quarta-feira, 3 de junho de 2020

Diário do isolamento social - 78º dia

                              Amanheceu frio e nublado com vestígios de chuva noturna e sem a menor perspectiva que algo de divertido aconteça  no decorrer do dia, apenas as inevitáveis tarefas de preparar  o  alimento e limpar a casa. Nesta quarentena há quem preferira pedir marmita, mas somente em pensar na mão de obra  do ato da entrega já desanimo: Colocar máscara, passar álcool gel nas mãos,  efetuar o pagamento, receber a encomenda, retirar a máscara e lavá-la, limpar maçaneta da porta, embalagem,  limpar  a mesa, lavar mão e somente então poder sentar-se à mesa para  saborear a refeição,  que já está fria, é de fazer perder o apetite   até o adolescente mais esfomeado.
            Antes deste isolamento social, eu gostava de ficar casa porque eu desfrutava de várias atividades no Clube, mesmo quando as colegas  resolviam prolongar o feriado, lá estava eu na piscina aquecida, exercitando-me e saboreando  o prazer de estar  na água, apenas esperando  o tempo passar, sem as conversas corriqueiras e a  instrutora sempre a nos lembrar de respirar e não forçarmos além de nosso limite. Não tenho preguiça de levantar cedo de caminhar e praticar natação, sei da importância da atividade física em todas as faixas etárias, principalmente, na terceira idade, quando todas as nossas habilidades, como equilíbrio e resistência física vão se definhando lentamente. Estou  presa em meu lar e anseio pelo último dia da quarentena, quando, enfim, a  imprensa noticiará que na cidade, não há nem um caso suspeito da Covid-19. Quando este dia chegar, haverá uma explosão de alegria e com certeza, a rua  ficará repleta de pessoas, bares e restaurantes cheios e sonoras gargalhadas  ecoarão pelos ares, misturando-se aos gritos dos cozinheiros e garçons, ávidos para atenderem com rapidez aos clientes, que enfim, voltaram  para divertirem e fazer  girar a economia do país. Infelizmente, muitos  estabelecimentos comerciais não conseguirão abrir suas portas quando tudo isso passar, somente em  shopping, 04 em 10 estabelecimento, não  reabrirão suas portas  porque não conseguiram apoio do governo e condições justas de financiamento bancário. Enquanto uns  comemorarão, outros, continuaram sofrendo com as consequências da pandemia: fome, miséria, desespero e aumento crescente da violência nas ruas e nos lares.
            Em tempos difíceis  surgem  pessoas habilidosas e com espírito empreendedor que estão destacando-se  na dificuldade e  estão fazendo pão caseiro, brigadeiro, salgadinho, bolo e marmitex e  oferecendo pelo interfone e redes sociais para os moradores do condomínio e já pensando em abrir o  negócio próprio, quando tudo passar. Existe também aquelas avós amorosas que estão aproveitando o tempo de calmaria para tricotar  agasalhos quentes e personalizados para os  seus netinhos. E, como não poderia deixar de ser, existe também, pessoas como eu, sem habilidades, espírito empreendedor e o mais triste, sem descendentes, que ficam a janela, esperando o findar de mais um dia.
            Quando os olhos já estão cansados da tela do televisor, só nos resta olhar pela janela e observar a vida passar em um ritmo lento, um carro, um ciclista,  motoqueiro, eventuais pedestres, e o ritmo das reformas  nas casas vizinhas. Parece que os moradores fizeram um pacto para iniciarem ao mesmo tempo os reparos em suas residências  e arrepiando-me de frio, fico a observar o vai e vem dos pedreiros com suas latas de massa nos ombros a subir e descer andaimes. Ah! Como espero pelo fim da pandemia e a volta ao ritmo natural  da vida, com liberdade de ir e vir, sem esta profilaxia exagerada. Que a vida retome o seu  dia a dia com alegria e leveza. Para muitos,  este período deixou  a lição de que diante da adversidade, não precisamos fazer as malas e mudar, mas lutar para transformar a realidade  e acima de tudo, confiar na ciência e fazer o trabalho diário de formiguinha, porque cada um fazendo a sua parte, por menor que seja, se torna grande  junto ao todo universal.
Quarta-feira, 03 de junho de 2020   
Temperatura: 22º
Umidade relativa do ar:79%

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