segunda-feira, 11 de março de 2019

Ser mulher



          Se alguém algum dia pensou que ser  mulher é fácil é porque não conhece a complexidade do universo feminino a variação de seus hormônios e as fases da lua que  interferem no humor  do mulherio e as suas fantasias desde a mais tenra idade e que vão   se transformando com o decorrer dos anos e com o aval dos pais,  padrinhos, tios e avós.  A   menina ainda nem viu a luz do sol e já é a rainha do lar, a princesa do papai e esta alcunha a acompanha até aproximadamente aos  oito ano de idade, assim ela se vê porque os adultos   lhe  repetiram  milhares de vezes, mesmo que  ela não tenha  ideia do que seja uma princesa, sente-se orgulhosa.  Com a audição de história de contos de fada,  e a  tentativa dos responsáveis para educa-la de  acordo com as regras de etiqueta social, de princesa ela passa a ser a Cinderela a espera de um príncipe encantado, algo  bem abstrato para  a mente infantil, porém, ela se sente feliz  no universo característico da primeira infância.
          Ao entrar na puberdade com surgimento dos hormônios, o frágil castelo de sonhos se desmorona, já não é mais a princesa do papai,  é repreendida em noventa por cento  de suas ações, o corpo em constante transformações e as malditas espinhas teimam em aparecer, umas competindo com as outras em tamanho e resistência a todos os tipos de tratamentos; antes uma pele de pêssego, agora, parece as costas dos sapos. Sente-se  horrorosa e acredita que o universo conspira contra ela, sonha com o seu primeiro amor e teme nunca encontrá-lo  em virtude de sua aparência.- Sou tão feia  quanto uma bruxa, lamenta em  frente ao espelho!
          Com a maioridade espera-se que a mulher esteja mais calma. Ledo engano! É  o momento dela ingressar no mercado de trabalho, namorar e   entrar na universidade e nunca está satisfeita   com a sua aparência. Um dia se olha no espelho  e se acha gorda,  em outro, muito magra e com olheiras. Se o cabelo é longo quer cortá-lo, se é liso quer cacheá-lo, umas se acham  muito altas, outras muito baixas, e usam de todos os artifícios disponíveis no mercado   em busca da beleza ideal, sem questionar o que de fato é uma mulher bonita.
          Aos quarenta anos o corpo já passou por outras transformações características da idade e da maternidade. A prioridade agora são os  filhos e, embora insatisfeita com a sua aparência, começa a valorizar suas outras qualidade e se preocupa em ser exemplo para a prole, já que não pode  evitar que ela   passe pelas dores que um dia foram suas.
          Com meio século de vida,  netos a caminho e muita experiência acumulada,  não se preocupa  em  se enquadrar em um padrão de beleza ideal, aceita seu  corpo, sua preocupação agora é em manter um estilo mais  elegante e em cuidados corporais porque a lei da gravidade chega para todas, independente do poder aquisitivo.
          Lá pelos sessenta anos e com a  perda de várias pessoas que fizeram parte de sua infância e juventude, passa a se preocupar mais com a sua saúde e  os cabelos brancos já não lhe apavora mais. Está feliz por estar viva!
          Após os setenta anos, vê a sua vida se renovar  com a chegada dos bisnetos, está mais sábia, agora é a conselheira familiar,  a que faz rir os jovens com as histórias de sua juventude e finalmente acredita ter encontrado a felicidade ao ver a  sua missão cumprida e já se prepara para  partir com  o coração sereno, mesmo acreditando ser cedo demais.

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