Independente das mazelas humanas
a natureza segue o seu ritmo e o inverno chegou e com ele a esperança
de que a curva do coronavírus achate e
que a vida retome o seu curso antes da primavera. Não sei como será esta estação
porque ainda estamos em quarentena, com abertura do comércio e prestação de serviço em horários diferenciados, e nestas condições, imagino o fluxo das pessoas circulando pela
cidade com cheiro de ano passado de
qualquer closet. Com a crise financeira que
o país inteiro enfrenta, poucos são aqueles que podem se dar ao luxo de lavar as roupas de inverno e comprar novas é
não é uma boa alternativa porque não houve lançamento de novas coleções.
É de uma beleza impar as manhãs com
neblina serpenteando entre todos os espaços vagos e destacando no branco pontos coloridos formandos por gorros,
cachecóis, casacos de lã coloridos e charmosas botas de couro. É a estação da elegância! Dos confins dos armários são desenterradas
antigas agulhas, herança da avó e da tríade
formada por agulhas, novelos e mãos habilidosas nascem peças bonitas tricotadas
com afeto durante o lento passar das horas dos curtos e frios dias do inverno.
Inverno é a estação propícia para cometer o pecado da
gula. Ah! As quermesses! Como resistir aos caldos, quentão e o fondue, marca registrada do inverno. É inadmissível
deixar de lado as comidas gordurosas e deliciosas; quanto aos quilos a mais na
balança, serão perdidos na primavera, em corridas pelos parques e maçantes horas nas academias. Não há como
negar que nos dias frios no aconchego do
lar, dormir torna-se um prazer que vai
além do repouso necessário para a
revitalização biológica do corpo. Dormir é tudo que me resta. Estamos no ápice
da pandemia.
Este inverno será diferente e como
pertenço ao grupo de risco de contágio pelo coranavírus, mesmo com a abertura
progressiva da economia, o bom senso recomenda que eu permaneça reclusa a
reviver em minha memória a deliciosa sensação de sair de casa bem agasalhada e
sentir o vento cortante, enquanto caminho rumo
a um festival de inverno onde se
pode ouvir uma boa música e ver gente bonita e elegante se acotovelando e se
desculpando sem a menor preocupação com o terrível distanciamento social. Apreciar
a beleza dos ipês que acalantam e trazem belezas aos olhos dos transeuntes
apressados. Por estar privada parcialmente de minha liberdade de ir e vir temo que a tristeza se apodere de meu coração.
Gripe, resfriado, bronquite, rinite, sinusite
e pneumonia são freqüentes no inverno e
somado a estas doenças, agora temos a Covid-19 que nos privou do melhor
tratamento: o afago das pessoas queridas. Esta será a estação da solidão que perdurará até que um raio de sol em forma
de vacina, ilumine e afaste o fantasma da morte que ronda
os lares dos brasileiros. Acolhi a palavra vacina como um mantra
protetor e aceito a minha própria condição de vulnerabilidade. Não estou feliz
nem triste, apenas esperançosa com a
possibilidade do fim da politização da pandemia e da criação de um eficiente protocolo capaz de salva a vida de todos pacientes.
Que bom seria se aqueles que possuem
o poder de decidir sobre as melhores ações a serem executadas para findar a
pandemia, rompessem definitivamente o
ciclo de interesses próprios e políticos/partidários e decidem pelo bem da
nação, pela cura. Dizem as pessoas que vivem no campo que a missão do inverno é renovar a esperança
e que ele contém as sementes que
germinarão da primavera e que florescera saúde e justiça social.
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