sábado, 4 de julho de 2020

Diário da quarentena - 109º dia

                                        Sábado é dia de feira em meu bairro e lá fui eu  bem cedo, parecendo uma cigana  exótica, com lenço na cabeça e duas máscaras. Eu não sabia que já havia liberado as barracas de roupas, concertos e reparos e já na entrada, deparei com vendedores ávidos para recuperar o tempo perdido e sem a  menor preocupação com a saúde. Para anunciar os produtos, na base do grito, como é tradição em feiras livres, eles tiravam a máscara e  com a proximidade de um freguês em potencial, a recolocavam   no devido lugar, sem usar o álcool gel, após o atendimento  retirava a máscara novamente e é desnecessário dizer que não  higienizava as  mãos. Fui a barraca de conserto de tampa de panela de pressão, o senhor, simplesmente retirou a máscara para atender-me, sem antes usar álcool gel. A vendedora de  calçados já havia dispensado o acessório e por ser uma jovem, eu tive a ousadia de  orientá-la e a resposta foi surpreendente: “ Tenho alergia a tecido de algodão” Esclareço que ela estava usando uma camiseta de algodão, destes modelos tradicionais e não estava se coçando. E  eu pergunto? Quarentena para que?
             O melhor da feira livre  é o pastel, isto é uma verdade incontestável, mas desde que  recebemos a visita  indesejada do coronavírus,  abdiquei-me deste prazer porque não é  prudente comê-lo  nas proximidades da barraca  de acordo com o costume já que a grande maioria dos paulistanos ainda não entendeu o que significa distanciamento social e se acotovelam sem a menor preocupação e, trazer para consumir em casa já chega frio e  eu não gosto, porém, eu sinto saudade do sabor peculiar o pastel de feira livre, quem sabe lá pelo final de agosto desfrutarei deste pequeno prazer.
            Mesmo tendo comparecido no início  da feira percebi que os produtos não apresentavam boa qualidade e os preços bem altos. Quando comprei a rúcula , efetuei o pagamento com moedas e ao entregá-la ao vendedor, com medo de tocar em suas mãos, três moedas caíram sobre as outras verduras e ele não as encontrou e eu acabei pagando novamente, por opção e fique a imaginar a próxima freguesa ao lavar a verdura, encontrar uma moeda. Eu não dispenso sequer uma  moedinha de cinco centavos, como bem diz  o ditado popular: é de grão em grão é que a galinha enche o papo.
            Sempre gostei de  ir a feira livre, mas agora, com esta pandemia, este meu pequeno prazer  tornou-se um suplício, a começar pelos zig zag que sou obrigada a fazer para conseguir manter o distanciamento social e com a chegada a casa, começar o procedimento  de limpeza. Deixo os produtos na cozinha, tomo banho, coloco a roupa na máquina e enquanto ela completa o ciclo, eu vou lavo os produtos, coloco as sacolas no varal externo e somente depois eu vou preparar almoço. Hoje eu comprei  mandioca de um ambulante,  na saída da feira e adorei: Cozinhou em cinco minutos, macia e saborosa. Almocei, lavei a louça e guardei os produtos, depois, limpei a casa e não tenho disposição para fazer mais nada, estou pensando em assistir um filme e recolher-me mais cedo aos braços de Morfeu. Estou cansada e entediada com esta quarentena. Vejo o país quebrando e  pouco cuidado por parte de um número considerável da população. Apesar do decreto determinando o uso da máscara, não há fiscalização, nem estadual e menos ainda  municipal. Na teoria tudo lindo e maravilhoso, mas a prática é precária. Em pleno inverno, época de  doenças respiratórias   e com este descuido  dos munícipes  a situação  pode piorar.

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