terça-feira, 26 de maio de 2020

Diário do isolamento social- 70º dia

                          O isolamento social tem suscitado um desejo de estar mais próxima da  natureza. Tendo como companhia apenas as paredes e os móveis da casa não há como evitar as lembranças da infância  repletas de  cores e vida selvagem, quando a rua ainda era de terra e em dias de chuva, sempre havia sapos saltando e assustando os escassos motoristas e  deixando exasperadas as mais zelosas, que primavam pelo cuidado com  a saúde de sua prole que teimavam em querer capturar os  inocentes anfíbios apenas para assustar os  mais velhos que cochilavam nas cadeiras de balanço.
          Antigamente morar na periferia, quando iluminação pública  e asfalto era um sonho distantes, as noites  não conheciam o silêncio absoluto porque  os  sons das vidas noturnas embalavam o sono. Sempre havia um grilo cantando,  o pio de uma coruja, o uivo distante de um cachorro e  o espetáculo  dos vaga-lumes   que brilhavam na terra  enquanto as estrelas iluminavam a escuridão do céu e era bastante comum na época, as pessoas  sentarem em frente as casas, para tomar a fresca e  queimarem capim para produzir fumaça e espantar os pernilongo que havia em abundância. Era um momento mágico! Homens urbanos ainda integrados à natureza.
          Os anos passaram, o  asfalto e a luz elétrica chegaram as periferias,  e com eles o estrangeiro  Aedes Aegypti  que deixou no chinelo o tradicional pernilongo nacional porque transmite doenças letais e agora, para atormentar a nação, mais um imigrante indesejado: O Covid-19 que  trancou a população em seus lares e  alguns privilegiados, ainda conseguem apreciar um pouco da natureza pela  janela, até aonde a vista alcança e sempre em disputa com arranha – céus. Estes fragmentos de natureza  vistos das janelas são essenciais para despertar novos olhares de admiração e cuidado com o mundo e consigo, e que apesar do avanço do homem a natureza resiste com todo  o seu esplendor, em qualquer palmos de terra
          Felizes são aqueles que têm registrado em seus corações a graciosidade do voo  das borboletas, a magia das revoadas dos pássaros ao  entardecer quando retornam aos seus ninhos e as fugidas com os amigos para a exploração da  paisagem rural, onde  ainda não havia moradores e o gado pastava livremente pelos campos sob o olhar vigilantes de seus donos. Tristes  lembranças terão as crianças  das grandes metrópoles, sem contato com natureza e em quarenta a setenta dias.


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