Quinze
de junho, já estamos exatamente no meio do mês e tantas coisas aconteceram no
mundo lá fora e, em minha quarentena,
estou amargando a dor de ser
esquecida por aquele que uma dia, pensei que seria uma companhia agradável até
o meu último suspiro. Hoje é o aniversário de
mãe, se ela estivesse viva, estaria completando noventas anos de idade. O
seu corpo físico já foi entregue à
terra e sua alma aos céus faz tanto
tempo, mas ela continua viva dentro de mim, ao ponto de eu não ter
discernimento de quem eu verdadeiramente sou e o quanto de minha
aspirações são os reflexos
dos sonhos delas, projetados em mim.
Durante muitos anos culpei-a pela
minha infelicidade, por não ter conseguido realizar nem o que é peculiar a toda
a mulher: a maternidade. Mas o excesso
de tempo ocioso e graças as live que
assisti neste isolamento social, eu consegui entender que a falha sempre esteve mim, em não perceber
que cada mãe faz o que pode pelos seus filhos, algumas, a única coisa que
conseguem é dar-lhes a vida e para isto, fazem um esforço tão grande
que acabam morrendo no parto ou entram em depressão profunda após dar a luz
e que as mães, também são seres humanos
e oferecem somente aquilo que elas podem
e não o que os filhos desejam.
Os sonhos maternos estão arraigados
dentro de mim e, ingênua fui eu que não os levei a sério porque ela queria o
melhor para mim, para que eu não levasse uma vida submissa
ao marido, como era antigamente, em que as mulheres dependiam financeiramente do esposo para tudo. Ela esperava que eu estudasse com afinco e aprendesse e
executasse bem as atividades a mim atribuídas, que eu soubesse portar-se à
mesa, na igreja, no trabalho, enfim,
agisse com educação em todos os lugares
e que a fé, a honra e a solidariedade fizessem parte de minha rotina,
infelizmente, eu optei por agir com
rebeldia e agressões verbais e uma vez, até física, da
qual eu sinto um profundo
arrependimento e vergonha por ter levantado a mão para aquela que me gerou. E ela
queria apenas que eu fosse uma mulher independente financeiramente e
respeitada.
Minha mãe fez o pode pelos filhos, e
eu, ingrata, optei por frequentar a escola e não aprender nada, não aperfeiçoar
- me em algum ofício, sonhei com um
mundo de glamour mas fique parada á espera do milagre que nunca aconteceu. E
agora, esperando a lentidão dos dias de isolamento social passar, vejo quanta
sabedoria e bondade havia dentro do
coração daquela mulher analfabeta, que
deixou-nos um grande legado em valores. E eu? O que deixarei de bom para aqueles que conviveram comigo em mais de sete décadas de vida? Lamentavelmente
concluo que minha vida sempre foi superficial, com sonhos altos e atitudes zero e não há ninguém que eu possa
culpar porque sempre deixei para amanhã o que deveria ter feito no hoje. Ela mostrou
o caminho, mas somente eu podia caminhar.
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