terça-feira, 26 de março de 2019
Sonhos reduzidos
Eloah desejava um dia, deixar enterrada nas cinzas do passado, os pratos esmaltados, as canecas de alumínio de
sua infância, a mesa com toalha de
plástico. Sonhava tomar um bom vinho
alemão em uma taça de cristal Bohemia,
empresa sediada na República Theca e que produz as melhores peças em uma
união perfeita de tecnologia moderna e tradição artesanal. Imaginava a família
reunida á mesa do jantar, coberta com uma toalha de linho branco bordada à mão,
saboreando deliciosas iguarias em
requintada porcelana chinesa com seus delicados desenhos de
conceito imperial e conversando sobre as aventuras de Marco Pólo, que no século XIII, singrou mares antes navegados e se deslumbrou com o requinte e beleza dessa magnífica
criação chinesa: a porcelana.
Para quem nasce em uma família de
parcos recursos financeiros e culturais,
a ascensão social pelo trabalho é
um privilégio de poucos e, apesar do imenso desejo e do esforço diário
estudando à noite em escola pública e durante
o dia, labutando em fábricas que não exigia mão de obra qualificada, aos sessenta anos de
idade, Eloah conseguiu, pelo projeto Minha Casa Minha Vida, o seu cantinho para
descansar os ossos, e feliz, para lá mudou, apenas com uma mala com suas velhas
roupas. Queria tudo novo, mesmo que fosse o mais barato, já que agora vive de
sua minguada aposentadoria.
Percorreu as lojas populares e comprou
os móveis em prestações a perder de vista. Fez via-sacra em lojas de produtos importados em busca de produtos
BBB ( bons,bonitos e baratos) que alegrasse a sua caça e assim viu seu antigo sonho de porcelana, cristais e linhos
sendo reduzidos em toalhas de mesa em
tecido sintético, cristais da Bohemia em vidros da Nadir Figueiredo e o tão
almejado jogo de jantar em porcelana
chinesa, substituído por uma louça
Biona, mas esta, apesar de popular lhe trouxe um pouco de alegria porque a sua decoração foi inspirada no grafismo dos
povos maias, antiga civilização que habitou as florestas tropicais das regiões hoje denominadas de Guatemala,
Honduras e sul do México e quando uma ponta de tristeza e frustração começa a
crescer em seu coração, ela dá asas à sua imaginação e pensa nos camponeses,
que formavam a base da civilização maia e como ela, trabalhavam e
trabalhavam e morriam sem realizar os
doces sonhos da infância.
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