Era uma casa colonial, branca de
janelas azuis, com um pequeno jardim em frente e uma primavera vermelha que floria praticamente o ano
inteiro. Havia também uma roseira branca e uma mulata de sala - flor originária de Madagascar,
o tom rosa que completava a harmonia do
pequeno espaço repleto de abelhas, beija-flores e borboletas e não raro, rolinhas
faziam seus ninhos, e, em meio a tanta
beleza, criavam seus filhotes. Há poucos metros da sede, havia um pequizeiro,
uma paineira e um cedro onde o gado
gostava de apreciar o frescor da sombra
enquanto ruminavam. O interior da residência, um esplendor! Mobília de qualidade e bom
gosto, no fogão a lenha, sempre havia
uma iguaria nutritiva e saborosa que era
oferecida carinhosamente pela matriarca, sempre que um pequenino estômago
reclamava. Neste lar onde o aconchego reinava,
um pequeno coração sangrava em consequência
de uma tristeza que ele não sabia a origem e menos ainda, porque ela não o abandonava.
Para o
coração sofredor, em sua morada não havia
beleza e era rodeada de tristeza e solidão, parecia um jardim sem flor. Assim
que atingiu a maioridade, saiu em busca da alegria em terras distantes; em suas peregrinações,
descobriu apenas a beleza das noites
de luar e vendo seu sonho perecer,
sentindo a felicidade cada dia mais longe, bem além do horizonte sentia que os pés
cansados almejavam retornar às suas origens porque já não conseguiam mais seguir
a multidão em busca de amizades ou
alguma coisa que lhe proporcionasse alegria. Ás vezes, parava e ficava a
observar rostos anônimos, e apenas percebia seus mistérios, suas dores
e desenganos.
Depois de tanto caminhar e sofrer ele percebeu quão inútil era a sua procura, a dor do coração sofredor abrandou e
ele passou a desejar apenas retornar à casinha branca de janelas azuis,
para cuidar do jardim, da horta, do pomar e apreciar o crepúsculo das tardes frescas de outono, sentado na varanda, ouvindo
o mugir do gado e o canto da seriema
saboreando uma xícara de café porque
havia, finalmente, entendido que a felicidade é um estado de espírito e não
pode ser encontrada em algum lugar,
como encontra-se um rio, uma pedra, um lobo guará.
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