13 de junho de 2020, dia de Santo Antonio, o dia amanheceu quente com um céu azul e distantes nuvens brancas formando um contraste
lindo. Tudo parecia perfeito para participar das festividades em homenagem ao santo, mas as igrejas estão fechadas para celebrações, e como não poderia ser de outra maneira, eu em quarentena, apenas a observar pela
janela, a beleza da vida lá fora, o movimento das pessoas, que não dão atenção devida ao fato de ainda estarmos
na fase laranja, o que significa que se deve sair somente
quando for estritamente necessário, não para caminhar
por aí e entrar aleatoriamente em
lojas para olhar preço. Estou em casa e triste, não somente pelo isolamento
social, o que me impedi de dar vazão aos impulsos de compras, mas pela indiferença do meu namorado que
sequer enviou- me uma mensagem de agradecimento pelo presente do dias dos
namorados que lhe enviei e foi entregue ontem, doze de junho. O que dói não é o dinheiro investido, mas o
desprezo.
A carência afetiva não nos permite ver quando estamos implorando por migalhas de
atenção, se satisfazendo apenas com um sorriso amarelo, e com visitas esporádicas e rápidas, cujo
intuito não é nos ver, mas economizar a
conta do restaurante, desfrutando dos pratos elaborados que a gente prepara,
esperando o mandrião chegar para desfrutar dos prazeres da mesa e retirar-se em seguida, alegando uma
chamada urgente para resolver problemas relacionados aos netos. Namoro na terceira idade é assim, quando o homem perde o interesse pela mulher e não
quer desfazer-se dela por comodidade, é acometido
de amor subido pelos netos.
A carência afetiva não nos permite ver que nós somos responsáveis tanto pelas nossas dores como pelas nossas
alegrias e sempre se é feliz quando se
tem o afeto de familiares e amigos.
A carência afetiva não nos permite
ver a beleza do amanhecer quando os
primeiros raios solares apontam no leste e aquecem a terra e a vida desperta
para iniciar a eterna busca pelo alimento e à medida em que o planeta vai girando, milhões de benção vão
caindo sobre aqueles que estão despertos, prontos para recebê-las.
A carência afetiva não nos permite
ver que estamos em um círculo vicioso,
repetindo durante décadas os mesmo erros,
sabendo que as consequências serão tão doloridas quanto ás anteriores.
A carência afetiva não nos permite
ver que o que realmente importa não é a aparência do homem, mas a sua
verdadeira essência, a sua capacidade de
estar de fato presente, segurando a sua
mão durante as mazelas da velhice.
A carência afetiva não nos permite
que tudo o que transborda dentro da gente, não é o que o homem precisa e quer
receber e que, às vezes, o silêncio é a maior sabedoria que podemos expressar.
A carência afetiva não nos permite
ver que o dinheiro é necessário para a nossa sobrevivência, que
proporciona conforto e segurança, mão não é sinônimo de felicidade e que as
pessoas mais valiosas estão do nosso
lado, nos amparando nas dificuldades,
enquanto o nosso olhar está voltado para o homem que não nos valoriza.
O grande legado desta quarentena é a
oportunidade, que nós mulheres maduras e solitárias estamos tendo de
peneirar as nossas amizades e descobrir
a nossa força interior para enfim, quando
a pandemia passar, sermos capazes
de selecionar com mais critérios, o
homem que queremos ao nosso lado, até o
nosso último suspiro.
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