domingo, 21 de maio de 2017

Existe Anjo da Guarda?

                       Existem perguntas que não devem ser feitas!  Anjo da Guarda  existe?  Quem os criou? Os babilônios? Caldeus? Os Hebreus? Estes questionamentos não têm  uma resposta  definitiva porque se trata de seres invisíveis, que se fazem presente em todas as culturas desde sempre e se acredita pela fé, principalmente nos momentos  traumáticos da jornada na terra, quando estão em hospitais,  com a vida por um fio, todos clamam por Deus, Santo de devoção e  Anjo da Guarda, inclusive aqueles que  mesmo sendo batizados em alguma religião, afirmam categoricamente que são ateus.
         Por que algumas pessoas tem  certeza da existência do Anjo da Guarda? A resposta mais plausível   é pelas sensações que se tem diante de um acontecimento  aparentemente banal e bem simples, como  acordar cansado após uma longa e fria noite de insônia  refletindo sobre as  dificuldades  e injustiças que recaem sobre seus ombros cansados, e  ao abrir a janela pela manhã,  seus olhos irem de encontro ao primeiro cravo amarelo do craveiro de seu jardim, que parece lhe sorrir e dizer bom dia! Tempos melhores virão! Estou aqui! Conte comigo!
         Como não acreditar em  Anjo da Guarda, quando você está tranquilamente assistindo televisão, com o único objetivo de matar o tempo, cochilando,  e de repente,  o depoimento de um ex-morador de rua lhe desperta. Ele vai falando tranquilamente, com o coração repleto de gratidão, da madrugada fria e chuvosa, em que  foi despertado com um homem cantando Tom Jobim: “ Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar...” e acariciando seus cabelos imundos. O homem  o  agasalhou, alimentou, limpou as feridas de seu corpo  e disse que voltaria, como de fato voltou e sem pedir nada, mudou o seu destino ao lhe resgatar a sua humanidade.
         Voluntários  que deixam o aconchego do lar altas horas  da noite, para levar um pouco de conforto às pessoas em situação de rua, são guiadas por  Anjos da Guarda   ou os próprios em forma  humana. Um cravo amarelo, que lhe desperta alegria toda vez  que o vê, com certeza, está transmitindo uma mensagem do seu Anjo da Guarda  para que siga sempre em frente, com perseverança  e fé. Sim, Anjo da Guarda existe!  Não há razão para duvidar!


quarta-feira, 17 de maio de 2017

Pés queimados

                          A leitura  para as pessoas pobres corresponde às férias dos ricos que viajam  por vários países e conhecem costumes diferentes. Para viajar  eles  têm uma  opção  a altura de seus minguados recursos:  A literatura, principalmente a  épica  que apresenta de maneira romanceada e leitura fácil,  a cultura  de vários povos em diferentes épocas, e  muitas jovens românticas e sonhadoras, que tem ciência de  seu destino, de não poder usufruir do que lhe garante a Carta Magna brasileira, o  direito de ir e vir, porque sabem que  jamais terão  dinheiro para viagem de lazer, dão asas a  imaginação e  assim vão  colorindo os seus dias cinzas. Sárita, quando sua mãe implicava com o tempo dedicado aos livros,  com expressão serena  dizia. -Mamãe, leio para trazer um pouco de cor a minha vida  de carestia e tristeza.
            A noite de  réveillon, de 2015, passou com o carteira e a despensa  vazias e, para se distrair iniciou a leitura de  O  Egípcio,  de Mika Waltari, escritor finlandês. Mergulhou profundamente na trama,  e na solidão de seu quarto, discutia com os personagens, principalmente  com as patroas, que tinham o péssimo hábito, de quando zangadas, jogar água quente nos pés dos escravos. Estava com fome, não tinha o que comer, foi ao quintal  e pegou  algumas folhas de hortelã para fazer um chá e enganar o estômago.
            Enquanto  esperava a água ferver, revoltava-se  este  hábito antigo, para ela desumano, de  jogar água quente nos pés dos escravos,  que já sofriam  com o calor do Egito, andando sempre com  pés descalços. Talvez por distração, ou por maldição  das antigas mulheres egípcias,  virou a chaleira com água fervendo em seus pés. Por sorte, dias atrás,  havia passado uma reportagem na televisão,  orientando como proceder em caso de queimaduras domésticas até o socorro chegar, no caso dela, nunca!  Rapidamente  mergulhou seus pés vermelhos em uma bacia com água fria e assim permaneceu por quase uma hora, até que parou de arder, e finalmente, ela pode dormir. Amanheceu 2015, e elas com os pés vermelhos, inchados, mas sem bolhas e com grande expectativas que não deixasse cicatriz.

sábado, 13 de maio de 2017

Idalina

                          Suavemente o inverno  vai penetrando nos  lares das pessoas. As abastadas  não o estão sentindo muito, já os menos favorecidos, procuram nos armários roupas mais quentes, preparam caldos na  tentativa de se aquecerem. Idalina faz parte  da massa popular com poucos recursos  dispondo apenas de um cobertor. É sábado, a manhã vai chegando e  ela não se dispõe a levantar e ir para a lida doméstica. É órfã, foi criada em um orfanato e agora, já adulta, mora sozinha em  um minúsculo apartamento, que não  recebe os raios de sol pela manhã.
          Enquanto espera a coragem para enfrentar o frio matutino, medita sobre o  comportamento dos colegas de trabalho, principalmente os seus superiores e no avanço das reflexões, as ideias vão  clareando e ela  vai dolorosamente percebendo que   o esforço, dedicação  e ética profissional não são  bem vistos  pelos companheiros de luta. A sua aprovação em primeiro lugar em um concurso público, é motivo de especulação. A sensação que  ela tem é que  eles estão esperando ansiosamente  pela sua  demissão e pelo retorno da antiga funcionária, que atualmente trabalha em outra empresa. Em todos os eventos, como um simples café especial, em homenagem ao Dia das Mães, ela  é convidada, festa de confraternização,   é presença  garantida.
          Idalina  espera angustiada pela  sua merecida nomeação. Não pelo medo do novo, de não  ser aprovada  na perícia médica, mas para se livrar de vez da rejeição  velada de seus colegas de trabalho que  ignoram sua presença  na  sala de café e o mais doloroso, se Idalina puxa conversa, respondem com monossílabos ou se fazem de surdos. Ela suporta tudo  silenciosamente porque precisa trabalhar, é sozinha no mundo. Os colegas de orfanato cada um seguiram seu destino,  o contato se perdeu, família nunca conheceu porque foi abandona em uma caçamba de lixo de construtoras. Desde o nascimento pode contar incondicionalmente apenas com a sua companheira inseparável: A solidão!