sexta-feira, 31 de julho de 2020

Diário da quarentena- 136º dia

                        31 de  julho de 2020, dia frio e nublado,  mas sem chuvas e eu pude ir tranquilamente buscar os marcadores de livros, que finalmente ficaram prontos. Triste é que o artista gráfico não entendeu o significado das palavras contraste e desbotado. Nos próximos pedirei a correção e sem falsa modéstia, a minha ideia foi bem criativa e e ficou bonito, espero que as pessoas gostem. Aproveitei para ir a padaria  para a vizinha, a que está com dificuldades para andar, faço com prazer porque quando precisei,  fui ajudada, e ao sair, encontrei com a outra que  caluniou-me sobre o barulho; como prezo pelo bom relacionamento  com a vizinhança, parei e falei um pouco com ela, como se nada tivesse acontecido, percebi que ela estava bem sem graça, com certeza, vergonha pela  reclamação infundada.

            Executadas estas tarefas, nada mais tinha a fazer e o noticiário somente falava  do Ministro Alexandre Moraes que determinou o bloqueio global de contas de bolsonaristas no Twitter, até esqueceram o  assalto em Botucatu, SP e a carcaça de uma baleia encalhada  em uma praia, na cidade de   Praia Grande, SP. Sem nada para fazer, tempo frio e nublado,  pus-me a refletir sobre o que eu deixei de ser quando cresci. Deixei para trás uma menina criativa, que inventava brincadeira com qualquer  coisa que encontrava pela frente, que sonha um dia falar inglês fluentemente, conhecer  culturas diferentes, viajar de  avião, de navio e casar.  Neste ciclo infinito do viver,  ainda não consegui andar de navio nem aprender inglês e não quero levar esta frustração para o túmulo. Tantas coisas  aconteceram  seguidamente em minha jornada, fiz tantas concessões e tenho certeza que as pessoas de minha convivência também abdicaram de alguma coisa  por mim e nesta caminhada, não sei onde  perdi os meus sonhos pueris e passei a viver automaticamente, envolvida com os cuidados com a casa, os mesmo tipos de lazeres, tudo repetido a exaustão e veio a quarentena e tudo ficou mais repetitivo ainda, uma rotina de tão leve que chega a doer. Não sei se este isolamento social me afastou ou aproximou-me de mim mesma. Confesso que já não sei que sou. Sempre a mesma rotina, casa comida, noticiário, com atenção especial as notícias relacionadas a pandemia. Bem dizem os antigos que  o sofrimento  nos leva as profundezas de nosso eu profundo, mas, especificamente em meu caso, eu encontrei o vazio, como se eu não tivesse uma vida anterior, um passado anterior  a quarentena, sinto que estou  sem conexão com o mundo real,  envolvida apenas em  medo, incerteza e solidão.

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