domingo, 31 de julho de 2022

Viajante indesejado

 

Era um dia qualquer de março de 2020, Rosalina estava feliz com a possibilidade de comemorar  seu octogésimo  aniversário natalício  com as amigas em alguma pizzaria, mas foi surpreendida pelo  firme  pronunciamento do governador no qual dizia que era para os idosos ficarem em casa e sem receber visitas, lavar as mãos e usar álcool em gel e que os familiares  jovens deixassem as compras na   porta. Tendo como companhia  o rádio, o televisor e o medo do que estava por vir, ela dedicou-se a ouvir o noticiário e como é sabido, coube a imprensa a incumbência de  aumentar o grau de pavor a que estavam submetidos ao alertá-los insistentemente, sob o risco do coronavírus adentrar aos lares pelas embalagens das compras, pelo ar, pelos calçados e para completar o cenário de terror, o Ministro da Saúde  deu várias entrevistas às emissoras   recomendando o uso de máscaras e a importância do distanciamento social.

            Algumas emissoras de rádio alteraram a programação  para manter a população atualizada e enfatizavam que o número de mortos, e que a grande maioria eram de pessoas “idosas,”  que também ocupavam a maioria dos leitos  nas Unidades de Terapias Intensivas e necessitavam de respiradores. Entrevistavam especialistas que não poupavam esforços para alamar a população sobre o perigo eminente, “ o inimigo  invisível  está em todos os lugares,”  alertavam.  O cenário de guerra ficou ainda mais tenso quando começou a ser veiculado as polêmicas sobre a eficácia dos medicamentos, dos respiradores e que a politização da pandemia da Covid-19  já havia  se tornado fato. Com a chegada do inverno, o que já estava ruim ficou pior porque é sabido que as doenças respiratórias apreciam  climas amenos e noticias falsas  sobre um possível aumento do número de morte circulavam nas redes sociais e conversar ficou impossível, sempre o mesmo assunto, o Coronavírus; A proibição de velório suscitou uma dúvida  na população de risco: O que é pior, não poder  ter ao lado de  seu caixão, filhos, netos, bisnetos e algum amigo de infância que ainda não partiu ou ser lembrando  pelos descendentes como o parente  que morreu  vítima da Covid-19?

Com receio de viajar para a “Terra dos Pés” juntos, bem antes do esperado, Rosalina seguia a risca todas as orientações dos profissionais de saúde entrevistados e quase teve uma crise de pânico  quando a Agente de Saúde telefonou avisando que a sua consulta de rotina, no Posto de Saúde, estava cancelada porque somente atenderiam casos suspeitos de Covid-19. Apavorada por vislumbrar  a impossibilidade de atendimento pelo SUS, para curar as mazelas da idade, limpava afoitamente as  compras, a casa e acabou desenvolvendo Transtorno Obsessivo Compulsivo.

Uma menina chamada Rosalina

 

            Era uma vez uma menina ruiva que se chamava Rosalina, ela era filha de uma jovem senhora, bonita e educada que se chamava Amanda. Sua mãe, sempre que precisava sair de casa, usava uma sombrinha lilás para  proteger sua pele alva, dos raios ultravioletas que causam câncer de pele e lá ia ela pelo caminho, cantando canções  ao vento. Nestes passeios, não havia diálogo entre mãe e filha. Em casa, sim, conversava sobre os deveres de  mães, que são iguais em todos os lugares do mundo:  -  vai escovar os dentes, arrume a sua  cama, a sua mochila. Quem pensa que  as mães somente dão ordem, estão enganados, elas também fazem perguntas: O que você aprendeu hoje na escola? Brincou com as suas amigas? O Lanche estava gostoso e muito mais.

            O  papai de Rosalina era um homem sério e de poucas palavras. Ele usava um bigode estilo ferradura e dizia que era para dar sorte. Ao entardecer, pai e filha  sentavam-se na varanda para apreciarem o retorno das aves ao ninho, e o pai, com uma voz firme e ao  mesmo tempo serena dizia: -    Nascer, crescer e morrer, é a lei da vida!  Mas um pai, nunca abandona uma filha, nem mesmo quando morre, porque ele  continuará a viver no coração dela. Nada separa um pai de uma filha porque eles são unidos com laços de sangue e de amor. Rosalina não entendia o que o seu pai dizia, apenas desfrutava o momento.

            Em uma manhã de primavera, a pequena cidade acordou alvoroçada  com  a  chegada de um parque de diversões. Rosalina gostou mesmo foi do sobe e desce da roda gigante.  Protegida pelas mãos fortes do pai, ela levantava os braços e gritava: Obrigada papai! Sou a criança mais feliz do mundo! Passada a euforia da novidade, caiu em um sono profundo, em uma cama quentinha  e a diversão continuou em seus sonhos infantis. Sonhou que o parque fora invadido por uma revoada de pássaros de cores e cantos diferentes  que dançavam no ar, ao som de seus trinados e vez ou outra, pousavam em seu ombro e lhe bicavam  delicadamente na orelha o que  lhe causava cócegas e  ela ria, ria, até quase desfalecer. Às vezes, fechava os olhos e sentia a brisa fresca em seu rosto e  desejava ter asas para voar como os pássaros e poder pousar  na copa da árvore mais alta da cidade.

            A experiência com a roda gigante do parque de diversões, despertou  na pequena, o amor pelas alturas e ela  disse aos pais que deseja  ser atleta, na modalidade salto com vara. O pai ficou orgulho da coragem da filha e prometeu apoiá-la, já a mãe, ficou  bastante preocupada, por acreditar que é uma atividade perigosa, para uma menina tão pequena.  O que Rosalina ainda não entendia é que as mães sempre querem proteger os seus filhos de todos os perigos do mundo, pois para as mães, os filhos sempre são: “os meus bebês.”

            Um raio de sol entrou pela fresta da janela e Rosalina despertou  feliz e com fome. -Vou preparar o café da manhã  para mim e para os meus pais. Eles também devem estar  famintos, disse a menina. - Eu também quero comer! A garotinha olhou  em volta na direção   que vinha voz, mas não viu ninguém. Pensou que fosse sua imaginação, calçou os sapatos e caminhou em direção a porta. – Espere, eu vou com você, disse o  pequeno duende. Quem é você e o que faz aqui, no meu quarto? Sou  o duende  Mangaba, responsável pelo seu jardim e quero ensinar-lhe como cuidar das  plantas, não há flores faz tempo e isto é muito triste, mas primeiro, quero um pedaço de maçã, nós, os duendes gostamos  muito desta fruta, é a nossa preferida.  Mangaba era  sábio e tagarela, Falava e falava, a menina anotava e anotava as informações.

            A noite chegou de mansinho e uma brisa morna invadiu o quarto de Rosalina, ela não  queria dormir,  estava sem sono, mas os pais nunca entendem isso, a hora de dormir é determinada por eles.  Para se distrair, pegou um livro de astronomia e ficou a admirar a quantidade de estrelas no céu.  – Será  em qual delas meus avós estão morando e olhando para mim, lá de cima?  Ela sentia saudades deles! Sem perceber, os olhos foram se fechando e ela adormeceu.

            Espinhas! É inegável que elas são um  dos piores pesadelos dos adolescentes e com Rosalina não foi diferente. Assim que elas começaram a surgir em seu rosto, ela  ficava horas em frente ao espelho, e a vontade de espremê-las era tão forte que chegava a sentir os dedos das mãos coçarem. A voz da mãe ecoava em sua cabeça  e ela resistia à tentação: - Minha filha,  deixe as espinhas em paz,  não toque nelas para evitar cicatrizes; é da idade e vão desaparecer naturalmente, daqui a alguns anos.  Daqui a alguns anos é tempo demais, pensava a jovem.

            Quinze anos! – Como o tempo passou rápido, outro dia, eu era  uma criança, cujo melhor amigo era um duende de jardim.  Mangaba  nunca mais apareceu e eu não tenho mais tempo de cuidar das flores, tenho outras prioridades, como os estudos, as aulas de dança, montaria e os treinos do salto com varas.   Enquanto refletia sobre as mudanças  naturais  da vida das pessoas, penteava os longos cabelos ruivos, iria usá-los soltos,  em sua festa de aniversário, nada de penteados sofisticados. Neste  dia importante, não queria luxo, somente  se divertir com seus familiares e amigos, sob a proteção de seus antepassados, que com certeza, de alguma estrela  do céu,  a estariam observando orgulhos!

            A virada do ano  na praia, com direito a pular sete ondas, era o desejo de sua mãe, Rosalina desejava apenas desfrutar do contato direto com a água salgada do mar, e no calor do verão, quando o primeiro  raio de sol beijos  as ondas, lá estava ela,   caminhando pela praia acreditando que  a água do  mar levaria embora todas as dores e cansaço do ano. Estava feliz!   Vez ou outra uma gaivota passava em voos rasantes indiferentes à sua presença. Sentia-se livre e feliz. –  A vida se renova a cada amanhecer! Renovada!  Assim estou! Sorriu   e seguiu o seu caminho com os  cabelos ao vento.

           

           

           

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Sobre sentimentos

     

 Há artistas e artistas. Alguns apenas reproduzem  a imagem observada com  uma técnica apurada, outros,  além,  do domínio técnico, vão além, e  colocam na obra  de arte os seus sentimentos.  Acredita-se, as pessoas leigas no  que tange a arte, que  o sentimento destes profissionais é tanto que transbordam e ficam eternizados para a posteridade.

          Umas pessoas  possuem tanta riqueza, que mesmo se vivessem trezentos anos, não conseguiriam gastar toda a sua fortuna, uns  possuem no coração  de  diversos sentimentos que precisam dar vazão a ele por meio do fazer artístico; outros, dentro do peito há somente um grande vazio existencial e reduzem as suas vidas somente as necessidades básicas da vida, de trabalho, comida, repouso e abrigo. Também  existe aqueles que são sensatos, vivem dentro de sua realidade, não se afligem pelo que não possuem  e são profundamente grato pelas migalhas que recebem da vida.

        Bem dizem os mais velhos que a criança é uma edificação   espiritual e cultural daqueles que a cuidam. Com a observação diária das atitudes dos adultos, vai a cada dia solidificando  o seu destino, repetindo os  meus erros e  se condenando uma vida de solidão e privações, tendo ao seu lado somente o mais fiel dos amigos: o silêncio.  Todos são artistas do seu destino!

terça-feira, 26 de julho de 2022

Nossa morada

          

        Somos filhos da terra  e aqui  estamos presos a ela pela lei da gravidade. Aqui  é a nossa morada, agora,  compreender que  a humanidade é a nossa família, é difícil de aceitar porque nos dividimos em etnias e nos odiamos mutuamente, um ódio gratuito e que ninguém sabe  onde e como começou.

     O nosso cuidado é reservado somente aqueles que fazem parte de nossa tribo, embora, todas as criaturas vivas respondem de forma positiva ou negativa ao toque das mãos e  ao som das palavras e tentar uma conexão com o outro, acontece somente quando há algum interesse comercial  em jogo.

      O cuidado com a terra, a nossa  morada, tem sido negligenciado, e, na verdade, é responsabilidade de todos os habitantes é o único caminho para a sobrevivência da  humanidade. O homem tem errado muito, às vezes, deliberadamente, outras tentando acertar, quiçá, o acerto não chegue tarde demais.

    

domingo, 24 de julho de 2022

Conectados

      

          Qual o sonho de todo procrastinador? Claro que é ter a coragem suficiente para começar a atividade. Mas  somente começar não é o suficiente, é preciso organização e tempo; isso mesmo, organização e tempo são as palavras chaves para fazer  a coisa certa, na hora certa, e bem feito e não deixar nada para o amanhã, da tarefa do hoje, pois  a luta pela sobrevivência é árdua e não acumular tarefas é um dos muitos segredos para  não adoecer antes da horas, já que doença e velhice, são como irmãs siamesas: inseparáveis!

          O conhecimento traz  poder! Não poder de  mandar em pessoas ou o adquirido pelo dinheiro, mas o poder de  tomar as rédeas da própria vida, resolver os problemas e traçar as novas metas. Com a  labuta diária da vida, alguns privilegiados  conseguem adquirir sabedoria, ou seja, quando ele consegue vencer a si mesmo, isto não é fácil e, a maioria da população permanece  na ignorância simplesmente porque   deixa ser vencido por ela  mesma.

          Pode parecer um tanto pueril, mas uma das tarefas mais árduas da contemporaneidade   é vencer o desejo de permanecer horas a fio em redes, atenta a  vídeos  inúteis que não agregam nenhum valor à vida prática do vivente. Vencer a si mesmo, é conseguir   permanecer apenas duas horas  por dia conectado.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

53 anos da chegada do homem a lua - Reflexões

                  

Hoje completam 53 anos em que o homem pisou na lua, pela primeira vez. Como disse o astronauta Armstrong: “Um pequeno passo para um homem e um salto gigante para a  humanidade.” Frase linda para ler  e ouvir, mas em termos práticos,  qual foi a real importância deste feito para a massa popular brasileira, além dos comentários que  a tecnologia evoluiu bastante?  Em termos de humanidade,  a ingratidão ainda impera: é preciso que uma pessoa importante se afaste definitivamente da vida da outra, para que esta reconheça o seu valor. As pessoas ainda têm dificuldades  para entender que a aquisição de conhecimentos  é   o maior patrimônio que uma pessoa pode adquirir; podem tomar todos os bens de um cidadão, se ele tem conhecimento, ele  terá a capacidade  para começar de novo. Também, ainda não conseguiram perceber que  cometer uma injustiça é pior do que sofrê-la, que a busca pela justiça social deve ser incessante e iniciada no lar, na mais tenra idade e que melhor do quer ser importante, é ser uma pessoa boa, generosa. Engraçado é que em plena era do conhecimento, as pessoas estão perdendo a capacidade de organizarem o seu tempo, estão  atarefadas, exaustas e consequentemente, adoecendo, quando o que de fato precisam é de aprenderem a organizarem o tempo, de uma agenda física. Tecnologicamente a humanidade avançou muito, até a lua chegaram, mas nas relações humanos, a muito a avançar.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Procrastinação crônica

                 

Jamais tive o prazer de saborear uma vitória, simplesmente, porque abandonei todas as minhas lutas. Dei mais atenção  aos erros  que as pessoas apontavam em mim e não segui com os pequenos acertos que já havia conquistado e tardiamente,  quando o meu corpo já perdeu o vigor físico, foi que entendi que as limitações  são as fronteiras que criamos em nossa mente. Parei na fronteira e não arrisque em nenhuma das três principais áreas da vida de uma pessoa: amor, trabalho, família.  Errei ao pensar demais e agir de menos.

 Observando a natureza, o homem percebeu que os frutos que colheremos no futuro, são as sementes plantas hoje;  posso dizer semeei  ao vento e não cuidei, esperei por oportunidades em vez de criá-las e não levei a sério o que disse o artista plástico Pablo Picasso que “ A inspiração existe, porém, temos que encontrá-la trabalhando.”  Não consegui dar visibilidade, tornar concreto,  nenhuma das maravilhosas ideias  que tive e talvez, elas estejam em um canto secreto de meu coração, tão secreto que nem as recordo mais.  Não aproveitei as oportunidades que a vida me deu. Às vezes, fico confusa, como que paralisada  a pensar  se toda esta angustia que sinto  a cada nova aurora é porque meus sonhos estão a procura de   uma brecha para sair e serem realizados. Viver é seguir em frente e realizar projetos novos, esta premissa vale para os outros e espero que a consciência que sou uma covarde e procrastinadora crônica, me dê a força   necessária para agir e realizar um novo sonho, caso eu venha a tê-los.

          Já estou a acreditar que na vida há o momento de sonhar, de realizar os sonhos e desistir dos sonhos. Como pulei a etapa de realizar os sonhos, preciso agora da coragem necessária para abdicar dos desejos do passado e focar no que realmente minhas condições físicas e financeiras me permitem realizar.

 

Se você  é como eu um procrastinador crônico, deixe aqui o seu comentário.

domingo, 10 de julho de 2022

Humildade

          

              Às vezes penso  que o segredo para  findar com a minha infelicidade definitivamente acontecerá somente quando eu desenvolver a  humildade; deixar de sonhar em ser uma  invejada por todos, na tentativa de preencher o vazio que há dentro de mim por nunca ter conseguido me sentir amada pela minha mãe. Se ela me amou  de verdade, eu jamais saberei porque ela já se foi, porém, eu nunca me senti querida, importante para ela, apenas um peso. Procurei terapeutas, psicólogos, livros de autoajuda,  e continuei infeliz, sonhado com o estrelado, com legiões de admirados, sem persistir e aperfeiçoar-me em alguma atividade, sequer  consigo  cuidar de minha casa.

            Ontem estive em uma feira de empreendedorismo e recebi uma grande  lição de humildade. Mulheres do povo, com apenas uma máquina de costura, mãos habilidosas e criatividade, expunham sua criação com alegria e confiança que   a sua produção será útil para as clientes. Esta experiência abalou os meus pilares  sonhadora/procrastinadora crônica. Para aquelas artesãs, o  que realmente importa é a sua pequena contribuição para melhorar a vida das pessoas  e concomitante, a construção de um mundo melhor e não, aparecer na televisão e redes  sociais  com legião de fãs e  muito dinheiro na conta. Tremendo na base, resolvei pesquisar o que de fato significa ser uma pessoa humilde.

            A primeira surpresa já apareceu ao descobrir a origem etimológica da  palavra que vem do latim  humilitas e  este, por sua vez, provém de húmus, que significa “terra fértil” então, eu conclui que ser humilde não é servir de tapete para os outros pisarem, e sim, fazer coisas simples para solucionar  problemas com resultado satisfatório e sem ataque de vaidade, cobrança de elogio e reconhecimento pelo feito. Assim, concluo que a  humildade é  um dos muitos caminhos para o aprimoramento moral e espiritual, uma virtude das pessoas de bem que possuem o coração tranquilo. Por  um longo período de minha vida, acreditei que humildade e pobreza fossem a mesma  coisa, mas não é,  pessoas milionárias podem ser humildes  como pessoas paupérrimas também. Acredito que humildade  é característica de   pessoas  sábias, inteligentes, que assumem responsabilidade perante a sua vida e a do planeta,  que inspiram  outras pessoas pelo seu exemplo de educação e sinceridade em suas  ações, independente de seus trajes, se são assinados pelos melhores estilistas, ou comprados no mais simples dos brechós e lhes digo que humildade é uma vida fértil em trabalho e partilha;  e eu não sou humildade, porque  tenho dentro de mim um vazio que não sei como preenchê-lo!

Você que  leu este post, se tiver uma sugestão  por  favor,  escreva nos comentários.

 

sábado, 9 de julho de 2022

Sabor da graviola

                          Parece  mentira, mas é verdade! Somente aos 70 anos de idade eu tive condições financeiras de experimentar a fruta graviola, portanto, posso considerar-me rica por desfrutar deste prazer porque a maioria dos brasileiros morrem sem poder saborear esta delicia que além de  muito saborosa, é rica  em vitaminas e minerais que aumentam a imunidade, e em tempos de pandemia,  a imunidade alta é a melhor arma contra os casos graves da Covid-19, além da vacina. Mas isto é privilégio de poucos!

            Nós, a massa trabalhadora  brasileira temos o paladar treinado desde a infância com sabores   artificiais dos sucos de pozinho,  bem distantes  da realidade, mas infelizmente, é o que o nosso dinheiro consegue pagar.  A fruta  graviola é grande e cara, comprei a menor que tinha e mesmo assim,  gastei metade do gasto semanal em verduras e legumes, porém, para desfrutar deste prazer e saciar a minha curiosidade, tive que abrir mão da carne, semanal. Não estou arrependida da extravagância! Sim, é isto mesmo, extravagância porque   na mesa de milhões de brasileiros, quando tem fruta,  somente banana, laranja e maçã gala. Grata  meu Deus! Não irei para o túmulo com vontade de comer graviola in natura.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Humilhação sem limites

          O meu empenho em fazer o bem às vezes acaba me dando mal. Um mês após a internação de meu namorado, quando ele saiu da UTI e foi para o quarto, as  visitas estavam proibidas em virtude da pandemia do  Covid-19, porém, ele já estava em posse de um celular e todos os dias, com a melhor das intenções, para  levantar o astral, eu lhe enviava uma mensagem  positiva, e  uma vez por semana, eu lhe telefonava para saber do progresso até que um dia, eu liguei e ele recusou a minha chamada.   Uma profunda humilhação! Não liguei novamente, porém, quis que ele soubesse que eu estava ferida e enviei-lhe um emoji  de choro, o qual ele teve a audácia de enviar uma  mensagem de voz, para saber por que eu chorava, eu disse a verdade, e a emenda ficou pior do que soneto, ele disse com a maior cara de pau  que não sabia era eu. Ora, ele só recusou porque era eu. Ninguém recusa chamada sem antes olhar quem está  do outro lado e para completar, ainda teve a cara de pau de enviar mensagem de bom dia, mas eu não retornei porque há um limite para tolerar humilhação da pessoa querida. Se fosse um homem milionário e eu fosse a sua única herdeira,  talvez perdoaria  esta grosseria, mas recebedor de salário mínimo, portador de várias comorbidades e esnobando quem está do seu lado na alegria e na dor, há limite de tolerância! Tô Fora!

domingo, 3 de julho de 2022

Procura-se entusiasmo

                       

        É triste ter que viver afastada do ritmo da natureza! Talvez, seja esta a razão  pela qual o meu coração endureceu e olha que tenho feito  um esforço para  desejar coisas boas na expectativa de que algo de bom  aconteça em minha vida, sigo, procurando seguir sempre o caminho da verdade e da justiça, procurando ser companheira ajudando quando precisam de mim, e com humildade, pedindo ajuda, quando necessito. Inúmeras foram as pedras que encontrei em meu caminho, e  delas, devia ter feito degraus para a minha ascensão profissional, porém, preferi contorná-las e fiz de minha vida um eterno círculo vicioso permeado de fracassos e desilusões e tudo que preciso neste momento é do autoperdão, para  aliviar o meu coração. Tentei vencer o mundo, quando na verdade, deveria ter tentado vencer a mim mesma.

        Preciso  mergulhar nas profundezas de meu passado para analisar os meus erros e buscar força para modificar o presente e construir um futuro com mais conforto e alegria e quem sabe, conseguir sentir o prazer de uma tarefa realizada com sucesso. Entusiasmo! Sim! É isto que falta em minha vida. Parar de cobiçar uma vida impossível em uma metrópole e aceitar que o melhor lugar é onde vivo porque a felicidade não está em um espaço físico, mas dentro da gente e devo brilhar onde eu estou.

        Ontem estive em um desfile de modas, de pequenas confecções em parceira com uma escola de modelos. Diante da simplicidade do evento, comecei a tecer críticas, fundamentadas em meus sonhos fracassados e demorou para que eu entender que elas estavam fazendo o melhor e felizes com a realização de seus objetivos enquanto eu ruminava a minha frustração por não ter tido a coragem para tentar.