E mais um dia começa, chuvoso, frio e com umidade do ar
acima de 90% o que representa um desestímulo para a tradicional faxina de sábado
e o melhor a fazer é preparar refeições
rápidas e esperar o lento passar das horas que nesta quarentena parecem serem
mais lentas e persistir na eterna luta
para vencer o velho hábito de colocar a mão no rosto, coçar os olhos e ajeitar com
frequência, os cabelos. Os tempos são outros e com a possibilidade da Covid-19
tornar-se endêmica, a aquisição de novos
comportamentos é necessária para a sobrevivência da espécie humana, que há milênios
luta para vencer os infinitos inimigos
invisíveis: Vírius e bactérias.
Para minha surpresa ao despertar, recordei de um sonho, o que não é comum e fiquei por
mais de uma hora na cama, rememorando as imagens que pareciam tão reais, como se eu tivesse voltado ao tempo,
na década de 1970, quando morei com a minha família, naquela pequena casa da
Rua Anitta Garibaldi. Era uma manhã
ensolarada e eu fique a rememorar o pequeno cenário do quintal que era grande,
com árvores frutíferas no fundo e do
lado esquerdo da casa havia uma horta bem cuidada e do lado direito, onde
ficava o portão, um jardim
bem negligenciado pelos moradores. Não havia água encanada e o poço garantia o
abastecimento doméstico. Tanque era um sonho, havia pneus, sobre o quais se
colocavam as bacias para lavar as roupas. Tudo estava no mesmo lugar! O
abacateiro que fornecia sua sombra generosa
à lavadeira parecia sorrir para mim e dizer que já havia perdoado-me, pelas inúmeras pedras que
lhe atirei, na tentativa de conseguir os melhores frutos, antes que algum
vizinho viesse pedir, o que era bastante comum.
A casa era pequena e simples. Sala,
dois minúsculos quartos, e cozinha, com fogão a lenha, sem banheiro, era o
tempo das famosas casinhas no fundo do quintal, para fazer as necessidades fisiológicas.
A contemplação silenciosa das imagens,
veio à tona o tormento que era á noite, em dias
de temporais, ter que enfrentar a
água, vento e lama, com lamparina na mão, para fazer xixi. Tempos
difíceis! Quem será que construiu aquela modesta residência? Por que será que não
construiu um caminho cimentado e coberto até a casinha ? Falta de ideia ou de dinheiro?
Visitar aquela em casa em sonho, me fez recordar de uma época em que eu era
feliz porque não tinha a consciência das
maldades do mundo e da difícil luta
dos pais para conseguir alimentar os seus filhos. Na hora das refeições,
sempre a mesa estava posta e havia
arroz, feijão e uma verdura ou legume. Ovos e carnes era apenas nos finais de semana. Que saudade do cheiro da carne cozinhando
em uma panela de ferro, exalando cheiro de alho, cebola e salsinha. Ironicamente,
hoje vivo em casa com mais conforto e não sinto nem 10% da alegria daquela época.
Não a como negar que bens materiais proporcionam conforto e bem estar, mas a
felicidade plena, esta, somente é conseguida no convívio entre as pessoas e, até isto está nos sendo negado neste isolamento social.
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