Esta quarentena tem sido uma espécie de regaste de uma trajetória, de um longo caminhar. Um passeio por entre as
invitáveis emoções lembranças de minha
jornada formada bem mais por
estradas curvilíneos e pedregosas
do que rodovias retilíneas e asfaltadas. Foi um caminho que se fez ao caminhar sozinha, no qual foram
vivenciadas tristeza, medo, fuga,
humilhação e a tentativa da sedimentação de um sonho juvenil. Nesta trajetória
solitária, foi necessário a humildade para aceitar ajuda quando os pés sangravam e os joelhos se curvam com o peso do corpo
cansado. O auxílio veio de diferentes maneiras: um prato de comida, um abrigo, a companhia em uma visita ao
Pronto Socorro, uma limpeza na casa quando nem sequer andar conseguia sem o
apoio das muletas. Anjos temporários que cruzaram o meu caminhar, no momento
exato em que o auxílio era
imprescindível, ampararam-me e a vida
seguiu seu o seu curso natural. Por onde andarão eles? Criaturas celestiais, disfarçadas de seres humanos, a quem sou profundamente grata porque, com a ajuda deles, as feridas foram curadas e pude levantar-me e seguir a minha sina com muitas cicatrizes
rumo a um destino incerto, mas com a firme esperança de que
algo de bom ainda iria acontecer.
As feridas da alma proporcionaram-me a oportunidade de olhar
para a espiritualidade e a começar a entender, confiar e respeitas as forças
invisíveis que sustentam e equilibram o mundo
material. Graças a fé, consegui lidar
com mais facilidade com o gosto amargo da frustração, da eterna carência
de amor e necessidade de aceitação. As cicatrizes adquiridas nos inúmeros tropeços durante o meu caminhar, proporcionaram-me a
oportunidade de desenvolver a virtude da
paciência e o entendimento de que mistérios da vida nunca serão decifrados e
que aceitar e agradecer as dádivas que nos são oferecidas diariamente
é uma maneira serena de saborear
os acontecimentos corriqueiros e inevitáveis porque todos eles tem algo a ensinar e colaboram no
desenvolvimento da resiliência.
As primeiras semanas da jornada do já famoso “ Dendicasa” foram difíceis porque nenhuma pessoa, por
mais forte e sensata que seja, sente-se bem durante qualquer desastre global, principalmente uma
pandemia, cujo inimigo é invisível e pode estar em qualquer lugar o mundo inteiro só fala naquele que pode chegar a qualquer
instante. É um medo paralisante que nos
impede de usar a razão para fazer o que
é certo e bastante recomendado pela sabedoria popular:água, sol, movimento,
repouso e alimentação saudável para
fortalecer o sistema imunológico, portanto, não
está sendo fácil voltar-se prioritariamente para a manutenção da saúde
física e mental e, menos ainda,
redirecionar a energia para
apoiar os profissionais dos serviços essências com mensagens de carinho enviadas pelo atendimento ao
cliente das empresas e poder, de alguma maneira, por meio de um gesto simples,
retribuir o apoio que um dia obteve de
estranhos.
Mesmo na segurança do lar, com a certeza de
que todo dia dez do mês, seguramente o dinheiro da pensão vai estar na conta, o cérebro ainda resiste em aceitar que são novos tempo, a pandemia mudou o mundo
e somente sobreviverão aqueles que souberem
adaptar-se à nova realidade. A transformação da essência da nossa mente é lenta e exige bem mais que
humildade, mas também, paciência e determinação. Outro fator importante
para continuar na eterna luta pela vida e
perpetuação da espécie é o sentimento sincero de esperança de que a guerra será vencida e que a Covid-19
será apenas mais uma pandemia nos livros
de História e Biologia. Ninguém sabe quanto tempo está crise vai durar, mas
devemos estar preparados para receber o novo modo viver, quando enfim, pudermos
sair para as atividades corriqueiras e principalmente, para desfrutar dos
pequenos prazeres, que antes eram tão negligenciados e que o isolamento social nos mostrou o quão importante eles são. Feliz será o dia em que enfim, eu poderei
caminhar livremente, sem o uso da
máscara, pelas ruas da capital dos Bandeirantes, sentar em bancos de praças e
parques, tomar quentão mas quermesses
das igrejas, adquirir umas calorias a mais na
tradicional festa de Nossa Senhora da Achiropita, voltar a frequentar a praça de alimentação do
Shopping Metrô Santa Cruz e
principalmente, voltar ao convívio presencial com as pessoas que tanta falta
tem feito. Como iremos reinventar a nossa realidade cotidiana, quando pandemia passar? Isto, somente o tempo vai
dizer!
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