domingo, 3 de março de 2019

Carnaval dendicasa/2019



          A origem das festas populares se perdeu nas brumas do tempo. Desde sempre o homem promove eventos coletivos  para pedir e agradecer bênçãos ou simplesmente para  promover a limpeza da alma e do coração daqueles que  desde o nascimento, convivem diariamente com a carestia de afeto,  alimento e de oportunidades de melhores condições de vida adquiridas com o suor do  rosto na labuta diária que sempre enriquece  o patrão. O trabalhador precisa   festejar a vida, por mais dura que ela seja, sempre há esperança que   seu sacrifício valerá a pena e que seus descendentes viverão dias melhores  e  as quatro noites de carnaval,  proporcionam uma oportunidade para  divertir  e renovar as energias para continuar  a luta inglória , isto é,  se houver uns trocados sobrando na carteira de alguns privilegiados, para caírem na folia, porém a maioria da população é “ dendicasa”.
          Janeiro é  um mês de grandes sacrifícios para a classe trabalhadora porque  as despesas extras são grandes e inevitáveis. O IPTU não pede autorização e  adentra em todos os lares  acompanhado da  lista de material escolar,  e aqueles que conseguiram comprar um veículo, que fica mais na garagem e na oficina do que circulando pelas ruas, recebe um visitante inoportuno, o IPVA   e ele chega para ficar. Isto sem falar que as crianças estão de férias e  o custo com alimentação, água, energia é mais alto e o dinheiro desaparece da carteira como folha seca  em vendaval e as quatro noites de folias  tão esperadas, serão curtidas  dendicasa, com os nervos à flor da pele.
          O  carnaval dendicasa, no sábado, começa com a alvorada,  a dona de casa   acorda as crianças e orienta-as   em como fazer um mutirão de limpeza rápido e sem brigas. O marido não fica fora, é obrigado a saltar da cama cedo para acompanhá-la ao mercado e  providenciar  os tradicionais consertos domésticos. Fim da tarde, todos exaustos, se dividem em blocos: o da televisão, do whatsapp  e o dos jogos  on-line  e assim permanece todos, até  caírem nos braços de Morfeu. O domingo não é diferente já que é dia de receber ou fazer visitas, assim, com o nascer   do sol,  todos de pé,  à espera dos que não virão, porque em tempos de crise,  deve-se evitar fazer visitas porque “ filar a boia” em casa de amigos ou parentes  já não é  mais um bom negócio porque o custo do transporte urbano é alto. Após longa espera,  todos retornam aos seus blocos. Segunda-feira  é o dia   da revolta geral. A prole deve ficar em casa, enquanto os genitores vão às compras. È preciso economizar o dinheiro da condução para comprar  um agrado para a família, um pote de sorvete ou  uma caixa de bombom que irá reacender a chama da discórdia seja pelo sabor ou por achar que os pais não repartiram de forma justa e o dia finda com o silencioso e triste retorno de cada um ao seu bloco. Terça-feira, todos estão com o sistema nervoso abalado e na tentativa de acalmar os  ânimos, a matriarca estoura panelas e panelas de   pipoca e o quarto dia de  folia termina com o bloco da limpeza sob a forte vigilância dos pais, ávidos por um  momento de descanso porque quarta-feira é dia de retornar ao trabalho.
           

Nenhum comentário:

Postar um comentário