sábado, 20 de junho de 2020

Diário do isolamento social.- 95º dia

                                    Independente das mazelas  humanas  a natureza segue o seu ritmo e o inverno chegou e com ele a esperança de  que a curva do coronavírus achate e que a vida retome o seu curso antes da primavera. Não sei como será esta estação porque ainda estamos em quarentena, com abertura do comércio  e prestação de serviço  em horários diferenciados, e nestas condições,   imagino o fluxo das pessoas circulando pela cidade com cheiro de ano passado  de qualquer closet. Com a crise financeira que  o país inteiro enfrenta, poucos são aqueles que podem se dar ao luxo de  lavar as roupas de inverno e comprar novas é não é uma boa alternativa  porque  não houve lançamento de novas coleções.  
            É de uma beleza impar as manhãs com neblina serpenteando entre todos os espaços vagos  e destacando no  branco pontos coloridos formandos por gorros, cachecóis, casacos de lã coloridos e  charmosas botas de couro. É a estação da elegância!   Dos confins dos armários são desenterradas antigas agulhas, herança da avó e  da tríade formada por agulhas, novelos e mãos habilidosas nascem peças bonitas tricotadas com afeto durante o lento passar das horas dos curtos e frios dias do inverno.
            Inverno  é a estação propícia para cometer o pecado da gula. Ah! As quermesses! Como resistir aos caldos, quentão e o   fondue, marca registrada do inverno. É inadmissível deixar de lado as comidas gordurosas e deliciosas; quanto aos quilos a mais na balança, serão perdidos na primavera, em corridas pelos parques e  maçantes horas nas academias. Não há como negar que  nos dias frios no aconchego do lar,  dormir torna-se um prazer que vai além do  repouso necessário para a revitalização biológica do corpo. Dormir é tudo que me resta. Estamos no ápice da pandemia.
            Este inverno será diferente e como pertenço ao grupo de risco de contágio pelo coranavírus, mesmo com a abertura progressiva da economia, o bom senso recomenda que eu permaneça reclusa a reviver em minha memória a deliciosa sensação de sair de casa bem agasalhada e sentir o vento cortante, enquanto caminho rumo  a um festival de  inverno onde se pode ouvir uma boa música e ver gente bonita e elegante se acotovelando e se desculpando sem a menor preocupação com o terrível distanciamento social. Apreciar a beleza dos ipês que acalantam e trazem belezas aos olhos dos transeuntes apressados. Por estar privada parcialmente de minha liberdade de ir e vir  temo que a tristeza se apodere de meu coração.
             Gripe, resfriado, bronquite, rinite, sinusite e pneumonia são freqüentes no inverno e  somado a estas doenças, agora temos a Covid-19 que nos privou do melhor tratamento: o afago das pessoas queridas.  Esta será a estação da solidão  que perdurará até que um raio de sol  em forma  de vacina,  ilumine  e afaste o fantasma da morte que ronda os  lares dos  brasileiros.  Acolhi a palavra vacina como um mantra protetor e aceito a minha própria condição de vulnerabilidade. Não estou feliz nem triste, apenas  esperançosa com a possibilidade do fim da politização da pandemia e da criação de  um eficiente protocolo capaz de  salva a vida de todos pacientes.
            Que bom seria se aqueles que possuem o poder de decidir sobre as melhores ações a serem executadas para findar a pandemia,  rompessem definitivamente o ciclo de interesses próprios e políticos/partidários e decidem pelo bem da nação, pela cura. Dizem as pessoas que vivem no campo que  a missão do inverno é renovar   a esperança  e que ele  contém as sementes que germinarão da primavera e que florescera saúde e justiça social.

Nenhum comentário:

Postar um comentário