dele. Se ele está online e ainda não  leu  a sua mensagem, registre que   não tem interesse  no que você tem a lhe dizer  e isto não  é bom sinal. Se ele prefere enviar uma mensagem de boa noite em vez de telefonar e saber como você está, como foi o seu dia, já que hoje, redes sociais como  WhasApp, Facebook possibilitam falar por horas de graça; fique atenta, com está atitude ele está dizendo que  prefere  assistir televisão, ver as  mensagens  das outras e papear com  os amigos e sem culpa, porque ele sabe que   você é a boazinha conformada que está  sempre disponível  para ele e com  um sorriso nos lábios, cheia de cuidados para não aborrecê – lo, enfrentando horas no tanque e no ferro, para ele ficar com uma aparência impecável para desfilar o charme com as outras. O espertalhão sabe que você estoura o cartão de crédito no Supermercado   para preparar  os seus pratos favoritos, que não tem mais tempo  nem dinheiro para  frequentar instituto de beleza para   os devidos cuidados corporais. Que os antigos cabelos  cheirosos e  macios agora estão  duros e cheirando óleo de cozinha, as mãos, antes, suaves e perfumadas estão ásperas e  exalam cheiro de alho e cebola e  ciente de tudo isso, não oferece ajuda.  Após analisar estes pequenos detalhes e perceber que é exatamente isto que está acontece, saiba que ele não se preocupa com você, que vai deixá-la, assim que encontrar outra que ofereça mais e no fundo do poço, você terá menos chance de  encontrar um novo companheiro que  lhe dará o tratamento que merece. Lembre-se Gata Borralheira é conto de fadas! Bruaca de carga foi, é,  e sempre será  bruaca de carga. Mulher que aceita viver de migalhas, migalhas é o que terá pelo resto de seus dias.
         
         

domingo, 24 de março de 2019

Final de baile


          O normal é  as  pessoas, por ocasião de seu aniversário natalício, organizar a festa e arcar com  os custos; outros mais modernos,  preferem  à  comemoração em barzinhos e  cada convidado é responsável pela sua comanda. Os que estão em uma situação financeira periclitante, porém não quer abrir mão  da merecida celebração, envia os convites já com a determinação da contribuição, o famoso “pratinho”, doce ou salgado, e as bebidas a cargo dos homens. Inteligentes são  algumas instituições religiosas que   em datas comemorativas organizam bailes com os lucros destinados as  obras assistências.
          O lucro é certo porque o valor da entrada é baixo  permitindo a entrada  de toda a família, comidas e bebidas  a preços de supermercado  porque a maioria vem de doações de fiéis proprietários de estabelecimentos comerciais e toda a mão de obra é voluntária incluindo  os músicos da banda. Com duração, normalmente de  quatro  horas, a   segurança e diversão estão garantidas porque a  possibilidade de  arruaça é pequena já que noventa por cento dos frequentadores deste tipo de evento são  os paroquianos e algum convidado, tipo bom companheiro, sempre presente para o que der e vier.
          Nem todos que frequentam  igrejas, praticam os dez mandamentos da Santa Igreja, principalmente  o “Não Furtar”, porém, por estarem em um  evento vinculado a uma instituição religiosa, as mulheres de bem deixam suas bolsas  sobre a mesa enquanto se divertem na pista de dança. E um dia aconteceu um  furto!  No final do baile, um senhor alegou  ter visto  uma senhora abrir a bolsa de sua nora e pegar cinquenta reais. Ela negava veemente o furto, dizia  ter visto a bolsa aberta e foi apenas fecha-la. A  vítima afirmava com convicção que a nota havia desaparecido. O sogro, sem a menor cerimônia, em frente aos convidados, esbofeteou  a  idosa que não reagiu, não pediu socorro, e os curiosos foram se aglomerando enquanto esperavam a chegada da Polícia para elucidar o fato. Acredite! Aconteceu  em 23 de março de 2019.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Barata urbana



           Estar tranquilamente sentada no sofá, assistindo o desenrolar da  trama da novela e ser surpreendida por uma barata voadora, não é  uma experiência agradável.  Ser interrompida no  ápice da emoção por um inseto repugnante abala os nervos de qualquer pessoa e os chinelos entram em ação na tentativa de expulsar a invasora que é necessária na natureza porque serve de alimento a muitos predadores e também por serem onívoras  tem papel  importante na decomposição de restos orgânicos. Este ser  pré-histórico é altamente   adaptável e não faz questão de luxo,   ao encontrar qualquer fresta  para se abrigar, água e comida, lá está ele se reproduzindo e por ser vetor de  doenças gastrointestinais deve ser expulsa dos lares.
          As baratas conseguem viver até trinta dias sem água e comida, porém, quando a fome dói, elas representam um perigo dentro de casa porque irão  a busca dos dedos, unhas  e cílios dos moradores. Há relatos de antigos marinheiros cujas embarcações estavam infestadas em que eles eram obrigados a dormir com luvas para se protegerem da voracidade do inseto faminto.
          O que pode ser mais vexatório de que  a visita ir dar uma força na cozinha e encontrar fezes de baratas nas panelas, nos talheres?  O perigo de ser contaminado! Mas  elimina-las não é fácil!  Bater veneno pela casa, manter a casa limpa não são suficientes. Elas já adquiriam resistência a maioria dos inseticidas encontrados no mercado, é preciso impedir o  seu acesso com telas nas janelas, proteção nos ralos, tubulações e  ter disposição  para pelo menos a cada dois meses, aquela geral  no interior de todos os móveis da casa. Há paciência e tempo!

quarta-feira, 20 de março de 2019

Outono de Isaac Levitan



          Em 19 de  março, dia de São José, a chuva caiu generosamente sobre a terra e  deu adeus ao verão com grandes inundações e  daqui a poucas horas, precisamente  às 18h50 minutos,  a nação brasileira receberá  o outono, com alegria e esperança de temperatura amena e  com  precipitações  mais brandas e também, com grandes expectativas  que as pessoas atingidas pelas enchentes   reconstruam suas casas antes da chegada do inverno. Este período de transição entre o equinócio que marca o fim do verão  e o solstício de inverno,  com  noites mais  longas  e  lindos nevoeiros matinais encanta. Inspira beleza e melancolia!
          Gosto de saudar as estações  do ano e ao procurar, na internet, uma imagem  para ilustrar um post em minha página no facebook  encontrei uma preciosidade rara: a magia  do  outono russo nas telas do artista Isaac Levitan. Extasiada diante de tanta beleza, o navio de minha curiosidade singrou  em águas nunca antes navegadas em busca do  sensível artista que foi capaz de captar e traduzir em formas e cores a essência da estação no país em que residia.
          Nascido na Lituânia, em 1860, filhos de judeus pobres, que apesar das dificuldades financeiras,  oferecem aos  quatros filhos uma boa formação  e apoiaram a decisão do filho quando este demonstrou interesse em estudar na Faculdade de Pintura e Escultura de Moscou. A juventude de Levitam foi vivida em uma carestia extrema, chegou a ser expulso de uma escola por não poder arcar com o custo dos estudos. Graças a generosidade dos amigos que saldaram a dívida, ele pode retornar à Instituição. Diante do talento do jovem, o conselho de professores concedeu-lhe uma bolsa de estudo. Após  a tentativa de assassinato sofrida pelo  czar Alexandre II, em 1879, pelo revolucionário judeu Alexander Soloviev, os judeus foram proibidos de viver na capital russa e  o jovem artista foi obrigado a mudar para  a província de Saltykova.  Além do preconceito que sofria em virtude de sua origem judaica, seu  talento incomodava alguns professores que tinham o desplante de dizer que:
 “ Judeu não deve pintar a paisagem russa.” Felizmente a sua coragem e determinação não minaram  suas ambições profissionais e todo o mundo pode  apreciar  verdadeiras obras de arte surgidas do pincel de um jovem que  tudo superou com dignidade para deixar fluir a sua essência  em telas de um realismo impar. Infelizmente, este grande pintor de paisagem não é estudado nas escolas públicas brasileiras. Lastimável! Isaac Levitan, eterna gratidão! Através de algumas de suas obras, pude conhecer um pouco da beleza do outono russo, mesmo que apenas virtualmente.  Quiçá um dia o Universo conceda-me a graça de  apreciar a sua obra inacabada ‘ Lago”, que segundo alguns posts, retrata a natureza russa, a sua pátria do coração, a partir  de seus pensamentos e sentimento !

terça-feira, 19 de março de 2019

Medo


          Ansiedade é uma palavra que está na boca do povo e dos profissionais de  saúde e  o pior  é que não há vacina para proteger deste mal do século, que atinge  da criança ao bisavó. Psicólogos, escritores de autoajuda afirmam  sua origem está no medo de ser ferido, de perder algo que seja importante ou que possa  lhe fazer falta em algum momento, mesmo que a possibilidade seja zero, mas em tempos de economia incerta é comum  algumas pessoas  acumular quinquilharias. Seja  o medo  de um perigo real ou imaginário, o  indivíduo  sentirá as mesmas sensações. È difícil encontrar alguém  que não  teme vivenciar uma situação inusitada com possibilidade de perdas e danos.
          Neste  início do século XXI, em plena era da  comunicação, da informação em tempo real, o medo já começa  enquanto o vivente ainda está no conforto do ventre materno, o medo de ser abortado,  já que há calorosos    debates sobre a liberação do aborto, isto já o deixa  apreensivo, pois ele venceu a corrida e deseja apenas ver a luz do dia  e  crescer feliz no seio de uma família amorosa e acolhedora.
            O medo acompanha o cidadão em toda a  sua jornada  na terra. Adulto nenhum gosta de admitir que custou a dormir na  véspera do seu primeiro dia de aula, pensando em como seria as mãos que o protegeria   na escola. Os perigos são muitos, caso contrário, a mãe não perderia tanto tempo orientando-o. Tão logo se familiarizam com o ambiente escolar, depara-se com a ameaça da  nota vermelha, recuperação, retenção. Além das angustias provenientes do universo estudantil, no decorrer do ano, unhas são roídas  e dentes rangidos preocupados se seus pequenos prazeres serão atendidos por seus genitores, como presente de aniversário, dia da criança, natal, guloseimas, eletrônicos.  Crescer em um sistema capitalista, é consumir-se em ansiedade.
          A dificuldade de lidar com o medo é agravada na adolescência, quando a família  decreta que ele  agora  deve ter coragem, ser forte para enfrentar as agruras da vida, e  em qualquer dê cá a palha, ou situação difícil, não há mãos carinhosas e fortes para ampara-lo.  Agora terá que enfrentar sozinho, os caminhos tortuosos da descoberta do amor e de sua busca profissional; é vestibular, Enem, graduação, estágio, primeiro emprego, resumindo, até em sonhos borboletas batem as asas em seu estômago.
          Os anos  ampliam a consciência e  já ciente das responsabilidades e doravante, uma agenda é pequena demais para anotar todos os perigos que deve evitar a começar pelos fenômenos da natureza: Ventos fortes, relâmpagos, raios, secas, enchentes, maremotos. Perda do emprego, da saúde, de pessoas queridas, enfim, de não conseguir assumir todos os seus compromissos  e todas as noites poder dormir de barriga cheia em uma cama quentinha, e há ainda  um medo, que antes não o preocupava  e que agora toma proporções inimagináveis: o medo de morrer! Quem zelará pelos seus descendentes? Familiares terão como arcar com os custos do funeral? Para onde irá sua alma, caso ela exista de fato?
O que ele sentirá ao ser enterrado? Sentirá  muita dor ao ser devorados pelos vermes? Viver é perigoso e  a ansiedade uma companheira chiclete..


segunda-feira, 18 de março de 2019

Toadas da vida


          É admirável aquela pessoa que por toda a sua vida  foi fiel à sua música preferida, seus ouvidos  se deliciaram com outras cantigas, mas a que faz bater forte  o seu coração  é  aquela, que ouviu  ainda em tenra idade e sempre a cantarola em momentos tristes e felizes. Existe também aquele que  acumula  canções associadas a fases importantes de sua vida, assim, ao ser indagada sobre a melodia que a deixa em êxtase, sempre  terá que ouvir uma história antes  da resposta esperada.
          Em uma tarde chuvosa, quando o coração sangra de dor por aquele que não lhe quer,  ouvir “ Ritmo da Chuva, na voz de Demétrius é quase  uma catarse, observar os pingos d’água cair e sentir o cheiro de terra molhada, aliviam o sofrimento, é como se lavasse todas as mágoas oriundas  do abandono daquele que em  uma manhã chuvosa partiu sem destino e sem  a promessa de um dia voltar para seus braços e o vento errante em um murmúrio soluçante repetia  infinitas vezes: Adeus!
          Em outro momento, quando se vê engajada em movimentos sociais que visam a melhoria da qualidade de vida dos menos favorecidos, seu coração se enternece  já nas primeiras notas de Vitória do Trigo, na voz de Dante Ramon Ledesma, que canta  as injustiças daqueles que apenas sonham  em colocar na mesa, alimento para seus filhos,  dispostos a lavrar a terra não tem onde plantar a semente que virá a ser pão e matará a fome das famílias brasileiras.
          Aqueles que  foram afortunados por terem tido o privilégio de  viver um grande amor, ou apenas ainda estão   acalentando   este sonho, se perde em emoções ao ouvir, na voz do rei Roberto Carlos, uma de suas mais belas músicas: O Grande Amor de Minha Vida! Afortunadas são as pessoas que conseguem se entregar as emoções e viajar nos versos  das mais belas canções e manter a serenidade tão necessária para enfrentar este mundo cruel.
         





domingo, 17 de março de 2019

43 dias de espera



          Janel acumulou  ao longo de  juventude  desilusões amorosas! Em   longos e ásperos  40 anos de procura  por um companheiro  não conseguiu sequer engatar  em um relacionamento que durasse pelo menos um ano, e seus sonhos  são simples como passear de mãos dadas pela calçada, tomar sorvete juntos e conversar sobre  coisas corriqueiras como as contas do mês, expectativas profissionais,  opções de lazer e  noites aconchegantes nos braços do amado. Quando conheceu Antoni, que estava de férias em sua cidade,  a esperança renasceu em seu coração. – Quem sabe desta vez dará certo! Suspirou esperançosa.
          Quando ele a deixou em  frente ao prédio  em que reside, e pediu o seu contato ela  acreditou que finalmente teria encontrado um companheiro e finalmente, iria desfrutar de um relacionamento sério  e feliz porque em poucos instantes  de conversa já identificaram vários pontos em comum e a possibilidade de construírem um lar feliz era grande. Ela que é uma pessoa displicente com   mensagens do whatsapp e  demais redes sociais, mudou repentinamente de opinião e passou a ter por companheiro inseparável o celular, atenta a todos os toques na  vã expectativa de ser uma mensagem dele. Com o passar dos dias, ela percebeu que ele enviava  diariamente, nos mesmos horários,  a mesma mensagem de bom dia e boa noite, nada mais, parece que  estavam programadas no  aparelho para serem disparadas na hora marcada. Tendo um desejo imenso de  viver uma paixão, com provas contundentes que ele não oferecerá nada mais do que  quatro palavras dias, passa o dia em  um estado de ansiedade tão grande que compromete toda a rotina doméstica, profissional e  de lazer. No aniversário de 43º dos fieis  bom dia e boa noite, ela decidiu retomar à sua vida.
          43 dias  vivendo uma paixão  não correspondida que somente  prejuízos lhe trouxe, Janel procura forças  para conseguir  em frente. Ela tem medo da solidão, do abandono. Ela não  viveu um grande amor, para recordar quando o peso dos anos  recair sobre seus ombros exaustos e somente doces lembranças serão capazes de aliviar a carga. O pranto rola solto  em seu rosto cansado, o coração está despedaçado e ela procura forças para seguir em frente  em busca de um novo companheiro, que mesmo não sendo capaz de amá-la, que pelo menos possa  estar ao seu lado para  juntos enfrentar as mazelas da vida. Ela tem consciência que está  implorando por migalhas de atenção de um homem que nem sequer é capaz de  lhe telefonar, via aplicativo, que a chamada não tem custo adicional, então como esperar que o sujeito vá  enfrentar duas  horas  de viagem, arcar com custos de gasolina e pedágios para vê-la? Ela sabe que não passa de um zero à esquerda. - É humilhação demais para uma mulher, sujeitar-se a isso!   Repete para si. Libertar-se é preciso!

sábado, 16 de março de 2019

Tarde solitária


 Tarde  solitária         
Viajar com pouco dinheiro, sem hospedagem grátis em casa de familiares  ou amigos,  pode - se dizer que  é uma experiência enriquecedora porque o viajante, por forças das circunstâncias, é obrigado a conhecer a cultura local, os hábitos do povo, a sua música, sua  gastronomia, o comércio popular  e suas festas religiosas, o que de fato  identifica  um povo, embora não seja o que o vivente deseja postar em suas redes sociais.
Celina  se aventurou em conhecer a capital paranaense e estava meio triste porque não podia assistir  a uma peça de teatro, ir ao cinema, jantar em um sofisticado restaurante, fazer compras no  shopping. Silenciosa e segurando bem a sua bolsa, pós – se a caminhar  pelas ruas  do  Centro Histórico de Curitiba  e observava com atenção as  construções  antigas   com vestígios das culturas: alemã, polonesa, ucraniana  e italiana, povos que chegaram à cidade  em busca de melhores condições de vida, fugindo de guerras e em poucos casos, procuravam apenas uma experiência diferente do outro lado do oceano.  Entre tantas belezas, a que a deixou extasiada foi a  Casa Vermelha,  erguida  no século XIX, pelo alemão Wilhelm Peters  e na época  denominada Páteo de São Francisco das Chagas.  Em início do século XX,  foi sede da Burmester, Thon e  Companhia, quando recebeu a alcunha de Casa Vermelha. Atualmente o local  é conhecido como Largo Coronel Enéias. Em passos firmes e lentos, viu-se em frente  a outro marco da  cidade o prédio que sedia a  Sociedade Italiana Giuseppe Garibaldi com o famoso bebedouro de pedra, local onde, em um passado  não muito distantes, tropeiros e fazendeiros   paravam para descansar e saciar a sede de seus animais de carga.
O murmúrio da multidão não  interferia em seus pensamentos, pelo contrário, a embalava e fazia- na sentir feliz e livre, porém, não se distraia com pensamentos frívolos, apenas  admirava  os  pormenores, fotografava, pesquisava na internet a história  do  edifício e  com esta experiência impar, percebeu que o encanto da  viagem estava na descoberta da história local e que em aventuras pelo país, além do dinheiro para passagem,  hospedagem, translado e alimentação é necessário   levar na mala também a curiosidade e disposição  para  percorrer  novos caminhos.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Aniversário em dupla




          Em tempos de liquidez das relações humanas, quando as pessoas tornaram-se seres descartáveis e são deletadas,  sem uma única tentativa  de dialogo para esclarecer o mal  entendido, conseguir manter uma amizade  de vinte e cinco anos  é mais do que um privilégio, é uma benção! Íris e Micaela se conheceram   durante a graduação, e por coincidência, faziam aniversário no mesmo mês,  uma no dia 13 e a outra no dia 16, uma nasceu em 1943 e a outra em 1960, porém, a diferença de dezessete anos entre elas, não interferia em nada na convivência e, à medida que antigas companheiras e parentes iam se recolhendo ao seio da mãe terra, elas entenderam que   anualmente, precisavam   comemorar  os aniversários para agradecer as dádivas recebidas.
          Micaela  sugeriu a Íris uma comemoração intimista,  um almoço simples em um restaurante  bem aconchegante para que pudessem  colocar o papo em dia e relembrar os velhos tempos, isto estaria dentro das posses de ambas, já que vivem apenas de suas aposentadorias. Como o restaurante ficava próximo à residência de Ìris, ficou acordado que Iris esperaria Micaela em casa. Não se falaram em presentes, apenas em presença, mas o universo deu uma força. Na véspera do  encontro, a sobrinha neta de Ìris fez lhe um pequeno mimo, comprou salgados e um bolo e a aniversariante guardou um pouco para a amiga que viria. No momento em que Micaela dirigia-se à casa da amiga, caiu um temporal e ela foi obrigada  entrar em um supermercado para se proteger da chuva e, havia um buquê de rosas em promoção,  destas imperdíveis, ela não pensou duas vezes e adquiriu um de rosas em um tom entre amarelo e laranja,  e surpresa: foi recebida pela amiga cantando parabéns para você e com a  mesa posta. Comeram,conversaram, cuidaram das rosas e depois partiram para o restaurante  onde se deliciaram com os prazeres da boa gastronomia italiana.
          Felizes ficaram porque estavam celebrando a vida e os laços de amizade que as unias e  que durante vinte e cinco anos não desatou nem uma vez.  Mulheres sábias, sabem  da importância  de manter amizades sólidas porque  os  pais,  tios, padrinhos e sogros  partem  cedo para a pátria celestial , primos e filhos  constroem novas famílias e  amigas  permanecem, portanto celebrar é preciso, não só o aniversário natalício, mas a amizade também!
         

quarta-feira, 13 de março de 2019

Paineira



           Rita vivia feliz em seu pequeno mundo, um casebre na periferia  da cidade, rodeado de árvores, que foram plantadas bem antes de seu nascimento e, como toda criança  paupérrima, que  nunca ganha um brinquedo, não frequenta escola infantil e, os pais nunca tem tempo para dialogar com seus filhos, fez amizade com uma  frondosa paineira que, ao entardecer, sombreava sua residência amenizando o calor nas tardes quentes de verão. Era sua amiga, confidente e  seu apoio após violentas broncas de seus genitores.
          Seus pequenos e curiosos olhos não pousavam demoradamente   em outras árvores, menos ainda na  vegetação rasteira  porque nunca se cansavam de apreciar a transformação da paineira no decorrer das estações do ano. Durante a florada,  em seus trinta metros de altura, o roxo de suas flores era avistado   a grandes distâncias e Rita passava várias horas  fazendo coroa de flores, ouvindo o  canto das pássaro ou apenas  apreciando o  momento,  sem consciência  da vulnerabilidade de sua condição,  sem preocupação com o futuro; nada conhecia além das redondezas.  
          Os frutos da paineira são uma espécie  de cápsulas,  que envolve as sementes  e uma fibra fina e branca, Esta cápsula rebenta e a paina, como é conhecida popularmente a fibra, flutua e cai formando um belo tapete branco e Rita adorava rolar  no chão doravante macio, simplesmente vivia o momento  á sombra de sua amiga e confidente. Era feliz! Em uma noite, um ventania   nunca vista antes, arrancou a velha árvore que tombou sobre  a rua  e atingiu vários barracos e a pequena acordou com  os gritos de desesperos dos vizinhos e atômica, via  os galhos de sua planta amada serem cortados e ouvia as piores blasfêmias das pessoas que sofreram prejuízos decorrentes da   queda do arbusto. Foi assim que a pequena conheceu a dor de dizer adeus!

terça-feira, 12 de março de 2019

Coisas simples e boas



                    Ser feliz  é mais simples do que se possa imaginar! Ao  caminhar solitária pelas ruas em uma tarde morna de domingo e de repente, encontrar- se frente a frente com uma feira de produtos rurais a pessoa pode  desfrutar do sabor de outrora ao degustar um  pedaço de mandioca frita  acompanhada de um delicioso e calórico  torresmo e  se refrescar com um suco de pitanga bem gelado. As dores da alma irão desaparecer em uma nuvem de fumaça.
          Desembarcar pela primeira vez em uma cidade que não conhece, caminhar devagar pelas ruas com os olhos curiosos tentando  enxergar todos os pormenores das casas,  imaginar   como viviam os donos das mãos calejadas que  edificaram tão belas construções, nas pessoas que sonharam  em  construir um lar harmonioso e ainda, apreciar a beleza das flores dos jardins e  das sacadas e graciosas   borboletas pousando de flor em flor  em um disputa acirrada pelo  néctar com  coloridos, velozes e famintos beija-flores.
          Após bater o cartão de ponto, após um dia exaustivo de trabalho, encontrar uma pessoa querida e trocar  um dedo de prosa,  perambular pelas lojas do comércio de rua, sem a preocupação de nada comprar, apenas  especular preços e apreciar as novidades vindas da China, país de pessoas que, ao que tudo indica, tem a missão  de  criar  constantemente novidades, coisas inimagináveis para despertar a cobiça, principalmente das mulheres ocidentais.
          Viajar em  frações de segundo  por meio da leitura de poemas  perfeitos  e  prosa bem escrita e detalhada como  Grande Sertão Veredas do inigualável escritor mineiro, João Guimarães Rosa.  Ouvir música de madrugada e deixar  lágrimas saudosistas descerem livremente pela face  até se entregar ao braços de Morfeu.
          Após uma tempestade, passear livremente  pela  praia, ouvir o marulhar e apreciar  a beleza do arco-íris se perder nas águas profundas do mar enquanto gaivotas   dão voos  rasantes na tentativa de garantir o  seu jantar e de seus filhotes. Em passos lentos sentir a textura da areia, ver o céu  ir se colorindo suavemente e neste momento mágico de transição entre a despedida do dia e a chegada da noite  deixar as lembranças de antigos amores  invadir o coração ser pedir licença. É a hora de desfrutar dos pequenos prazeres  cotidiano e ser feliz!

segunda-feira, 11 de março de 2019

Ser mulher



          Se alguém algum dia pensou que ser  mulher é fácil é porque não conhece a complexidade do universo feminino a variação de seus hormônios e as fases da lua que  interferem no humor  do mulherio e as suas fantasias desde a mais tenra idade e que vão   se transformando com o decorrer dos anos e com o aval dos pais,  padrinhos, tios e avós.  A   menina ainda nem viu a luz do sol e já é a rainha do lar, a princesa do papai e esta alcunha a acompanha até aproximadamente aos  oito ano de idade, assim ela se vê porque os adultos   lhe  repetiram  milhares de vezes, mesmo que  ela não tenha  ideia do que seja uma princesa, sente-se orgulhosa.  Com a audição de história de contos de fada,  e a  tentativa dos responsáveis para educa-la de  acordo com as regras de etiqueta social, de princesa ela passa a ser a Cinderela a espera de um príncipe encantado, algo  bem abstrato para  a mente infantil, porém, ela se sente feliz  no universo característico da primeira infância.
          Ao entrar na puberdade com surgimento dos hormônios, o frágil castelo de sonhos se desmorona, já não é mais a princesa do papai,  é repreendida em noventa por cento  de suas ações, o corpo em constante transformações e as malditas espinhas teimam em aparecer, umas competindo com as outras em tamanho e resistência a todos os tipos de tratamentos; antes uma pele de pêssego, agora, parece as costas dos sapos. Sente-se  horrorosa e acredita que o universo conspira contra ela, sonha com o seu primeiro amor e teme nunca encontrá-lo  em virtude de sua aparência.- Sou tão feia  quanto uma bruxa, lamenta em  frente ao espelho!
          Com a maioridade espera-se que a mulher esteja mais calma. Ledo engano! É  o momento dela ingressar no mercado de trabalho, namorar e   entrar na universidade e nunca está satisfeita   com a sua aparência. Um dia se olha no espelho  e se acha gorda,  em outro, muito magra e com olheiras. Se o cabelo é longo quer cortá-lo, se é liso quer cacheá-lo, umas se acham  muito altas, outras muito baixas, e usam de todos os artifícios disponíveis no mercado   em busca da beleza ideal, sem questionar o que de fato é uma mulher bonita.
          Aos quarenta anos o corpo já passou por outras transformações características da idade e da maternidade. A prioridade agora são os  filhos e, embora insatisfeita com a sua aparência, começa a valorizar suas outras qualidade e se preocupa em ser exemplo para a prole, já que não pode  evitar que ela   passe pelas dores que um dia foram suas.
          Com meio século de vida,  netos a caminho e muita experiência acumulada,  não se preocupa  em  se enquadrar em um padrão de beleza ideal, aceita seu  corpo, sua preocupação agora é em manter um estilo mais  elegante e em cuidados corporais porque a lei da gravidade chega para todas, independente do poder aquisitivo.
          Lá pelos sessenta anos e com a  perda de várias pessoas que fizeram parte de sua infância e juventude, passa a se preocupar mais com a sua saúde e  os cabelos brancos já não lhe apavora mais. Está feliz por estar viva!
          Após os setenta anos, vê a sua vida se renovar  com a chegada dos bisnetos, está mais sábia, agora é a conselheira familiar,  a que faz rir os jovens com as histórias de sua juventude e finalmente acredita ter encontrado a felicidade ao ver a  sua missão cumprida e já se prepara para  partir com  o coração sereno, mesmo acreditando ser cedo demais.

domingo, 10 de março de 2019

Aniversário


          Em nove  de março de 2019, Rosalina levantou cedo. Era um dia especial, o seu aniversário  natalício: 60 anos!  Não recebeu uma rosa de  affair, sequer um oi pelo WhatsApp, somente as mensagens dos amigos do Facebook porque ele avisa com precisão matemática que completa mais um ano de vida. Uma ponta de tristeza  apareceu em seu coração e para espantá-la, tomou o café da manhã se arrumou  e foi à floricultura e comprou um  vaso de margarida, escolheu a cor amarela, a cor do sol, do ouro. Optou por esta flor  por ser simples, elegante  e que transmite alegria, passou em um supermercado e  comprou os ingredientes para um almoço especial: Frango ensopado com grão de bico e verduras para comemorar sozinha,  a data especial e refletir sobre  os caminhos trilhados que a direcionaram  para a morada da solidão.
          Após o almoço, com  o silêncio por companhia,  ela  sente-se feliz e percebe que  o passar dos anos vai levando as necessidades e as coisas vão ficando mais simples, a bagagem mais leve, a presença e opinião dos outros já não são tão importantes. As  firmes convicções do passado  já estão  flexíveis  como os galhos  do bambu e nem se  preocupa  em julgar pois  já entende que o certo e errado são relativos e que é uma questão de ponto de vista e do momento e que as pessoas são livres para experimentar uma vida diferente. Por fim, Rosalina  percebe que comemorar o aniversário natalício sozinha é bom porque já não aprecia mais algazarras, grandes festas, luxuosas e barulhentas, quer apenas  alegar o seu coração e agradecer ao criador por ter tido o privilégio de  completar 60 anos de idade, saudável, lúcida.  - Às benesses recebidas, gratidão eterna, suspira feliz!
              Rosalina foi feliz  na escolha do cardápio de sua comemoração natalícia, selecionou ingredientes carregados  de simbolismo, a começar pelo  galo jovem, chamado de frango, que pesquisas recentes afirmam ser  parente do  Tiranossauro rex que habitou a terra a milhões de  ano e, segundo  uma antiga  tradição grega, o galo era uma ave consagrada a Esculápio e simbolizava a vigília e vigília faz parte da rotina das mulheres  desde  de sempre. O grão-de-  bico bastante utilizado  na culinária árabe é uma leguminosa rica em  proteínas,  fibras e vitaminas do complexo B  e graças à alta taxa de triptofano aumenta a produção de serotonina  que  faz melhorar o humor e despachar para  longe a depressão e  para finalizar o prato, temperou com alecrim, planta mística, utilizada há milênios em virtudes de suas propriedades terapêuticas   e conhecida como  tempero da alegria. Foi uma comemoração simples e marcante que alimentou  o corpo e alma!