Nos verdes campos do Brasil florescem os ipês e o
amarelo destaca-se entre as
infinitas tonalidades de verdes que brilham à luz do sol. A natureza segue o
seu ritmo e eu, aqui presa em minha
casa, porém, com gratidão no coração
porque eu tenho onde morar, enquanto
milhares de brasileiros que perderam seus empregos durante a pandemia estão
a beira de serem despejados, idosos, crianças, homens e mulheres que nesta vida, apenas almejam alimentar os seus filhos. A politização da pandemia
atinge os mais vulneráveis. Por ser uma pessoa
idosa, devo permanecer em isolamento social, sem viajar, sem poder desfrutar
das belas paisagens da amada terra
paulista, mas eu tenho onde morar, alimento
na dispensa e uma cama quentinha e sofro ao pensar naqueles que estão vivendo abaixo da linha da pobreza sob a ameaça de serem atacados pelo inimigo invisível. Interesses políticos/partidários prevalecem sobre
o que há de mais sagrado no mundo: a
vida! E são tantos os desmandos! Já vi notícias até de uma médica desejando a
morte do Presidente Bolsonaro, assim que soube que o exame dele deu positivo para Covid-19. Não é engano! Ela o fez em suas redes sociais e feriu o
Código de Ética Médica que define que a medicina é uma profissão que deve ser exercida para servir a
humanidade, salvar vidas, sem nenhuma
discriminação. É assustador! E mais uma
situação estranha aconteceu, desta vez
com a médica oncologista e
imunologista NIse Yamaguchi,
defensora do tratamento com
hidroxicloroquina como forma de tratamento para a Covid -19, no início da
doença; ela foi suspensa pelo Hospital Albert Einstein em virtude de um comentário no qual ela compra o medo à pandemia com a situação dos judeus durante
o holocausto nazista.
Enquanto os pássaros cantam felizes nos galhos dos ipês amarelos, o medo de falir rondam os proprietários
de bares e restaurantes feito urubus na carniça. Estima-se que
30% dos estabelecimentos enceraram
as atividades em decorrência do
fechamento da economia e o
setor já contabiliza milhares de pessoas
desempregados, consequentemente, mais fome, miséria e violência. E a velhacaria
não é uma característica apenas de alguns políticos, mais de 560 mil pessoas
receberam o auxílio emergencial e estavam foram dos critérios estabelecidos
para o governo. Pelo menos o uso de má fé já foi detectado e eles terão que
ressarcir os cofres públicos. Ajuda sim, mas a quem realmente precisa.
Em minha solidão,
sinto saudades de um tempo distante em que florescia um ipê amarelo na calçada
de minha casa e eu, ainda adolescente, ficara horas sentada no na calçada, à sombra da árvore, alheia aos sons da cidade, com atenção
apenas nos insetos, beija-flores e
borboletas em voos velozes e delicados a procurar do melhor néctar e nesta comunhão a vida florescia. São os mistérios da criação divina! O amarelo das flores cobria o cinza da
calçada e eu era feliz, mas não tinha consciência que a verdadeira felicidade
está nas coisas simples, nos momentos de
interação com a natureza e sonhava com uma vida divertida na agitação
das grandes cidades. Hoje, moro na maior cidade maior cidade da América Latina
e estou só, não há árvores na calçada, apenas a lixeira e os cantos dos pássaros
foram substituídos pelo som constante dos carros. Estou só! Se pelo menos eu tivesse algum talento e soubesse fazer bom uso de minhas mãos para ajudar
o próximo. Se eu soubesse costurar, poderia confeccionar máscaras de TNT e doa-las
aos moradores de rua. Se eu soubesse
manipular agulhas e lãs, poderia tricotar sapatinhos de bebês para as
adolescentes mães solteiras, abandonadas pela família e pelo pai da
criança. Minhas mãos estão envelhecidas
sim, mas ainda tem forças para fazer alguma coisa, para ser útil a sociedade. Quando tudo isso passar e o pavor de ser contaminada for apenas uma lembrança
amarga, quero procurar um curso de artesanato, não com o intuito de venda, mas de ajuda ao próximo, e quem sabe assim, a
troca será mútua e eu não sentirei com
tanta força o peso da solidão.
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