sábado, 6 de junho de 2020

Diário do isolamento social - 81º dia


                 E mais um dia  começa, chuvoso, frio e com umidade do ar acima de 90%  o que representa  um desestímulo para a tradicional faxina de sábado e o melhor a fazer é preparar  refeições rápidas e esperar o lento passar das horas que nesta quarentena parecem serem mais lentas e persistir  na eterna luta para vencer o velho hábito de colocar a mão no rosto, coçar os olhos e ajeitar com frequência, os cabelos. Os tempos são outros e com a possibilidade da Covid-19 tornar-se endêmica,  a aquisição de novos comportamentos é necessária para a sobrevivência da espécie humana, que há milênios luta para vencer os  infinitos inimigos invisíveis: Vírius e bactérias.
             Para minha surpresa ao  despertar, recordei  de um sonho, o que não é comum e fiquei por mais de uma hora na cama, rememorando as imagens que pareciam tão  reais, como se eu tivesse voltado ao tempo, na década de 1970, quando morei com a minha família, naquela pequena casa da Rua  Anitta Garibaldi. Era uma manhã ensolarada e eu fique a rememorar o pequeno cenário do quintal que era grande, com árvores frutíferas no fundo e  do lado esquerdo da casa havia uma horta bem cuidada e do lado direito, onde ficava o portão,  um  jardim   bem negligenciado pelos  moradores. Não  havia água encanada e o poço garantia o abastecimento doméstico. Tanque  era  um sonho, havia pneus, sobre o quais se colocavam as bacias para lavar as roupas. Tudo estava no mesmo lugar! O abacateiro que fornecia sua sombra generosa  à lavadeira parecia sorrir para mim e dizer que  já havia perdoado-me, pelas inúmeras pedras que lhe atirei, na tentativa de conseguir os melhores frutos, antes que algum vizinho viesse pedir, o que era bastante comum.
            A casa era pequena e simples. Sala, dois minúsculos quartos, e cozinha, com fogão a lenha, sem banheiro, era o tempo das famosas casinhas no fundo do quintal, para fazer as necessidades fisiológicas.  A contemplação silenciosa das imagens, veio à tona o tormento que era á noite, em dias  de temporais, ter que enfrentar  a água, vento e lama, com lamparina na mão,  para fazer xixi. Tempos difíceis! Quem será que construiu aquela modesta residência? Por que será que não construiu um caminho cimentado e coberto até a casinha  ? Falta de ideia ou de dinheiro?
            Visitar aquela em casa em sonho,  me fez recordar de uma época em que eu era feliz porque não tinha a consciência  das  maldades do mundo e da difícil luta  dos pais para conseguir alimentar os seus filhos. Na hora das refeições, sempre a mesa estava posta  e havia arroz, feijão e uma verdura ou legume. Ovos e carnes era apenas  nos finais de semana. Que saudade  do cheiro da carne   cozinhando  em uma panela de ferro, exalando cheiro de alho, cebola e salsinha. Ironicamente, hoje vivo em casa com mais conforto e não sinto nem 10% da alegria daquela época. Não a como negar que bens materiais proporcionam conforto e bem estar,  mas a  felicidade plena, esta, somente é conseguida no convívio  entre as pessoas e, até isto está  nos sendo negado neste isolamento social.

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