São nove horas e trinta minutos
e ainda estou com a luz acessa porque o
céu está coberto por densas nuvens
escuras e uma garoa fina cai sem cessar. Faz frio e eu estou só neste domingo e
imersa em pensamentos que recusam a
resgatar as lembranças dos tempos anteriores a pandemia e que parecem tão
distantes, quase três meses em quarentena e tenho a sensação de que são trinta
anos. Longos tem sido os dias e as
noites!
Eu penso naquelas mães que assim que abriu o comércio, saíram ás compras ávidas por encontrar roupas boas e
baratas para os pequenos que cresceram e já não tinham mais o que usar e com as
mudanças repentinas do tempo, uma característica marcante da capital dos
Bandeirantes, os pequerruchos estavam passando frio. As ruas de comércio popular ficaram lotadas de sacoleiras, em busca de mercadorias para tocarem os seus negócios
e refazerem as finanças, ambas enfrentaram
transporte lotado, aglomerações correndo o risco de se contaminarem e
levarem o maldito vírus para a família,
mas a vida precisa seguir os seu curso, o que elas podiam fazer? São mulheres/mães
que lutam até exaurirem suas forças pelo
bem da família!
Eu penso nos lojistas e proprietários de shopping
que já estão autorizados a funcionar
apenas quatro horas por dia e com normas
sanitárias mais rígidas do que as hospitalares, será que eles tem condições de arcar com os custos de todos
dos insumos exigidos e mais os funcionários
para controlarem a entrada de pessoas e uma característica tradicional dos paulistanos é o apreço por uma
volta em shopping apenas para arejar a cabeça.
Eu penso nos manifestantes que
independente do tempo e da quarentena saem às ruas para protestarem contra ou a
favor do governo, lotam a av. Paulista,
o Largo da Batata, o Vale do Anhangabaú, com cartazes e gritando
palavras de ordens. Quais serão os cuidados que eles tomam ao regressaram aos seus lares? Eles que, dentro de sua convicção, acreditam
estar lutando pelo bem de todos, será
que ao chegar em casa, eles deixam os sapatos na entrada, tomam banho, lavam a roupa, a máscara, desinfetam as
maçanetas, os sapatos, bolsas e carteiras? Estar em um grupo gritando palavras
de ordem é fácil, difícil é o cuidado diário
para se proteger e proteger o próximo, a rotina de estudo, trabalho, prática
religiosa, a solidariedade diária. Palavras o vento leva, mas as atitudes diárias
transformam.
Eu penso naqueles que
estão preocupados em aumentar a frota de táxis adaptados para pessoas
portadoras de necessidades especiais e fico a indagar se os passageiros em potencial terão condições
financeiras para arcar com os custos deste meio de transporte e poder enfim,
usufruir do direito de ir e vir com
mais conforto? Os taxistas são uma das
categorias mais prejudicadas pela pandemia, será que há profissionais em condições de rodar com um veículo adaptado?
Eu penso naqueles 25.000 advogados que estão entrando com
pedidos a O.A.B, solicitando um auxílio de R$100,00, porque estão em
dificuldades financeiras. Outrora, ser advogado era símbolo de status social e
boa conta bancária e hoje, estão em situação de penúria em decorrência do
fechamento da economia e escassez de clientes. Fome e incerteza ronda até as famílias dos universitários!
Eu penso nas vítimas dos falsos médicos
que estão atuando em hospitais e atendendo
pacientes com sintomas de Covid-19.
Onde está a falha no departamento de recursos humanos que não percebe que o profissional não dispõe
dos conhecimentos necessários para assumir a função e que os documentos são
falsos? O hospital do Irmã Dulce, em Praia Grande , SP,
contratou um profissional que clonou os
documentos de um oftalmologista que
trabalha em Bogotá, Colômbia, e assinou o atestado de óbito de um paciente, que
segundo ele, morreu em decorrência da Covid-19. O paciente poderia ter sobrevivido
se tivesse sido atendido por um médico autêntico porque o protocolo da cidade é
eficiente, o número de cura é de 92% e
vai saber se os 8% de óbitos são de
responsabilidade deste falso médico?
Eu penso na irresponsabilidade e ganância
dos profissionais de alguns cemitérios de São Paulo que, mediante propina de
aproximadamente R$3.500,00 , permitem velórios abertos aos familiares de vítimas
do coranavírus. Tanto os que pagaram
quanto os que receberam estão errados. Será que a dor da perda do ente querido é
grande ao ponto de proporcionar o discernimento da família que eles
podem ser os próximos se insistirem em
desrespeitar as normas de prevenção
estipuladas por epidemiologistas, virologistas e médicos?
Com os armários
vazios e sem a possibilidade testar novas receitas e com as ruas lotadas de pessoas sem máscaras e
meliantes ávidos para atacar aposentados, pensar e esperar o fim desta
quarentena sãos as únicas coisas que estão
verdadeiramente à minha disposição.
Domingo,
14 de junho de 2020
Temperatura:
22º graus
Umidade
relativa do ar 67% e lá fora continua a garoa fina
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