terça-feira, 17 de agosto de 2021

Expeculação

                        As facilidades proporcionadas pela tecnologia parecem a varinha mágica dos contos de fadas. Tudo rápido e prático. Em segundos se fala do outro lado do mundo Hoje se fala com alguém que já está no amanhã. Mas tem um lado ruim, em tempo real, acompanha-se o que está acontecendo em qualquer parte do mundo e quando se trata de coisa ruim, os nervos ficam a flor da pele e a mente divaga   entre realidade e fantasia  e  cada um cria a sua teoria sobre  qualquer fato de grande repercussão  como  a pandemia do coronavírus e circula na boca do povo que este vírus fatal nada mais é do que um controle natural da população.

            Estão sendo veiculadas notícias de que a Covid-19 é a primeira causa de mortes; antes deste inimigo invisível, o primeiro lugar cabia  as doenças cerebrovasculares, o segundo as cardiovasculares, terceiro pneumonia e   diabetes com o quarto lugar;  e há outras mortes bem significativas como  acidente de trânsito, violência  e a fome. Quanto as  mortes de Covid-19, sempre haverá dúvidas porque corre na boca do povo que muitos óbitos  tiveram outras causas e o vírus levou a culpa.

            Especulação, e teorias mirabolantes à parte, fato é que a pandemia, outras doenças, acidentes diversos e violência tem ceifado  centenas de vidas e  os fenômenos naturais estão contribuindo com os óbitos: Europa em chamas,  terremoto, furação e tempestades violentas  nas Américas. Será  o Apocalipse? O final dos tempos? Ou será  que é apenas um controle natural da população pela Mãe Terra? Isto nunca saberemos!

 

sábado, 14 de agosto de 2021

Espinhas

                      Os profissionais da saúde são  unânimes ao afirmar que a automedicação é um perigo e que  no Brasil, em média há 20.000 mortes anuais decorrentes desta prática. Mas o que o pobre pode fazer para resolver as  pequenas mazelas diárias como dor de cabeça, estômago, coluna além das dores tipicamente femininas  com um serviço de saúde tão precário?  Com a perda da sabedoria milenar dos cuidados naturais tradicionais restou apenas  os palpites das pessoas próximas, o balconista da farmácia e na melhor das hipóteses, o farmacêutico.

          Adolescentes das classes menos favorecidas sofrem com as espinhas características da idade e agravadas com alimentação incorreta e, quando procuram o Posto de Saúde, esperam em média, um ano para a consulta e aí de fato, começa o problema. Os  medicamentos não são fornecidos pelo  Governo e não têm dinheiro para comprá-los.

          As terríveis espinhas internas inflamadas, não são  pesadelos somente dos jovens. Não raro pessoas maduras e até idosos são vítimas, a vantagem é que com a longa experiência de vida, eles já sabem como agir nestas circunstâncias. Quando aquela  indesejada  espinha no canto da boca inflama chegando ao ponto de dificultar a alimentação, ela  já sabe que basta apenas esterilizar  uma agulha no fogo, furá-la bem ao centro e lavar com água oxigenada farmacêutica e em pouco horas,  poderá cometer o pecado da gula tranquilamente, não é o procedimento ideal, mas consultar um dermatologista  é impossível para as aposentadas que recebem em média um salário mínimo mensal. Por mais  campanhas que o Governo faça sobre os riscos da automedicação, se ele não ofertar saúde de qualidade,  esta pratica continuará  matando e mutilando, principalmente as mulheres, que tudo o que desejam  é tornar-se mais belas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Presente do dia dos pais

                         Datas comemorativas fazem a felicidade apenas do comércio, crianças e namorados. Dia dos pais não fica de fora. Quando o rebento é pequeno, é um suplício! Mães e professoras providenciam material para a  criança estampar uma camiseta com a marca dos pés ou mãos, e os coitados  têm que desfilar o regalo para não ferir os sentimentos dos rebentos e se veem obrigados a fazer uso de um dos três Rs, o “reutilizar” e a peça carinhosamente trabalhada é rebaixada a pijama. Isto na melhor das hipóteses, já que na maioria das vezes, é um desenho, uma escultura em  massinha de modelar, sem utilidade nenhuma e que fica  em um canto qualquer acumulando  poeira, ácaro e ocupando espaço até  o dia  em que uma boa alma joga tudo no lixo. Com o decorrer dos  anos e as  peculiaridades próprias da adolescência,  o pobre chefe de família se vê obrigado a abrir um sorriso largado a cada cueca e par de meias novos no segundo domingo de agosto.

            Criada a  tradição, é difícil abandoná-la e quando os filhos já estão distantes, é a oportunidade  anual de rever o genitor e levar-lhe um agrado, além da presença. Nesta fase, prioriza-se  algo útil, do gosto do presenteado e principalmente de baixo custo. Ninguém admite, mas é a pura verdade. Os pais procuram oferecer o melhor  presente aos filhos, fazem crediário, empréstimos consignados, não medem esforços para ver o sorriso de felicidade nos rostos  dos pimpolhos, mas quando é a vez dos filhos presentearem  seus genitores é o contrário, sempre procuram o mais barato.

            Com o pai  acamado em decorrência das agruras da velhice  João Francisco decidiu que no dia dos pais compraria algo significativo pois talvez fosse este, o último presente que daria ao seu genitor e optou por um rádio portátil. Não teve dificuldades  em encontrar bons produtos na internet e com preços bem convidativos. Escolheu  um aparelho de  04 bandas, a energia e pilha e bem baratinho.  Ao efetuar a compra, lembrou  das idas e vindas do pai ao hospital e pensou na possibilidade da entrega chegar e ele estar  hospitalizado, o produto seria devolvido, assim, achou prudente enviá-lo no endereço da cunhada aposentada e bastante caseira. Escolheu um site  que oferecia a possibilidade da entrega ser  feita a outro destinatário,  efetuou o pagamento e esperou tranquilamente o  momento do  seu Velho voltar ao passado com um rádio de pilha, que  outrora ele tanto apreciara, porém, esqueceu de comunicar a Senhora e pedir-lhe a gentileza de levar o presente ao sogro.Este foi o seu erro: Ao abrir a encomenda e deparar com um gracioso  e pequeno rádio portátil, pensou que fosse um presente para o neto e entregou-o a criança. E o último dia dos Pais, o pai de João Francisco não ganhou  nada de seu primogênito. Nem presente e nem presença!

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

A Anciã

                A vacinação avança e novos casos de Covid-19  continuam e as mortes também. A geração atual e as futuras jamais saberão  o número real de casos confirmados e  mortes decorrentes do coronavírus  porque está na boca do povo que qualquer doença  respiratória é tratada como Covid-19 e provavelmente esta crença, faz  com que pessoas ingênuas acreditam que a pandemia já acabou.  Grande parte da população não segue os protocolos de prevenção como a caixa de uma  Casa Lotérica na Baixada Santista. Ela atende os clientes com a máscara no queixo e sob os olhares   perplexos da  idosa  que atendia, bocejou longamente, e claro, tampou a boca com a mão e na sequência,   sem higienizar as mãos com álcool, pegou o cartão e o boleto e entregou-os a cliente naturalmente. A pobre anciã,  apesar de já  ter tomado as duas doses, sabe perfeitamente que a proteção não é de 100% e que é prudente continuar com todos os cuidados preconizados no início da pandemia.

            Cansada e atrasada para as tarefas domésticas, a  pobre anciã para em uma lanchonete para comprar um pão de queijo e uma garrafa de  água, após a experiência  na Casa Lotérica, observa  atentamente  à atendente. Ela recebe o dinheiro e sem colocar luva ou higienizar as mãos, pega o saquinho para guardar o produto e para abri-lo, coloca a mão dentro. Perplexa, a cliente nada disse e jurou nunca mais comprar lanche  para viagem.

            Enquanto caminhava para pela calçada, rumo à sua residência, pensava que o mais prudente seria  colocar o pão de queijo no micro-ondas, para matar vírus e bactérias, e tem seus pensamentos interrompidos por uma moradora que retornava o velório de seu esposo vítima de  Covid-19. A viúva enaltecia as virtudes do falecido e  temia sob o seu futuro sem o companheiro de 50 anos e não sabia dizer onde foi que ele se contaminou e discorreu sobre os cuidados  diários para que o maldito não entrasse em sua residência. A pobre anciã fingiu tristeza e fez  um esforço para não dizer  que o melhor a fazer, seria que ela  procurasse saber se tinha direito a pensão, pois o que a pobre mulher não sabia é que fidelidade, não era uma qualidade do finado, até ela, já tinha recebido convites indiscretos dele. Tão logo conseguiu se desvencilhar da viúva, apressou o passo, para sua surpresa, ao adentrar em seu condomínio, deparou com umas cinco amigas, sem máscaras, fumando e  conversando alegremente  na área de lazer do prédio. Alegando muito cansaço e dor de cabeça, recusou o convite para  conversa fiada e seguiu rápido. – Nenhuma vacina protege 100%; sozinha sim, mas viva. Suspirou tristemente.