quarta-feira, 17 de abril de 2019

Casinha Branca


          Era uma casa colonial, branca de janelas azuis,  com um pequeno jardim em frente e  uma primavera  vermelha que floria praticamente o ano inteiro. Havia também uma roseira branca  e uma mulata de sala - flor originária de Madagascar, o tom rosa que completava a  harmonia do pequeno espaço repleto de  abelhas,  beija-flores e borboletas e não raro, rolinhas faziam seus  ninhos, e, em meio a tanta beleza, criavam seus filhotes. Há poucos metros da sede, havia um pequizeiro, uma paineira e um cedro onde  o gado gostava de  apreciar o frescor da sombra enquanto ruminavam. O interior da residência, um esplendor! Mobília de qualidade e bom gosto,   no fogão a lenha, sempre havia uma iguaria  nutritiva e saborosa que era oferecida carinhosamente pela matriarca, sempre que um pequenino estômago reclamava. Neste lar onde o aconchego reinava,  um pequeno coração sangrava  em consequência  de uma tristeza que ele não sabia  a origem e menos ainda, porque ela  não o abandonava.
           Para  o coração sofredor,  em sua morada não havia beleza e era rodeada de tristeza e solidão, parecia um jardim sem flor. Assim que atingiu a maioridade, saiu em busca da alegria  em terras distantes; em suas peregrinações, descobriu apenas a  beleza das noites de  luar e vendo seu sonho perecer, sentindo a felicidade cada dia mais longe, bem além do horizonte  sentia que   os pés cansados almejavam retornar às suas origens porque já não conseguiam mais seguir a multidão em busca de  amizades ou alguma coisa que lhe proporcionasse alegria. Ás vezes, parava e ficava a observar  rostos anônimos,  e apenas percebia seus mistérios, suas dores e  desenganos.
          Depois de tanto caminhar e sofrer ele percebeu quão inútil era a sua procura,  a dor do coração sofredor  abrandou e   ele passou a desejar apenas  retornar à casinha branca de janelas azuis, para cuidar do jardim, da horta, do pomar e apreciar o  crepúsculo das tardes  frescas de outono, sentado na varanda, ouvindo o mugir do gado e o canto da seriema  saboreando uma xícara de café  porque havia, finalmente, entendido que a felicidade é um estado de espírito e não pode ser encontrada  em algum lugar, como encontra-se  um rio, uma pedra, um lobo guará.

          
         


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