Olho o relógio, são dezenove e fico a
imaginar você, em frente ao espelho a embelezar-se para ir a uma quermesse ou a
alguma reunião de filatelistas com o intuito de preencher o seu tempo, o vazio
de sua vida sem a minha proteção e riqueza cultural de minha família, que você deseja secretamente
uma vaga na aba de meu chapéu e enfim,
ter uma ascensão social casando-se comigo já que és de família pobre e desprovida de saber
científico, tanto é verdade, que sempre que tem que redigir algum texto, envia-me o
original pedindo que eu faça a correção porque você é fruto de escola pública e não lhe foi ensinado as regras gramaticais mínimas da forma padrão da língua materna.
Pessoas como você, que não tem argumentos para discutir com um letrado
como eu, quando se vê sem palavras apela para
a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, de São
Paulo, padroeiro do estado e Nossa
Senhora da Conceição, padroeira da cidade, como se essas entidades, frutos da
criação humana tivessem o poder de colocar em sua boa as palavras corretas para
vencer uma discussão. E quer saber mais? Não quero a sua companhia nem mesmo
para um encontro casual. Eu não compactuo com tradições populares de rezas, benzedeiras e garrafadas; sou cético,
um homem das ciências exatas, o que eu não
impediu-me de ampliar meus conhecimentos em
outras áreas do saber graças as minhas inúmeras viagens pelo mundo,
estudos científicos e convívio com gente
de elevadíssimo nível cultural; eu
consigo dialogar sobre qualquer assunto, com qualquer pessoa e você não
consegui ir além das noticias vistas nos telejornais, novelas, receitas e dos
altos preços das verduras nas feiras livres, tanto que fique apreensivo
quando soube que frequenta clube filatélico
e fico a imaginar a pobreza dos diálogos
entre os membros do grupo. Será que eles
conseguem discorrer sobre a história da filatelia brasileira? Já pesquisaram sobre Olho-de-boi? Eu tenho uma
coleção de selo valiosíssima e, se nunca
lhe mostrei é porque sei que o seu nível intelectual não lhe permite compreender o seu valor cultural e de mercado. Para ser um filatelista é preciso
ter discernimento, disposição para pesquisa e contato com outros apaixonados
por este tipo de colecionismo. Vou encerrar porque tenho muito trabalho a fazer porque à noite irei jantar
com os meus familiares em um elegante shopping, estes são os lugares que eu frequento.
Adeus! Afrânio
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