segunda-feira, 8 de junho de 2020

Diário do isolamento social- 83º

                                      Esta quarentena tem sido  uma espécie de  regaste de uma trajetória, de um  longo caminhar. Um passeio por entre as invitáveis emoções lembranças de minha  jornada  formada bem mais  por  estradas curvilíneos  e pedregosas do que  rodovias retilíneas e asfaltadas.  Foi um caminho que  se fez ao caminhar sozinha, no qual foram vivenciadas  tristeza, medo, fuga, humilhação e a tentativa da sedimentação de um sonho juvenil. Nesta trajetória solitária, foi necessário  a  humildade para aceitar  ajuda quando os pés sangravam  e os joelhos se curvam com o peso do corpo cansado. O auxílio veio de diferentes maneiras: um prato de comida,  um abrigo, a companhia em uma visita ao Pronto Socorro, uma limpeza na casa quando nem sequer andar conseguia sem o apoio das muletas. Anjos temporários que cruzaram o meu caminhar, no momento exato em que  o auxílio era imprescindível, ampararam-me  e a vida seguiu seu o seu curso natural. Por onde andarão eles? Criaturas  celestiais, disfarçadas de seres humanos,  a quem sou profundamente grata porque, com a ajuda  deles, as feridas foram curadas e  pude levantar-me  e seguir a minha sina com muitas cicatrizes rumo a um destino incerto, mas com a firme esperança de  que  algo de bom ainda iria acontecer.
            As feridas da alma  proporcionaram-me a oportunidade de olhar para a espiritualidade e a começar a entender, confiar e respeitas as forças invisíveis que sustentam e equilibram o mundo  material. Graças a fé, consegui lidar  com mais facilidade com o gosto amargo da frustração, da eterna carência de amor e necessidade de aceitação. As cicatrizes  adquiridas nos inúmeros tropeços  durante o meu caminhar, proporcionaram-me a oportunidade de desenvolver a virtude da  paciência e o entendimento de que  mistérios da vida nunca serão decifrados e que  aceitar e agradecer as dádivas  que nos são oferecidas  diariamente  é uma maneira serena de   saborear os acontecimentos corriqueiros e inevitáveis porque todos eles  tem algo a ensinar e colaboram no desenvolvimento da resiliência.
             As primeiras semanas da   jornada do já famoso “ Dendicasa”  foram difíceis porque nenhuma pessoa, por mais forte e sensata que seja, sente-se bem durante  qualquer desastre global, principalmente uma pandemia, cujo inimigo é invisível e pode estar em qualquer lugar  o mundo inteiro só fala  naquele que pode chegar a qualquer instante.  É um medo paralisante que nos impede de usar  a razão para fazer o que é certo e bastante recomendado pela sabedoria popular:água, sol, movimento, repouso  e alimentação saudável para fortalecer o sistema imunológico, portanto, não  está sendo fácil voltar-se prioritariamente para a manutenção da saúde física e mental e, menos ainda,  redirecionar  a energia para apoiar os profissionais dos serviços essências com mensagens   de carinho enviadas pelo atendimento ao cliente das empresas e poder, de alguma maneira, por meio de um gesto simples, retribuir   o apoio que um dia obteve de estranhos.
             Mesmo na segurança do lar, com a certeza de que todo dia dez do mês, seguramente o dinheiro da  pensão vai estar na conta,  o cérebro ainda  resiste em aceitar  que são novos tempo, a pandemia mudou o mundo e somente sobreviverão aqueles que souberem  adaptar-se à nova realidade. A transformação da essência da nossa mente  é lenta e exige bem  mais que  humildade, mas também, paciência e determinação. Outro fator importante para continuar na eterna luta pela vida e  perpetuação da espécie é o sentimento sincero de esperança  de que a guerra será vencida e que a Covid-19 será apenas mais uma  pandemia nos livros de História e Biologia. Ninguém sabe quanto tempo está crise vai durar, mas devemos estar preparados para receber o novo modo viver, quando enfim, pudermos sair para as atividades corriqueiras e principalmente, para desfrutar dos pequenos prazeres, que antes eram tão negligenciados e que o isolamento  social nos mostrou  o quão importante eles são.  Feliz será o dia em que enfim, eu poderei caminhar livremente, sem o  uso da máscara, pelas ruas da capital dos Bandeirantes, sentar em bancos de praças e parques,  tomar quentão mas quermesses das igrejas, adquirir umas calorias a mais na  tradicional festa de Nossa Senhora da Achiropita,  voltar a frequentar a praça de alimentação do Shopping  Metrô Santa Cruz e principalmente, voltar ao convívio presencial com as pessoas que tanta falta tem feito. Como iremos reinventar a nossa realidade cotidiana, quando  pandemia passar? Isto, somente o tempo vai dizer!

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