sábado, 30 de novembro de 2019

Carestia em casa de pobre



          Tem coisas que sempre existiram desde que o mundo é mundo, e tem coisas que não há como mudar, por mais que o homem tente intervir na criação divina e uma delas é a carestia em casa de pobre.  No outono é a época da grande safra da natureza,  mas o citadino  está distante dela e o roceiro não sabe apreciar a riqueza de seus frutos. No inverno, o  frio chega para todos, os dias ficam menores e as noites mais  longas e o corpo sofre com a temperatura . Na primavera, chuvas esparsas, a beleza das flores e alegria dos pássaros invade os prados, porém, os casebres continuam sombrios. No verão, férias, praia e mar convidam, mas a carteira continua vazia, o trabalho  pesado, porém,  a carestia continua   em casa de pobre.
          Passam-se os anos, mudam-se as leis,  os governos,  a tecnologia avança, o homem desbrava o espaço, novas religiões surgem, novos cursos universitários, mas a carestia continua fincada na casa do pobre.
          A ciência pode provar que o sol não emite calor, que a água do mar não é salgada e que a lua tem brilho próprio, porém ela será incapaz  de negar a carestia  da casa do pobre.
          Nem mesmo a criação de programas sociais como cotas universitárias, Fies, Prouni, bolsa família,  minha casa minha vida, nada  disso será capaz de  expulsar a carestia da casa do pobre.
          Existem aqueles que acreditam  em meritocracia,  reencarnação, em carma a ser cumprido, maldição, sina, castigo de Deus e  existem aqueles que  apenas creem  na perenidade da carestia em casa de pobre.
          Enquanto alimentos são desperdiçados durante o transporte, em  suntuosos banquetes nas mansões dos milionários, a carestia  segue firme na casa do pobre.
          A ciência avança, as   igrejas, escolas e famílias abastadas procuram adequar-se aos novos tempos e a  carestia continua despreocupada nas casas dos pobres.
          O universo segue o seu ritmo indiferente  ao desejo  do homem  de desbravá-lo e dominá-lo igualzinho a carestia em casa de pobre porque assim sempre foi e assim sempre será, apesar dos  inflamados  discursos durante as campanhas eleitorais.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Economia no mercado



        A velhice chega para todos, exceto os que ficaram no meio do caminho, em outros países não se sabe, mas no Brasil,  o sofrimento dos idosos é triplo.
Primeiro porque  a aposentadoria mal dá para os remédios e contas básicas, como luz, condomínio,IPTU, destas, ninguém escapa e a alimentação que fica a cada dia mais comprometida.
O segundo sofrimento é decorrente da maneira como educou os filhos, priorizando o trabalho, os amigos, deixando-os de lado e agora, eles repetem o comportamento, e sequer  enviam mensagem via redes sociais para saber como estão, se precisam de alguma ou coisa.
O terceiro e mais doloroso é o remorso pelas escolhas erradas sejam profissionais, amorosas e educação dos filhos que eram  vistos como um entrave em sua juventude e, agora, em sua solidão, percebe o quão ingênuo foram  em não priorizar os laços de  família: amor, respeito, companheirismo, solidariedade e compaixão.
Agora, na solidão de sua casa vazia, sofre o coração e o estômago. O coração por carência de calor humano e o estômago porque não há alimento suficiente em casa, e quando vão ao mercado, é no dia de oferta, compra-se somente o produto da promoção do dia e  os prazeres da mesa, da boa gastronomia somente  em  sonhos.
Triste demais!  A pessoa trabalhar em média 35 anos e em sua velhice ser forçada a economizar no  supermercado o alimento necessário para garantir o mínimo de saúde.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Chuvas de primavera



          A primavera é a estação mais linda do ano somente para as pessoas abastadas ou aquelas, que por  sorte, moram em casas ou apartamento que foram construídos por pessoas  sérias, porém, aqueles que gastaram as economias de uma vida e  endividaram – se  na aquisição de seu imóvel  popular, além de outras privações, somar-se-a mais   uns pequenos problemas  ao iniciar a  temporada das  águas, as tão famosas chuvas das flores, como   se diz no meio rural.
          Uma coisa puxa a outra. Pouco dinheiro é sinônimo de profissionais despreparados ou até mesmo irresponsáveis e   serviços mal feitos e  sofrimento perene dos moradores  porque estes não dispõem de recursos para fazer os reparos necessários para combater a umidade, goteiras, infiltrações, e a água que escorre generosamente pelas fretas das janelas que não foram instaladas de maneira correta, principalmente nos dias de  tempestades  com ventos fortes.
          Com ter tempo para ouvir o piar dos pássaros, as flores que brotam nas frestas das calçadas, ouvirem o vento se a vida dos moradores é torcer panos, na tentativa de secar a casa, limpar interior dos  armários no combate diário  contra o mofo? Como apreciar a beleza da estação, se seus olhos estão sempre voltados para as perdas anuais em conseqüências de  um serviço mal feito? A culpa não é da chuva e sim, dos profissionais irresponsáveis ou incompetentes. Suspirar e trabalhar é a sina do pobre, que dorme sonhando com a inundação de sua casa e até de seu apartamento, com a água que entra pela fresta da janela.

Deixe o seu comentário se  você também sofre com as chuvas

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Formatura traumática



Desde tempos imemoriais o homem celebra: a partida  e o retorno da caça, o nascimento, a  maturidade e a morte, e com o surgimento da escrita e a criação  das escolas, um novo ritual nasceu: o da formatura! Acredita-se que esta celebração tem suas raízes  nas Universidades Medievais no século XI, na França e em Paris,  a cidade luz, das artes, da cultura, boemia, alta costura e gastronomia;  e na Itália, em Bolonha, a cidade vermelha que encanta moradores e turistas com os prédios  milenares em terracota e ornamentados com pórticos que cobrem as calçadas, além dos arcos que além de embelezar,  protege  o caminhante  do sol escaldante do verão e das frias e fortes chuvas durante a estação das águas. Naqueles idos tempos, o discípulo ao se tornar mestre ou  artesão, no final da cerimônia, ele recebia  um testemunho de habilidade, atualmente   conhecido como  diploma.
Tantos são os saberes e todos tem o seu espaço na sociedade e por mais simples que seja o curso, a celebração  da conclusão de um ciclo de estudos é necessária. Não importa o grau de sofisticação ou simplicidade, o que vale é celebrar a vitória em um ritual de passagem  capaz de fixar os valores da cultura dos participantes. O poder dos rituais está em sua capacidade de  devolver ao indivíduo  a consciência   de que na sociedade e na natureza deve prevalecer sempre a solidariedade, a cooperação e a interdependência  entre os homens e a terra. Durante 100 horas de aulas, alunas de um curso de capacitação de mulheres feministas efetuaram vários trabalhos para celebrar a vitória do saber sobre a ignorância.

Diz um velho adágio popular, “que o que começa  errado, termina errado”  e  mais uma  vez a sabedoria tradicional comprovou sua eficácia. O curso iniciou-se com 100 participantes, formaram 10. E as possíveis falhas serão analisadas uma a uma.
I -  A recepção – Por se tratar de um movimento   popular  voluntário,  os coordenadores não eram os mais eficazes, mas aqueles que se dispuseram a trabalhar sem remuneração e não souberam proporcionar aos iniciantes, nem uma boa acolhida, menos ainda, esclarecimentos  sobre  o movimento, seus objetivos, seu campo de atuação e sua importância para as mulheres em situação de vulnerabilidade
II - Falas contraditórias. Na tentativa de  explicar o movimento,  repetiu-se a exaustão que  lá eram todas apenas mulheres, sem distinção de classe social, étnica, credo e que não havia  qualquer vínculo com partidos políticos. Mas  já na primeira aula, a palestrante   voluntária deixou bem claro que era  militante esquerdista e  as coordenadoras se entusiasmaram e o que era para ser assunto  tipicamente feminino, terminou em uma discussão política/partidária e neste dia, já houve  várias  desistência.
III – Durante a aula inaugural, foram vendidas canecas com a logomarca do movimento, alegando que era para arrecadar fundos para a formatura e também, orientou que as estudantes as levassem em todas as aulas  para evitar o uso de copos descartáveis que  levam  mais de cem anos para se decompor na natureza e  que todas, como futuras feministas militantes, deveriam dar o  exemplo de preservação da natureza. Solicitou que todas contribuíssem  em espécie com o café que seria servido meia hora antes do início de cada aula porque algumas saiam do trabalho direto para o curso, com certeza, cansadas e famintas. Também orientou as mães que quando não tivessem com quem deixar o seu rebento, que o levasse, uma coordenadora ficaria responsável por eles. Vendeu-se um projeto fantástico!
IV - Na segunda aula, a primeira decepção: nem mesmo as coordenadoras  levaram as canecas, o café foi servido após a aula, o que impediu que muitas pudessem saciar a fome porque perderiam o último ônibus, ficando impossibilitadas de  retornar ao lar  usando transporte público e, sendo moradoras de periferia,  o preço de   um  táxi ou motorista de aplicativo estava além de suas posses, sem falar na decepção que foi a aula. Uma atividade prática para que todas percebessem que vencer na vida somente pelo trabalho é uma tarefa quase impossível e, para completar, crianças correndo, falando alto comprometendo o entendimento  da proposta  da atividade,se é que havia.
V -  Não é necessário dizer que  a evasão, que já era  grande  intensificou-se com a terceira aula: a confecção de uma boneca de pano tradicional, bonita por sinal, porém, a oficineira não  conseguiu explicar com clareza o objetivo da atividade, e  para confundir mais as egressas, na aula anterior, a palestrante  havia criticado  a tradição milenar de oferecer bonecas as meninas, alegando que já estavam preparando a menina  para a maternidade e  cuidados com casa. Ninguém ousou contestar, mas com certeza, uma dúvida  tirou o sono de muitas delas, afinal, a maternidade não é tipicamente da biologia feminina? A gestação, o parto e a amamentação são por natureza, atributos das mulheres, que  moram em casas e o cuidado do lar deve ser compartilhado com todos os moradores, assim, como a responsabilidade com os filhos, portanto, menina brincar com bonecas é saudável, sinal que será boa mãe, e o menino também deve participar das brincadeiras porque será pai e quanto mais cedo ele exercitar  a responsabilidade da paternidade melhor será para a família. E assim seguiam as aulas, sempre na contramão da proposta, que se  dizia apartidária  e  no discurso prático político/partidário e esquerdista  prevalecia,  e muitas vezes, discussões baseadas no senso comum, sem nenhum fundamento antropológico e a sala de aula cada dia mais vazia.
VI  Para angariar fundos para a formatura, foram feitos dois grandes eventos, com altos custos para as participantes, não só em tempo, mas com material e transportes. Algumas trabalham com empenho até a exaustão, enquanto outras, sequer ajudaram financeiramente. Quanto foi arrecado? Não se sabe! Não houve prestação de contas.
VII – Em virtude da incapacidade das palestrantes e coordenadoras de agregar,  espontaneamente, formou-se dois grupos, o de maior e o outro de menor poder aquisitivo o que dificultava as discussões, porque se o grupo A, falava, o B emudecia, empobrecendo assim, o debate. Entre uma animosidade e outra chegou o dia da tão esperada formatura. Aí, sim, a situação  ficou bem tensa porque grupo B deseja uma formatura simples, bem informal, já o grupo A, queria apenas  o ritual tradicional, com as bandeiras do  país, estado e município, composição da mesa, hino nacional. Falou-se em hino nacional, os  ânimos se alteraram e o grupo  B, posicionou-se contra, protestou alegando que a proposta do projeto é a desconstrução dos valores vigentes  da sociedade patriarcal, vale ressaltar que a proposta da Carta de Princípios é  o combate ao machismo e  a violência doméstica pela informação, o conhecimento dos direitos e deveres das mulheres. Sem entender  a recusa em executar a maior canção do pátria e sem disposição para discussão infrutífera, baseada  no senso comum, uma voz do grupo A se levantou e alegou que fazia questão  do protocolo, e houve aparente concordância do grupo opositor. Sem prestação  de contas, as coordenadoras alegaram que não havia dinheiro para  a formatura e ela aconteceu na garagem da casa de   uma formanda,  com o  tradicional pratinho, sem autoridades locais, imprensa, bandeiras, composição de mesa e quando a  Mestre de Cerimônia pediu que todos ficassem de pé para a audição do hino nacional, uma desagradável surpresa: a coordenadora responsável pelo som, cortou-o  pela metade e alegou problemas técnicos. Mistério! O som funcionava bem antes do hino e findo o ritual,  funcionou perfeitamente, e os vizinhos tiveram que chamar  uma viatura policial porque estavam incomodados com o som alto.

Deixe os seus comentários sobre  as dificuldades enfrentadas em sua formatura.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Gentileza gera gentileza




Em 1996, durante uma conferência em Tóquio,   foi proposto a criação  do Dia Mundial da Gentileza e a data foi oficializada  em 2000 com o intuito de  inspirar as pessoas do mundo inteiro a se relacionarem com mais educação e respeito, e  assim, harmonizarem as relações  no lar, trabalho e em todas as esferas das relações humanas. Incrível é que a ideia surgiu em uma nação reconhecida mundialmente pela gentileza  não somente entre os japoneses,  mas com todas as pessoas independente de nacionalidade e  religião. A Associação Brasileira de Qualidade de Vida, é a representante do movimento  no  país, e acreditem, faz exatamente 23 anos que comemora-se esta data e  milhares de  pessoas   nem sequer  sabem que existe um dia do ano, para tentar ser gentil com o outro e aos poucos, ir incorporando no dia a dia, pequenos gestos de delicadeza.
Em um país, como o Brasil, em que centenas de milhares de pessoas, de bebês  a idosos, perdem a vida por motivo fútil, ou da própria natureza, como o caso de  um recém - nascido que foi espancado até a morte, pelo pai, porque estava chorando. Quanta crueldade e descontrole emocional do genitor! Chorar  é a única   maneira dos bebês se comunicarem com os seus responsáveis, é a natureza humana! Diante destas atrocidades, acredita-se que uma pequena atitude como a comemoração do dia da gentileza, é  uma luz no final do túnel.
Estranhamente a mídia não dá  o destaque  necessário  para a propagação da cultura da gentileza, optam por  divulgar as mazelas sangrentas  que se tornaram rotina no Brasil. E as escolas e as famílias? Por  incrível que pareça, as  duas instituições que mais queixam da violência  generalizada, com raríssimas exceções, sequer tocam no assunto, não criam projetos  para conscientização,  não dão exemplos com pequenas atitudes diárias. Vinte e três anos se passaram, 23 oportunidades de contribuir para  a melhoria das relações humanas perdidas.
    
Por gentileza, você que leu este post, deixe  o seu comentário sobre uma atitude  diária que todas as pessoas podem fazer para melhorar as relações humanas.

sábado, 9 de novembro de 2019

Mãe infeliz



Era uma vez, não pense que um conto de fadas, é uma história triste  e aconteceu faz pouco, não muito distante daqui. É a  história de uma menina que tinha uma mãe infeliz. Ela gritava, ofendia verbalmente e as tarefas mais pesadas da casa, a ela eram  destinadas, desde a alvorada dos pássaros até o pio das corujas noturnas, ela ficava na lida, sob o olhar vigilante e severo de sua genitora. Elas moravam às margens da represa de Três Marias, de águas límpidas e prateadas. Uma noite, após um exaustivo dia trabalho, a garotinha  não conseguia dormir  por causa do calor e do zumbido dos pernilongos, então, ela levantou, olhou para a janela e viu a lua refletida nas águas da represa,  levantou os olhos  para o céu e viu  a lua cheia e teve a impressão   de ouvir a voz dela a  lhe dizer baixinho: Não fique triste, um dia você vai conseguir  partir para longe e viver uma outra  vida, bem mais divertida, mas para que isso aconteça, você precisa trabalhar muito e economizar ainda mais.- Economizar como? Se eu não lido com dinheiro, tudo que visto são as roupas de minhas irmãs mais velhas? Somente trabalho, levo broncas e palmadas injustamente. E a lua respondeu: A partir de amanhã, você proporá à sua mãe que lhe irá trabalhar com muita dedicação e cuidará com mais empenho ainda do galinheiro, e que os ovos não consumidos irá vendê-los e guardar o dinheiro para a sua velhice. Não comente os seus planos de partir, pois será motivo de chacota, não compre nada para você, preste atenção nas notícias do rádio, para que conheça um pouco do mundo lá fora, também não  fale sobre o seu dinheiro. Agora vai, retorne ao seu leito e durma tranqüila.
Ao cantar do galo, a garotinha acordou, espreguiçou um pouco e pensou em sua conversa com a lua. Será que tinha sonhado? Nunca ouvira alguém dizer que  lua falasse! Ela pensou em sua  rotina diária, ouvindo sua mãe reclamar de tudo e  principalmente dela, por mais que se esforçasse, nunca conseguia agradá-la e este era o seu maior desejo: aconchegar-se nos braços macios de sua mãe e ouvi-la dize que ela era uma filha  muito amada. Por mais que a garotinha puxasse pela memória, não conseguia lembrar sequer de  uma única vez  de ter agradado à genitora, pelo contrário, sempre ouvira dizer que ela era um castigo de Deus, que tudo que ela mais detestava era mulher loira de olhos azuis e dera a luz a uma, que mal teria feito para  ser punida assim: uma filha  loira? E ainda acrescentava: - Filha desajeitada, não tem elegância para andar,  sentar e falar. – Se a felicidade existe, aqui eu não a encontrarei, pensou a menina, e já que  não acostumada com os maus tratos e injustiças maternas, decidiu  seguir os conselhos da lua e propôs à matriarca  que cuidaria com esmero do galinheiro e venderia  os ovos não consumidos. Uma sonora gargalhada ecoou pela casa  ao ouvir a proposta da filha e disse: - Uma pessoa feia e ignorante como você  não vai conseguir vender sequer um ovo, se quiser arriscar a ser motivo de deboche dos vizinhos, pode  fazer o que desejas. Eu não me oponho não incentivo e não ajudo.
E os dias seguiam  lentamente, a menina trabalhava  a semana inteira e aos domingos, quando iam à missa na cidade, levava os ovos em sua mochila e  vendia-os  na venda do Senhor Adão e não comprava  nem uma bala, guarda em segredo o seu dinheiro e ninguém da família percebia nada porque ela não descuidava de suas obrigações  mas prestava muita atenção nas falas das pessoas adultas, nas noticias do rádio, lia os jornais velhos que encontrava.Os anos foram se passando, ela ficou maior de idade, tirou seus documentos e disse a sua mãe que iria morar na  capital. Sua mãe quase explodiu de tanto rir, e disse que pagaria para ver como ela iria se virar, já que era uma incompetente. Ela nada respondeu, abaixou a cabeça e foi cuidar de suas obrigações, já que era a Gata Borralheira da  casa e à noite, á luz do luar, arrumou a sua trouxinha, pegou o seu dinheiro e partiu para a casa. Passou frio, fome, medo, humilhação, mas conseguiu um bom trabalho, estudou, comprou casa própria e  anualmente ia visitar a mãe e lhe cobria de presente, e talvez por força do hábito, ela continuava a reclamar e a humilhá-la e a enaltecer as outras duas filhas. Porém, as irmãs mais velhas  casaram,  esqueceram  e  abandonaram a mãe em seu leito de morte, sequer avisaram a nossa protagonista de sua doença e de sua morte,  lhe negaram o direito de  velar a sua mãe.

Deixe os seus comentário sobre as relações mães e filhas. Grata!!!



         

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Ruminar é viver

                     
          A trajetória afetiva, familiar e profissional de Rosalina é um fracasso generalizado  tanto que conseguiu para companhia em sua velhice apenas duas companheiras inseparáveis: a solidão e a carestia. Sem dinheiro para  extravasar sua angustia em compras e viagens e com os olhos já cansados das telas dos aparelhos eletrônicos, para matar o tempo, sai a caminhar pelas perigosas ruas da capital paulista, para matar o tempo, controlar a ansiedade e o estresses decorrente do ócio improdutivo. Além dos benefícios físicos da caminhada sem destino, agrega-se a eles, o entretenimento do espírito em  admirar a  arquitetura, vitrines, pessoas diferentes e apressadas, como a fugir da própria sombra, além é claro, de ativar o  sistema de alarme corporal para não ser mais uma vítimas de crianças e adolescentes, especializados em pequenos furtos e a mão armada. Após  uma peregrinação de umas duas horas, já ao entardecer, ela sempre retorna agradecida  não ter passado por nenhuma aventura constrangedora ou perigosa.
          O roteiro preferido de Rosalina é a mais paulista de todas as avenidas, a rica e bela av. Paulista, ela a percorre inteira, admira os carros, os transeuntes, aprecia as  exposições temporárias do  Itaú Cultural e Fiesp, às vezes, aproveita para  adentrar ao ParqueTrianon para admirar as árvores, sempre verdes  a oferecer  sombra generosa  que abranda o calor do verão e se perde em devaneios ouvindo o cantar dos pássaros, alheiros as dores humanas, oriundas de escolha erradas e falta de oportunidades.
          Rosalina procurar sentar próximo à guarita dos guardas municipais, por uma questão de aparente segurança, já que os meliantes paulistanos não temem as fardas, e lá, muitas vezes fica horas ruminando  dores e erros do passado. Quando ela rumina, ela é sincera, porque não teme julgamento nem censura,  é uma forma de autoterapia. Se tivesse  amigas, talvez, não usasse de franqueza por medo do ridículo ou de ofender  a interlocutora. Ruminar é bom, é sincero e profundo. Falar exige raciocínio e ponderação, principalmente nesta época  que vive-se a  tirania das minorias e  das redes sociais. - Bons tempos o de sua infância - suspira Rosalina,- quando o whatsApp era as pessoas sentadas  na calçadas nas noites quentes do verão brasileiro, conversando sobre assuntos de família e do trabalho, comentando as noticias que ouvira no rádio e as fofocas das revistas especializadas, ninguém falava dos próprios sentimentos e angústias.
          Como não ruminar a  ingenuidade dos sonhos  da  infância e adolescência da menina que um dia fora? Nascida  em uma  zona rural, lá nos cafundós do Judas, em uma família de costumes rudes, que só tomavam banho aos domingos,  e apenas os adultos  eventualmente escovavam os dentes, quando iam a igreja ou a cidade. Ela mesma, Rosalina, ganhou a sua primeira escova de dente  aos doze anos de idade.Vale  ressaltar que ganhou apenas a escova, e fazia a higiene bucal  usando  sabonete, razão pela qual, aos 15 anos, já tinha perdido cinco de seus dentes permanentes e até hoje,  o que já gastou com implantes, daria para comprar   um carro ou  um cruzeiro internacional.
            Rosalina adquiriu o  habito de ruminar ainda na infância, porque   era motivo de chacota quando expressava o seu desejo de ser rica, famosa, viajar para vários lugares e acima de tudo, ser amada, admirada e respeitada. Por ser morada da zona rural,  começava na lida antes do nascer do sol e  parava quando ele   desaparecia atrás das montes. E assim sempre fora,  mesmo quando fugiu de casa para morar na capital, trabalhava como uma mula de carga, sem falar, sem reclamar, com dores no corpo e sonhos na alma; sonhos até hoje não realizados.

Caro (a) leitor (a) deixe  seus comentários sobre os seus sonhos de infância

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Sandálias havaianas – se perderam nas ondas do mar



          Em 1962  foi criada a sandália havaiana, cujo nome  foi emprestado do. Havaí. O modelo foi  inspirado nos “zori” japoneses, tradicionais chinelos de dedos ,  feitos de  palha de arroz e a   textura característica da sandália havaiana teve como fonte de inspiração o grão de arroz. Por ser um produto bom e barato, caiu no gosto popular  e não há um  brasileiro que não tenha  um par,  é como uma tradição de família, é preciso ter o seu par de havaianas para se sentir um brasileiro completo, afinal, legítima, só as havaianas,
          Um par de sandálias havaianas sempre é um presente que agrada em todas as idades e camadas sociais. A quem duvide que os ricos não  costumam  usá-las mas não é verdade,  na hora do banho, piscina, praia, cada um desfruta  do prazer de  usar o seu par.  Para o povo, ela é companheira inseparável, no trabalho e no lazer. A  infeliz e insatisfeita professora  Dulce ganhou o seu par e  personalizada com o nome da escola.
          Sendo havaianas, símbolo de qualidade, não jogou fora, nem repassou o presente, porém,  o belo par de sandálias ficou por anos, esquecidas na sapateira. Com a sonhada aposentadoria, Dulce abandonou a sua cidade natal e mudou-se para um minúsculo apto na orla da praia, pequeno sim,  mas com a vista  para o mar  o que lhe foi de grande valia,  o marulho pos fim a sua insônia crônica, -  o som das ondas é o melhor tarja preta,  costuma dizer. Todas as tardes, ela sai para o seu banho de mar com o seu maiô vermelho e , nos pés, as havaianas.
          Em uma linda tarde de primavera, caminhava ela distraidamente, observado o céu  que lentamente, ia se colorindo, e não percebeu quando deixou cair nas ondas do mar, o seu presente  do dia dos professores: o par de sandálias havaianas, o último elo com o seu doloroso passado  no magistério. Quando deu pela perca,  ergueu a cabeça e  seguiu  descalça até o seu apto, feliz por ter entregue ao mar o último vestígio do trabalho que lhe matou lentamente, lecionou apenas porque precisava do dinheiro ao final do mês. Em seu coração, cheio de dor e humilhações sofridas no exercício da  função, guardou   espaço  para  gratidão ao estado por não ter preconceito e empregar a todos que passam com boas notas em concursos. Já idosa, agora, com o seu novo par de sandálias havaianas, ela observa  as ondas do mar e, mentalmente envia o meu pedido secreto:  Oh! Mar traga-me um grande amor!



sábado, 2 de novembro de 2019

Dia de finados



          Ontem foi o dia  de todos os santos,  segundo o calendário católico. E  hoje, 02 de novembro, dia de finados é  feriado nacional  no Brasil, para que todos  os católicos possam participar das atividades  na igreja e  visitar os parentes que já partiram. Apesar do cunho saudosista, a data movimenta  dois seguimentos da economia: o comércio de flores e  velas, e indiretamente os meios de transportes e gastronomia. A recomendação para rezar pela alma dos parentes falecidos remonta ao século XI, os papas Silvestre II, João XVIII e Leão IX, já orientavam os fiéis para dedicar um dia do ano  para orar  por todos os parentes falecidos.
          Há quem acredita que é o dia propício  não somente para rezar, mas, principalmente para pedir perdão pelas ofensas a começar pelos avós, os segundos pais  mas que na fase da adolescência, é comum, os jovens desprezá-los, considerá-los não um ser sábio e experiente, mas uma pessoa ultrapassada, que sequer merece uma visita anual. Eles dedicaram grande parte de suas vidas aos descendentes, não raro,  na velhice, além das privações em virtudes dos parcos recursos, sofrem também com o abandono dos filhos, netos e dos bisnetos, que apenas sabem que nascem e desejam aconchegá-los em seus braços,  porém, este sonho os acompanharam em seu caixão. Perdão avós, que trabalharam  e  lutaram para que  as novas gerações tivessem  um futuro melhor. Perdão por tê-los ignorados, quando tinham tanto a compartilhar   é o pedido que precisa ser feito nesta data.
          Dia de finados é o dia universal de pedir perdão aos pais, principalmente as mães, que ofereceram  generosamente o seu corpo  como o primeiro lar e  alimento. Além das noites em claro  embalando os bebês, tentando identificar a  origem dos sofrimentos, até o seu último suspiro, os primeiros pensamento e ações sempre fora para os filhos, sempre eles em primeiro e, o que receberam em  vida?  A ingratidão! O não reconhecimento dos seus esforços e amor sincero. Somente quando formam suas próprias famílias e  ficam órfãos, é que os filhos   entendem o quanto é difícil e caro criar os filhos. Perdão eternamente!
          É preciso pedir perdão aos tios, aqueles que em momentos difíceis, os receberam em casa e lhe ofereceram bem mais do que  ajuda financeira, mas também carinho e solidariedade, e sem coragem de dizer adeus e agradecer  a hospitalidade, fugiu  na surdina da noite. Perdão mil vezes, por toda a eternidade  é necessário para aliviar o remorso de não ter  reconhecido em vida a ajuda necessária, no momento certo.  A covardia  foi maior que a gratidão!  Perdão por não tê-los visitados  quando estavam sós e acamados esperando a hora de partir rumo ao  encontro do pai celestial.
          Os professores também precisam pedir perdão aos seus alunos, por não terem conseguido guiá-los, como serenidade, sabedoria e compaixão, pelos caminhos do saber, optando por  puni-los em vez  de orientá-los. Quantos teriam trilhados outros caminhos se tivessem sido acolhidos pelos seus mestres, se estes tivessem  auxiliado  - os em suas limitações e carências.
          Infinita é a  lista de pedidos de perdão, pois foram tantos os ofendidos! Por covardia, por desejo de vingança, por medo,  competição  inúmeras são as justificativas  que  levam  uma pessoa a   humilhar a outra, porém, nenhuma pode ser maior que a compaixão e solidariedade.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Novembro Azul


          E novembro chegou!   As  emissoras de rádio e televisão  logo pela manhã, noticiaram  a cor mês: azul.   Novembro Azul, como ficou conhecida a  campanha anual  de conscientização da importância do homem cuidar de sua saúde. Homens nascem menos e morrem mais em acidentes, suicídios  e de  várias doenças entre elas, o câncer de próstata. Mas  no 11º mês do ano, no calendário gregoriano, outras datas também devem ser lembradas como  o nascimento do mártir da Inconfidência Mineira.
          Em  novembro de 1746, a senhora Maria Antônia da Encarnação Xavier,  dera a luz ao seu quarto filho, Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes,o grande mártir da Inconfidência Mineira, o alferes que deu a sua vida pela liberdade de sua pátria e de sua nação. Duzentos  e setenta e três anos se passaram e o povo brasileiro continua oprimido, não pelos rigores da Coroa Portuguesa, mas por seus iguais. Em 2019, principalmente as mulheres, vivem assustadas em seus lares, com medo que este seja  invadido por algum malfeitor. Saem às ruas assustadas, com medo dos meliantes, que são em sua maioria  crianças e adolescentes. Liberdade! Liberdade! Será que um dia os brasileiros desfrutarão da alegria de ir e vir tranquilamente, pelo menos a luz do dia?
          Em novembro de 1949, é  fundada a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, SP, e após o seu curto esplendor, entrou em falência em virtude da falta de planejamento de seus fundadores.  Lamentável que após 70 anos, centenas de milhares de empreendedores brasileiros falem  pelo  mesma razão: falta de planejamento, pesquisa de mercado, boa contabilidade. Será que um dia os brasileiros  aprenderão com os seus próprios erros e de seus compatriotas?
          Em novembro de 1906 - O brasileiro Santos Dumont pilota o 14-Bis no primeiro voo público em aeroplano e supera o recorde mundial de voo.  Tantos anos se passaram, e o exemplo  do pai da aviação de  estudo e persistência  ainda não é uma regra geral  no país. As filas  para a compra de  bilhetes de loteria crescem, no afã de riqueza fácil e repentina enquanto os bancos escolares esvaziam rapidamente e a nação empobrece culturalmente e economicamente.
          Novembro! Tantos fatos importantes aconteceram neste mês durante  centenas de anos. Comemora-se o dia de todos os santos, dia de finados, dia Bandeira Nacional, da Proclamação da República  mas ainda não podemos comemorar a paz entre os brasileiros,  a liberdade para caminhar tranquilamente pelas ruas das cidades ou pelas estradas empoeiradas do sertão brasileiros.