domingo, 19 de novembro de 2023

Trinta e sete reais

    

         A atividade de hoje consiste em  escrever durante quinze minutos sem preocupação qualquer coisa que viesse à mente. O que surgiu espontaneamente foi o PIX,  no valor de  trinta e sete reais, que pedi ao meu namorado para fazer para mim, deixei claro que o pagaria no mesmo dia. O pedido se deu em virtude de minhas dificuldades tecnológicas e por eu não ter conta bancária, uma vez que trabalho como diarista e recebo em espécies  das patroas, que não querem deixar rastro para que os maridos não descubram que elas dizem um valor para ele, embolsam a diferença. Precisei fazer um pagamento e a única forma aceita era o PIX.  Pois é, ele que recebe em média,  dez mil reais por mês, simplesmente disse que não tinha a quantia, que o dinheiro dele estava todo aplicado e não poderia ajudar.

      Esta não é a primeira vez que ele demonstra  que não valho nada para ele, que não passo de um objeto descartável que pode ser substituído com um estalar dos dedos. Acredito que as pessoas que lerão este post devem pensar que eu tenho muita imaginação, porém, não é verdade. Aconteceu comigo  e eu ainda não tomei a atitude de devolvê-lo para a sogra.  Certa vez fomos ao mercado e eu sugeri a receita de kiwi com atum e tomate e tivemos um desentendimento   porque o prato só pode ser preparado com atum sólido  e que é mais caro que o ralado. Ele recusou a comprar  o produto  que ele  comeria, apenas teria que dividir comigo. Só que ele esquecia que estava  hospedado em minha casa mais ou menos uns cinco dias, com o consumo de água, energia, gás, alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal  em minha responsabilidade. 

        A primeira demonstração de mesquinharia comigo se deu, quando fique na casa dele e ele comprou para café da manhã  pão com mortadela, como sou alérgica  a embutidos, comi apenas pão  francês com café. E ele não cansa de contar dos rodízios de comida japonesa, churrasco e pizza  que frequenta com a família. A última vez que ele se hospedou em minha  casa, fiz uma experiência, o recebi com a geladeira  cheia, de coisas mais baratas, nada de pratos requintados, e ele foi comendo tudo, quando ficou somente arroz, feijão e salada de abóbora, ele simplesmente foi embora e até agora não voltou, quando voltar, terá uma surpresa: regime maluco, sem proteínas e carboidratos, em menos de 24 horas ele irá cantar em outro freguesia. Se  ele quer regalias de hotel, que pague a diária em moeda corrente.

sábado, 18 de novembro de 2023

250 palavras

        Recebi a missão de escrever 250 palavras como treino de escrita de um curso  que eu pretendo fazer. Coisas de internet!  Após fazer a inscrição,  foi que percebi que o dito cujo aconteceu em outubro de 2023 e estamos em  meados novembro do corrente ano. A inscrição foi feita e recebi confirmação  via e-mail, como veio com a dica de todos os dias escrever  este número de palavras,  assim, criei coragem e  cá estou, sem disposição, inspiração, porém, com uma vontade enorme de vencer a procrastinação, de  dar um passo adiante e não ficar alimentado a inveja que me imobiliza  e destrói a minha vontade viver. Tenho tentado usar como mantra a frase: “a motivação vem da ação.” Preciso  de um incentivo  e na falta de uma pessoa para me dar apoio,  começo a repetir a frase até conseguir começar, depois do terceiro passo, eu consigo chegar adiante, mas  começar é um verdadeiro suplício.

                O primeiro parágrafo constou 150 palavras e eu vi que não é impossível, assim, aproveito para responder a  pergunta do autor do livro que li está semana. Será que você não é uma lembrança doída na vida de alguém?   Com tristeza constatei que sou lembrança dolorosa na vida de  inúmeras pessoas  que eu tratei com rispidez exagerada,  não porque elas merecesses, mas devido a minha incapacidade de dialogar, em decorrência da falta de vocabulário, de compaixão e  se for ir mais fundo, na minha inútil tentativa de ocultar os meus complexos de inferioridades que estão arraigados em mim, desde a mais tenra idade. Por ser uma pessoa ferida,  ferir o outro é   uma prática constante da qual venho tentando me libertar faz mais de 3 décadas. Bem, estou feliz porque ultrapassou  o número de palavras!

domingo, 5 de novembro de 2023

Minha mãe, pelo olhar de um orfão

               Ontem foi um dia especial porque eu tive a verdadeira dimensão de quem foi a minha mãe e as marcas que ela deixou em  inúmeras pessoas com ações simples. Às vezes, deixamos de ajudar as pessoas porque acreditamos que o que temos a oferecer  é  pouco, porém, para o ajudado, naquele momento  representa muito. São tantas atitudes que  eu poderia contar aqui, porém, focarei minha atenção em uma visita que fiz ao Sr Zezé, durante sua permanência  no hospital, tratando de uma trombose venosa, quando tive o prazer de encontrar com o seu afilhado, Vitor, conhecido como o Vitinho da lavandeira.

        Vitinho  nasceu  em uma família literalmente pobre, e pobre em dobro, de dinheiro e inteligência, uma vez que possuíam um pouco de terra, porém, não tinham a iniciativa de plantar. Ficou órfão de pai aos sete anos de idade, dois anos após a morte do esposo, a mãe de Vitinho  faleceu repentinamente e ele ficou aos cuidados dos irmãos mais velhos, todos menores de 18 anos, vivendo como podiam. E nesta época,  minha genitora,   tomou a iniciativa comum a  toda mulher católica praticante, se fez presente na vida deles, como podia, ofereceu amor de mãe,  colo, conselhos, muitas orações e o mais importante: o uso das mãos para  ganhar o pão de cada dia.

        Em nosso encontro, Vitinho relatou que tem viva em sua memória, o rosto de minha mãe, já falecida a mais de trinta anos,  a lembrança de seu colo macio, no qual deitou várias vezes,  em momentos de carência, de suas panquecas e também, da preocupação dela, em  ir à casa deles, levar leite, carnes e demais produtos oriundos de suas colheitas no pomar e na horta.  Entre as doces lembranças  do cuidado que recebeu, em sua infância e adolescência, ressaltou que somente a minha família prestou auxílio aos órfãos, os demais vizinhos, quando eles iam lá, pedir um litro de leite, eram  convidados a se retirarem e não poupavam palavras ofensivas. Um litro de leite, um pedaço de carne, uma penca de banana, representava pouco para meus pais, mas para ele era exatamente o que precisava naquele momento de carestia.