domingo, 16 de agosto de 2020

Diário da quarentena - 150º dia

  1.                           14 de agosto de 2020, completa cinco meses que estou em quarentena e eu decidi que não mais permanecei em isolamento social porque ouvi noticias preocupantes de que há   seis linhagens de coronavírus em atividade  e de várias pessoas que foram reinfectadas. Diante desta dura realidade, o melhor  a fazer é aprender a conviver com a Covid-19   já que não nos livraremos dele tão cedo e a chegada da vacina não é uma certeza que estaremos imunes. Já estou trabalhando minha mente para aceitar  como perene os  hábitos  higiênicos  rigorosos e do uso permanente de máscara e o mais importante: manter distanciamento social e persistir com uma alimentação saudável para não quebrar a balança e desencadear outros problemas de saúde.
  2.             Foram cinco meses difíceis em que  os dias pareciam tão iguais e olhar o calendário para organizar a agenda da semana já não era necessário porque a rotina era sempre a de domingo, sem hora para levantar e fazer as refeições e cuidar dos afazeres domésticos.  Os primeiros dias foram  bem produtivos, já que passei envolvida com a limpeza interior dos armários, depois de tudo limpo, organizado, maratona de leitura e filmes, e exausta com as  mensagens das redes sociais, o tédio chegou e  o sentimento que eu tinha era de estava apenas esperando a morte chegar. Morrer é uma certeza,  e por esta razão, eu não tenho o  menor interesse em  apressar a minha vida. Apesar das dificuldades inerentes as pessoas da classe média baixa, da qual faço parte, gosto de viver e sou apaixonada pela magia da criação divina e deixar  esta beleza  rumo a incerteza do pós-morte não me apetece, que minha hora demore a chegar e que eu  saudável e lúcida ainda possa desfrutar por muitos anos deste paraíso terrestre e sem coronavírus.
  3.             Não sei quando chegaremos a  cor azul, se é que vai chegar,anseio por ela, sinto falta da academia, das atividades culturais, principalmente da Av. Paulista aos domingos, lugar democrático, onde não precisa de dinheiro para arejar a cabeça, uma garrafinha de água e sapatos confortáveis são o suficiente para  um passeio agradável. Sinto saudades da minha  agenda anterior à pandemia, cada dia da semana, uma atividade com hora marcada, tudo bem organizado. Por ora isto não acontecerá porque as atividades destinadas a terceira idade estão suspensas.
  4.             A  vida em suspensão chega ao fim hoje, sairei para olhar vitrine, ficar  na fila para entrar no shopping, passear de Metrô, ir a igreja  e  tudo o que estiver aberto ao público em geral. Chega de quarentena, da vida   arrastando  em ritmo de tartaruga apesar de o  relógio indiferente ao sofrimento das vítimas da pandemia,  continuar a marcar as horas. As vezes penso  que o não –fazer-nada compulsório  prejudicou tanto a economia do país como o estado emocional do brasileiros e o que nos restou foi sonhar com um futuro próximo  sem violência e virulência.
  5.             Não sentirei saudade  saudades destes 150 dias  em que a rua esteve interditada para mim, topograficamente ela estava lá, mas  o meu caminhar estava restrito as quatro paredes de minha casa, e as notícias chegam a mim pela televisão e não pelo boca a boca tradicional de vizinhos e  parentes. A pandemia transformou nossas casas em uma Arca de Noé e cá estamos a esperar a pomba trazer  a bandeira azul do fim das  restrições,  eu não esperarei, a vida espera por mim lá fora e lá vou eu com responsabilidade, preservando a minha vida e dos outros transeuntes.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Diário da quarentena - 149º dia

                  

          Hoje foi  mais dia como outro qualquer de quem está em quarentena , atividades relacionadas a cuidado com a casa, alimentação e pagamento de contas, a quebra na rotina deu-se em virtude da carona que o vizinho ofereceu e não aconteceu. Deixe de ir ao mercado para esperá-lo para levar-me ao local que vende  sacos de terra  por um preço mais acessível e ele  não apareceu o que causou-me uma ansiedade grande. É triste a gente depender das pessoas para carregar nossos pacotes. A velhice chega para todos que não ficam pelo meio do caminho e com ela, a fraqueza, as forças vão embora por mais que tentamos manter atividades  física e os afazeres domésticos.  O peso dos anos é implacável.

            Espero que amanhã ele esteja disponível, estou ansiosa para terminar os canteiros para plantar as sementes,  que irão florir na primavera e com elas chegarão as borboletas para encantar os meus olhos cansados de olhar para as paredes  da casa. Já não tenho mais esperanças do retorno de minha  antiga rotina porque já ouviu notícias de pessoas que foram reinfectadas  quatro vezes. Diante deste novo panorama, presumo que não há uma esperança a vista e que a  vacina irá amenizar o problema e não acabar com ele. Será que  em um futuro próximo, teremos que tomar  anualmente vacina conta a Covid-19?

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Diário da quarentena - 148º dia

  1.                            Hoje, 12 de agosto de 2020, quarta –feira, temperatura  24º , umidade relativa do ar 73, parei para pensar o quanto eu tenho que agradecer a Deus pela situação privilegiada  em que me encontro  desde que teve início a quarentena. Eu estava acostumada com a liberdade de ir e fui obrigada a ficar em casa por pertencer ao grupo de risco, de início, reclamei muito, pensei que fosse  entrar em depressão e após esses quase cinco meses  em isolamento social, percebo que tenho somente a agradecer porque eu estou  sozinha e protegida  em minha casa, desfrutando do conforto que é ter  energia e água potável e poder pagar as contas sem abdicar de alimentos e tantos estão aglomerados em barracos menores que a minha casa, sem saneamento básico conta de luz cortada e faltando alimento  na dispensa, produtos de limpeza. Ainda desfruto da facilidade que é ter  uma lavadora de roupas e o melhor é que ainda tenho saúde e posso fazer as compras, tenho condição de pagar um  motorista de aplicativo, se precisar, portanto devo agradecer a Deus, em casa sim, mas com saúde . Gratidão!
  2.             A pandemia agravou os problemas enfrentados  pelas mulheres vítimas de violência doméstica porque passaram a ter uma convivência estrita e longa  com o agressor, aumento das tarefas domésticas e a  falta de mantimentos  nos armários; quando a fome e a incerteza batem a porta, o respeito e o amor desaparecem e o juramento  do dia do casamento, “na alegria e na dor”  é esquecido. As estatísticas comprovam  que durante a pandemia   o feminicídio aumentou em 22% em doze estados brasileiros. Eu tenho grande de dificuldade  em entender o que  leva um homem a assassinar uma mulher  pelo simples fato de ser mulher. Todo homem nasce de uma mulher, é neto de  duas, pode ser sobrinho de várias, ter várias primas, irmãs, ter uma esposa e ser pai de uma menina, e se chegou a   idade adulta foi  graças aos cuidados femininos,  no Brasil, a cada 7 horas,  uma mulher  fecha os olhos definitivamente, vítima do homem que  um dia disse que a amava.  Graças a Deus, esta barbárie nunca aconteceu em minha família e  agradeço a  Deus por esta benção e peço proteção  a  Nossa Senhora de San Juan de los Lagos  que  proteja todas as mulheres vítimas de violência doméstica e agradeço à Virgem  a benção de ter nascido em uma família pacífica e honrada.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Diário da quarentena -147º dia

  •                           Viver sempre foi perigoso, porém, agora parece que está mais. Como se  não bastasse a pandemia do coranavírus, a explosão no porto   em Beirute, o explosão no encanamento de gás nos Estados Unidos,  o tresloucado em São Paulo, que atacou os trabalhadores em uma reforma do apartamento ao lado  do dele  com gás de pimenta, o assassinato a sangue frio de três militares e  meliantes a dar com rodo, ainda ouço mais está: jogadores de futebol, já curados da Covid-19,   testaram positivo novamente. Tínhamos a esperança que  uma vez contraído  a doença estaríamos livres do pesadelo, agora  constatamos que é apenas a primeira etapa do  pesadelo, assim, nós do grupo de risco  nunca mais   sairemos de casa tranquilos. Por essa eu não esperava! Que saudades de minha vida de outrora,  do tempo em que eu sentava na calçada para tomar  a fresca e ter um dedo de prosa com vizinhos e transeuntes.

Diário da quarentena- 146º dia

  1.                  Hoje eu saí para fazer uma caminhada sem compromisso com o tempo e foi maravilhoso! Antes da pandemia,  eu nunca tinha percebido que o ato  natural de caminhar é   prazeroso, antes, era apenas um ato mecânico  para ir ao mercado, a igreja, em visitas e atividades de lazer, mas depois de cinco meses privada do meu direito  de ir e ir  eu percebi o valor  da liberdade  e o quanto o andar areja a cabeça, fortalece os músculos e melhora o equilíbrio  físico e mental. Pela primeira vez, percebi a importância dos meus pequenos pés, que sustentam o  peso do meu corpo e levam-me para onde  eu quero, sem medo de tropeçar e cair, apenas com o desejo de chegar a algum lugar porque partir é bom mas retornar ao ponto de partida é melhor ainda. Doravante, a cada amanhar agradecerei a Deus por estar viva e poder desfrutar deste prazer gratuito, de poder tomar decisão como  sair sem destino apenas pelo movimento do corpo, pelo frescor da  manhã e deixar que  meus olhos desfrutem livremente da beleza das árvores, da arquitetura e das vitrines das lojas. São tantas as opções que um simples caminhar  proporcionam que  estou  perplexa por não ter percebido antes estes pequenos prazeres.
  2.             A pandemia fez   a humanidade dar  uma desacelerada  no ir e vir da labuta diária  em busca do pão de cada dia, como também mostrou que sem trabalho  não há  alimento na mesa e que é necessário apenas encontrar um  meio termo, nem tanto ao céu e nem tanto a terra. Equilíbrio! Esta é a palavra chave, mas quando a fome chega o estômago grita, a tendência natural é ir para  um dos extremos da vida o que propicia  o desencadeamento de tragédias. Como ser forte  e equilibrado quando falta comida na mesa. Nestes cinco meses de caminhada em busca da cura para a Covid-19, centenas de cientistas debruçaram sobre o tema   enquanto que milhares de pessoas inescrupulosas  empenharam- se em  ganhar dinheiro de maneira ilícita.  Mas por ora, tudo o que desejo é escolher um novo ritmo   para o meu caminhar, e desfrutar apenas dos pequenos prazeres de observar as folhas secas sendo levadas pelo vento tradicional de agosto, as nuvens  brancas formando figuras   em contrastes com azul anil do céu de inverno, ouvir o sons característicos da grande metrópole e tudo  sem deixar de observar se não há por perto um meliante à espreita. 

domingo, 9 de agosto de 2020

Diário da quarentena - 145º dia

                         Domingo, 09 de agosto de 2020 e nesta data em  que se comemora o dias dos pais, as festividades estão diferentes em virtude do distanciamento social já que a grande maioria dos papais pertencem ao grupo de risco e, nestas circunstancias, muitos filhos estão felizes de estarem dispensados da tradicional visita aos genitores no segundo domingo de  agosto.  Fato é  que nem todos os  filhos amam aquele que contribuiu em 50% para ele pudesse vir ao mundo  e  por inúmeras razões, mas como a nação brasileira  tem os pilares de sua religião no Primeiro Testamento bíblico que ensina a honrar pai e mãe, não é permitido  expressar  os verdadeiros sentimento, é mais fácil comprar um presente e fazer uma visita rápida do que ouvir até o último dia de vida que é um ingrato e que  não reconhece  o  esforço que o genitor teve para criá-lo.  Mas também  há aqueles que dão a sua vida para fazer  os pais felizes.

            Mais uma comemoração em quarentena, felizmente, muitos municípios permitiram  abertura do comércio  nesta data e este é o melhor presente que um pai pode receber: Trabalho! Sim, o verdadeiro pai é aquele que consegue com o suor de seu rosto,   criar os seus filhos com o mínimo de dignidade. Tantos  filhos perderam seu o seu emprego e hoje, sequer puderam abraçar o pais    e como  meninos, chorar em seus braços e serem confortados por eles. É o distanciamento social! Um dia triste para milhares de brasileiros e quiçá  nunca mais haja pandemia no mundo.  Sou órfã,  do grupo de risco, e sequer pude ir a igreja ou ao cemitério  visitá-los. Sinto tanta falta das atividades religiosas físicas, já cansei de   lives.

Diário da quarentena - 144º dia

                 Apesar do susto de ontem eu saí e fui á feira livre em busca das mudas de alecrim e  da suculenta onze horas. Infelizmente, onze horas eu não encontrei e fui obrigada a comprar as sementes e eu não estou confiando muito que nascerão, na embalagem  diz que só para germinar, são quatorze dias. O alecrim está bem fraquinho e espero que ele  goste da nova morada e cresça logo apesar de estar longe do mar. Nativo da região mediterrânea, esta planta era chamada carinhosamente pelos romanos de orvalho do mar e  diz a sabedoria popular que a planta estimula a memória e  a alegria de viver. Memória boa e alegria é tudo que um idoso em  isolamento social precisa.

 Apesar do susto de sexta-feira com o meliante, ontem eu convidei uma vizinha  para  ir caminhar comigo, estou receosa  de sair   sozinha, ele pode estar a espreita; pela aparência não temos como saber qual é a tara e obsessão  de um indivíduo, então, prudência  é a melhor solução. Mais tarde saí  para dar uma volta de carro com um casal aqui da  vizinhança, apesar da felicidade de sair de casa, o passeio foi bem triste. A cada  metro há um vendedor ambulante ou um pedinte com placas com  os dizeres: “Tenho fome, ajude-me com o que puder”.  No início da pandemia, o Presidente foi criticado ao extremo por dizer que não se podia descuidar da economia,  e o  resultado do descuido está  nas ruas,  pais de famílias sem trabalho, famintos  se humilhando nas ruas para levar pão aos seus filhos. É de partir o coração! Que Deus proteja às vítimas   diretas e indiretas da Covid-19.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Diário da quarentena - 143º dia

                          Cada dia está mais difícil sair de casa e não é por medo de ser contaminada pelo coronavírus, mas por assalto. Hoje  fui a padaria e  no retorno, percebi que o homem á minha frente olhava para trás a todo instante e com  olhar fixo em mim, tinha aparentemente uns trinta nos; desconfiada, comecei a andar no ritmo de uma tartaruga e  ele também  passou a andar mais devagar. Com o pensamento elevado a Deus, pedi proteção  e um Anjo em forma de pessoa surgiu. Um rapaz saiu de uma casa  em reforma, pelas roupas, percebi que ele trabalhava na obra e pedi para ficar lá um pouco porque estava sendo cercada por um  homem e fui autorizada lá permanecer o tempo que fosse necessário. Estava ele a descarregar  o carro  e quando retorna para pegar  mercadorias, eis que foi surpreendido pelo sujeito, que perguntou por mim, o que ele prontamente respondeu que era  “minha tia”  e indagou qual era a dele. Apesar da postura do rapaz, o meliante seguiu em passos lentos e virou na próxima esquina e o perdemos de vista.  O rapaz teve a gentileza de acompanhar-me  até a minha casa, e para a minha desagradável surpresa,   na rua transversal lá estava ele esperando por mim.  Agradeço a Deus que me enviou este Anjo da Guarda e cheguei sã e salva em minha casa. Fora esse entrevero, o dia seguiu em perfeita ordem.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Diário da quarentena - 142º dia

                       Gosto de  acordar cedo pelo prazer de  ver  a escuridão se dissipando aos poucos e as flechas dos raios de sol  a descortinar  novas nuances de cores nos telhados das casas, nas folhas das árvores e na alma dos que cedo despertam para saudar o astro rei e  iniciar a labuta diária pelo pão de cada dia. Eu preciso aproveitar este sol porque  em agosto chove em média uns 10 dias  e eu preciso da energia solar para dissipar esta tristeza  ocasionada pelo distanciamento social. Sinto falta até das conversas com estranhos em pontos de ônibus. Sou latina americana, afetuosa por natureza e preciso do contato  físico, mas estamos em quarentena, pertenço ao grupo de risco e devo proteger-me. Não acredito mais que tudo isso vai  passar, apenas pelo ciclo natural do vírus,  mas  quero  acreditar que a vacina  em breve estará disponível para a população e  eu serei a primeira da fila para recebê-la e ficar livre da Covid-19 e quando isto acontecer, quero passar uma temporada no litoral sul de São Paulo e apreciar as manhãs de sol claro e ondas quebrando  na areia e  sentir-se sólida e sadia  diante da imensidão do mar azul e sem medo do coronavírus e para este momento  tão esperado, vou comprar um novo maiô, sair de uma  quarentena simboliza um novo renascimento para a vida.

            Fazendo uma retrospectiva destes  141 dias de quarentena, percebo como aos pouco a minha vaidade foi minada. Fico de pijama até o horário do almoço, sequer penteio os cabelos  grisalhos, que já estão clamando por tinta, a faixa branca deixou-me com uma aparência de  uns noventas e cinco anos. Os perfumes, batons e brincos foram esquecidos na penteadeira. Desleixada: isto, tornei-me  uma idosa  sem vaidade, sempre  assustada, com medo dos perigos visíveis e invisíveis. Agarro-me a esperança que  tudo isso vai passar e em breve, em uma manhã ensolarada, estarei caminhando displicentemente em uma praia de espumas brilhantes sentindo  a brisa marítima  a  lavar  os meus pulmões das fuligens acumuladas no período de confinamento e  levando as últimas lembranças  destes dias tristes, com os olhos e ouvidos atentos aos noticiários  que  mais amedrontam do que  informavam. Este vai chegar, tenho fé!

Diário da quarentena - 141 dia

                      Estou feliz com o sol brilhando lá fora  e com determinação a parar com a procrastinação e manter a casa limpa, cuidar do jardim e  terminar  de ler   o livro que iniciei a mais de uma semana. Tenho vários livros que estão acumulando ácaro e  traça a mais meio século e  nunca foram lidos por mim.  Uma das grandes lições   da  quarentena é o incomodo com coisas acumuladas e sem uso; tanto tempo em casa, percebi quantas coisas foram acumuladas ao longo dos anos e eu sequer lembrava delas. Já lí mais de dez livros e  com o fim do isolamento social quero continuar no mesmo ritmo para doa-lo e livrar espaço em meu lar e em minha vida.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Diário da quarentena- 140º dia

               04 de agosto de 2020; Que felicidade! Após cento e quarenta dias  saindo estritamente o necessário e  nas proximidades, hoje eu aventurei a  usar transporte público e fui até um estabelecimento comercial que vende sementes de flores e verduras  e comprei cravo anão e onze horas para  dar uma renovada em meu jardim, ambas são plantas rústicas e que dispensam grandes cuidados, porém, belas.  Como é bom  circular livremente  por onde desejar, sentir o calor do sol, até a espera do coletivo foi agradável. Estou ciente dos riscos, mas fui de máscara, lenço da na cabeça, calça, tênis e meia e quando cheguei tudo na máquina de lavar e aquele banho caprichado.  Após esta  alegria, ligo a televisão e vejo a triste notícia da explosão em Beirute com mortes e feridos. Que Deus proteja e abençoe 

       

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Diário da quarentena - 139º dia

  Nestes quatro meses em quarentena, pareci que perdi  o condicionamento físico arduamente adquirido ao longo dos anos. Estou com dores nas costas, nos pés e nas pernas. Parece que estive trabalhando em uma mina de carvão,  sob o chicote do capataz. E o que fiz?  Fui  a uma agência bancaria pagar as contas,  entrei em algumas lojas de rua em busca de um lençol de malha de com elástico, retornei ao lar, preparei almoço,  lavei a louça e fui ao supermercado, higienizei as compras, guardei-as e pintei os meus cabelos, enquanto esperava  a tinta agir,  limpei a casa, tomei banho, lavei a roupa, preparei um lanche e aqui estou eu, toda dolorida. Preciso retomar pelo menos as caminhadas, caso contrário irei  fazer uma visita a São Pedro bem antes do esperado.

domingo, 2 de agosto de 2020

Diário da quarentena - 138ºdia

                E já estamos no segundo dia de agosto. Em um passado  distante, quando ainda não havia  a vacina contra a raiva canina, dizia-se que agosto era o mês do cachorro louco e todos deveriam tomar cuidado com os  próprios animais, e principalmente, com os desconhecidos; em vez de procurar observar se apresentavam sintomas característicos como salivação excessiva, o indicado era o: “ sebo nas canelas” traduzido para a norma padrão da língua como “corra”. Recordo bem de uma história em que se falava de um respeitável Sacerdote que fora atacado por um cão raivoso e teve a sua batina rasgada. O Padre pediu então à sua funcionária  que  a costurasse e esqueceu de avisá-la sobre  o incidente. A Senhora, acostumada a  cumprir ordens sem questioná-las, pegou  uma agulha e fez o reparo, porém, ela tinha  o  hábito comum das costureiras que é cortar a linha com os dentes, e este foi o seu erro, ela adoeceu e chegou a óbito. Isto aconteceu em um mês de agosto! O fato de ter sido descoberta a  vacina  antirrábica  não é sinal de que já podemos baixar a guarda, após ser atacado por um animal doente, o atendimento médico tem que ser rápido, caso contrário, nunca mais verá o sol brilhar.

            Não sei  a origem das superstições agostinianas e  deixei de dar atenção a elas faz muito tempo porque eu gosto de ver as coisas por outro prisma e quando meu pai era vivo, eu  curtia este mês,  escolhia com carinho um presente para o velho, e sempre que podia, preparava-lhe um almoço especial.  Agora, após a sua partida, este mês para mim,  é como outro qualquer. Provavelmente  o mês de agosto é vítima de  calúnia e difamação por  ter trinta e um dias e  nenhum feriado com possibilidade de prolongamento, já que o dia dos pais é data fica, segundo domingo de agosto.

             A provável aversão ao mês pelos comerciantes dá-se pelo fato de não haver nem um dia em especial que aqueça as vendas.  Em janeiro, virada do ano, fevereiro é carnaval, março, Semana Santa, Abril, Tiradentes, maio, dias  das mães , junho dia dos namorados Corpus Christi e festas juninas , julho férias escolares e em agosto, dia dos pais que não recebe  nem a metade da atenção dispensada às mães porque existe milhões de filhos que desconhecem o seu genitor, 07 de setembro, quando não cai  no domingo é uma beleza, outubro, dia da Padroeira do Brasil e das crianças,novembro é finados e dezembro é Natal.  Mas eu estou confiante que este mês de agosto há de ser uma exceção: o sol há de brilhar, a pandemia passar e a vida  voltará ao normal e eu poderei retomar a minha rotina anterior ao isolamento social: todas as tardes sair para tomar a fresca e sem máscara. Deus seja louvado!


Diário da quarentena 137º dia

            1º de agosto de 2020. Quem poderia imaginar que  neste sábado ensolarado, as pessoas com um pouco mais de discernimentos  ficariam em casa esperando o passar das horas. A única coisa boa foi que pude pegar um livro e sentar de costas para o sol, como dizia as pessoas sábias de antigamente: - Aquecendo o pulmão.  Os raios solares eram como um abraço carinhoso de mãe e  foi bom, melhorou a  minha alergia, cessaram os  espirros e aproveitei o máximo a leitura. Machado de Assis é um grande escritor e eu entendo o que ele escreve. Estou lendo Califa, um livro de pequenos contos e que recomendo a todos. Gosto de histórias curtas porque não gera aquela ansiedade para saber o final, de uma sentada com o livro em mãos, a curiosidade é saciada. Nada sei do mundo lá fora. Não fui à feira-livre e para o almoço, preparei o pernil, que havia na geladeira, o problema foi a noite, quando fui esquentar para jantar, a gordura estourou e eu queimei o pulso, felizmente eu sou fã do Dr Dráuzio Varela, presto atenção em seus ensinamentos e já coloquei o braço em água corrente até esfriar a queimadura, acredito que não irá ficar cicatriz e para dormir, coloquei pomada hipoglós e enfaixei.  O difícil foi limpar a parede, piso e fogão porque espalhou gordura para todo o lado. E assim findou mais um dia em isolamento social. Agora, o melhor é ir para a cama. Boa noite!