sexta-feira, 26 de abril de 2019

Fragilidade do tirano


          Giovanni,  filho de uma  possessiva mama italiana e herdeiro de uma fortuna considerada, graças as injustiças cometidas  pelos seus antepassados  casou-se cedo com uma prima de posses iguais, tiveram  quatro filhos e logo se divorciaram  alegando incompatibilidade de gênios porque  assim os advogados decidiram  já que não ficaria bem constar nos autos do processo que a razão da separação do casal era a tirania  do marido que  tratava a esposa como uma de suas propriedades e  anulava-a como ser humano e graças a intervenção  de seus familiares, ela conseguiu se libertar da masmorra em que vivia desde o primeiro dia de seu casamento, quando o sonho de princesa transformou-se em escravidão.  A guarda dos filhos ficou sob responsabilidade materna e  ele retornou à barra da saia da mamãe e saiu em busca de sua próxima vítima, com anúncios em jornais, participação em programas de televisão, cruzeiros para solteiros e por muitos anos destruiu sonhos e corações até que uma dia a flecha do cupido acertou o seu coração e ele se viu perdidamente apaixonado, mais do que isso, dependente emocional de uma mulher que apreciava a companhia de  vários homens. Humilhado e abandonado por ela,  o  destruidor de ilusões e corações chorou como um bebê faminto.
          No dia em que o castelo de autoritarismo que ele acreditava ter sido construído com ferragem e cimento, portanto, sólido, desabou como um dia areia        na praia, pranteou por dias a fio, procurou o auxílio de  psicólogos, neurologistas, psiquiatras  em busca de uma razão para os acontecimentos que traduzidos em uma linguagem popular nada mais é do que o poderoso carvalho ter se curvado para  as plantas rasteiras  e sem  conseguir minar as labaredas que o consumia, buscou  amparo na fé, peregrinando por várias igrejas e chegou até frequentar outras linhas de pensamentos religiosos e   lá também,  o orgulho ferido não encontrou alento. Assim, o grande homem de negócios se viu frágil como uma  folha ao sabor dos ventos.
          Ela não aceitava o fato de  ele, um homem rico, estudado e nascido em família de quatrocentões  paulistas ter sido trocado por homens humildes como um vaqueiro e um caixa de supermercado. Para abrandar a humilhação ele agarrava com força à mão dos familiares, fato decisivo para  que ele  não atentasse contra a própria vida. Durante os meses de lamúrias, em que ele acreditava estar rastejando na lama, conheceu pessoas meigas e ingênuas que acreditaram que a sua dor era oriunda de um amor destruído, ofereceram seu carinho sem  imaginar que tão logo a ferida do orgulho  cicatrizasse,  o tirano renasceria das cinza e novos corações femininos seriam destruídos.

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