quinta-feira, 23 de abril de 2020

Diário do isolamento social- 37º dia

                       
            Os dias seguem com a lentidão de uma boiada cansada, faminta e sedenta em uma estrada empoeirada, em um final de tarde quente. Eu estou cada dia mais desanimada, sem disposição para os estudos, afazeres domésticos,  até descer o lixo é um sacrifício, estou fazendo-o a cada dois dias, não por falta de tempo, que alias, é o que eu mais tenho.  Sobra tempo e falta ânimo. Acredito que ainda não sucumbi em uma depressão profunda porque tenho assistido diariamente  vídeos da palestrante Márcia Luz, embora não tenham  acrescentando muito, em termos de aprendizagem de conteúdo novo, diferente do  que eu já  tenha lido, porém,  o entusiasmo dela, a sua maneira firme e direta de falar e as perguntas pertinentes, tem sido de grande valia, como esta: “ Qual o meu objetivo a ser alcançado até o final do ano?” Confesso que fiquei  bem incomodada com este questionamento porque me dei conta o quão vazia é a minha vida. Eu não tenho nenhum objetivo em mente, nem sequer  havia pensado nisso na virada do ano como é de práxis e o mais lastimável é que, durante toda a minha vida, eu não persegui nenhum sonho com  afinco, somente corri atrás do mínimo para manter as contas em dia e comida na mesa e  sabiamente disse Márcia Luz, colhi o que plantei. Plantei pouco e consequentemente, pouco colhi, agora, lamentar os erros passados não irá levar-me a lugar  nenhum. Embora eu já não tenha idade para  iniciar uma nova carreira profissional,  começo a pensar seriamente em fazer algo de útil para mim, para o próximo e para o planeta, mas o que? Outra pergunta instigante foi: “O que eu perco se não mudar o meu comportamento atual?”  Esta pergunta é fácil de responder: Eu perco a solidão, o tédio da  longa espera de apenas aguardar a  hora de minha partida para a terra dos pés juntos, a ruminação de erros passados, a inveja daquelas  pessoas determinadas e bem sucedidas, as  horas entediantes fofocando com os vizinhos. É realmente, tenho muito a perder!  E cadê a disposição para  iniciar um processo de mudança?
            Hoje soube pouca coisa do que acontece além dos muros do meu  condomínio. Apenas que os bairros de Cidade Tiradentes e Sapopemba, aqui na capital, SP, estão com um alto índice de pessoas infectadas com o Covid-19 e o pior, os moradores não estão preocupados  com o  avanço do vírus, parece que para eles, é apenas mais uma  dificuldade   que terão que enfrentar, entre tantas da vida diária deles. A pessoa entrevistada disse que parece que todos estão em férias, estão  organizando bailes, churrasco, como se o inimigo estivesse a centena  de milhas deles, mas não é verdade, ele já chegou e pretende ter uma longa  e  funesta estadia entre os paulistanos. Quanto ao carro de som da Prefeitura, que deveria estar percorrendo os bairros periféricos  levando  informações  para conscientizar as pessoas da  importância da quarentena, ninguém ouviu, ninguém viu.  Eu fiquei deprimida com a reportagem sobre a  tradicional Galeria do Rock, que fica no centro; infelizmente ela já contabiliza 30 lojas fechadas e 400 demissões. É triste saber que mais 400 pessoas irão para a fila do desemprego, da  geladeira vazia e dos desejos reprimidos e postergados sabe lá Deus até quando.
            Triste também é saber que em meio a pandemia que assola  o mundo, quando o país está quebrando para conter o avanço do Covid-19 e  auxiliar os mais vulneráveis, há pessoas  usando de má fé e  fazendo  o cadastro para receber o auxílio emergencial, sem preencher os critérios estabelecidos pelo governo. De acordo com a  pessoa  entrevistada, que eu não  prestei atenção no nome e  cargo,  menores de idade, mulheres recebendo salário maternidade e também, mulheres casadas, cujos maridos estão trabalhando, estão tentando receber este dinheiro, congestionando o sistema e prejudicando a nação. São Jorge guerreiro, bota juízo na cabeça destas pessoas.
           

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