sábado, 13 de junho de 2020

diário do isolamento social - 88º dia

               
            13 de junho de 2020, dia de Santo Antonio,  o dia amanheceu quente  com um  céu azul e  distantes nuvens brancas formando um contraste lindo. Tudo parecia perfeito para participar das festividades  em homenagem ao santo,  mas as  igrejas  estão fechadas para celebrações,  e como não poderia ser de outra maneira,  eu em quarentena, apenas a observar pela janela, a beleza da vida lá fora, o movimento das pessoas, que   não dão atenção devida ao fato de ainda estarmos na fase laranja, o que significa que se deve sair  somente  quando for estritamente necessário, não para  caminhar  por aí e entrar aleatoriamente em  lojas para olhar preço. Estou em casa e triste, não somente pelo isolamento social, o que me impedi de dar vazão aos impulsos de compras,  mas pela indiferença do meu namorado que sequer enviou- me uma mensagem de agradecimento pelo presente do dias dos namorados que lhe enviei e foi entregue ontem, doze de junho.  O que dói não é o dinheiro investido, mas o desprezo.
            A carência  afetiva  não nos permite ver  quando estamos implorando por migalhas de atenção,  se satisfazendo  apenas com um sorriso amarelo, e  com visitas esporádicas e rápidas, cujo intuito não é nos ver, mas  economizar a conta do restaurante, desfrutando dos pratos elaborados que a gente prepara, esperando o  mandrião chegar  para desfrutar dos prazeres da  mesa e retirar-se em seguida, alegando uma chamada urgente para resolver problemas relacionados  aos netos.  Namoro na terceira idade é assim, quando  o homem perde o interesse pela mulher e não quer desfazer-se dela  por comodidade, é acometido  de amor subido pelos netos.
            A carência afetiva não  nos permite ver que  nós somos responsáveis  tanto pelas nossas dores como pelas nossas alegrias e sempre se é feliz quando  se tem o afeto de  familiares e amigos. 
            A carência afetiva não nos permite ver a  beleza do amanhecer quando os primeiros raios solares apontam no leste e aquecem a terra e a vida desperta para iniciar a eterna busca pelo alimento e à medida em que  o planeta vai girando, milhões de benção vão caindo sobre aqueles que estão despertos, prontos para recebê-las. 
            A carência afetiva não nos permite ver que  estamos em um círculo vicioso, repetindo durante décadas os mesmo erros,  sabendo que as consequências serão  tão doloridas quanto ás anteriores.
            A carência afetiva não nos permite ver que o que realmente importa não é a aparência do homem, mas a sua verdadeira  essência, a sua capacidade de estar  de fato presente, segurando a sua mão  durante as mazelas da velhice.
            A carência afetiva não nos permite que tudo o que transborda dentro da gente, não é o que o homem precisa e quer receber e que,   às vezes, o silêncio   é a maior sabedoria que podemos expressar.
            A carência afetiva não nos permite ver que  o dinheiro  é necessário para a nossa sobrevivência, que proporciona conforto e segurança, mão não é sinônimo de felicidade e que as pessoas mais valiosas estão do  nosso lado, nos amparando  nas dificuldades, enquanto o nosso olhar está voltado para o homem que não nos valoriza.
            O grande legado desta quarentena é a oportunidade, que nós mulheres maduras e solitárias estamos tendo de peneirar  as nossas amizades e descobrir a nossa força interior para enfim, quando  a pandemia passar,  sermos capazes de selecionar com mais critérios,  o homem que queremos ao nosso lado, até o  nosso último suspiro.

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