Dora é uma capixaba esperta. Se faz
de ingênua, insegura e vítima das
circunstâncias familiares. E assim vai conseguindo um favor aqui, outro
ali, e vai levando a vida de maneira mais fácil. Que o digam as colegas de trabalho!
Na hora da escrita de um projeto, sempre
está com a cabeça ruim em virtudes dos problemas familiares ou passando
mal, consegue ajuda e
não fica prejudicada em seus vencimentos. Coloca-se sempre a disposição para
ajudar quando precisarem, na realidade,
quando aparece a oportunidade de pagar um dos milhares de favores, por incrível
que pareça, sempre é o dia da consulta do filho ou dos pais idosos e, as vezes,
dela.
Em ambiente de trabalho, prima-se
pela boa convivência, toda pessoa com o mínimo de inteligência sabe que certas atitudes de colegas não podem ser comentadas com a melhor
amiga, porque ela também tem uma melhor amiga que é a melhor amiga de outra e
assim sucessivamente. E quando percebem a esperteza de Dora, procuram se afastar dela e já tem uma
desculpa na ponta da língua para
justificar o porque de não poder ajudá-la naquele momento. Como a
rotatividade de profissionais é grande na empresa que trabalha, sempre há uma
próxima vítima, e não foi diferente com Rosalina.
Rosalina era de outra cidade, e rapidamente Dora se prontificou para ajudá-la
no que precisasse, já que moravam perto. Ambas não possuíam carro assim, a
recém – chegada ficou feliz em ter alguém para
orientá-la, já que não tinha experiência em cidade grande, com
transportes urbanos. Rapidamente ela percebeu que a máxima: “ uma mão lava a
outra, não era bem assim.” Na realidade estava mais para: “ para mim tudo e para você, nada.” Sempre que telefonava à colega para pedir uma
informação sobre um estabelecimento comercial, itinerário de um ônibus, ela
prontamente se oferecia para ir com ela.
Além de ter que passar na casa dela, esperar no mínimo
quarenta minutos até ficasse pronta, ainda tinha que ajudar a
carregar a criança, que naquela época
estava com dez meses de idade. Tendo quem aliviasse a carga materna, o pior
estava por vir, entrava em todos
estabelecimentos verificando preços e novidades, e, na hora da compra, percebia
que tinham que retornar, porque a loja mais
barata era uma das primeiras. Somente depois de dar vazão a sua gana de economia, é que Rosalina podia, enfim, resolver as questões,
que de fato, motivaram a ida ao centro da cidade.
O suplício de Rosalina começou de fato, quando Dora
descobriu que ela tinha computador e internete. Telefonava nas horas mais
improváveis pedindo que digitasse algum documento, que fizesse uma pesquisa e o pior, que passasse os pedidos da
Avon, tudo de última hora. Sem avisar,
chegava pedindo para deixar o bebê sob sua responsabilidade enquanto ia
ao mercado, farmácia, Casa Lotérica e muito mais, tudo em nome da amizade.
Rosalina teve certeza que a solidariedade delas era de
mão única quando tirou licença médica
, diagnosticada com dengue. Ficou prostrada na cama, com fortes dores, febre
alta e sem família na cidade. Ao notar a ausência da colega, Dora telefonou
para saber o motivo da falta, porém, não se
ofereceu para ajudá-la com a
documentação necessária para conseguir licença, acompanhá-la à perícia e não apareceu para fazer uma visita.
A solidariedade é uma das maiores virtudes humanas, deve ser
incentivada, porém, ela deve ser recíproca. Não de deve confundir favor, com exploração, com levar vantagem em
tudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário