Sábado é dia de feira em meu bairro e lá fui
eu bem cedo, parecendo uma cigana exótica, com lenço na cabeça e duas máscaras.
Eu não sabia que já havia liberado as barracas de roupas, concertos e reparos e
já na entrada, deparei com vendedores ávidos para recuperar o tempo perdido e
sem a menor preocupação com a saúde. Para
anunciar os produtos, na base do grito, como é tradição em feiras livres, eles
tiravam a máscara e com a proximidade de
um freguês em potencial, a recolocavam
no devido lugar, sem usar o álcool gel, após o atendimento retirava a máscara novamente e é
desnecessário dizer que não higienizava
as mãos. Fui a barraca de conserto de
tampa de panela de pressão, o senhor, simplesmente retirou a máscara para
atender-me, sem antes usar álcool gel. A vendedora de calçados já havia dispensado o acessório e
por ser uma jovem, eu tive a ousadia de orientá-la
e a resposta foi surpreendente: “ Tenho alergia a tecido de algodão” Esclareço
que ela estava usando uma camiseta de algodão, destes modelos tradicionais e não
estava se coçando. E eu pergunto? Quarentena
para que?
O melhor da feira livre é o pastel, isto é uma verdade incontestável,
mas desde que recebemos a visita indesejada do coronavírus, abdiquei-me deste prazer porque não é prudente comê-lo nas proximidades da barraca de acordo com o costume já que a grande
maioria dos paulistanos ainda não entendeu o que significa distanciamento
social e se acotovelam sem a menor preocupação e, trazer para consumir em casa
já chega frio e eu não gosto, porém, eu
sinto saudade do sabor peculiar o pastel de feira livre, quem sabe lá pelo
final de agosto desfrutarei deste pequeno prazer.
Mesmo tendo comparecido no início da feira percebi que os produtos não
apresentavam boa qualidade e os preços bem altos. Quando comprei a rúcula ,
efetuei o pagamento com moedas e ao entregá-la ao vendedor, com medo de tocar
em suas mãos, três moedas caíram sobre as outras verduras e ele não as
encontrou e eu acabei pagando novamente, por opção e fique a imaginar a próxima
freguesa ao lavar a verdura, encontrar uma moeda. Eu não dispenso sequer
uma moedinha de cinco centavos, como bem
diz o ditado popular: é de grão em grão é
que a galinha enche o papo.
Sempre gostei de ir a feira livre, mas agora, com esta pandemia,
este meu pequeno prazer tornou-se um
suplício, a começar pelos zig zag que sou obrigada a fazer para conseguir
manter o distanciamento social e com a chegada a casa, começar o
procedimento de limpeza. Deixo os produtos
na cozinha, tomo banho, coloco a roupa na máquina e enquanto ela completa o
ciclo, eu vou lavo os produtos, coloco as sacolas no varal externo e somente
depois eu vou preparar almoço. Hoje eu comprei
mandioca de um ambulante, na saída
da feira e adorei: Cozinhou em cinco minutos, macia e saborosa. Almocei, lavei
a louça e guardei os produtos, depois, limpei a casa e não tenho disposição
para fazer mais nada, estou pensando em assistir um filme e recolher-me mais
cedo aos braços de Morfeu. Estou cansada e entediada com esta quarentena. Vejo
o país quebrando e pouco cuidado por
parte de um número considerável da população. Apesar do decreto determinando o
uso da máscara, não há fiscalização, nem estadual e menos ainda municipal. Na teoria tudo lindo e
maravilhoso, mas a prática é precária. Em pleno inverno, época de doenças respiratórias e com este descuido dos munícipes
a situação pode piorar.
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