domingo, 28 de junho de 2020

Diário da quarentena- 103º dia

                                      São quatorze horas em ponto e estou tiritando de frio, olho o termômetro e ele marca 20º graus, mas  estranhamente, a sensação é de hipotermia galopante e parece que a terra esqueceu o advento do aquecimento global e liberou a geada para todo o país e, em plena época de distanciamento social, o velho truque de todos  os animais  de se aglomerarem  para juntos  se aquecerem   está descartado para a espécie humana. Talvez  esta quarentena perdure até a primavera quando o coronavírus irá tocar o terror em outra freguesia, assim esperamos ansiosamente. E agarradas aos nossos cobertores porque a maioria da população  não se pode dar ao luxo de  possuir um ar condicionado  ou  um simples aquecedor fabricado na Zona Franca de Manaus porque as contas de energias por aqui são   exorbitantes. Tanta tecnologia disponível  que o povo não pode usufruir.
             Tendo como princípio a teoria da criação, Deus, em sua infinita sabedoria criou  as quatro estações do ano  por alguma sábia razão que os simples fiéis desconhecem e como obra de Deus não se discute, cabe a nós,   mamíferos e inteligentes, procurar os meios de nos proteger e deixar a natureza em paz, sem questionamentos. Reclamação é uma  característica humana e assim, o Criador nem deve dar atenção ao nosso lamento em virtudes das condições climáticas.
             Em famílias numerosas, passar o inverno em quarentena deve ser um exercício de tolerância. Todos aglomerados brigando pelo controle remoto para que possa escolher o programa a ser visto,  a contragosto dos demais e sem falar das discussões calorosas para saber quem lavará a louça, a roupa e o banheiro, atividades estas que chegam a ser até prazerosas  no verão,  quando a temperatura chega até 40º graus em algumas regiões do país.
            Mas o inverno tem  lá o seu lado positivo. É bom para a memória,  quando o vento cortante sopra lá fora  e a temperatura despenca no interior das residências, em frações de segundos, todos sabem exatamente onde foram guardadas a um ano, as meias, botas, colchas, blusas de lã e os amantes da  boa gastronomia, recordam com a velocidade da luz, todas as receitas de sopas e bebidas  quentes. Alerta! Em tempos de quarentena, a balança vai subir porque  os parques estão fechados e as academias também e a combinação de ociosidade e comida gostosa   é boa somente para as confecções já que a população a contragosto, terá que renovar o guarda-roupa.
            Antecipar   os cuidados necessários com as roupas de inverno não é uma característica dos brasileiros, assim, ao retirar do maleiro o velho edredom, que ficou esquecido durante três estações, com ele sairá o ácaro  que agravará as doenças respiratórias que lotam  as Upas todos os anos, nesta mesma época. A pergunta que não quer calar é: O atestado de óbito  das vítimas de doenças respiratórias comuns no inverno constará a causa real da morte ou constará Covid-19? Muitas  pessoas estão  com esta dúvida porque está na boca do povo que não importa a causa da morte, o atestado sai como Covid-19. Circula  pelas redes sociais, vídeos com pessoas revoltadas que não puderam fazer velório de parentes, que morreram em casa, com  sintomas de infarto  ou AVC, mas  o diagnóstico médico foi outro.  Já não se sabe mais onde está a verdade!
            As atividades  artísticas estão reduzidas as lives, assim, quermesse, festival de inverno,  são passado. Sindicados de bares e restaurantes estão negociando protocolos  para abertura de seus estabelecimentos, e como  a morosidade no Brasil é clássica, provavelmente, em 2021, poderemos desfrutar dos deliciosos caldos servidos nos restaurantes, nos dias mais frios. No momento, o que nos resta é ficarmos encolhidos no sofá, com o controle remoto em mãos,  na vã tentativa de encontrar um programa interessante.

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