segunda-feira, 27 de julho de 2020

Diário do isolamento social- 132ºdia

                                    O artista exerce tal influência sobre os seus fãs que quando ele morre é como se perdesse uma pessoa da família  e de convivência diária. Eu estou com uma  dificuldade em lidar com a morte do sertanejo Léo Canhoto. Cresci ouvindo suas músicas, era tiete de carteirinha dele. Acredito que está sensação estranha que estou sentindo é decorrente do fato do  enterro não ter sido divulgado, uma medida prudente para evitar aglomerações. Ele  era muito querido e tinha uma legião de fãs. A cerimônia do velório é importante porque nos ajuda a lidar com a  perda, choramos juntos, compartilhamos  lembranças  felizes e cheias de significados. Antes da pandemia era este o ritual, o luto  coletivo  e a certeza de que o falecido permanecerá para sempre  em nossos corações, mas até este momento de  viver juntos a dor da perda, o Coronavírus tirou de nós.
          A fragilidade da vida frente ao Covid-19  e a proibição de velório gera uma angustia, o medo de  morrer, de perder alguém, de ser contaminado, de contaminar as outras pessoas e a imprensa alimenta diariamente  o   pavor  este pavor coletivo ao priorizar o número de óbito, porque não podemos saber quantos estão sendo curados? Para nós,  latinos, afetuosos por natureza, o sofrimento é  maior.  Manter distâncias das pessoas e  usar máscara, não tocar em ninguém é uma tortura diária. O silêncio e a presença podem ser valiosos em outras culturas, não precisamos de abraços apertados, apertos de mãos, tapinhas nas costas. As dores fazem parte da vida de todos os seres  vivos, mas em tempos de isolamento social, sem um ombro amigo e mãos carinhosas a acariciar-lhe os cabelos, fica pesado lidar com o sofrimento. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário