É domingo de
quaresma! O dia amanheceu chuvoso, e sem dinheiro na carteira para ir ao
supermercado comprar os produtos necessários para um almoço especial ou para ir
a um restaurante familiar, Soraia, para não ter tempo de refletir sobre o vazio de sua vida, opta por fazer uma limpeza nos armários da cozinha em busca de
visitantes indesejados. Enquanto abaixa, levanta, puxa e empurra, esfrega e
seca, tira utensílios e os recoloca em seus devidos lugares o corpo cansa e a
noite o sono chegará com mais facilidade, sem a necessidade dos remédios tarja
preta.
Ela não é
adepta da tradição budista, que acredita que a limpeza do ambiente é um exercício
de aprimoramento espiritual, razão essa que faz com que os monges dedicam horas de seu dia em faxina, sem considera-la como um fardo. Menos
ainda acredita na sabedoria popular que
afirma que varrer a casa, tirar o pó dos
móveis e colocar cada objeto em seu lugar,
é uma maneira de retirar a
sujeira da alma e harmonizar as relações
domésticas e que esta atividade deve ser feita pela manhã, assim, proporcionará
uma sensação de bem estar o dia inteiro. Ela o faz por solidão, por carestia, a sua condição financeira não lhe permita preencher os seus dias em um trabalho
voluntário, porque tem que arcar com os custos do transportes e um gasto a mais, está além
de suas posses.
Soraia não
precisa lamentar em passar o dia de descanso, segundo a tradição judaica/cristã
limpando a cozinha porque este é um
espaço sagrado é onde estão os temperos, onde se trabalha a culinária carregada de saberes ancestrais e mantê-la
impecável, com certeza, ameniza os sofrimentos que foram impostos pela vida e
também por escolhas erradas.
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