sábado, 27 de março de 2021

Quem é você?

                                Quem é você? Esta é uma  das perguntas  mais comuns que os profissionais de recursos humanos costumam fazer de supetão, ao  ansioso candidato a uma vaga  de emprego. Como respondê-la de maneira a garantir a vaga se nem mesmo   nós mesmos costumamos saber quem somos. Quem  sou?  Sou filho do fulano, do cicrano, peso 70 quilos, tenho um metro  e oitenta de  altura, gosto de cerveja e  churrasco aos finais de semana com a família e os amigos. Ms isto não é  a resposta adequada. Espera-se que fale de sentimentos, medos e inseguranças,  desejos realizações. Os ricos podem até conseguir responder com precisão a famigerada pergunta, mas o trabalhador, não.

            A vida do trabalhador resume-se em fases; já na mais tenra infância  descobrir o que  é o tão falado ser alguém na vida,  a confirmação de que ele não é alguém,  já lhe é incutida logo nos primeiros anos de vida. Superado a fase  de incerteza e ter descoberto   sozinho,  que o “ ser alguém” no entendimento popular é ter um  trabalho, uma profissão  com uma remuneração  que lhe permita pagar a prestação de uma casa  da CDHU, de um carro velho e condições para comprar carne para o  churrasco de final de semana, inicia-se outra fase e mais difícil.  Conseguir  um trabalho e ter que ouvir de seus familiares que ele não consegue nada  vida, que é um parasita; mas chega  o dia em que com a graça de Deus, ele enfim, consegue o  seu primeiro emprego, ainda  assim, não pode  baixar a guarda porque  no momento em que ele entregou a carteira de trabalho para ser assinada, ele precisa  conseguir se manter no emprego e  mais um temor faz de seu coração, a sua morada definitiva:  perder o emprego.

            Não há como  um trabalhador responder honestamente a pergunta: quem  sou eu?  A dureza da luta diária pelo pão de cada dia ofusca a humanidade  e faz  florescer apenas animalidade, o instinto de luta pela sobrevivência, de perpetuação da espécie. E  se fosse permitido franqueza em entrevista de emprego, a perguntada assim seria respondida: alguém que se preocupa em colocar comida na mesa todos os dias.

segunda-feira, 22 de março de 2021

Um ano e nada mudou

    1.               Um ano e nada mudou em minha vida. Continuo dentro de casa, contando moedas, economizado o máximo que posso  pois não sei quando tudo isto vai terminar.  Idosos e comerciantes  sendo sacrificados. Uns com o seu estabelecimento fechado, somando dívidas  e impostos impiedosos, os outros,  solitários, presos em seus lares  sem o  conforto da igreja, sem as suas consultas rotineiras  em Postos de Saúde. Todo este sacrifício para que? Jovens irresponsáveis continuam se aglomerando, festejando  sem nenhum tipo de cuidado e levando o vírus para o seio de sua família.

A vacina começou com os profissionais de saúde, o que certo, pois eles estão na linha de frente, na parte mais perigosa na luta contra o inimigo. Depois os mais velhos. Melhor seria se tivessem feito uma quarentena vertical onde os  mais vulneráveis ficariam em casa e a classe trabalhadora, aquela que leva o  contágio para casa fosse vacinada  assim que terminasse os guerreiros da saúde.  

No delivery mora o  perigo. Os entregadores  de aplicativos, ficam sentados  nas calçadas, sem nenhum cuidado, aguardando novos pedidos, sem onde lavar as mãos, e com a pequena comissão que recebem, a possibilidade de andarem com álcool gel no bolso é pequena.  E as notícias de pessoas  que foram contaminadas, dentro de sua casa, em isolamento social, cresce a cada dia, sem as autoridades atentarem  que o perigo  está nas embalagens, na maçaneta da porta. A quarentena transmite uma falsa segurança porque o risco está em todos os  lugares.