Meu
círculo de amizade sincera consiste somente de gente com a faixa etária próxima
à minha,
ou seja, somente de pessoas que nasceram até a década de 1960, portanto,
todas estamos em
quarentena. Dentre estas amizades, Nerita é a mais querida,
com quem eu posso conversar livremente sobre todos os assuntos, mas estamos
separadas, cada uma em sua “toca” e com
ela não é recomendado o uso de das novas
tecnologias que aproximam pessoas porque ela
não está entre as centenárias privilegiadas que não
tiveram os órgãos auditivos danificados pelos anos, resumindo, ela está
praticamente surda e recusa-se veemente,
a usar aparelho. Apesar de idosa é uma pessoa ativa e sempre apreciou muito os
arranjos de flores, em especial, ikebana, e faz aulas a mais de trinta anos, estando agora,
reclusa, durante a quarentena fico a imaginar a sua solidão sem uma flor
natural a embelezar o seu lar.
Em um ímpeto de generosidade, pensei
em lhe enviar flores e pesquisei uma
floricultura que trabalha com venda on-line e, eu, que estou acostumada a
comprar na feira, um vaso de crisântemo por R$15,00, não encontrei nada com preço
inferior a R$60,00 e sem o frete, que nem arrisquei a consultar o valor. Mas a
internet, todos sabem como é, parece que ela adivinha o seu desejo, a sua dificuldade e lhe bombardeia com propagandas exatamente daquilo que você nem
sabia que existia, que precisava, que desejava. Entre tantas ofertas, uma chamou a minha atenção,
A Rosa encantada, produzida na Colômbia. A propaganda garante que com os
devidos cuidados, ela dura até três anos
porque passa por um processo químico que
garante que as pétalas não murchem rapidamente. O preço é salgado, acima de
R$100,00, mas vale. Imagine ter uma
rosa natural em casa, durante três anos!
Dependendo de como estiver o meu saldo, comprarei uma para mim e outra para
ela, claro que será a mais barata que eu encontrar, na cor amarela, cor do sol, das estrelas e do outro, cor que estimula a criatividade,
a inteligência. Vou gastar o que não posso, más só de pensar na felicidade
dela, que está reclusa e
do nada, recebe uma rosa. Eu também
estou feliz só de pensar na minha rosa encantada amarela, alegrando meus dias tristes e completando
minha felicidade porque dias melhores chegarão dentro em breve.
Não houve nenhuma novidade em meu
dia a não ser o malabarismo na cozinha para conseguir harmonizar os poucos mantimentos que tenho no armário e
fazer algo diferente, e como o abacate
comprado na feira, sábado passado,
amadureceu, para o café da manhã, fiz guacamole bem simples
porque nem salsinha havia na geladeira. E no
almoço, procurei uma receita vegana e fiz
de mistura, casca de banana a milanesa com jiló refogado, até os ovos acabaram
e para o jantar, deu para improvisar um macarrão com acelga. Está difícil!
Quando eu era criança, frequentava à
minha residência, uma Senhora evangélica,
destas bem radicais e ela dizia sempre que “ chegaria um tempo em que o
homem teria dinheiro e não haveria o que comprar” Claro que eu ria e sendo bem
sincera, jamais imaginei que esse dia
chegaria, e ele chegou! Eu tenho dinheiro e falta
produtos em casa porque eu não posso
sair a toda hora e os locais que entregam, tem um valor mínimo de
compras, para entregas em domicílio, sem
cobrar frete. Em tempos de incertezas,
é preciso economizar até os centavos. Ainda estamos no outono, e vírus apreciam os invernos frios e chuvosos. Santa Rosa Lima, padroeira da América Latina,
olhai por nós!
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