segunda-feira, 18 de maio de 2020

Diário do isolamento social 60º dia

                                  Nesta quarentena, com o  marasmo destes dias longos eu sinto saudade de coisas tão pequeninas, até  então, despercebidas por mim  como o acordar de meu bairro, sempre apressado e agitado com pessoas correndo para não perder o ônibus, o barulho dos carros, o grito das mães chamando as crianças e  algumas mais impacientes, buzinando de leve para não irritar a vizinhança e acelerar os filhos dorminhocos para que eles não cheguem atrasados nas escolas e elas nos trabalhos, profissões diferentes, mas com o elo em comum: Problemas com os meninos que por natureza, demoram a despertar.
            Eu sinto saudade do grupo de pessoas idosas que passavam conversando enquanto faziam a caminhada matutina e do alto e sonoro bom dia do porteiro do prédio da frente, que  vai à rua, rigorosamente no mesmo horário para fumar o seu cigarro e com o seu indiscreto  rádio de pilha, com  o volume ao máximo ouvindo as  notícias do dia para estar bem informado para os tradicionais papos matinais de trânsito e sobre o tempo, que  na cidade de  São Paulo,  é sempre incerto; e os ruídos vão   se transformando ao longo do dia. Às oito horas a  Casa Lotérica abre e começa  uma movimentação diferente, agora com uma aglomeração maior de pessoas, quase todas mascaradas e sem respeitar  o distanciamento  recomendado, porém, as outras lojas continuam com suas portas fechadas, fora o barulho dos carros, um latido ao longe de um cão, sirene do Corpo de Bombeiros, Samur e  Policia Militar, quase nada se ouve e eu sinto saudade da sonoridade anterior.          
            Agora os dias são sempre iguais apenas mais silenciosos nos finais de semana. Sem o cheiro dos restaurantes e lanchonetes, a música ao vivo no bar do Seu Pedro e as conversas dos clientes, ou melhor, os gritos  competindo com a canção.  Mas o ronco dos motociclistas apressados, estes sim continua,  estão sempre correndo contra o tempo para efetuarem as suas entregas o mais rápido possível, eles recebem por entrega, assim, velocidade é sinônimo de  mais dinheiro  no bolso e  um maior risco de acidentes, mas com a fome rondando a família  eles confiam que com o trânsito mais leve, chegarão  em casa  saudáveis e felizes.
               

Nenhum comentário:

Postar um comentário