terça-feira, 5 de março de 2019

Carnaval dos sonhos



          Os meios de comunicação  encurtaram  as distâncias.  Com um simples toque no controle remoto pode-se saber o que está acontecendo em tempo  real em todo o mundo. Maravilhoso!  Nem tanto.  A maioria das   noticias  oriundas dos telejornais não têm nenhuma utilidade prática na vida do cidadão comum, porém, produz sonhos jamais realizáveis pela maioria da classe trabalhadora  e dos  aspirantes a um trabalho digno que no momento, engrossam as filas do desempregado com a carteira de trabalho em um bolso e no outro apenas o vazio da incerteza.   Sem poder arcar com o custo do abadá para participar dos blocos de rua tem como única alternativa assistir o desfile das escolas de samba pela televisão e chorar de tristeza  com as imagens de alegria plena dos foliões que  em virtude do seu poder aquisitivo, se jogam na pista de sofisticados clubes e brincam até o  raiar da aurora.  A espada do desespero trespassa o  coração do vivente quando  os correspondentes internacionais apresentam reportagens  sobre os  tradicionais e luxuosos carnavais  europeus.
          Confinados  no gasto sofá de casa, sonham homens, mulheres e crianças de se fantasiarem como os venezianos, cujo carnaval tem suas raízes na celebração  da República de Veneza  da vitória sobre o Patriarca de Aquileia em 1162. Admiram a beleza  das máscaras de  Colombina e Pierrô e não fazem a menor ideia de quem foram estes personagens que até hoje, após séculos, se fazem presente no carnaval da romântica cidade das gôndolas. Ficam estupefatos  com a grandiosidade das festividades  da segunda maior festa carnavalesca do ocidente que acontece anualmente em Santa Cruz de Tenerife, capital das Ilhas Canárias.  
          Ao vivente desempregado que sobrevive com  o minguado recurso do Bolsa Família e aqueles  agraciados mais com  um  pouco mais  de sorte  e  conseguiram um subemprego, que lhe  garante amenizar a fome crônica e são beneficiados  pelo Projeto “Luz para todos,” apreciam, pela tela do aparelho do televisor que adquiriram em tempos  não tão difíceis, com prestações a perder de vista, o mundo se divertindo entre luzes e cores e ele e sua família, entregues a   própria sorte e  fora de políticas públicas que  lhe dê condições de trabalhar e garantir o sustento digno do lar. Assim, diante de sua dura realidade, acreditam que lazer é luxo e  não veem outra alternativa a não ser sufocar o sonho  de participar de um baile  de carnaval usando máscara de  Pierrô e as esposa de Colombina. " Pingar é melhor do que faltar", suspira resignado.-"Obrigado Pai Celestial pelo pão de  cada dia!"

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