Era
uma vez uma vida anterior ao isolamento
social, na qual, eu não percebia ás sutilezas da natureza, o acelerado e automático ritmo da população paulistana. Agora, da
janela de minha casa, eu vejo o belo e
distante horizonte e fico a imaginar
quais sãos os mistérios que a minha vista não alcança. Quem são as
pessoas que por lá vivem e o que estão
fazendo para sobreviver a dureza do convívio
diário com a família, como estão lidando com
a queda repentina do orçamento
doméstico e o aumento do consumo de
energia, água, internet e alimento. A certeza de não poder sair gera ansiedade e para controlar a crise,
nada melhor do que abrir a porta da geladeira, mas e se ela estiver vazia? O
desemprego cresce na mesma proporção do
avanço do coronavírus e não há esperança a vista.
Da
janela de minha casa eu vejo as nuvens
formando diversas imagens: anjos,
cavalos, borboletas e vários pássaros cruzando os ares independentes do sofrimento que assolou a população., porém,
não vejo mais aviões cruzando o céu,
transportando cargas ou turistas ávidos para conhecer a terra da garoa, a cidade que nunca dorme, do agito
e trabalho vinte e quatro horas por dia,
trezentos e sessenta e cinco dias por ano e agora, triste e solitário, o centro financeiro do país empobrece em um
ritmo jamais imaginado.
Da
janela de minha casa eu vejo portas fechadas de restaurantes de onde exalavam
deliciosos aromas que se misturam as
risadas dos fregueses. E agora? Quando ouvirei novamente o tilintar das
moedas no caixa e o sorriso de satisfação dos proprietários vendo os seus negócios
prosperarem? Quando poderei adentrar em museus e admirar as relíquias do passado?
Da
janela de minha vejo a expansão da criminalidade. Transeuntes andam rápidos e
assustados, temendo que haja algum meliante a espreita e pronto para levar embora os R$600,00 do auxílio
emergencial, o cartão de transporte. Em tempos de carestia, tudo tem valor para
aquele que não tem nada porque
representa uma possibilidade de escambo.
Quando a fome corrói o estômago, os escrúpulos desaparecem e o instinto de
sobrevivência fica mais forte, é a lei
da selva. Gente trabalhadora e decente se marginaliza na tentativa
desesperadora de alimentar a família.
Da
janela de minha casa eu vejo família inteiras
morando na rua e estendendo a mão aos escassos pedestres, pedindo um
pedaço de pão para os filhos. Um bebê suga afoitamente o seio materno já seco,
enquanto uma lágrima desce suavemente pela face da mãe que sofre por não
conseguir alimentar a sua cria. Os bares e restaurantes estão fechados e sobras
de comidas não são encontradas nas
lixeira e eles estão completamente desamparados.
Da
minha janela eu vejo a dor no rosto
daqueles que perderam entes queridos para a Covid-19 e ouço o
lamento deles se indagando o que
poderiam ter feito para que esta tragédia não
tivesse abatido sobre eles.
Da
janela de minha casa eu vejo a nova realidade
imposta pela pandemia: atritos famílias,
desemprego, falências, fome, morte e aproveitadores inescrupulosos
fazendo fortuna as custas da desgraças
da população. Mas no meio
da desgraça, também vejo florescer a fé em Deus e a solidariedade de
algumas pessoas, que se expõem ao risco
para estender a mão aqueles que foram esquecidos pelo poder público. Que Deus em sua infinita misericórdia olhe
pela nação brasileira!
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