A origem das festas populares se
perdeu nas brumas do tempo. Desde sempre o homem promove eventos coletivos para pedir e agradecer bênçãos ou
simplesmente para promover a limpeza da
alma e do coração daqueles que desde o
nascimento, convivem diariamente com a carestia de afeto, alimento e de oportunidades de melhores
condições de vida adquiridas com o suor do
rosto na labuta diária que sempre enriquece o patrão. O
trabalhador precisa festejar a vida,
por mais dura que ela seja, sempre há esperança que seu sacrifício valerá a pena e que seus
descendentes viverão dias melhores
e as quatro noites de
carnaval, proporcionam uma oportunidade para divertir e renovar
as energias para continuar a luta inglória , isto é, se houver uns trocados sobrando na carteira de alguns privilegiados, para caírem na
folia, porém a maioria da população é “ dendicasa”.
Janeiro é um mês de grandes sacrifícios para a classe
trabalhadora porque as despesas extras são
grandes e inevitáveis. O IPTU não pede autorização e adentra em todos os lares acompanhado da lista de material
escolar, e aqueles que conseguiram
comprar um veículo, que fica mais na garagem e na oficina do que circulando
pelas ruas, recebe um visitante inoportuno, o IPVA e ele chega para ficar. Isto sem falar que
as crianças estão de férias e o custo
com alimentação, água, energia é mais alto e o dinheiro desaparece da carteira
como folha seca em vendaval e as quatro
noites de folias tão esperadas, serão
curtidas dendicasa, com os nervos à flor
da pele.
O
carnaval dendicasa, no sábado, começa com a alvorada, a dona de casa acorda as crianças e orienta-as em como fazer um mutirão de limpeza rápido e
sem brigas. O marido não fica fora, é obrigado a saltar da cama cedo para acompanhá-la
ao mercado e providenciar os tradicionais consertos domésticos. Fim da
tarde, todos exaustos, se dividem em blocos: o da televisão, do whatsapp e o dos jogos
on-line e assim permanece todos,
até caírem nos braços de Morfeu. O
domingo não é diferente já que é dia de receber ou fazer visitas, assim, com o
nascer do sol, todos de pé,
à espera dos que não virão, porque em tempos de crise, deve-se evitar fazer visitas porque “ filar a boia”
em casa de amigos ou parentes já não é mais um bom negócio porque o custo do
transporte urbano é alto. Após longa espera,
todos retornam aos seus blocos. Segunda-feira é o dia
da revolta geral. A prole deve ficar em casa, enquanto os genitores vão às
compras. È preciso economizar o dinheiro da condução para comprar um agrado para a família, um pote de sorvete
ou uma caixa de bombom que irá reacender
a chama da discórdia seja pelo sabor ou por achar que os pais não repartiram de
forma justa e o dia finda com o silencioso e triste retorno de cada um ao seu bloco.
Terça-feira, todos estão com o sistema nervoso abalado e na tentativa de
acalmar os ânimos, a matriarca estoura
panelas e panelas de pipoca e o quarto dia de folia termina com o bloco da
limpeza sob a forte vigilância dos pais, ávidos por um momento de descanso porque quarta-feira é dia
de retornar ao trabalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário