terça-feira, 19 de maio de 2020

Diário do isolamento social- 62º dias

                                     É  contraditório,  mas durante esta quarenta, sem vivenciar o mundo    lá fora foi que percebi a imensidão das mazelas e dores da população e como os nossos dirigentes são inescrupulosos e vê-nos apenas como um voto nas urnas. Meu coração sangra  de aflição ao ver,  no ápice da pandemia,  enquanto  os pobres  aglomeram-se em filas nas Casas Lotéricas e   Agências da Caixa Federal para receber  o auxílio emergencial de R$600,00, cuja quantia deverá cobrir todas as despesas do mês, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, instituiu um programa de auxílio-saúde a juízes e servidores do órgão, disponibilizados da seguinte forma:
Magistrados ativos e inativos: R$1.280,00
Servidores ativos e inativos:    R$720,00
Pensionistas de magistrados:  R$560,00
Pensionistas de servidores:      R$420,00
Vale ressaltar que eles estão recebendo o salário na íntegra, enquanto os trabalhadores da rede privada, os privilegiados que não foram demitidos, estão com jornada e salários reduzidos outros em  licença não remunerada. E a Carta Magna diz que somos todos iguais perante a Lei. E o mais triste, não é Fake News!
            Meu coração sangra com o avanço da Covid-19  entre os povos originais do Brasil que  tem sido vítimas de epidemias  introduzidas pelos conquistadores há mais de 500 anos e agora enfrentam mais esta provação. Trinta e quatro etnias já perderam alguns de seus filhos para a doença e é bem provável que seja por falta de assistência médica adequada. Já foram registrados 77 óbitos e ainda há 308 casos de  contaminados. Além de mais esta provação,  sofrem com as constantes invasões de fazendeiros, madeireiros, garimpeiros e  também com os incêndios ilegais em suas reservas,  que vem aumentando a cada dia. Onde estão os Direitos Humanos? Por que não zelam pela vida e  dignidade dos povos indígenas?
            Meu coração sangra ao saber  a difícil situação dos pacientes da cidade do Rio de Janeiro, RJ que esperam na fila por um leito  com respirador, em parte, por culpa de uma empresa que vendeu 300 respiradores sem licitação, e não  entregou parte da mercadoria e nem sabe onde ela foi parar.  Há também em curso, uma investigação sobre uma compra de mil respiradores e que somente cinquenta e dois foram entregues e as pessoas continuam morrendo  sem conseguir respirar. Onde está o direito á saúde, que consta em nossa Carta Magna?
            Meu coração sangra ao ver a fome aumentando entre as pessoas de bem, trabalhadores que  perderam os seus empregos e não tem como sustentar seus filhos. A desobediência civil cresce a cada dia e não há como culpar um pai de família, em plena  pandemia, entregue a própria sorte, sem a menor perspectiva de conseguir um  trabalho com registro em carteira em curto prazo, de tentar de maneira informal botar comida na mesa. Temo que esta desobediência se  transforme  em desordem social porque quando a fome dói, qualquer pessoa entra em guerra contra os seus.

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