sexta-feira, 5 de abril de 2019

Lanna, a procrastinadora


          Procrastinação é a palavra correta para definir Lanna. Seu sonho de aprender inglês originou-se na infância e assim que começou a trabalhar, passou  a comprar fascículos semanais  destinados às pessoas que não podiam frequentar escola especializada e com esta nova metodologia: “aprenda sozinho” poderiam estudar em casa nas horas vagas  sem sacrificar o orçamento doméstico. Excelente opção que as editoras proporcionavam aos menos favorecidos,  qualquer um poderia  realizar o desejo de aprender  o idioma utilizado no mundo dos negócios e assim, ampliar suas oportunidades no mercado de trabalho. Ela comprou todos os  folhetos da coleção e sequer folheou-os para ver o conteúdo e decidiu optar por um aulas presenciais. Matriculou-se em uma instituição próximo à sua residência para economizar em condução e tempo, comprou o material, porém, não freqüentou as aulas. Com o advento da internet, pensou que finalmente o vento  sopraria a seu favor porque poderia assistir  filmes legendados, ouvir  pronúncia correta e acompanhar a  tradução pelas legendas, mas sempre optava pelos dublados.
          Lanna sempre sonhou aprender a tocar um instrumento  musical, optou pelo violão, comprou um, matriculou-se em uma escola e frequentou apenas um mês e o violão ficou por anos, encostado em um quanto qualquer de sua residência, até que um dia, teve a coragem de doá-lo para ser rifado em um evento beneficente da igreja, porém, até hoje lamenta não ter aprendido a tocar sequer a nota lá.
          De nascimento, Lanna foi agraciada por Deus por  ter nascido com uma boa extensão vocal: soprano-, porém bem desafinada,  verdade que ela também sonhou em  cantar e surpreender às pessoas com o seu talento, e mais uma vez investiu seu suado dinheiro em aulas que jamais frequentou e até  hoje vive atormentada pelo desejo de soltar a voz e o medo de ferir  a sensibilidade auditiva da platéia.
          Deslizar pelos salões de baile nos braços de garbosos rapazes é outro sonho não realizado. Verdade que ela tentou, chegou até a contratar um professor particular, e como não podia ser diferente, não passou da primeira aula e  eventos dançantes, até hoje tem seu lugar cativo nas cadeiras, bebericando cerveja e adquirindo uns quilos a mais com as porções, uma maneira eficaz de reprimir a dor do fracasso de mais um desejo não realizado.
          Claro que Lanna também tentou   aprovação em concurso público, investiu dinheiro em  inscrições, apostilas , somente  não teve disposição para estudar e amarga seus dias em trabalhos pesados e mal remunerados.
          Diante da impossibilidade de contratar   um coach profissional, apelou para o que estava dentro de suas possibilidades: livros de autoajuda, porém, os poucos que leu, não teve ânimo para praticar os ensinamentos.
          Sem condições financeiras para  frequentar semanalmente o consultório de  um psicólogo por longos anos, apelou para tratamento alternativo, assim que soube de uma senhora que trabalhava com medicina  indígena tradicional, economizou  por seis meses, marcou horário e lá compareceu em busca de um milagre   que fosse capaz de fazer desaparecer em uma nuvem de fumaça  a sua fiel  companheira: a procrastinação e lá chegou com uma hora de antecedência tamanha era a sua ansiedade...

Continuação no próximo post
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