O meu alento consiste na contagem
regressiva para o término da quarentena e ainda faltam dezoito dias. Queria ser criança novamente, para que no dia tão
esperado, poder sair correndo pelas ruas gritando: Liberdade! Liberdade!
Liberdade! Cansei da televisão, do rádio, do celular, do interfone, nada, nada dá-me um pouco de alegria. Tenho tentado dar
continuidade ao estudo do inglês, mas está bastante cansativo e improdutivo. Limpar a casa, arrumar armários e gavetas é
para mim um verdadeiro tormento. Cozinhar, que até então, era a atividade mais prazerosa
está difícil porque falta ingredientes
para as receitas. Hoje eu encontrei na internet a receita da tradicional sopa paraguaia, mas não tive
como preparar porque o queijo acabou faz dias. Improvisei um cuscuz
paulista, e acabei perdendo o controle e comi bem mais do que devia e agora
estou preocupada com a balança.
A minha dor de garganta, embora de
leve, ainda persiste. Tenho medicamentos em casa e eu estou receosa de tomar
para não camuflar sintoma de uma possível Covid-19. Nesta época do ano, sempre
tenho crises alérgicas, faringite, laringite. Pode ser apenas mais uma doença
corriqueira, mas em tempos de
pandemia, tudo parece bem maior do que é. É medo da automedicação, de ir ao
Pronto Socorro e entrar ruim e sair pior. Os Postos de Saúde não estão atendendo e consulta particular está acima de minhas possibilidades. O jeito é
apelar para as tradicionais receitas de famílias e assim, tomei chá de casca de
cebola. Para ser bem sincera, não sei para que serve, mas tenho vaga recordação
de ver minha avó preparar para a netaiada, quando nós estávamos
espirrando e tossindo. Agora é torcer
para amanhecer bem mais disposta.
A ociosidade, decorrente da
quarentena, traz reflexões inusitadas,
que jamais teríamos em tempos normais. Passei o dia a divagar
qual tipo de morte é menos sofrido. Morrer contaminado pelo Covid-19,
de fome ou vítima de
violência? Infelizmente, milhares
de pessoas vislumbram em seu horizonte,
somente uma destas três tétricas opções, o que é surreal em um país abençoado por Deus com abundância de sol, água doce, terras aráveis
e campos para pecuária. Eu gostaria de saber fazer alguma coisa para amenizar o
desespero daqueles que estão em situação
da mais completa penúria, nem sequer posso sair para oferecer o meu abraço
porque sou do grupo de risco. Este sentimento de impotência diante da
fragilidade da vida é doloroso. O trio
das trevas avança sem clemência, liderado pelo Covid-19 e seguido pela fome e
violência. Que Nossa Senhora cubra a nação brasileira com o seu manto e
conforte o coração dos mais frágeis e
que Santo Expedito, como bom soldado,
agilize o fim da carestia e meu San Martin de Porres, cure não somente a nação brasileira, mas todas as nações do
mundo.
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