sexta-feira, 19 de abril de 2019

Fracassada


          Não é necessário  frequentar consultório de psicólogo,  psicanalista ou de terapeuta holístico  para concluir o fracasso que foi a vida de uma pessoa. Basta que ela tenha a coragem de enfrentar as suas frustrações e listar os sonhos acalentados ao longo da vida e  compara-los com os que de fatos foram realizados, em menos de cem minutos  terá uma resposta precisa.  Caso tenha faltado a  coragem para  a autoanálise, e  se  por compaixão da família e dos amigos as sucessivas derrotas nunca foram mencionadas, com certeza, não foi a melhor opção porque elas continuam vivas e na ânsia de se libertarem do peito, acabaram   sendo transformadas em doenças psicossomáticas e males piores surgirão   ao acompanhar, via redes sociais, os caminhos que a vida das pessoas que fizeram parte da infância e adolescência dela trilharam. Comparadas a uma árvore, na deles, cresceu-se galhos, desabrochou flores, nasceu frutos, enquanto  os  galhos  da árvore da fracassada, foram perdendo as folhas, uma a uma, até ficarem completamente secos.
          O peito da fracassada sangra ao ver a  postagem da filha de uma antiga vizinha,  transbordando de  felicidade, às margens do rio Sena, em Paris, não de inveja, por lhe querer mal, mas pela consciência de que não teve  a dedicação e a garra necessária para crescer profissionalmente, enquanto aquela criança, filha de um taxista e de uma dona de casa, estudante de escola pública, formou-se em medicina, em uma Universidade  Federal e já montou o seu consultório.
          Dos olhos da fracassada,  brotam  pesadas lágrimas, quando as primas de primeiro grau, compartilham as fotos dos netinhos que estão chegando e renovando a vida. Não é por maldade que ela não consegue compartilhar da alegria da família, mas pelo arrependimento de ter abdicado da maternidade  em prol do sonho de uma brilhante carreira e pela qual, não buscou o aprimoramento necessário, protelou, procrastinou e consegui apenas uma aposentadoria de dois salários mínimos.
          A apatia apossa em seu espírito fraco ao  observar as postagem de antigas  amigas e companheiras de trabalho que ficaram viúvas ou separam –se, superaram suas dores, procuram e encontraram novos amores  e no auge da maturidade se permitem serem felizes. Ela as odeia? Não! apenas  lhe  falta a força necessária para seguir em frente  e procurar um sentido para a sua triste sina, trilhando novos caminhos.

         

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