domingo, 31 de maio de 2020

Diário do isolamento social- 75º

             
          Faz 75 dias que o acordar esta diferente neste isolamento social apocalíptico. Antes da pandemia, o despertar nos domingos era animador! Abria-se as janelas para ver o tempo,  consultava  o saldo  na conta e  programava-se o dia de acordo com a situação financeira e do tempo. Agora não, a rotina é outra: abrir os olhos, as cortinas e olhar  até onde a vista alcança, procurar uma programação mais leve na televisão e providenciar um almoço diferente com o que se têm  nos armários. Quem tem família, nada de convidá-los para desfrutar os prazeres da mesa enquanto se joga conversa fora. Agora é a solidão de não poder  correr no parque  do Ibirapuera, andar pela Av. Paulista, repleta de atividades culturais gratuitas e gente de todos os cantos da cidade apreciando o que de bom a cidade oferece à população. Agora, cada um de nós, têm dentro si novas preocupações e o estresse constante do lava as mãos, limpa os sapatos, troca de roupa, toma banho, use máscara, não toque no rosto, principalmente nos olhos e subitamente, estamos sendo forçados  a abandonar hábitos milenares e aprender novos em tempo recorde para que possamos nos manter vivos.
          A  cada amanhecer,  um pouquinho de tristeza vai-se acumulando lentamente na alma e o marasmo propiciado pelo isolamento social não nos permite sentir alegria, serenidade e esperança em dias melhores porque as notícias não são animadoras,  as horas parecem  infinitas e a falta de perspectiva em dias melhores em  curto prazo  parece cada dia mais distante. Alguns privilegiados ainda conseguem, ás vezes, acordarem dispostos e produtivos, e, outros, dispersos e errantes. Aqueles que ainda restam forças para lutar, apelam para a arrumação dos armários, que digam-se de passagem, já estão limpos e organizados, porém, é preciso arrumar algo com que se ocupar porque não há mais nada a ser conversado e a programação da TV, parece cada dia mais repetitiva, e não há como deixar de  pensar que felizes sãos os animais ruminantes, que precisam de um tempo diário para ruminar, atividade que acredito, ajuda a passar as horas e o tédio.         Felizes são   os jovens que  estão descobrindo o mundo e  ainda conseguem  ouvir música horas seguidas e assim irem matando o tempo, para começar tudo no  outro dia se os pais os permitirem.
          Fico horas pensar  o que pode ser mais suportável: sair para trabalhar  e estar mais sujeito a contaminação durante o trajeto e também na empresa, ou ficar em casa aparentemente protegida, apenas lutando freneticamente, para que o inimigo invisível não adentre ao lar  trazido pelas embalagens ou mesmo pelo ar e pelo tédio  consequência  do  distanciamento  social? Não sei  quem está mais sereno se  é o que fica ou o que sai! O  inimigo invisível está em toda parte  e  ele  democrático e cruel, não escolhe classe social, etnia e  faixa etária, quer apenas um hospedeiro, onde possa  crescer e multiplicar cada vez mais porque esta é a lei da vida do vírus  que está no topo da cadeia alimentar. Muitas pessoas  perecerão  e  esta certeza angustia  a todos porque ninguém sabe quem será o próximo a morrer porque muitos sobreviverão e esta incerteza faz com que a maioria das possíveis vítimas não procuram reconciliar-se com os seus desafetos na esperança  que sobreviverão a mais está provação: Mais do que maratonas de leituras, séries e limpeza, é essencial  se preocupem com uma alimentação saudável, uns vinte minutos de sol e muita água para melhorar a imunidade e ter assim, uma forte defesa natural contra o inimigo que  vai chegar, apenas não se sabe  dia e horário.
Domingo, 31 de maio de 2020
16h 43 minutos
Temperatura 24º
Umidade relativa do ar´70%

Diário do Isolamento social -74º dia

                                   Sábado! Dia de feira livre no bairro e eu  decidi sair da toca  para comprar  legumes, verduras e frutas, gastei muito e voltei com pouca coisa. Os preços estão absurdos! Tive que abdicar-me do pastel e  do peixe e do cáqui, que estavam em minha lista.  No início da quarentena eu não ia à feira, depois, por duas vezes, aceite a carona de uma moradora do condomínio, mas como ela  prefere  a hora da xepa e tem muita gente, optei por ir mais cedo e sozinha. No início, os preços estão mais altos e a qualidade melhor; em final de feira, cai o preço e a qualidade e o maior volume de compras não representa   vantagem porque os produtos estragam rápido.  E o dia inteiro passei envolvida com  atividades relacionadas à feira porque o trabalho que dá  lavar, secar e guardar as compras é desanimador, acredite, pela primeira vez, estou lavando banana na penca, atividade impensável antes da pandemia. Foi-se o tempo que  vangloriávamos que a fruta mais  prática para se comer é a banana porque já vem embalada e basta apenas  retirar a casca. Bons tempos! E assim findou mais um dia.
             

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Diário do isolamento social - 73º

           
                        Para não enlouquecer nesta quarentena que já vai  mais para 70 dias e os olhos já estão cansados das telas do computador, televisão e celular, o corpo casando das tarefas domésticas,  restou uma outra alternativa,  enfrentar os ácaros acumulados a décadas e  vasculhar a estante em busca de uma leitura ligeira e prazerosa capaz de  amenizar o tédio de permanecer só, olhando  pela janela, a vida passar em seu ritmo natural. E a busca não foi  em vão. Após inúmeros espirros, o  início da leitura e a certeza da falta que fez  a disciplina de arte, na grade curricular, no tempo em que cursei a educação básica. Não sei como este livro sobre teatro chegou a minhas mãos, presente? Esquecido por  algum amigo? Não me recordo de ter comprado  nenhum exemplar com esta temática, já que a minha vida inteira dediquei-me á casa e ao marido e esqueci de viver os melhores anos de minha juventude,  viajando nas páginas dos livros, quando a vista ainda era boa. Mas em isolamento social, até debruçar-se sobre um assunto novo ajuda a evitar uma depressão profunda e a forçar o cérebro a pensar sobre o que eu não aprendi nos idos tempos  dos bancos escolares.
            Eu  aprendi  nas aulas de História do Brasil  que antes da década de 1920, a sustentação da  sociedade brasileira era as lavouras de café, mas não  me foi ensinado que este fator teve seus reflexos  na arte dramática e que a valorização da vida simples do campo, o orgulho dos troncos genealógicos, sentimentos legítimos e sinceros, e o trabalho sólido e honrado  refletiram nas peças teatrais, e  montagem como Flores de Sombra de Cláudio de Souza (1876 -1954) teve boa aceitação do público.  
            Na escola eu não aprendi que a  Primeira Guerra Mundial (1914-1918) influenciou o  teatro brasileiro porque  interrompeu a  visita de companhias teatrais européias, principalmente as  francesas, italianas e portuguesas e  assim, nas décadas de 1920 e 1930, o teatro brasileiro teve  que  descobrir  um novo caminho e a dramaturgia  volta-se para uma temática  nacional e  inicia-se  uma fase de autoafirmação da nacionalidade. Deste período  é a peça de Gastão Toseiro, “ Onde Canta o Sabiá”  cujo personagem central é o Brasil, o melhor  lugar do mundo para viver e foi encenada com muito sucesso em 1921. Também não aprendi que  na Semana de Arte Moderna de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, SP, não houve encenação de peças teatrais, talvez porque a exigência do trabalho coletivo  na  montagem do espetáculo tenha desestimulado os artistas.
            Eu não aprendi na escola que a peça de Oswald de Andrade, O Rei da Vela, escrita em 1934, tem situações atemporais, questões nunca resolvidas no Brasil – o  caso dos agiotas- que continuam a fazer  vítimas em pleno século XXI. Após a leitura de trechos da peça, percebi quantas   oportunidades  de discussões profundas sobre  os costumes do início do século XX   foram perdidas porque peças de qualidade sequer eram mencionadas em sala de aula.
            Eu não aprendi em sala de aula, que durante o Estado Novo ( 1937-1945) o teatro brasileiro se transforma e prima por montagens de mais qualidade com iluminação correta e uma concepção mais moderna e a presença do diretor completa estas conquistas importantes.  
            Eu não aprendi  em sala de aula, que um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro é o polonês Ziembinski, um dos integrantes do grupo “Os Comediantes.” Ele foi o homem que dominou todos os segredos da arte teatral e uma de suas montagens memoráveis foi O Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues que esteve em cartaz em 1944. Esta peça rompeu com as regras vigentes da dramaturgia  clássica-  unidade de tempo e espaço -  porque a trama se passa em três lugares e tempos diferentes que se misturam à fantasia:
O presente;
O passado próximo;
O passado  remoto.
            Embora eu já tenha passado várias vezes em frente ao edifício do atual Teatro Brasileiro de Comédias, no Bairro Bela Vista, eu não fazia ideia de sua importância  desde  1950 que surgiu como um grupo que soube aproveitar o legado dos artistas de Os Comediantes. O TBC foi criado pelo  italiano Franco Zampari, em 1948 e eles tinham uma forma bem simples de sucesso:
Reunir o maior número de talentos;
Manter um  elenco estável com atividades cênicas constantes.
            Eu não aprendi na sala de aula, que o clima de  euforismo do presidente Bossa Nova, Juscelino Kubitschek, refletiu nas artes dramáticas e novos grupos surgiram  eles entres, Arena e  o Oficina. Um artista ítalo-brasileiro se destacou: Gianfrancesco Guarniere, com suas peças de cunho social, como: Eles não usam black-tie,  que permaneceu em cartaz durante todo o ano de 1958.  O teatro  Arena era um laboratório de  interpretação que procurava um jeito brasileiro de representar e criou o Sistema Curinga de interpretação, que nada mais é do que a possibilidade de todo o elenco estar preparado para representar todos os personagens da peça. Este sistema de rodízio prima pela objetividade do personagem, não pela subjetividade do ator e  priorizava temas brasileiros passíveis de reflexão.
            Eu não aprendi que na escola que  na década de 1970, Dias Gomes escreveu uma  peça atemporal, O Santo  Inquérito, inspirada na vida de  Branca Dias uma das heroínas do Brasil  Colônia. Graças à quarentena imposta pelo Coronavírus conheci esta  obra de arte.  Obrigada dramaturgos brasileiros que têm acalentados os meus dias tristes com suas obras belíssimas e de imenso valor cultural.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Diário do isolamento social -72º dia

             
            Está cansativo! O assunto é sempre o mesmo,  nos meios de comunicação e  nas redes sociais. Covid-19, quantas mortes no Brasil e  na Europa. Até agora, eu não entendi porque  as pessoas comuns se preocupam tanto com o avanço ou declínio da pandemia em outros países,  isto é com os órgãos competentes, a nós, a  massa popular, o trabalhador, os aposentados, os desempregados,  cabe- nos apenas fazer a lição de casa que é  ficar em casa e com os devidos cuidados de higiene, só isto já é de boa monta, não aguento mais esse lava mão, álcool gel, máscara, troca de sapato, lava roupa,  limpa e limpa casa com água sanitária, e não sou somente eu, os acidentes domésticos com produtos de limpeza cresceram, comparados com a mesma data em  2019. E essa ameaça constante de que os casos irão aumentar nas próximas semanas, faz setenta e dois dias que ouço  isso, parece  ritual de tortura. E o medo de ficar doente com algum problema respiratório, comum nesta época. Infarto AVC, infecção de urina,  estes problemas comuns  em idosos, está deixando os mais experiêntes a beira de um ataque de nervos, com medo de ter que procurar serviços médicos e entrar ruim e sair  direto para o cemitério.
            O terrorismo é maior para os acima de oitenta anos porque é  largamente divulgado porque para estes pacientes, o novo Covid-10  é letal em 15 a 20% . Já ciente dos poucos anos que restam de vida, os idosos ainda  convivem com mais esta ameaça de  antecipação  da viagem definitiva, já estão sofrendo com o isolamento, a distância dos netos,  suas compras sendo feitas por terceiros, sem tomar sol, caminhar e o mais importante, fazer e receber visitas para fofocar,  o melhor passatempo, que todos recriminam porém, adoram e fazem diariamente.
            Com a possibilidade de abertura da economia, a partir de primeiro de junho, a falação agora é para  reforçar os hábitos de higiene, principalmente em idosos e crianças. Especialistas alertam que doravante,  teremos que adquirir  hábitos saudáveis: evitar tocar a boca, os olhos, nariz  e lavar as mãos com mais frequência.  Já se tem ciência que está não é a primeira  e nem será a  última pandemia que vamos enfrentar, o mundo está cada dia mais pequeno e os vírus viajam.  A certeza que vai passar não existe, apenas teremos uma trégua e ninguém sabe por quanto tempo. Lava mão, usa máscara, alimente-se bem, tome sol,  tome bastante água, não saia de casa gripado, coloque as vacinas em dia. Haja coração!



Diário do isolamento social- 71º dia

         
            Nesta quarta-feira, 27 de maio de 2020, o Governador João Dória falou aos  paulistas e paulistanos sobre a Quarentena Inteligente  com início previsto para 1º de junho e término em 15 de junho de 2020. Ele frisou inúmeras vezes que se houver necessidade de recuar, recuará  sim, porque o objetivo do Governo é salvar vidas e os números de  novos casos, óbitos e vagas em UTIs serão analisados diariamente. Um discurso bonito, agora é esperar como será a prática, se o povo irá respeitar as novas orientações porque a fome não espera e o desvio de  cestas básicas é grande e os  golpes on-line, prejudicando os beneficiados com o auxílio emergencial não param de crescer, tirando  de quem já perdeu tudo, é assustador e desumano!
            Pelo que entendi, o  programa de reabertura da economia  ocorrerá em cinco fases;
-Fase vermelha: nas regiões com maiores números de casos e poucas vagas em UTIs, continuam  com o nível máximo de restrição, ou seja, nada muda.
-Fase laranja -  etapa controlada que já  é um alento, prevê retomada com restrições  a comércios de rua, shoppings,  concessionárias, escritórios, imobiliárias. Os   demais serviços não essências  continuam fechado para o desespero da mulherada que tem como prioridade  os cuidados com a beleza, assim, lojas de bijouterias,    institutos de beleza são essências, mas infelizmente, terão que esperar  um pouco mais.
-Fase  amarela  - flexibilização  maior, abertura de acordo com os protocolos sanitários, salão de beleza, bares, restaurantes e similares, com atenção ao fluxo de clientes e restrições de  horários, que ainda não foi anunciada e os prefeitos têm autonomia  para decidir,  visando sempre o bem estar dos munícipes.
-Fase verde -  abertura parcial-  Chegar a  esta fase é uma glória,  as restrições serão atenuadas,  mas os cuidados com distanciamento social e profilaxia continuarão  e  academias poderão abrir e a população, enfim, poderá dar adeus as gorduras acumuladas durante a quarentena.
-Fase azul - normal controlado, esperaremos com ansiedade por este momento, seja qual for o protocolo, seguiremos com alegria.  Se houver colaboração da população com os cuidados  de higiene, logo, logo, estaremos na fase azul.


terça-feira, 26 de maio de 2020

Diário do isolamento social- 70º dia

                          O isolamento social tem suscitado um desejo de estar mais próxima da  natureza. Tendo como companhia apenas as paredes e os móveis da casa não há como evitar as lembranças da infância  repletas de  cores e vida selvagem, quando a rua ainda era de terra e em dias de chuva, sempre havia sapos saltando e assustando os escassos motoristas e  deixando exasperadas as mais zelosas, que primavam pelo cuidado com  a saúde de sua prole que teimavam em querer capturar os  inocentes anfíbios apenas para assustar os  mais velhos que cochilavam nas cadeiras de balanço.
          Antigamente morar na periferia, quando iluminação pública  e asfalto era um sonho distantes, as noites  não conheciam o silêncio absoluto porque  os  sons das vidas noturnas embalavam o sono. Sempre havia um grilo cantando,  o pio de uma coruja, o uivo distante de um cachorro e  o espetáculo  dos vaga-lumes   que brilhavam na terra  enquanto as estrelas iluminavam a escuridão do céu e era bastante comum na época, as pessoas  sentarem em frente as casas, para tomar a fresca e  queimarem capim para produzir fumaça e espantar os pernilongo que havia em abundância. Era um momento mágico! Homens urbanos ainda integrados à natureza.
          Os anos passaram, o  asfalto e a luz elétrica chegaram as periferias,  e com eles o estrangeiro  Aedes Aegypti  que deixou no chinelo o tradicional pernilongo nacional porque transmite doenças letais e agora, para atormentar a nação, mais um imigrante indesejado: O Covid-19 que  trancou a população em seus lares e  alguns privilegiados, ainda conseguem apreciar um pouco da natureza pela  janela, até aonde a vista alcança e sempre em disputa com arranha – céus. Estes fragmentos de natureza  vistos das janelas são essenciais para despertar novos olhares de admiração e cuidado com o mundo e consigo, e que apesar do avanço do homem a natureza resiste com todo  o seu esplendor, em qualquer palmos de terra
          Felizes são aqueles que têm registrado em seus corações a graciosidade do voo  das borboletas, a magia das revoadas dos pássaros ao  entardecer quando retornam aos seus ninhos e as fugidas com os amigos para a exploração da  paisagem rural, onde  ainda não havia moradores e o gado pastava livremente pelos campos sob o olhar vigilantes de seus donos. Tristes  lembranças terão as crianças  das grandes metrópoles, sem contato com natureza e em quarenta a setenta dias.


segunda-feira, 25 de maio de 2020

Diáio do isolamento social- 69º

               
            A pandemia do Covid-19 tem feito muita gente reinventar as tradições  e a maneira de conviver em família  pois a   preocupação em  evitar o contágio   em aglomerações de pessoas como em casamentos, aniversários e almoços de domingo é uma realidade e uma nova maneira de  festejar à distância já surgiu em Minas Gerais que com criatividade e carinho, familiares de gestantes nas cidades de Uberlândia e Januária, inventaram a “charreata” no lugar do tradicional  chá de bebê ou chá de revelação do sexo da criança, a nova moda no Brasil. Parentes e amigos  através das redes sociais, combinaram dia, horário e presente e na hora marcada, com carros  enfeitados com balões e cartazes com o nome do bebê, passaram pela rua e deixaram na  porta, sob a responsabilidade do cúmplice, os presentes dos bebês que chegarão ao mundo em plena quarentena e que venham com muita saúde e é  desnecessário dizer  que a surpresa e  o carinho de todos fizeram chorar de emoção as futuras mamães que estão reclusas para se protegerem e, principalmente a criança.
            Enquanto  uns chegam outros vão-se, está a lei da vida! Na capital paulista, mais de 7 mil óbitos ja foram registrados e esta não é a única perda, em todo território nacional, mais de um milhão de trabalhadores da área de hotéis, bares e restaurantes perderam o emprego e um em cada cinco restaurantes, não  abrirão as portas com o fim da quarentena, segundo uma pesquisa do sindicato da categoria.  O vírus a avança e com ele  irresponsabilidade e  também o sofrimento dos duzentos colombianos, incluindo idosos e crianças, que  estão acampados no aeroporto de Guarulhos aguardando o voo  de repatriação. Enquanto uns sofrem aguardando  a decisão das autoridades competentes, milhares de paulistanos em explicita desobediência civil, descerem a serra e superlotaram as cidades do litoral norte e sul do estado e com certeza, na  bagagem de alguns, estava  o turista mais indesejado do mundo: Covid-19.
A capital  já está com 88% dos leitos de ITUs  lotados e  pessoas  sem o menor senso de responsabilidade social, viajam indiferentes às dificuldades dos municípios   no cuidado com a saúde de seus munícipes. Os prefeitos trabalharam duro, porém, conseguiram persuadir somente 30% dos motoristas a retornarem os seus lares. A exploração de novos casos  no litoral é um perigo iminente, resta saber se  haverá leitos de UTIs disponíveis para todos.
Nota para a posteridade: Hoje, 25 de maio de 2020,  é feriado porque o  Governador João Dória antecipou  o feriado de 09 de julho. Afinal, o que  é comemorado nesta data?  A celebração da data magna do Estado, em memória ao dia em que o povo paulista pegou em armas para lutar pelo regime democrático no País, deflagrando a Revolução Constitucionalista de 1932.



Diário do isolamento social - 68º dia

                      Os dias seguem tão iguais que não dá para perceber que hoje é domingo. Sem almoço especial, sem sobremesa, simplificando, os excessos gastronômicos  dos finais de semana são agora coisas do passado e não é por falta de dinheiro, tenho-o na conta mas pelo estresses de sair para  comprar os ingredientes necessários. A rotina de ir ao supermercado é simplesmente demorada e  tediosa a começar pela preparação: prender os cabelos, amarrar o lenço, colocar a  máscara, passar álcool gel nas  mãos e trocar os calçados. Ao sair a rua  duas preocupações básicas: com os meliantes e com a proximidade das pessoas, o medo de cruzar com um conhecido e ele querer puxar conversa e ao chegar ao  destino, um funcionário na porta oferece álcool gel para as mãos e ele próprio higieniza o carrinho e   no interior do estabelecimento a tensão aumenta porque há famílias  que não  estão preocupados com a contaminação e levam as crianças que correm   de um lado ao outro como  se estivessem em um parque de diversão.  O ato das compras é tenso, rápido e  sem analisar bem os produtos como é de  hábito das donas de casa. Pago  e embalado a mercadoria, mais álcool gel  nas mãos e retorno ao lar com as mesmas preocupações de antes.
            A chegada com as compras é um verdadeiro suplício: Abre-se a porta da casa, trocam-se os sapatos, entra e deixa a porta aberta, coloca-se as compras  sobre a mesa, lava-se  as mãos, desinfeta maçanetas, chaves, bolsa, lava-se as mão, troca-se roupa, coloca avental e começa a desembalar, desinfetar   a mercadorias e lava –se as mãos,  higieniza a mesa, passa pano com água sanitária   na cozinha,  lava-se as mãos novamente e  um banho demorado, outra muda de roupa e finalmente,  estou pronta para guardar  as compras, enquanto a máquina bate a roupa usada e com muito sabão por precaução.  Depois desta maratona é necessário repousar um pouco  até a hora de colocar a roupa  no varal, lavar novamente as mãos.
            Daqui a  uns 50 anos, quem estiver lendo este post deve pensar que a pessoa que o escreveu  sofria de T.O.C. mas estes cuidados não são exagerados e sim, necessários porque o Covid-19 é  resistente e   conseguir sobreviver  em diversas superfícies por um longo tempo. Em aço inoxidável  e plásticos, ele vive 72  horas, ou seja, três dias, em papelão, 24 horas, em cobre, quatro horas e na poeira   40 minutos a 2 horas e 30 minutos. Em tecidos o vírus pode ter uma sobrevida de 72 a 96 horas, portanto, não sou portadora de Transtorno Obsessivo Compulsivo, apenas preciso seguir as orientações das autoridades sanitárias enquanto durar esta pandemia e diante desta dura realidade, não nos resta alternativa a  não ser ficar em casa a esperar o achatamento da curva que está demorando e cuidar da profilaxia, mas sem exageros porque subiu muito o número de intoxicação com produtos de limpeza em residências.

Diário do isolamento social- 67º

                      E mais um  sábado se  vai com um lindo crepúsculo.  Nada fiz de diferente, e confesso que estou com saudades de fazer as atividades que eu executava por  necessidade, como ir à feira. Estou com saudades de saborear os deliciosos pastéis, de comprar verduras e legumes frescos, das  frutas da estação.  É safra de caqui, eles devem estar bons e baratos, mas ficarei na vontade porque desisti de fazer feira porque os fregueses vão sem máscaras, não respeitam o distanciamento, empurram-se , um horror! Quiçá esta a curva do coronavírus  desça e eu possa voltar a desfrutar desta milenar tradição: Feira livre. Antes uma obrigação, doravante será um prazer!

sábado, 23 de maio de 2020

Diário do isolamento social - 66º dia

         Após o fiasco  do  rodízio de placas  par e impar que superlotou o transporte público e provavelmente produziu uma imunidade de rebanho, que deverá superlotar os hospitais  nos próximos dias, outra tentativa esdrúxula   para  manter a população em casa o “feriadão” já está em vigor. O feriado prolongado foi de  quarta-feira (20) a domingo (24). Para isso, os feriados de Corpus Christi (11 de junho) e da Consciência Negra (20 de novembro) foram antecipados para  quarta (20) e quinta (21). Na sexta-feira (22), foi declarado ponto facultativo na cidade.  A Alesp aprovou  a antecipação do feriado de nove de julho para segunda-feira, (25) e parece que na prática não foi uma boa ideia, estava vendo um noticias on-line e o índice de isolamento na capital,  não chegou aos 55%  esperados, houve congestionamentos nas rodovias Imigrantes/Anchieta e as barreiras sanitárias conseguiram  persuadir apenas 10% dos turistas a retornarem a sua cidade de origem.
 Paulistanos adoram pegar uma estrada em feriados prolongados  alheios as orientações  dos governantes  e esta falta de responsabilidade social  já chegou ao sul do país. Sabiamente  o prefeito de Florianópolis, SC, visando proteger os munícipes de uma possível contaminação pelo coronavírus, baixou um decreto onde proíbe a locação de imóveis para  moradores da cidade de São Paulo, através de reservas ou por meio de  aplicativos e sites de busca. A medida visa inibir o turismo  em virtude do feriadão  na capital paulista,  epicentro da pandemia no país
            O Prefeito  de Floripa tem recebido inúmeras críticas com o este decreto. Particularmente eu acredito que ele esteja com a razão porque até  a data de  20 de maio de 2020, a cidade  que tem uma população de pouco mais de quinhentos mil habitantes,  registrava 603 casos confirmados, sendo que 506 se recuperaram, 90 em recuperação e sete óbitos. Ele está correto em zelar  pela saúde dos florianopolitanos. E no mais sem novidades, apenas a rotina de sempre, vendo o mundo pela janela e tela da TV.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Diário do isolamento social - 65º dia

       
            Estou cansada! Até o  ato simples como  jogar-se no sofá, pegar o  controle remoto e ligar a televisão é exaustivo demais e  ficar atenta a programação é fato fora de cogitação, assim, nada sei o que está acontecendo com a quarentena e seus desdobramento, faço estritamente o necessário para não morrer de inanição. Hoje, finalmente a ladainha do doce  de queijo em calda,  chegou ao fim e  consegui fazer a entrega chegar ao seu destino e a destinatária explodiu de alegria e  eu tive clareza de como é fácil fazer uma pessoa feliz, basta  o desejo e a atitude. E com esta alegria no peito, recolho-me aos braços de Morfeu.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Diário do isolamento social- 64º dia

             E o dia segue e mais produtivo do que ontem. Após o café da manhã, entrei no site da empresa  de vendas on-line  de doces  tradicionais de Araxá, MG, para resolver o problema do endereço de entrega errado. Eu tenho certeza que digitei da CEP da cidade de minha amiga correto, mas saiu com o  nome de minha rua e o número da casa dela, acontece que moramos em  cidades diferentes,  como não tenho como provar que o erro é meu, vou arcar com este prejuízo porque o frete   é três vezes maior que o preço do produto. É a segunda tentativa que faço para presentear  esta pessoa querida e não dá certo. Desisto de surpreendê-la com um mimo. Amanhã, irei ao centro de distribuição  dos Correios na tentativa de conseguir retirar a  encomenda, quem sabe eu consiga. A primeira tentativa, com a rosa encantada foi um estresse absurdo   e  ainda não recebi a devolução do dinheiro referente ao produto que não foi entregue.
            Finda esta pendência, tomei um pouco de sol, preparei o almoço, limpei a casa e  enquanto esperava o horário para  preparar o jantar, assisti uma live  que   discorria sobre  o feminino.  A palestrante fez  duas perguntas  pertinentes á situação  de confinamento a que estamos submetidos. A primeira pergunta: Quais são as minhas necessidades físicas hoje? Ah! São tantas! E a começar pelos cuidados físicos que estou a desejar; preciso fazer as unhas, as sobrancelhas, depilação, pintar cabelo, limpeza de pele, massagem redutora, contato com amigos, exercícios físicos e  praticar o pecado da gula e comer muitas coisas gostosas, tomar sorvete e tudo o que é proibido as pessoas da terceira idade e com restrição alimentar.  Segunda pergunta:  Como eu quero ser lembrada pelos que  ficarem quando eu partir definitivamente? Esta pergunta me fez chorar porque ninguém  irá lembrar de mim. Esta quarentena deixou isto bem claro.   Diariamente eu recebo muitas mensagem  via WhatsApp, mas nenhuma em meu número privativo,  para saber de mim,  se estou bem, apenas repasse de mensagem que estão circulando faz  tempo, fake news e as figurinhas. Nada de afetuoso e solidário.  Nesta quarenta eu tive ciência  de como eu  direcionei errado as minhas relações familiares  e de amizades e  por consequência,  estou terminando a minha vida solitária  e abandonada  nesta quarentena que  parece que não vai terminar nunca.

Diário do isolamento social - 63º dia


            E mais um dia se vai. O que fiz hoje?  Nada! Sim nada de além da rotina tradicional de quem não pode sair à rua. Levantei cedo, tomei café da manhã, apenas  café puro com o bolo de frigideira. Depois lí  um pouco, um livro interessante  que fala sobre o teatro no Brasil, no século XX e discorre sobre as grandes peças  e dramaturgos que fizeram sucesso na cidade  e eu sequer sabia que eles existiram e que estas peças foram encenadas, O fato de eu morar na capital brasileira da cultura  não quer dizer que  tenha  assistido as grandes montagens porque o distanciamento entre o querer e o poder é grande, acesso a cultura é privilégio de poucos.  Conheço pessoas que nunca foram ao teatro, nem mesmo em excursão escolar, porque mesmo  a professora tendo conseguido   a gratuidade do  ingresso, eles não podiam arcar com o custo do transporte. Eu já assisti montagens maravilhosas, porém, somente àquelas campanhas de popularização do teatro, umas boas, outras nem tanto e algumas detestáveis como o único besteirol que assisti. Aprecio peças  que  permite conversarmos durante o retorno ao lar e comentá-las com os que não tiveram o privilégio assisti-la , afinal, investir neste tipo de lazer é alimentar a alma e alegar a cansativa rotina de casa-trabalho, trabalho-casa.
            Preparei o almoço com o que tinha em casa: arroz, feijão e banana, almocei, lavei a louça e fiquei no computador vendo  coisas inúteis até a hora do jantar e novamente, arroz, feijão e banana. Os armários e  a geladeira estão vazios , vou ter que sair para ir ao supermercado, mas  amanhã é feriado  municipal e além do mais  a Caixa está pagando   mais uma parcela do auxílio emergencial, isto significa que tudo estará mais caros, o comércio extorquindo quem já não tem nada  e o pior, os  meliantes à solta, tirando  o alimento da boca de inúmeras crianças e, infelizmente, não é para saciar a fome de outra criança, mas sim, para custear a dependência química. E nada mais há para fazer a não ser recolher-me ao meu leito e dormir para   no dia seguinte, iniciar  a nova  rotina da quarentena, agradecendo a Deus por eu ter alimento e  um abrigo simples, porém, seguro.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Diário do isolamento social- 62º dias

                                     É  contraditório,  mas durante esta quarenta, sem vivenciar o mundo    lá fora foi que percebi a imensidão das mazelas e dores da população e como os nossos dirigentes são inescrupulosos e vê-nos apenas como um voto nas urnas. Meu coração sangra  de aflição ao ver,  no ápice da pandemia,  enquanto  os pobres  aglomeram-se em filas nas Casas Lotéricas e   Agências da Caixa Federal para receber  o auxílio emergencial de R$600,00, cuja quantia deverá cobrir todas as despesas do mês, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, instituiu um programa de auxílio-saúde a juízes e servidores do órgão, disponibilizados da seguinte forma:
Magistrados ativos e inativos: R$1.280,00
Servidores ativos e inativos:    R$720,00
Pensionistas de magistrados:  R$560,00
Pensionistas de servidores:      R$420,00
Vale ressaltar que eles estão recebendo o salário na íntegra, enquanto os trabalhadores da rede privada, os privilegiados que não foram demitidos, estão com jornada e salários reduzidos outros em  licença não remunerada. E a Carta Magna diz que somos todos iguais perante a Lei. E o mais triste, não é Fake News!
            Meu coração sangra com o avanço da Covid-19  entre os povos originais do Brasil que  tem sido vítimas de epidemias  introduzidas pelos conquistadores há mais de 500 anos e agora enfrentam mais esta provação. Trinta e quatro etnias já perderam alguns de seus filhos para a doença e é bem provável que seja por falta de assistência médica adequada. Já foram registrados 77 óbitos e ainda há 308 casos de  contaminados. Além de mais esta provação,  sofrem com as constantes invasões de fazendeiros, madeireiros, garimpeiros e  também com os incêndios ilegais em suas reservas,  que vem aumentando a cada dia. Onde estão os Direitos Humanos? Por que não zelam pela vida e  dignidade dos povos indígenas?
            Meu coração sangra ao saber  a difícil situação dos pacientes da cidade do Rio de Janeiro, RJ que esperam na fila por um leito  com respirador, em parte, por culpa de uma empresa que vendeu 300 respiradores sem licitação, e não  entregou parte da mercadoria e nem sabe onde ela foi parar.  Há também em curso, uma investigação sobre uma compra de mil respiradores e que somente cinquenta e dois foram entregues e as pessoas continuam morrendo  sem conseguir respirar. Onde está o direito á saúde, que consta em nossa Carta Magna?
            Meu coração sangra ao ver a fome aumentando entre as pessoas de bem, trabalhadores que  perderam os seus empregos e não tem como sustentar seus filhos. A desobediência civil cresce a cada dia e não há como culpar um pai de família, em plena  pandemia, entregue a própria sorte, sem a menor perspectiva de conseguir um  trabalho com registro em carteira em curto prazo, de tentar de maneira informal botar comida na mesa. Temo que esta desobediência se  transforme  em desordem social porque quando a fome dói, qualquer pessoa entra em guerra contra os seus.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Diário do isolamento social- 61º dia

                                 O amanhecer é lindo, principalmente  quando o  sol derrama generosamente seus raios sobre a terra e  o céu de outono fica  mais lindo e azul do que  em outras  estação. De minha janela, a observar tanta beleza, meu coração explode em gratidão a Deus pelos meus olhos, já gastos pelos anos, mas ainda em boas  condições para admirar as dádivas divinas, como o despertar da natureza e agradeço  por  receber mensalmente a pensão de meu  finado marido e não ter que sair para trabalhar e  enfrentar o transporte público que hoje, em tempos de pandemia, é sinônimo de medo e preocupação porque  é impossível saber quantos passageiros estão contaminados e  se estão assintomáticos e mesmo quem não gosta do vento,  deve procurar sentar próximo a janela e abri-la ao máximo,independente da temperatura, faz-se necessário  que o ar circule porque vírus  respiratórios gostam de ambientes úmidos e fechados. Ainda não usei transporte público deste que  Covid-19 por aqui aportou, mas acho que ficarei bem neurótica, preocupada em não encostar em ninguém e acredito que todos os passageiros compartilham o mesmo sentimento: medo de ser contaminado.
          Tenho saído apenas aqui pelas redondezas  e assim que chego, deixo os calçados no hall de entrada, coloco as compras em cima do fogão, lavo as mãos com  sabão e depois higienizo-as com álcool gel, limpo maçaneta, chave e bolsa, descarto as embalagens, lavo o  que é possível, as outras, limpo com álcool gel, Tomo banho, lavo a roupa, o óculo e somente depois guardo as compras. Tenho evitado sair, mesmo com máscara, mas porque o protocolo da chegada é muito cansativo, principalmente para mim, que vivi uma infância livre, brincando descalça na rua, comendo fruta do pé, rolando na grama do campo de futebol do bairro e as mãos somente eram lavadas na hora do banho, talvez por isso eu ache extremamente cansativo estes cuidados com a limpeza  obrigatório  devido a peculiaridade do momento. Tem sido um  aprendizado diário e só o fato de eu estar fazendo a minha parte, saindo o mínimo possível e  com  cuidados rigorosos com a higiene pessoal já estou contribuindo para um mundo melhor e para o fim deste capítulo da história da humanidade  em que  estou  ajudando a escrever, com vitórias e  perdas, medos e incertezas mas que vai passar, como todas as outras porque tudo é cíclico na natureza.


Diário do isolamento social 60º dia

                                  Nesta quarentena, com o  marasmo destes dias longos eu sinto saudade de coisas tão pequeninas, até  então, despercebidas por mim  como o acordar de meu bairro, sempre apressado e agitado com pessoas correndo para não perder o ônibus, o barulho dos carros, o grito das mães chamando as crianças e  algumas mais impacientes, buzinando de leve para não irritar a vizinhança e acelerar os filhos dorminhocos para que eles não cheguem atrasados nas escolas e elas nos trabalhos, profissões diferentes, mas com o elo em comum: Problemas com os meninos que por natureza, demoram a despertar.
            Eu sinto saudade do grupo de pessoas idosas que passavam conversando enquanto faziam a caminhada matutina e do alto e sonoro bom dia do porteiro do prédio da frente, que  vai à rua, rigorosamente no mesmo horário para fumar o seu cigarro e com o seu indiscreto  rádio de pilha, com  o volume ao máximo ouvindo as  notícias do dia para estar bem informado para os tradicionais papos matinais de trânsito e sobre o tempo, que  na cidade de  São Paulo,  é sempre incerto; e os ruídos vão   se transformando ao longo do dia. Às oito horas a  Casa Lotérica abre e começa  uma movimentação diferente, agora com uma aglomeração maior de pessoas, quase todas mascaradas e sem respeitar  o distanciamento  recomendado, porém, as outras lojas continuam com suas portas fechadas, fora o barulho dos carros, um latido ao longe de um cão, sirene do Corpo de Bombeiros, Samur e  Policia Militar, quase nada se ouve e eu sinto saudade da sonoridade anterior.          
            Agora os dias são sempre iguais apenas mais silenciosos nos finais de semana. Sem o cheiro dos restaurantes e lanchonetes, a música ao vivo no bar do Seu Pedro e as conversas dos clientes, ou melhor, os gritos  competindo com a canção.  Mas o ronco dos motociclistas apressados, estes sim continua,  estão sempre correndo contra o tempo para efetuarem as suas entregas o mais rápido possível, eles recebem por entrega, assim, velocidade é sinônimo de  mais dinheiro  no bolso e  um maior risco de acidentes, mas com a fome rondando a família  eles confiam que com o trânsito mais leve, chegarão  em casa  saudáveis e felizes.
               

sábado, 16 de maio de 2020

Diárioº do isolamento social- 59º dia

                               Tudo está terrivelmente repetitivo nesta quarentena, até mesmo o noticiário. Estou cansada de ouvir as  discussões relacionadas aos rodízio mais rigoroso e  absurdo da  cidade de São Paulo. Sobre assuntos polêmicos, aparecem as mais  esdrúxulas teorias, entre elas:
Primeira teoria:  alimentar a  já tradicional indústria da multa  de trânsito e assim aumentar a arrecadação do município;

Segunda teoria: Disputa política, com o rodízio  de carros, forçando  o uso de transportes públicos, estariam as autoridades facilitando  uma contaminação em  massa para que possam decretar o lockdown e contradizer  as afirmações do Presidente, logo  no início da pandemia de que o Covid-19 “é apenas mais uma gripe forte;”

Terceira teoria: Imunidade de rebanho,  esta teoria acredita  que quanto maior o número de infectados, mais pessoas se tornariam resistente ao contágio em virtude da memória imunológica adquirida, e por falta de hospedeiro, o  vírus pararia de  circular. Desta três teorias que estão na boca das pessoas leigas, esta  é a que mais me assusta porque em caso de uma contaminação  em massa, quem vai cuidar dos doentes?  
            Felizmente estas  teorias absurdas estão circulando somente entre pessoas leigas, eu   não acredito que nenhuma autoridade teria uma atitude destas porque não  desejaria  arcar com o peso de milhares de mortes sobre os seus ombros.Vivemos em uma democracia e cada um fala o que quer e eu fico imaginando  o que pensará uma pessoa inteligente, daqui a cinquenta anos ao ler sobre as especulações do povo sobre o  rodízio  da capital.  Eu continuarei com a minha quarentena, por mais difícil que esteja.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Diário do isolamento social- 58º

                                  Esta quinta-feira amanheceu fria e chuvosa e eu nem cogitei a possibilidade de sair par verificar se a devolução do dinheiro aconteceu. Optei por ficar em casa, assistindo televisão e protegendo-me de  um possível contágio e assalto porque os meliantes estão a dar com pau, ávidos para saciar a sua sede de dinheiro fácil e quando faço esta opção  invariavelmente acabo deprimida com o noticiário. Assim que liguei a televisão veio a primeira bomba:  Neste ano de 2020,  a  previsão é que o PIB nacional seja o mais baixo dos últimos 120 anos e  a iminência de um colapso econômico e social continua  pairando sobre a nação, traduzindo em linguagem popular fome e desordem social, vandalismo, assaltos e sabe-se lá mais o quê. E  não está longe, a violência doméstica aumentou em 50% durante a quarentena, os  Governadores temem não conseguirem honrar com a folha de pagamento e  todos os dias empresas fecham as portas e a fila do desemprego cresce e com ela o desespero dos arrimos de famílias.
            Em meio a tanta sofrimento e preocupação, velhacos   insistem  em  levar vantagem  de todas as maneiras e nem o rodízio escapou, a cada trinta pessoas que fazem o cadastro da placa do carro, porque trabalham em atividade essencial, uma não tem direito. O TCU – Tribunal de Contas da União considerou suspeita uma compra de 80 milhões de aventais a um custo de quase um R$1 bilhão. Compra realizada sem licitação, sem especificar  as dimensões e  nem o destino dos aventais.  E o mais estranho, esta compra  expressiva foi realizada de uma   pequena empresa tipo   “Eireli”. A desobediência civil  continua, o bairro de Itaquera, capital SP é um exemplo, segundo o repórter, por lá a rotina continua como se estivéssemos vivendo tempos normais, bares, restaurantes e lojas abertas e as pessoas circulando  tranquilamente e grande parte  sem  máscaras.
            Governar é difícil!  Acredito que por inexperiência, as autoridades estão  tomando atitudes contraditórias, como o rodízio de carros da capital que superlotou os transportes públicos, aumentando assim o  número de contágio. O empregado já está exposto em seu trabalho,  e o risco aumenta   em seu translado casa-serviço, ele não merece passar  por isso. Particularmente, acredito ser a medida mais descabida até agora,   nem deveria haver rodízio porque em um congestionamento, cada um em carro é mais seguro que dentro de ônibus superlotado.   Bem diz o ditado popular: “cada cabeça, uma sentença,”  Em Teresópolis, RJ,  foi adotado o rodízio por CPF, em dias pares, CPF com final par, dias impares CPF com final impar e a responsabilidade para organizar a escala de trabalho dos funcionários é da empresa.  Com esta medida,  metade da população  ficará em casa, e o fluxo de pessoas  circulando é menor, Pode ser que dê certo, se houver uma fiscalização rigorosa. A medida é o primeiro estágio do "lockdown" (bloqueio total) da cidade. O triste é o toque de recolher que proíbe a  circulação de pessoas das 13 horas às 5 horas, exceto emergência médica. De todas as notícias ouvidas a mais preocupante é esta: Trabalhadores  da Ceagesp, o maior centro de  distribuição de alimentos frescos e flores, reclamam  que a limpeza dos banheiros   está precária, os materiais de higiene,  sabonete e álcool gel,  quando acabam não são repostos, e os usuários contam apenas com  água para lavar as mãos após usar o banheiro. Isto é muito grave porque são pessoas que manipulam frutas, verduras e legumes frescos.  Onde está a fiscalização? Palavras bonitas em entrevistas, não salvam vidas, é preciso atitude.