quarta-feira, 27 de março de 2019

Prima



          Quando se vive  distante da família e da terra natal, os grupos no WhasApp, da família e antigos conhecidos, pessoas cujos rostos ficaram apagados na poeira da estrada, insistem em ressuscitar   fragmentos    de um passado distante  que somente é possível revivê – lo no universo virtual com  o apoio dos conterrâneos porque da memória já fora apagado há muito tempo. Existe exceção! Aquela prima, da mesma idade, que se viam semanalmente e era, e quando, sem nenhum preparo  psicológico e apoio  moral, se lê a mensagem que ela  faleceu, vítima de um infarto fulminante, não  há coração que resista, e neste caso, uma corrida à Farmácia mais próxima, em busca de um tranquilizante  é  uma questão vital, não somente pela perda, pela falta que ela fará para filhos, netos e bisnetos, mas também porque a fila está andando, um a um estão partindo para  o campo  santo e  isto não é bom sinal,    nesta fila, não há nada que se possa fazer, com senha ou sem senha,  um dia estará em primeiro lugar na lista do trem rumo ao ventre da terra madre para o repouso eterno.
          Após o susto, consequência  da perda inesperada, uma dor aflora  no coração pela ausência de uma  parente e pior, aquela   interlocutora  das memórias de outros tempos. Durantes as longas conversas em  dialeto local, não havia necessidade de explicações, bastava  um: lembra aquela vez em que nós duas estávamos .... era suficiente para  avivar  em ambas, o momento vivido, com a simplicidade e doçura  de outros tempos em que a vida era simples e que felicidade era encontrada em coisas singelas como rolar na grama, molhar os pés nas águas frias do riacho, colher flores nos campos sentindo o vento soprar nos cabelos e    especular  sobre o  joão – de- barro, o habilidoso engenheiro da floresta, que não frequentou   universidade e sabe construir   sua casa apenas seguindo o  instinto.
          A morte levou a única pessoa que  conhecia todas as suas dores,  seus  sonhos e por questões financeiras, não pode ir lhe dar o último adeus, aquecer suas mãos frias com lágrimas quentes e quiçá um dia  poderá  colocar flores em seu túmulo e conversar com a sua alma, sobre coisas que não podem ser ditas a outras pessoas.

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