quinta-feira, 30 de abril de 2020

Diário do isolamento social.44ºdia

                      Sempre fico feliz quando eu saio de  casa, mesmo  que sendo por pouco tempo. Fui ao supermercado  e fique  surpresa com os cuidados. Assim que peguei o carrinho, um jovem aproximou-se  além de   oferecer-me  álcool gel  passou no carrinho; funcionários  e clientes todos  com máscara e  na fila do caixa, respeitando o distanciamento. Isto é bom, sinal que as pessoas já estão conscientizando-se da  importância da prevenção,  mas já na rua, a realidade é outra, principalmente os ciclistas  que são descuidados no trânsito e com a própria saúde e  com a do outro. Às vezes, tenho medo de estar desenvolvendo T.O.C. Para sair, além da máscara, coloquei turbante e usei os sapatos que ficam no hall. Assim que cheguei, coloquei as compras em cima da mesa e fui direto para o banheiro, tomei banho, lavei cabeça e  até a  toalha de banho foi direto para a máquina. Após  limpar e guardar a compra, passei pano  na cozinha com água sanitária.  Estes cuidados excessivos   me faz lembrar a teoria de  minha avó,  Dona Aninha, ela sempre dizia que  um pouco de sujeira faz bem para desenvolver imunidade,  mas  em meio a uma pandemia, acho melhor acreditar nas orientações da ciência e seguir com as orientações dos profissionais especializados. É trabalhoso, mas é para o bem comum!
            Que bom seria se as balizas dos  representantes do povo fosse o amor ao próximo e atenção com os mais vulneráveis, mas o que eu tenho  visto, lido e ouvido é que na luta  contra o inimigo invisível, alguns políticos estão mais preocupados é com as próximas eleições e  com a velha prática de  desvio de verbas. Merenda escolar estocadas em galpões e  crianças  com fome é apenas um dos desmandos.  As denúncias de uso ilícito da verba destinadas ao combate do Covid-19 crescem com a rapidez de erva daninha durante o período das águas. Crianças, idosos,  quilombolas e indígenas não estão recebendo  o que lhes é de direito: respeito e cuidado.
Quinta - feira, 30 de abril de 2020 
19h 49 minutos
Temperatura: 28º graus
Umidade relativa do ar 63%
           

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Diário do isolamento social, -43º dia

                               Hoje eu tenho muito a agradecer! Meu dia foi bastante produtivo. Pela manhã eu dei uma geral no banheiro,  depois fui tomar um pouco de sol, enquanto absorvia a vitamina D, uma amiga telefonou-me e falamos bastante sofre a fragilidade emocional    atual. Somos apenas orientados a ficar em casa, podendo sair para ir a farmácia, supermercados, olhar pela janela, ouvir música, contatar as pessoas via redes sociais e não estamos conseguindo e o sofrimento maior é o das crianças e  adolescentes. Com os nervos à flor da pele,  a principal agente de violência contra a criança, “a mulher” está ao  lado do rebento vinte e quatro horas. Pobres viventes que sequer contam com o apoio da professora, para desabafar as suas dores. É sabido  o papel importante das mestras da educação infantil  no acolhimento e busca de ajuda para estes  pequenos e vulneráveis seres. Outro foco de nossa discussão girou em torno dos judeus, perseguidos pelos nazistas que ficavam escondidos em porões, sem vez a luz do sol e ventilação, sem poder fazer barulho, sempre a temer  uma invasão. E sobreviveram! Concluímos que  nós duas somos emocionalmente frágeis e resiliência não é uma de nossas qualidades.
            Após o almoço, graças a  Deus eu estava  disposta e a umidade relativa do ar baixa, eu aprovei para limpar o interior do guarda-roupa e sapateira. Amanhã espero levantar com o mesmo pique de hoje para dar continuidade a limpeza porque  há previsão de chuva  a partir de sábado e  nesta época do ano chuva é igual a umidade que é igual a mofo, então, é melhor prevenir. No mundo da política, muitas coisas podem ter acontecido, mas eu não soube nada  porque  hoje eu optei pela audição de músicas antigas, aqueles bem do fundo do baú como “ Eu só peço a Deus” com Mercedes de Sosa e Beth Carvalho. Eu gosto muito do repertorio  destas duas divas da canção latina.
Quiçá amanhã eu acordei feliz e com disposição para cuidar de meu lar e de meus estudos. Santa Catarina de Sena olhai pelos profissionais da saúde e por mim.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Diário do isolamento social -42º dia

                              E mais um dia se vai. No recinto de meu lar nada acontece. Preparação de alimentos, cuidados com a casa e o mínimo possível porque  está faltando disposição. Sei que  tenho que agradecer a Deus por  estar em situação de  cumprir a quarentena. Fico a  pensar nos profissionais de limpeza, que normalmente residem em periferias, enfrentam ônibus lotados, embora a orientação é não ter  nenhum passageiro de pé. Nestas condições,  eles já chegam cansados  no trabalho e com a preocupação de não serem contaminados e levarem o vírus para  a família.  O Covid-19 é um penetra que adentra nos lares sem pedir licença e chega para ficar. Estes profissionais são os verdadeiros heróis anônimos e, infelizmente ninguém reconhece o valor desta categoria, que em sua humildade, são verdadeiramente essências.  Hoje eu entrei no fale conosco de um hospital  público e fiz um agradecimento  e espero que chegue até eles.
            Em minha redoma, quase não  sei o que acontece no mundo, e as poucas notícias que ouço, esfacela o meu coração porque os criminosos aproveitam da vulnerabilidade  das pessoas e atacam.  A cada dia cresce os casos de pedofilia, abuso sexual, violência doméstica e crimes cibernéticos e tem mais: firmas quebrando, demissões e  consequentemente aumento de criminalidade. São tempos difíceis!

Diário do isolamento social - 41º dia

                                    Estou feliz! Hoje recebi uma benção e agradeço muito a Deus por ter conseguido, finalmente, comprar  as rosas encantadas colombianas e pela metade do preço. Comprei três na cor amarela, a cor do sol,  do intelecto e espero que ela  desperte a alegria e disposição de quem irá  recebê-las. Uma é para uma amiga muito querida, cujo peso dos anos tem pesado mais em seus ombros do que nos meus e em seu confinamento, sem poder frequentar as aulas de ikebana,  acredito que ficará muito feliz  e, segundo a propaganda, poderá desfrutar da companhia  da rosa por dois anos.  A segunda, o destino é o trabalho do  meu  crush. Eu tenho ciência que ele está  afastado   por ser  idoso, mas fiz de propósito, para causar  mesmo. Em nossa cultura, não é comum homem receber flores, principalmente uma rosa encantada colombiana e ainda  sem um motivo aparente como  aniversário, dia dos  namorados. Mas o meu objetivo  não é celebrar, e sim deixar que a maledicência das colegas de profissão trabalhe a meu favor  e ponha fim as prováveis aventuras sentimentais  dele, ando meio desconfiada que ele está saindo com outra e, diante de algumas evidências, sempre é bom marcar território e de lucro, proporciono a ele a emoção de receber flores, talvez assim ele lembre de oferecer-me um buquê, afinal, 12 de junho está próximo. Assim que o isolamento social acabar, vou enviar uma cerveja sem álcool  para a residência dele, é importante que ele não esteja em casa, assim não terá como  omitir o presente e  optei por ser um produto não  alcoólico apenas  para  provocar fofocas e   o máximo possível de especulações. A outra rosa encantada é para mim, para alegar os  meus tristes e solitários dias. Ela há de trazer-me disposição e perseverança. Estou ansiosa para a chegada que deverá acontecer na próxima segunda – feira. Santa Teresinha das Rosas, derrame suas bênçãos sobre estas três rosas encantadas e que seja a benção que cada um de nós mereça. Amém.  Quando fui à agência bancária efetuar o pagamento, senti muito medo, apenas  os caixas eletrônicos estão disponíveis, sem segurança, álcool gel e muito movimento, clientes sem máscara como se   o risco de ser contaminado não existisse.
            Mas nem tudo  são flores e  as picuinhas do coração parecem tão pequenas diante do sofrimento  que os profissionais de saúde estão  vivendo. Houve várias denúncias que eles estão sendo orientados a evitar ir ao banheiro para economizar IPI. Imagine o sofrimento destas pessoas cujo trabalho provoca desgaste físico e emocional e ainda sem poder aliviar suas necessidades fisiológicas? Piedosa Santa Catarina de Sena, proteja estes profissionais essenciais, que  nos momentos mais difíceis, estão ao lado dos pacientes, cuidando e confortando e neste tempo de pandemia, abdicando  de sua família para cuidar de nós.

domingo, 26 de abril de 2020

Diário do isolamento social- 40 dia

                                    Domingo, 26 de abril de 2020, 19h30minutos, temperatura de 76º graus e  umidade do ar 69% e já está findando o meu quadragésimo  dia de isolamento social e não tem sido fácil. A rotina massacrante absorve a conta gotas a minha  vontade de viver  porque tudo é tão repetitivo: ver TV, ouvir rádio,  jornais, redes sociais. Admito que eu ainda não entrei em processo depressivo graças aos vídeos da palestrante Márcia Luz; nestas duas  últimas semanas, tenho assistido  religiosamente um, e graças a sua autoconfiança e sua  inabalável crença no poder da gratidão, eu estou reagindo ao ócio e a solidão. Márcia Luz faz perguntas instigantes  e algumas delas, abriu a porta secreta de meu  coração, onde estavam armazenados a mais de 50 anos, ingratidão e vergonha. Confesso que deixar sair estes dois sentimentos está sendo libertador.  Eu tenho muita vergonha e bastante remorso por ter indo embora da casa de minha cunhada sem me despedir, na calada da noite, como uma ladra. Ela recebeu-me em sua casa, alimentou-me  no momento mais difícil de minha e nada cobrou. Amparou-me  quando  ninguém mais me valeu, nem mesmo meus pais, que têm  o dever moral de amparar-me, porque sou filha deles. Graças aos exercícios de Márcia Luz, este episódio de meu passado vergonhoso  surgiu das trevas e, passados tantos anos, eu não consigo entender porque eu  agi daquela maneira: insegurança?  No anoitecer de minha maturidade, vejo que tudo poderia ter sido tão simples:  bastava dizer  que eu agradecia muito  a acolhida, mas  era o momento de  eu partir, de iniciar nova vida em outra querência.  E  esta não  é a única razão de minha angústia. Durante todo o período que lá morei, eu nunca ofereci uma ajuda em dinheiro para cobrir os gastos com alimentação, água e luz. Meu Deus! Como fui  oportunista e ingrata. Que vergonha! E tem mais! Eu parti e recomecei a vida em outro   rincão e não dei mais noticias.  Sei que ela ainda vive e minha covardia sequer permite que cogite a possibilidade de ir vê-la e pedir - lhe  perdão pelo que eu  fiz.
            Fazendo uma retrospectiva, vejo que a covardia  em  relacionamentos familiares é o meu maior tormento, minha fiel fraqueza. É doloroso perceber, agora, com  mais de sete décadas de vida, que o meu discurso não é compatível  com as minhas ações. Sou defensora do diálogo, mas nunca fui capaz de conversar para resolver os problemas e sempre acabei optando pela fuga e distanciamento da situação e, com esta atitude covarde, feri pessoas boas e solidárias, e o mais triste, acabei com a possibilidade de uma convivência familiar harmoniosa. Se estou sozinha  hoje é porque há muitos anos eu plantei as sementes da solidão.  Estou com um aperto no peito, quero chorar e não consigo. Que bom seria se as lágrimas  rolassem generosamente em meu rosto e pudessem lavar esta angústia que cresce em meu peito.  A quarentena propicia a gente estar a sós com os nossos fantasmas. Que o Deus de Abraão , Jacó e Isaac  derrame suas bênçãos sobre mim e  já que eu não posso mudar o meu passado, que eu  saia uma pessoa melhor deste isolamento social.
Com humildade eu peço perdão  e expresso minha profunda gratidão, embora que tardiamente, querida  cunhada.

Diário do isolamento social, 39º dia

                   
            Tem se falado muito que  nesta quarentena as pessoas estão mais solidárias e amorosas. Mas na prática não é verdade e eu tive a  triste comprovação. Em meu condomínio, há poucas pessoas  idosas com carro  e  Antonia, costumava oferecer carona a Gilberta  quando ia ao mercado, eu também recebi esta oferta e aceite por duas vezes, porém, hoje não  eu não recebi a mensagem perguntando se eu desejava ir com ela, então, tomei a iniciativa e pedi carona. Antes de sair, comuniquei Gilberta para descer e nos encontramos na garagem, antes, avisei que à motorista que ela também ia. Foi constrangedor! Antonia ficou bastante irritada dizendo que ela não havia telefonado avisando que ia e humilhou uma senhora de 80 anos, pobre e sozinha. Chegou a dizer que deveria deixá-la. Diante deste episódio, eu decidi que não mais irei aceitar carona dela.  Hoje foi com  Gilberta, amanhã poderá ser comigo e é melhor não arriscar. Somente entrarei no carro dela, quando eu puder pagar  o preço do Uber. Não comentarei este assunto no bairro para evitar maiores  desavenças, quando se é sozinha, sempre é bom manter bom relacionamento com os vizinhos, principalmente nós, moradores da maior cidade do país. No mais o dia  transcorreu sem nenhuma anormalidade  e além dos muros, nada soube da demissão do Moro e do avanço do Covid-19, que são os únicos assuntos comentados pela mídia nacional.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Diário do isolamento social- 38º dia

                                 Hoje eu saí à rua. Tudo parecia mais bonito: o   céu azul, as nuvens branca; as cores das flores pareciam mais vivas, reluzentes e encantadoras  e eu tive o privilégio de ver inúmeras borboletas pelo caminho.  Os raios do sol aqueciam o meu  corpo  e eu os recebia como um abraço afetuoso e purificador, de tanto ficar em casa, eu já estava com a sensação de estar mofando. Caminhei  rápida e assustada  pelas ruas até a  farmácia, durante o trajeto cruzei com ciclista com aparência suspeita e inúmeros transeuntes sem o uso da máscara, que as autoridades tem repetido a  exaustão, a sua importância para o bem estar de todos. A caixa  não  usava luvas, mas a sua máscara chamou a minha atenção, de material transparente, parece aquelas usadas pelos soldadores, para a proteção da vista. Gostei do modelo, porém, o preço é salgado, custa R%25,00 reais. Aproveitei e fui ao supermercado, fiz umas compras essências e espero que durem até  o  início de maio. Antes do relaxamento  da quarentena, quero  retornar  ao estabelecimento para repor  o já  consumido porque continuarei o isolamento por conta própria. Após a abertura do comércio, acredito que haverá  uma corrida  ás lojas e  os meliantes, ávidos  para conseguirem dinheiro e sem muito trabalho não medirão esforços para assaltar o tão sofrido trabalhador brasileiro.
             Somente ao chegar a  casa é que soube da saída do Ministro Sérgio Moro. Não entendo de política, não sei se isto é bom ou ruim para a nação  e menos ainda para ele, que abdicou de 22 anos de  magistratura para fazer parte da equipe do governo.  Como sou livre para pensar, fico a divagar  se  o convite   para assumir o Ministério da Justiça foi uma armadilha para que ele não continuasse à frente de investigações  sérias como as da Operação Lava Jato? Em seu pronunciamento, ele disse  que não fez fortuna e que irá procurar emprego, mas a impressa especula que ele irá se candidatar a presidência da República nas  próximas eleições, se isto acontecer e cá eu estiver, meu voto será dele e por livre opção, eu já sou dispensada das obrigações eleitorais. Dentro em breve saberemos a verdade, por hora, poucas notícias sérias e inúmeras  fake news.
            Nestas sete décadas de vida, confesso que nunca me preocupei com o número   de óbitos por ano, no Brasil. Como  hoje, a palavra morte é a que a gente mais  ouve, minha curiosidade foi aguçada então, resolvi fazer uma pesquisa on-line  e eu fiquei     estarrecida  com os  altos números e causas.
2018 -  4.490 pessoas morreram de tuberculose;
2019 – 289 mil pessoas não resistiram às complicações de problemas cardiovasculares e partiram  para o reino do céu;
2019 – 41.635 pessoas  perderam a vida em decorrência  de assassinato;
No Brasil, a cada  uma hora, cinco   pessoas  falecem vítimas de acidentes de trânsito;
Em  média, cinco mulheres  vão a óbito por dia, por questões relacionadas a maternidade.
 Assustada com os números, desisti de continuar a pesquisa e fiquei a pensar  se  o Covid-19 irá superar esta triste  estatística.  Somente   a ciência, a consciência e coração amoroso de Jesus para ter misericórdia dos brasileiros.
24 de abril de 2020  
20h19 minutos
Temperatura 27 º graus
Umidade relativa do ar ´70%
           

             

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Diário do isolamento social- 37º dia

                       
            Os dias seguem com a lentidão de uma boiada cansada, faminta e sedenta em uma estrada empoeirada, em um final de tarde quente. Eu estou cada dia mais desanimada, sem disposição para os estudos, afazeres domésticos,  até descer o lixo é um sacrifício, estou fazendo-o a cada dois dias, não por falta de tempo, que alias, é o que eu mais tenho.  Sobra tempo e falta ânimo. Acredito que ainda não sucumbi em uma depressão profunda porque tenho assistido diariamente  vídeos da palestrante Márcia Luz, embora não tenham  acrescentando muito, em termos de aprendizagem de conteúdo novo, diferente do  que eu já  tenha lido, porém,  o entusiasmo dela, a sua maneira firme e direta de falar e as perguntas pertinentes, tem sido de grande valia, como esta: “ Qual o meu objetivo a ser alcançado até o final do ano?” Confesso que fiquei  bem incomodada com este questionamento porque me dei conta o quão vazia é a minha vida. Eu não tenho nenhum objetivo em mente, nem sequer  havia pensado nisso na virada do ano como é de práxis e o mais lastimável é que, durante toda a minha vida, eu não persegui nenhum sonho com  afinco, somente corri atrás do mínimo para manter as contas em dia e comida na mesa e  sabiamente disse Márcia Luz, colhi o que plantei. Plantei pouco e consequentemente, pouco colhi, agora, lamentar os erros passados não irá levar-me a lugar  nenhum. Embora eu já não tenha idade para  iniciar uma nova carreira profissional,  começo a pensar seriamente em fazer algo de útil para mim, para o próximo e para o planeta, mas o que? Outra pergunta instigante foi: “O que eu perco se não mudar o meu comportamento atual?”  Esta pergunta é fácil de responder: Eu perco a solidão, o tédio da  longa espera de apenas aguardar a  hora de minha partida para a terra dos pés juntos, a ruminação de erros passados, a inveja daquelas  pessoas determinadas e bem sucedidas, as  horas entediantes fofocando com os vizinhos. É realmente, tenho muito a perder!  E cadê a disposição para  iniciar um processo de mudança?
            Hoje soube pouca coisa do que acontece além dos muros do meu  condomínio. Apenas que os bairros de Cidade Tiradentes e Sapopemba, aqui na capital, SP, estão com um alto índice de pessoas infectadas com o Covid-19 e o pior, os moradores não estão preocupados  com o  avanço do vírus, parece que para eles, é apenas mais uma  dificuldade   que terão que enfrentar, entre tantas da vida diária deles. A pessoa entrevistada disse que parece que todos estão em férias, estão  organizando bailes, churrasco, como se o inimigo estivesse a centena  de milhas deles, mas não é verdade, ele já chegou e pretende ter uma longa  e  funesta estadia entre os paulistanos. Quanto ao carro de som da Prefeitura, que deveria estar percorrendo os bairros periféricos  levando  informações  para conscientizar as pessoas da  importância da quarentena, ninguém ouviu, ninguém viu.  Eu fiquei deprimida com a reportagem sobre a  tradicional Galeria do Rock, que fica no centro; infelizmente ela já contabiliza 30 lojas fechadas e 400 demissões. É triste saber que mais 400 pessoas irão para a fila do desemprego, da  geladeira vazia e dos desejos reprimidos e postergados sabe lá Deus até quando.
            Triste também é saber que em meio a pandemia que assola  o mundo, quando o país está quebrando para conter o avanço do Covid-19 e  auxiliar os mais vulneráveis, há pessoas  usando de má fé e  fazendo  o cadastro para receber o auxílio emergencial, sem preencher os critérios estabelecidos pelo governo. De acordo com a  pessoa  entrevistada, que eu não  prestei atenção no nome e  cargo,  menores de idade, mulheres recebendo salário maternidade e também, mulheres casadas, cujos maridos estão trabalhando, estão tentando receber este dinheiro, congestionando o sistema e prejudicando a nação. São Jorge guerreiro, bota juízo na cabeça destas pessoas.
           

quarta-feira, 22 de abril de 2020

diário do isolamento social- 36º dia

                           

            O meu alento consiste na contagem regressiva para  o término da  quarentena e ainda faltam dezoito dias. Queria  ser criança novamente, para que no dia tão esperado,  poder sair correndo pelas  ruas gritando: Liberdade! Liberdade! Liberdade! Cansei da televisão, do rádio, do celular, do interfone, nada,  nada  dá-me  um pouco de alegria. Tenho tentado dar continuidade ao estudo do inglês, mas está bastante cansativo e improdutivo.  Limpar a casa, arrumar armários e gavetas é para mim um verdadeiro tormento. Cozinhar, que até então, era a atividade mais prazerosa está  difícil porque falta ingredientes para as receitas. Hoje eu encontrei na internet a receita  da tradicional sopa paraguaia, mas não tive como  preparar  porque o  queijo acabou faz dias. Improvisei um cuscuz paulista, e acabei perdendo o controle e comi bem mais do que devia e agora estou preocupada com a balança.
            A minha dor de garganta, embora de leve, ainda persiste. Tenho medicamentos em casa e eu estou receosa de tomar para não camuflar sintoma de uma possível Covid-19. Nesta época do ano, sempre tenho crises alérgicas, faringite, laringite. Pode ser apenas mais  uma doença  corriqueira, mas  em tempos de pandemia, tudo parece bem maior do que é. É medo da automedicação, de ir ao Pronto Socorro e entrar ruim e sair pior. Os Postos de Saúde  não estão atendendo e   consulta particular está  acima de minhas possibilidades. O jeito é apelar para as tradicionais receitas de famílias e assim, tomei chá de casca de cebola. Para ser bem sincera, não sei para que serve, mas tenho vaga recordação de ver minha avó preparar para a netaiada, quando  nós  estávamos   espirrando e tossindo. Agora é torcer para amanhecer bem mais disposta.
            A ociosidade, decorrente da quarentena,  traz reflexões inusitadas, que jamais teríamos em tempos normais. Passei o dia  a divagar  qual tipo de morte é menos sofrido. Morrer contaminado pelo Covid-19, de  fome ou  vítima de  violência?  Infelizmente, milhares de pessoas   vislumbram em seu horizonte, somente  uma destas três tétricas  opções, o que é  surreal em um país abençoado por Deus  com abundância de sol, água doce, terras aráveis e campos para  pecuária. Eu gostaria de  saber fazer alguma coisa para amenizar o desespero    daqueles que estão em situação da mais completa penúria, nem sequer posso sair para oferecer o meu abraço porque sou do grupo de risco. Este sentimento de impotência diante da fragilidade da vida  é doloroso. O trio das trevas avança sem clemência, liderado pelo Covid-19 e seguido pela fome e violência. Que Nossa Senhora cubra a nação brasileira com o seu manto e conforte o coração dos mais  frágeis e que Santo Expedito, como bom soldado,  agilize o fim da carestia e meu San Martin de Porres, cure  não somente  a nação brasileira, mas todas as nações do mundo.                           

terça-feira, 21 de abril de 2020

Diário do isolamento social-35º dia

                 
Meu dia decorreu na mais tediante rotina, apenas os afazeres domésticos e um pouco de leitura. Duas  datas importantes  e nada de comemorações, eu não assisti televisão, não sei se houve comemorações  virtuais. Há 60 anos o  presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek (1955-1960) inaugurava a nova capital do Brasil, no planalto goiano – Brasília. Sobre a transferência da capital do Rio de Janeiro, RJ   para Brasília, DF, O mineiro Carlos Drummond de Andrade, há muito tempo morador do Rio, assim resumiu seu sentimento,
 no poema “Canção do Fico”:
“Rio antigo, Rio eterno,
Rio oceano, Rio amigo,
O governo vai-se? Vá-se!
Tu ficarás e eu contigo.”
          Em plena quarenta, temos um feriado nacional, 21 de abril. É uma homenagem que a nação brasileira faz a Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que foi enforcado em 21 de abril de 1792, devido ao seu envolvimento com a Inconfidência Mineira. Tiradentes se transformou no primeiro herói  brasileiro, assim que foi proclamada a nossa Independência em 07 de setembro de 1822.
Liberdade  e saúde para todos.

domingo, 19 de abril de 2020

Diário do isolamento social-33º dia

                       Tive uma noite agitada.  Ontem eu deitei ás 20 horas para ouvir o  programa Antenados da rádio Bandeirantes, SP  porque era o horário do  especial do Roberto Carlos. Infelizmente eu dormi   mal tinha iniciado. Acordei lá pelas três da manhã e demorei a pegar no sono. Levantei cansada e sem deliciar-me com as emoções   do especial, que foi gravado no MSC Fantasia,  um dos mais conhecidos navio de cruzeiro, no tradicional encontro anual do Rei com as fãs.   Participar desde evento é o meu sonho de consumo  e de centenas de milhares de pessoas que, como eu,  acompanham a carreira desde o início. Se  financeiramente não podemos, temos um alento, a  emissora nos brindou com este presente e eu dormi. Que pena!
            Acordei cansada e  para café da manhã, preparei um bolo de frigideira, não  ficou nem bom ou ruim, deu para matar a fome. Minha garganta continua doendo, apesar dos gargarejos com água morna e sal; o incomodo da infecção de urina apresentou melhoras.  Quando os raios de sol, entraram pela janela, peguei  a  cadeira,  um livro, e fui tomar o meu banho de sol parcial,  mas é melhor do que nada, como são apenas 40 minutos  de visita do astro rei, dividi 20 minutos, sol nas costas, 20 minutos sol nos pés, preciso   elevar o índice de vitamina D  em meu corpo. Para almoço, improvisei um  risoto de frango, com arroz comum. Que saudade e um  saboroso risoto com arroz arbóreo. Em tempos de quarentena, a gente cozinha o que dá e agradece a Deus pelo alimento, enquanto tantos  estão passando  privações literalmente. O desenrolar do dia segue em curso normal,  apenas lendo, quero terminar este livro rápido; a única anormalidade foi a campainha que tocou, aproximadamente 10h e 30 minutos da manhã, como  a suposta visita não foi anunciada pelo interfone, não abri mas perguntei que era e não houve resposta. Não consegui  visualizar ninguém pelo olho mágico, mas percebi que a luz do  hall de entrada ficou acessa por bastante tempo. Interfonei na portaria para saber se  alguém havia procurado por mim e a resposta foi negativa.  Vai saber quem era.
            Dia 19 de abril,  comemora-se o dia do Índio, mas neste momento difícil, não há nada a  comemorar. O Covid – 19 atingiu as aldeias e  há vários indígenas contaminados e  infelizmente,  houve  óbitos, isto é muito triste e preocupantes. Os indígenas são os guardiões das florestas, da biodiversidade, das tradições milenares.  Hoje eu não ouvi notícias nenhuma, fiquei  literalmente reclusa, agora vou providenciar um jantar porque às 19 horas o meu amado Rei fará uma live e desta vez, eu não vou dormir.
19 de abril de 2020  16h e 49 min.
Temperatura 26º graus
Umidade relativa do ar. 73%

sábado, 18 de abril de 2020

Diário do isolamento social- 32º

                                  Fazia nove dias em que não as nuvens não deixavam cair uma gota de água sobre a terra, mas hoje choveu um pouco a tarde e a temperatura caiu muito. Não sei  pela mudança brusca do tempo ou outro fator,  mas eu não amanheci bem, minha garganta está doendo e estou bem assustada, porque sábado passado, eu fui à feira livre e  havia bastante gente. Embora eu tenha ido de máscara,  tomado banho, lavado a cabeça e a roupa que usava,  higienizado as compras e descartados as sacolinhas, estou com medo de estar contaminada.  Fiz  gargarejo com água morna  com sal várias vezes ao dia e até agora, não melhorei e como  um mal só é pouco, também acordei com sintomas de infecção urinária e  só de imaginar entrar em Pronto Socorro, fico a tremer de medo, assim, resolvi amenizar o problema com a pior das soluções: a automedicação. Procurei  uma farmácia com delivery e não encontrei e não tive outra alternativa  a não ser  ir caminhando até   a drogaria do bairro e  comprar um medicamento. Espere que alivie os sintomas  até eu ver se consigo um médico particular aqui  por perto e barato. Que situação! E a  previsão do tempo é frio e chuva. Sequer terei,  nos próximos dias, o sol brilhando para que eu possa usufruir dos   benefícios do astro rei.   Felizmente, hoje ás 20 horas  a rádio Bandeirantes irá apresentar um  especial com o cantor mais amado do Brasil, o Roberto Carlos e eu não ficarei pensando no pior até  entregar-me  aos braços de Morfeu.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Diário do isolamento social p 31º dia

                           
            Uma tristeza imensa abateu sobre mim ao ouvir o anúncio do governador João Dória, prorrogando o  isolamento social até  a segunda quinzena de maio. Ele sequer  esperou dia 22 de abril, para analisar a situação e tomar as medidas necessárias. Com o avanço das pesquisas  com os medicamentos  nacionais já utilizados  há bastante tempo no  Brasil e  o alto índice de cura, eu tinha esperança, que  em 22 de abril, o governador  iria  anunciar o  fim da quarentena   horizontal e  adotar a vertical. Mas não foi o que aconteceu. Mais um mês confinada sem poder aproveitar o sol de outono para aumentar a reserva de vitamina D, o inverno está chegando e  com ele o frio e o desânimo.
            A criatividade dos  presidiários  é ilimitada e   inescrupulosa. Mais de 70 mil detentos  tentaram burlar o sistema e receber os R$600,00  do auxílio emergencial,  o qual tem direito  os  trabalhadores, de acordo com os critérios estabelecidos pelo governo.   Nos presídios, eles têm garantido quatro refeições diárias e há famílias inteiras, que sequer podem saborear  uma sopa rala, uma vez ao dia.
            Ouvindo   uma entrevista com um  dos profissionais responsáveis pelo auxílio emergencial, a pergunta de uma brasileira que reside no exterior, não  me recordo em qual  país, indagou se ela tem  o direito de receber  ajuda do governo brasileiro porque  ela trabalha sem carteira  assinada. O programa do governo é auxiliar    o povo, enquanto dura o isolamento social no Brasil,  o problema está aqui. Meu Deus!
            No mais, o dia  foi normal, apenas fiz uma faxina pesada na casa, a única maneira que eu tenho para descarregar a tensão, já que não posso usufruir da eficiente terapia popular: uma trouxa de roupa bem grande para  lavar. Claro que eu posso dar um descanso para a   máquina de lavar, mas  em confinado, até roupa suja é mercadoria escassa.
           

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Diário do isolamento social - 30º dia

                               
          O Covid -19 continua avançando, a última notícia que ouvi,  os casos curados no Brasil são de 14.026, que representa 55% do total de 25.268 de pessoas   diagnosticadas com a doença e  um total de 9.704 continuam internados e, infelizmente, o país já contabiliza  1.532 óbitos. Enquanto  vírus  segue o seu ciclo,  em Brasília, sai o Ministro   da Saúde  Luz Mandetta e    Nelson Teich  é convidado e aceita substituí-lo.  A questão é, será que esta mudança de Ministro beneficiará os pobres e excluídos como os indígenas, ciganos e quilombolas? Eu tenho esperança que sim, pelo que eu entendi,  o novo ministro não é político e é um homem bem preparado, além de médico pesquisador, fez MBA em administração de Saúde. Oxalá que os ventos soprem em favor dos brasileiros vulneráveis.
 Enquanto acontece a dança das cadeiras em Brasília,  em milhares de  lares brasileiro  mulheres e crianças estão sofrendo  com a violência doméstica que  cresceu 30% durante a quarentena.   Quando será o fim de todo esse sofrimento?   As imagens das filas para a retida dos R$600,00 estão assustadoras, além da aglomeração,  os ânimos estão alterados e brigas estão acontecendo. Misericórdia! Jamais pensei que fosse viver para ver  esta situação. San Martin de Porres,  olhai por nós!

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Diário do isolamento social - 29º dia

                Meu círculo de amizade sincera consiste somente de gente com a faixa etária próxima à  minha,  ou seja, somente de pessoas que nasceram até a década de 1960, portanto, todas estamos em quarentena. Dentre estas amizades, Nerita é a mais querida, com quem eu posso conversar livremente sobre todos os assuntos, mas estamos separadas, cada uma em sua “toca” e   com ela não é recomendado o  uso de das novas tecnologias que aproximam pessoas porque ela  não está entre as centenárias privilegiadas que  não  tiveram os órgãos auditivos danificados pelos anos, resumindo, ela está praticamente surda e  recusa-se veemente, a usar aparelho. Apesar de idosa é uma pessoa ativa e sempre apreciou muito os arranjos  de flores, em especial, ikebana, e faz aulas a mais de trinta anos, estando agora, reclusa, durante a quarentena fico a imaginar a sua solidão sem uma flor natural a embelezar o seu lar.
            Em um ímpeto de generosidade, pensei em lhe enviar flores e pesquisei  uma floricultura que trabalha com venda on-line e, eu, que estou acostumada a comprar  na feira, um vaso de crisântemo  por R$15,00, não encontrei nada com preço inferior a R$60,00 e sem o frete, que nem arrisquei a consultar o valor. Mas a internet, todos sabem como é, parece que ela adivinha  o seu desejo, a sua dificuldade e  lhe bombardeia com  propagandas exatamente daquilo que você nem sabia que existia, que precisava, que desejava.  Entre tantas ofertas, uma chamou a minha atenção, A Rosa encantada, produzida na Colômbia. A propaganda garante que com os devidos cuidados, ela dura  até três anos porque  passa por um processo químico que garante que as pétalas não murchem rapidamente. O preço é salgado, acima de R$100,00, mas vale. Imagine  ter uma rosa  natural em casa, durante três anos! Dependendo de como  estiver o meu saldo, comprarei uma para mim e outra para ela, claro que será a mais barata que eu encontrar, na cor amarela, cor do  sol, das estrelas  e do outro, cor que estimula a criatividade, a inteligência. Vou gastar o que não posso, más só de pensar na felicidade dela,  que está  reclusa e   do nada, recebe uma rosa.  Eu também estou feliz só de pensar na minha rosa  encantada amarela, alegrando meus dias tristes e completando minha felicidade porque dias melhores chegarão dentro em breve.
            Não houve nenhuma novidade em meu dia a não ser o malabarismo na cozinha para conseguir   harmonizar os  poucos mantimentos que tenho no armário e fazer algo diferente,  e como o abacate comprado na feira, sábado passado,  amadureceu,   para o café da manhã, fiz guacamole bem simples porque nem salsinha  havia na geladeira. E no almoço, procurei  uma receita vegana  e  fiz de mistura, casca de banana a milanesa com jiló refogado, até os ovos acabaram e para o jantar, deu para improvisar um macarrão com acelga. Está difícil!
            Quando eu era criança, frequentava à minha residência,  uma Senhora evangélica, destas bem radicais e  ela  dizia sempre que “ chegaria um tempo em que o homem teria dinheiro e não haveria o que comprar” Claro que eu ria e sendo bem sincera, jamais  imaginei que esse dia chegaria, e ele chegou! Eu tenho dinheiro  e falta  produtos em casa porque eu não posso  sair a toda hora e os locais que entregam, tem um valor mínimo de compras, para entregas em domicílio, sem  cobrar frete. Em tempos de incertezas,  é preciso economizar até os centavos. Ainda estamos no outono, e  vírus apreciam os invernos frios e chuvosos.  Santa Rosa Lima, padroeira da América Latina, olhai por nós!

terça-feira, 14 de abril de 2020

Diário do isolamento social 28º dia

                                   E o dia termina com um dos mais lindos crepúsculo que já vi  durante o outono dos últimos anos.  Sei que meus olhos estão carentes de ver além das paredes de minha residência e dos telhados dos  vizinhos e uma pequena parte do céu, apenas este pedacinho  que saiu na foto. Este é o meu  raio de visão, nesta tediante quarentena e, mesmo pequenina esta visão celestial tem alegrado os meus dias solitários. Mas voltando ao estonteante entardecer, não fui somente eu que se encantou com tanta beleza, já esta circulando  nas redes sociais inúmeras fotos, de partes diferentes da capital registrando o pôr do sol deste 14 de abril de 2020.
            Tenho evitado notícias, assim, soube apenas hoje, que o cantor brasileiro Morais Moreira, faleceu ontem, às 06 da manhã em casa, vítima de  Infarto Agudo do Miocárdio e  provavelmente já foi sepultado, a família, em  virtude da pandemia, sabiamente optou por não divulgar  o local e horário do velório  para  evitar aglomeração. Em  tempos normais, filas enormes se formariam para o último adeus porque ele era um cantor   talentoso e muito amado pelos brasileiros.   De seu vasto e rico repertório, a música que  marcou a minha vida foi Pombo Correio. Fui adolescente nos idos tempos em que a comunicação mais veloz para a população pobre do  país era  o telegrama e a carta. Esperar o carteiro passar era sinônimo de ansiedade e alegria. Acredito que eu faço parte da última geração  de moças apaixonadas que escreveu e recebeu cartas de amor. Arrependo-me profundamente por ter rasgado e jogado no lixo meu arsenal de correspondência com o advento da internet. Eu não tinha consciência  do valor  dos selos postais, e de preservação da memória de uma época contido no tão esperado  envelope que era entregue pelo  funcionário dos Correios, com o seu uniforme amarelo e sua bicicleta velha.
            Ainda sobre os tempos de antigamente, recordo que  as noticias chegavam até a minha família apenas pela boca das visitas e dos colegas de trabalhos dos adultos. Em minha infância e adolescência, pessoas de baixa renda, como eu, não tínhamos acesso aos meios de comunicação da época, jornal e rádio, tão diferente de  hoje, que mesmo em quarentena,  evitando ouvir noticias, elas chegam a mim em vários meios como o interfone, redes sócias, televisão e rádio e as que eu soube hoje são dolorosas! Depoimentos de taxistas, arrimos de família há mais de quinze dias sem conseguir  fazer uma corrida em situação de penúria, ainda devendo  as taxas da Prefeitura e  as prestações do carro e para  completar o desespero, ao procurar o Banco para negociar, ouviram dos gerentes que se não pagarem,  perderão  os carros para a instiução. 
            Milhares de gente passando fome e os inescrupulosos aplicando golpe exatamente nestas pessoas humildes e necessitadas, em sua grande maioria, analfabetos, sem familiaridades com as novas tecnologias e sem o menor remorso,  vários crápulas  oferecem seus serviços,  por um preço módico  de dez reais, para fazer o cadastro para que eles possam receber a ajuda do governo, porém, na hora de lançarem os números das contas dos viventes, eles colocam as sua próprias contas bancárias, ou seja, além e extorquirem, de maneira aparentemente honesta e solidária os  R$10,00 pelo serviço, eles ainda fica com os R$600,00 que não lhes pertencem e era tudo que o pobre cidadão tinha. Triste tempo em que  se fala muito em solidariedade, porém, a maldade continua crescendo e em cima dos mais necessitados.