terça-feira, 23 de junho de 2020

Diário do isolamento social- 98º dia

                                           O sol brilha em um lindo céu azul e eu dentro de casa, criando coragem para ir ao mercado  para reabastecer os armários e a Prefeitura, pedir umas  informações para uma amiga que viajou às vésperas da quarentena e ainda não teve como retornar. Sair torna-se cada dia mais perigoso porque o número de desempregados cresce assustadoramente e a possibilidade de ser assalta cresce na mesma proporção e depois, tem ainda o terror da chegada, com todos os cuidados necessários, segundo a Vigilância da Saúde e que para nós, que brincávamos em ruas de terra, comíamos frutas do pé e dormíamos  no chão da varanda em dias quentes de verão é um verdadeiro suplício porque o nosso conceito de higiene é outro e como dizia nossas avós, muita higiene enfraquece o sistema imunológico, que não cria anticorpos de defesa.  Mas ter tido a benção de muitos anos de vida tem quer arcar com o seu ônus: a fragilidade em todos os sentidos!
            Tenho ciência que estou em uma situação privilegiada  porque recebo regularmente a pensão de meu falecido marido, que estou aparentemente segura em minha residência  que fica próximo a UPA, Posto de Saúde e Hospital, o oposto do sofrimento enfrentado pelos nossos irmãos indígenas, principalmente os que vivem nas periferias das cidades, esquecidos pelo Poder Público o que os deixa em situação de maior vulnerabilidade  a epidemias em função  de condições  sociais, econômicas  e de atendimento à saúde bem piores que os não indígenas. Entre os povos nativos, contabiliza-se oficialmente, 4.423 contaminados e 119  óbitos por Covid - 19 Aliado a exposição a pandemia e todo o tipo de preconceitos, neste final de semana, os  guaranis que habitam a região do Pico do Jaraguá tiveram que enfrentar um incêndio, provavelmente provocado pela queda de um balão, o que é muito comum nos meses de junho e julho e vale ressaltar que soltar balões é proibido, mas infelizmente, esta pratica continua  causando grandes prejuízos á natureza e a inocentes que nada tem a ver com a brincadeira. Os bombeiros demoraram  a atender a ocorrência, chegaram tarde e  partiram cedo, e munidos apenas com três facões e galhos de árvores, os bravos guerreiros guaranis , da aldeia Tekoa Itakupe, lutaram durante  mais de treze horas para conter as chamas que queimaram mais de 20 hectares de mata  e durante a batalha, estes heróis  tiveram mãos, rostos queimados e  arranhões e cortes  em seus corpos exaustos. Que Tupã protege os guaranis!
            E os  desmandos continuam. Já ando com medo até de olhar as mensagens de WhatsApp porque  quase todo dia  leio os avisos de parentes e amigos para não depositarem dinheiro em suas contas porque seus celulares foram clonados e  os meliantes estão pedindo depósitos. Meu primo, quando recebeu a mensagem do picareta esticou o papo se fez de sonso e disse que preferiria entregar em mãos o dinheiro, para que ele passasse  na Delegacia, no horário do plantão dele e eles aproveitariam para matar a saudade e depois desta resposta espirituosa, o papo foi encerrado e a visita nunca aconteceu. Assistir o noticiário então é capaz de arrepiar cabelos de carecas.  Cada dia um desmando pior que o outro, de pessoas indiferentes ao sofrimento das pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Além dos já tradicionais superfaturamento, há também os roubos de carga de insumos e de entrega errada de compras. Um hospital comprou uma carga de testes para Covid-19 e recebeu testes de gravidez. E para dar continuidade ao terror iniciado no final do verão, que perdurou por todo o outono e continua no inverno, especialistas não entram em um acordo quantos aos melhores tratamentos para a Covid-19 e se já passamos pelo pico da pandemia, se a curva  já está em declínio. Nada de concreto, apenas especulações que tem como consequências  a perda de credibilidade nas autoridades  e o relaxamento das medidas profiláticas por parte da população confusa, insegura e faminta.

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