quarta-feira, 22 de abril de 2020

diário do isolamento social- 36º dia

                           

            O meu alento consiste na contagem regressiva para  o término da  quarentena e ainda faltam dezoito dias. Queria  ser criança novamente, para que no dia tão esperado,  poder sair correndo pelas  ruas gritando: Liberdade! Liberdade! Liberdade! Cansei da televisão, do rádio, do celular, do interfone, nada,  nada  dá-me  um pouco de alegria. Tenho tentado dar continuidade ao estudo do inglês, mas está bastante cansativo e improdutivo.  Limpar a casa, arrumar armários e gavetas é para mim um verdadeiro tormento. Cozinhar, que até então, era a atividade mais prazerosa está  difícil porque falta ingredientes para as receitas. Hoje eu encontrei na internet a receita  da tradicional sopa paraguaia, mas não tive como  preparar  porque o  queijo acabou faz dias. Improvisei um cuscuz paulista, e acabei perdendo o controle e comi bem mais do que devia e agora estou preocupada com a balança.
            A minha dor de garganta, embora de leve, ainda persiste. Tenho medicamentos em casa e eu estou receosa de tomar para não camuflar sintoma de uma possível Covid-19. Nesta época do ano, sempre tenho crises alérgicas, faringite, laringite. Pode ser apenas mais  uma doença  corriqueira, mas  em tempos de pandemia, tudo parece bem maior do que é. É medo da automedicação, de ir ao Pronto Socorro e entrar ruim e sair pior. Os Postos de Saúde  não estão atendendo e   consulta particular está  acima de minhas possibilidades. O jeito é apelar para as tradicionais receitas de famílias e assim, tomei chá de casca de cebola. Para ser bem sincera, não sei para que serve, mas tenho vaga recordação de ver minha avó preparar para a netaiada, quando  nós  estávamos   espirrando e tossindo. Agora é torcer para amanhecer bem mais disposta.
            A ociosidade, decorrente da quarentena,  traz reflexões inusitadas, que jamais teríamos em tempos normais. Passei o dia  a divagar  qual tipo de morte é menos sofrido. Morrer contaminado pelo Covid-19, de  fome ou  vítima de  violência?  Infelizmente, milhares de pessoas   vislumbram em seu horizonte, somente  uma destas três tétricas  opções, o que é  surreal em um país abençoado por Deus  com abundância de sol, água doce, terras aráveis e campos para  pecuária. Eu gostaria de  saber fazer alguma coisa para amenizar o desespero    daqueles que estão em situação da mais completa penúria, nem sequer posso sair para oferecer o meu abraço porque sou do grupo de risco. Este sentimento de impotência diante da fragilidade da vida  é doloroso. O trio das trevas avança sem clemência, liderado pelo Covid-19 e seguido pela fome e violência. Que Nossa Senhora cubra a nação brasileira com o seu manto e conforte o coração dos mais  frágeis e que Santo Expedito, como bom soldado,  agilize o fim da carestia e meu San Martin de Porres, cure  não somente  a nação brasileira, mas todas as nações do mundo.                           

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