Quem é você? Esta é uma das perguntas mais comuns que os profissionais de recursos humanos costumam fazer de supetão, ao ansioso candidato a uma vaga de emprego. Como respondê-la de maneira a garantir a vaga se nem mesmo nós mesmos costumamos saber quem somos. Quem sou? Sou filho do fulano, do cicrano, peso 70 quilos, tenho um metro e oitenta de altura, gosto de cerveja e churrasco aos finais de semana com a família e os amigos. Ms isto não é a resposta adequada. Espera-se que fale de sentimentos, medos e inseguranças, desejos realizações. Os ricos podem até conseguir responder com precisão a famigerada pergunta, mas o trabalhador, não.
A vida do trabalhador resume-se em fases; já na mais tenra infância descobrir o que é o tão falado ser alguém na vida, a confirmação de que ele não é alguém, já lhe é incutida logo nos primeiros anos de vida. Superado a fase de incerteza e ter descoberto sozinho, que o “ ser alguém” no entendimento popular é ter um trabalho, uma profissão com uma remuneração que lhe permita pagar a prestação de uma casa da CDHU, de um carro velho e condições para comprar carne para o churrasco de final de semana, inicia-se outra fase e mais difícil. Conseguir um trabalho e ter que ouvir de seus familiares que ele não consegue nada vida, que é um parasita; mas chega o dia em que com a graça de Deus, ele enfim, consegue o seu primeiro emprego, ainda assim, não pode baixar a guarda porque no momento em que ele entregou a carteira de trabalho para ser assinada, ele precisa conseguir se manter no emprego e mais um temor faz de seu coração, a sua morada definitiva: perder o emprego.
Não há como um trabalhador responder honestamente a pergunta: quem sou eu? A dureza da luta diária pelo pão de cada dia ofusca a humanidade e faz florescer apenas animalidade, o instinto de luta pela sobrevivência, de perpetuação da espécie. E se fosse permitido franqueza em entrevista de emprego, a perguntada assim seria respondida: alguém que se preocupa em colocar comida na mesa todos os dias.