E é carnaval! Não como o povo brasileiro está acostumado, com folia em lugares inimagináveis, os tradicionais blocos de rua, os bailes nos clubes e os tão esperados desfiles das escolas de samba . Nada disso aconteceu porque o mundo vive uma pandemia, mas, quem não tem amor a própria vida, e menos ainda, a do próximo, se esbaldam em festas clandestinas e os que não podem pagar por este luxo, compram bebidas no supermercado, convidam o amigo proprietário de um veículo, com um som potente, e sem o uso da máscara, se aglomeram nas ruas. Bebem, gritam e terminam sendo abordados por policiais, a pedidos da vizinhança incomodados com a altura do som. Mas também há aqueles, que sabem que para o bem comum, o melhor a fazer é seguir as orientações das autoridades sanitárias e seguem a rotina normal, com os devidos cuidados.
Triste por não poder cair na folia, mas consciente que é melhor perder um carnaval na vida, do que a vida no carnaval, a jovem neta vai à feira para a sua avô, uma simpatia senhora centenária, que não pode se expor ao coronavírus e também, pela fragilidade inerente à idade não consegue mais desfrutar do prazer que é fazer feira aos sábados pela manhã, um verdadeiro espetáculo de cores, cheiros, sons e sabores.
Na banca de laranja, que nesta semana estava R$1,00 a mais que na semana anterior, a jovem não pechinchou porque a qualidade também estava superior, ela escolhia as melhores frutas quando foi abordada por uma criança, que meio tímida, pediu uma moedinha para completar o que já tinha para comprar uma laranja. O menino, que aparentava uns oito ou nove anos, estava envergonhado e ela pensou que ele quisesse o dinheiro para comprar as guloseimas preferidas da faixa etária ou que por trás dele, estivesse um adulto ávido por dinheiro para satisfazer o seu vício, que poderia ser cigarro, bebida ou droga, assim, ela optou por não dar o dinheiro e sim, a própria fruta. Avisou o feirante que daria a laranja a criança, e que levaria para casa, uma dúzia, menos uma. Assim que entregou a fruta ao menino, este se aproximou do feirante e pediu que ele a dividisse em duas partes iguais, uma para ele e outra para o irmãozinho. Neste instante, ela percebeu que o garoto estava acompanhado por um garotinho de uns cinco anos. Quando a jovem entregou ao feirante, a bacia com as 11 frutas, ele recontou, colocou-as no saquinho e pegou mais uma da banca e disse, “eu também vou lhe dar uma.” A garota agradeceu a gentileza e foi embora ciente que o desejo dele era ajudar as crianças, mas quem trabalha no comércio sabe que se um pedinte ganha algo de um estabelecimento, repassa a informação aos colegas de martírio e em poucos minutos, uma fila sem fim de pedintes se forma.