domingo, 12 de julho de 2020

Diário da quarentena - 117ºdia

                          Nos verdes campos do Brasil florescem os ipês  e o  amarelo  destaca-se entre as infinitas tonalidades de verdes que brilham à luz do sol. A natureza segue o seu ritmo e  eu, aqui presa em minha casa,  porém, com gratidão no coração porque eu tenho onde morar, enquanto  milhares de brasileiros que perderam seus empregos durante a pandemia estão a beira de serem despejados, idosos, crianças, homens e mulheres que  nesta vida, apenas almejam alimentar os   seus filhos. A politização da pandemia atinge os mais vulneráveis. Por ser uma pessoa  idosa, devo permanecer em isolamento social, sem viajar, sem poder desfrutar das belas paisagens da  amada terra paulista, mas eu tenho onde morar, alimento  na dispensa e uma cama quentinha e sofro ao pensar naqueles que  estão vivendo abaixo da linha da pobreza  sob a ameaça de serem  atacados pelo inimigo invisível.  Interesses políticos/partidários prevalecem sobre  o que há de mais sagrado no mundo: a vida! E são tantos os desmandos!   vi notícias até de uma médica desejando a morte do Presidente Bolsonaro, assim que soube que o exame dele  deu positivo para Covid-19. Não é engano!  Ela o fez em suas redes sociais e feriu o Código de Ética Médica que define que a medicina é uma profissão  que deve ser exercida para servir a humanidade, salvar vidas,  sem nenhuma discriminação. É assustador!  E mais uma situação estranha aconteceu, desta vez  com a  médica oncologista e imunologista NIse Yamaguchi,  defensora  do tratamento com hidroxicloroquina como forma de tratamento para a Covid -19, no início da doença; ela foi suspensa pelo Hospital Albert Einstein em virtude de  um comentário no qual ela compra o medo  à pandemia com a situação dos judeus durante o holocausto nazista.
            Enquanto os pássaros cantam felizes nos galhos dos ipês  amarelos, o medo de falir rondam os proprietários de bares e restaurantes feito urubus na carniça.  Estima-se que  30%  dos estabelecimentos enceraram as atividades em decorrência do  fechamento da economia e  o setor  já contabiliza milhares de pessoas desempregados, consequentemente, mais fome, miséria e violência. E a velhacaria não é uma característica apenas de alguns políticos, mais de 560 mil pessoas receberam  o auxílio emergencial   e estavam foram dos critérios estabelecidos para o governo. Pelo menos o uso de má fé já foi detectado e eles terão que ressarcir os cofres públicos. Ajuda sim, mas a quem realmente precisa.
             Em minha solidão, sinto saudades de um tempo distante em que florescia um ipê amarelo na calçada de minha casa e eu, ainda adolescente, ficara horas sentada no  na calçada, à sombra  da árvore, alheia aos sons da cidade, com atenção apenas  nos insetos, beija-flores e borboletas  em voos  velozes e delicados a  procurar do melhor  néctar e nesta comunhão a vida  florescia. São os mistérios da criação divina!  O amarelo das flores cobria o cinza da calçada e eu era feliz, mas não tinha consciência que a verdadeira felicidade está nas coisas simples, nos momentos de  interação com a natureza e sonhava com uma vida divertida na agitação das grandes cidades. Hoje, moro na maior cidade maior cidade da América Latina e estou só, não há árvores na calçada, apenas a lixeira e os cantos dos pássaros foram substituídos pelo som constante dos carros.  Estou só!  Se pelo menos eu tivesse algum talento  e soubesse fazer bom uso de minhas mãos para ajudar o próximo. Se eu soubesse costurar, poderia confeccionar máscaras de TNT e doa-las aos moradores de rua. Se eu soubesse  manipular agulhas e lãs, poderia tricotar sapatinhos de bebês para  as  adolescentes mães solteiras, abandonadas pela família e pelo pai da criança.  Minhas mãos estão envelhecidas sim, mas ainda tem forças para fazer alguma coisa, para ser útil a sociedade.  Quando tudo isso passar e o pavor  de ser contaminada for apenas uma lembrança amarga, quero procurar um curso de artesanato, não com o intuito de venda,  mas de ajuda ao próximo, e quem sabe assim, a troca será mútua e eu não   sentirei com tanta força o peso da solidão. 

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