Não há como duvidar que a vida do assalariado no Brasil é dura! As mulheres são as que mais sofrem com a sedução da propaganda que estimula o consumo compulsivo de coisas
que apenas irá ocupar espaço nos
armários e também, provoca longas noites
de insônias, preocupadas com as faturas do cartão de crédito. Algumas privilegiadas, dotadas de um raro senso de equilíbrio
financeiro, criam estratégias simples para
resistir aos apelos, como não sair de casa com o cartão
de crédito, comprovante de endereço e
documento original porque assim
não conseguem efetuar a compra e também, de precavidas, dinheiro somente para os gastos
básicos, como transportes e lanches.
Usar
roupas e sapatos centenas de
vezes é um martírio para muitas mulheres
e, na impossibilidade do tradicional “banho de loja”, guardam o orgulho no fundo do baú, percorrem brechós, aceitam de bom grado, doações de seminovos
ou já bem surrados, uma customização básica e um brilho no olhar de satisfação ao desfilar o
novo look. Analice, que sempre andou de mãos dadas com a carestia, ao visitar uma amiga estrangeira, que lhe
devia inúmeros favores, encontrou-a perdida entre sacolas e caixas e uma ponta de esperança surgiu em seu coração,
quando esta disse alto e em bom tom que
tinha muitos sapatos e iria jogar fora a
metade, para desocupar espaço. Como ambas calçam o mesmo número, Analice disse: - Não faça isso, dê-me, estou
precisando muito, tempo apenas um par de tênis e nenhuma sandália de verão.
Ficou sem ação com a rápida e surpreendente resposta: -
Eu não vou lhe dar, são sapatos
caros! Chocada com a resposta da amiga, mudou de assunto e ao retornar ao lar,
caminhou lentamente pela orla da praia refletindo sobre a atitude da amiga que
prefere jogar no lixo, sapatos em boas condições de uso do que lhe dar. Será que em seu país de origem, não é costume doar
coisas usadas e trata-se apenas de uma diferença cultural ou solidariedade não é uma de suas
qualidades? Como não se
sentir humilhada, não mereço sequer o
que ela vai jogar no lixo, suspirou tristemente, ao abrir a porta de sua
modesta casa.