sábado, 2 de maio de 2020

Diário do isolamento social - 46º

                                   
            Está chovendo agora. Em outros tempos eu estaria feliz, mas com o aumento da umidade do ar e  a queda da temperatura, eu temo que o Covid-19 ganhe  mais força e faça parceria com os colegas Influenzas que já devem estar por vir, eles são sazonais e seguem o ritmo das estações e o que já está ruim pode ficar pior com vidas sendo ceifadas diariamente. A população está faminta e com a imunidade baixa, o berço ideal para o imigrante  indesejado. Apesar do perigo iminente, aprecio o murmúrio  suave das águas celestiais batendo na vidraça de minha janela e ela caí  generosa, sem relâmpagos e trovões e  descerá lentamente até o lençol freático para depois, em seu tempo,  segundo o seu ciclo natural, retornar às nuvens  e cair novamente, infinitamente e não há  nada e ninguém que poderá  mudará isso, assim sempre foi e sempre será.
            As pessoas da zona rural gostam da chuva, não apenas para  atenuar o calor mas para molhar a terra seca e fazer germinar a semente e florescer a plantação, o pasto do gado e as florestas. Chuva na medida  e época certa é sinônimo de fartura nos campos e nas cidades. O lavrador fica aliviado quando o primeiro pingo d’água cai sobre sua plantação e ele, que já enfrentou os raios fulminantes do sol agora, na segurança de seu lar, pede a São Pedro que  o volume  de chuva seja o ideal  para florescer a terra, porque o excesso faz transbordar os rios e inundar as plantações. Com está mudança no tempo, quais preocupações terão agora as nossas autoridades, responsáveis pelo controle da pandemia?
            O tempo frio fez surgir em mim uma nostalgia dos tempos em que  eu não temia a doença porque acredita que a minha juventude  venceria qualquer combate interna de anticorpos e intrusos. Hoje, com as orientações maciças sobre quem pertence ao grupo, do qual faço parte, tudo deixa - me apreensiva, assim, nada fiz hoje, nem sequer  consegui tomar sol porque de manhã, antes da chuva, o céu estava nublado. Não fui à feira, em virtude do constrangimento com a carona no sábado passado e como a motorista não enviou mensagem   perguntando  se eu queria ir com ela, achei mais prudente, apenas enviar uma mensagem, agora a tarde, para saber da cachorra, que está um pouco adoentada.   Quão vazios está o relacionamento entre vizinhos nesta pandemia. Quando contatamos um, é para falar das últimas estatísticas e não adianta  puxar assunto  para comentar um filme ou outro assunto porque não vai adiante.
            Em quarentena, por menor que seja um problema doméstico, que em outros tempos ele passaria despercebido, agora, ele toma proporções gigantescas e comigo e o pernilongo não foi diferente. Faz  uns três dias que eu andava ás turras com o maldito inseto, limpeza na casa, aplicação de inseticida, queima de incenso, uso de repelentes e perfumes, nada o espantava, até que hoje, quando eu menos esperava, eu venci a batalha. Enquanto arruma a mesa para  o último lanche do dia, eu o ví na parede, encolhido pelo frio e sem hesitar, pequei uma almofada e  parti para o ataque. O  sangue que ele sugou de mim, tingiu a parede e eu limpei a sujeira com prazer porque agora  não serei mais  picada. Não é que eu seja sovina  e esteja negando umas míseras gotas de sangue a um mosquito faminto, é medo que o intruso seja o estrangeiro Aedes Aegypti, o transmissor da Dengue, Chikungunya, Zika e da Febre Amarela urbana. O Aedes Aegypti, junto  com o Covid-19,   formam   a dupla de  imigrantes  mais indesejada e temida do país. Diante  da periculosidade dos forasteiros, o  pernilongo nacional passou  a ser considerado tão inofensivo quanto uma folha seca, mas que é irritante, disto não resta a menor dúvida.

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