quarta-feira, 13 de março de 2019

Paineira



           Rita vivia feliz em seu pequeno mundo, um casebre na periferia  da cidade, rodeado de árvores, que foram plantadas bem antes de seu nascimento e, como toda criança  paupérrima, que  nunca ganha um brinquedo, não frequenta escola infantil e, os pais nunca tem tempo para dialogar com seus filhos, fez amizade com uma  frondosa paineira que, ao entardecer, sombreava sua residência amenizando o calor nas tardes quentes de verão. Era sua amiga, confidente e  seu apoio após violentas broncas de seus genitores.
          Seus pequenos e curiosos olhos não pousavam demoradamente   em outras árvores, menos ainda na  vegetação rasteira  porque nunca se cansavam de apreciar a transformação da paineira no decorrer das estações do ano. Durante a florada,  em seus trinta metros de altura, o roxo de suas flores era avistado   a grandes distâncias e Rita passava várias horas  fazendo coroa de flores, ouvindo o  canto das pássaro ou apenas  apreciando o  momento,  sem consciência  da vulnerabilidade de sua condição,  sem preocupação com o futuro; nada conhecia além das redondezas.  
          Os frutos da paineira são uma espécie  de cápsulas,  que envolve as sementes  e uma fibra fina e branca, Esta cápsula rebenta e a paina, como é conhecida popularmente a fibra, flutua e cai formando um belo tapete branco e Rita adorava rolar  no chão doravante macio, simplesmente vivia o momento  á sombra de sua amiga e confidente. Era feliz! Em uma noite, um ventania   nunca vista antes, arrancou a velha árvore que tombou sobre  a rua  e atingiu vários barracos e a pequena acordou com  os gritos de desesperos dos vizinhos e atômica, via  os galhos de sua planta amada serem cortados e ouvia as piores blasfêmias das pessoas que sofreram prejuízos decorrentes da   queda do arbusto. Foi assim que a pequena conheceu a dor de dizer adeus!

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