Cinco horas
da manhã! Zilda acordou com o toque do despertador. Sonolenta, pulou da cama,
travou o relógio para não acordar os vizinhos, deu uma geral na casa, tomou café,
se arrumou pegou a bolsa e a pasta com várias
cópias de seu currículo e saiu apressada para não perder o ônibus das seis horas. Já na saída do prédio onde
reside, uma surpresa desagradável: um tipo suspeito na esquina da rua em que deveria entrar,
assim, ela se viu obrigada a seguir pelo outro caminho, bem mais longo e viu o
coletivo sumir na grande avenida. No terminal, encontrou com a amiga, sua fiel companheira de peregrinação,
nervosa em virtude de seu atraso, sem saber o que aconteceu, ambas estão com os celulares sem créditos. São arrimos de família e precisam, com
urgência, ingressarem no mercado de trabalho, embora disputem as mesmas vagas, optaram pela companhia uma da outra por segurança, as mulheres são os alvos
preferidos dos jovens assaltantes de ruas e ambas temem perder para os
meliantes, além do dinheiro da passagem, os documentos pessoais, fundamentais
no momento da contratação.
Primeira
parada, primeira decepção: A funcionária
da empresa apenas anotou o nome e telefone das candidatas e informou a
data do processo seletivo, que acontecerá
em 40 dias, mas as contas de água, luz, telefone, gás e cartão, não esperam!
Segunda
parada, uma agência de emprego, indicada
por funcionários temporários de um
supermercado, e segundo eles, a que mais contrata na região. A funcionária,
sequer levantou os olhos para ver quem dizia boa tarde, apenas disse para jogar
o currículo na caixa.
Terceira parada:
Era uma vaga para empregada doméstica que além do serviço da casa, também deveria cuidar de
uma criança de quatro anos. Simplesmente
não puderem concorrer porque exigia experiência mínima de seis meses. Revoltante!
Cinquentinhas que criaram seus filhos,
cuidam de lares não estão aptas a executar serviços domésticos em qualquer
residência? Acaso não seria melhor e mais prudente, pedir um atestado de
antecedentes? Honestidade e boa vontade não são valores importantes para
aquelas que adentrarão no seio da família?
Ao
entardecer, após percorrerem o comércio e entregando na mão dos gerentes seus currículos,
cansadas, famintas e com sede, retornam aos seus lares se perguntando: Sete anos de estudos graduação
e pós-graduação, não as deixaram aptas sequer para trabalharem como balconistas de farmácias,
então, estudar para quê?
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