quinta-feira, 11 de junho de 2020

Diário do isolamento social - 86 º dia

                      O impiedoso coronavírus interferiu até nas tradições religiosas do país. Hoje é dia de Corpus Christi e não haverá tapetes enfeitando as ruas e procissões, apenas orações solitárias ou em família nos lares e as já tradicionais live, para aqueles que tem acesso a alguma plataforma como a Zoom. Está tradição de sair às ruas junto aos paroquianos já está de tal maneira arraigada em mim, que não consigo sequer pensar na possibilidade de, na solidão de meu lar, dobrar os joelhos e elevar o meu pensando aos céus. Corpus Christi sem tapetes, até então, era algo inimaginável. Toda criança, católica apostólica romana durante a catequese, aprende que esta comemoração é para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento e isto é bom porque nos dá força para enfrentar os males oriundos de causas naturais e os piores, aqueles que nascem nas mentes dos homens que não seguem os ensinamentos de Jesus, principalmente o que diz: “ Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”
Há cidadãos cruéis e esta é uma verdade indiscutível, haja vista o comportamento de alguns durante a pandemia, como os proprietários de laboratórios farmacêuticos, que no auge da pandemia, com a economia fechada, aumentaram em 700% o preço de medicamentos usados para sedar os pacientes que serão entubados. O alto valor da medicação está bem acima dos orçamentos de algumas prefeituras e o sofrimento, como sempre, recai sobre os mais pobres. Há informações circulando nas redes sociais, que em um hospital, cirurgias foram canceladas porque não havia o sedativo. Uma pessoa em crise de apendicite pode esperar? Uma mulher em trabalho de parto complicado pode esperar por uma cesariana?
E não para por aí, é crescente o número de denúncias de superfaturamento na venda de máscaras, respiradores , álcool gel e outros insumos e ainda há aqueles produtos em que a má qualidade não permite que sejam usados. Sempre denúncias! Limpezas inadequadas em Posto do Samur e Hospitais de Campanhas. Nem mesmo no dia de Corpus Christis, notícias boas não foram veiculadas porque a reabertura da economia, mesmo com tantos protocolos não traz grandes esperanças porque a população não está levando a sério as recomendações dos profissionais de saúde e milhares de pessoas estão circulando sem máscara, principalmente pela rua 25 de Março, a preferida das sacoleiras e dos paulistanos, e o pior, sem intenção de comprar, apenas observando os preços e alegrando os olhos com o colorido peculiar das lojas de comércio popular.
Intrigante é que os lojistas tem que seguir um protocolo rigoroso para poder abrir as portas, mas não há agentes sanitários abordando aqueles que circulam livremente sem o uso de máscaras. A frota de ônibus não está 100% nas ruas porque um percentual alto de motoristas estão afastados, uns por Covid-19 e outros por fazerem parte do grupo de risco, mas o rodízio de veículos está em vigor. Eu não consigo entender esta lógica: Menos carros nas ruas, mais pessoas nos transportes públicos e o segundo local de maior risco de contaminação é o transporte público que perde apenas para os hospitais. Estou confusa! Já não sei o que mais perigoso: uma pessoa ficar sozinha, dentro de seu carro, presa no trânsito ou aglomerada num ponto de ônibus ou em um vagão do Metrô?
Também não consigo entender porque os parques estão fechados com a justificativa de evitar aglomerações, porém, manifestações, contra ou a favor do Presidente Bolsonaro acontecem todos os finais de semana e em locais separados apenas para evitar confronto entre os manifestantes. Difícil de compreender!

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